Os dois foram andando na frente e, assim que ficamos sozinhas, Larissa segurou meu pulso com força.
- O que é isso? Não íamos comer? – sua voz exalava tensão.
- E vamos. – abri a porta do carro e desci como se já tivesse frequentado mil festas daquele topo – É só uma festa. Não estrague tudo.
O lado de dentro era um mar de corpos balançando ao som da música. Havia uma mesa com várias embalagens de pizza abertas, mas a quantidade de garrafas e copos era muito maior. Eu não precisava nem de mais um minuto para saber que não era meu tipo de diversão, mas se Matteo gostava eu ia suportar.
- Viu? – apontei para a comida, sabendo que nenhuma de nós teria coragem de tocar em nada daquilo, e Larissa revirou os olhos.
Iago já tinha um copo nas mãos e estava em um grupo de garotos. Matteo estava fora de vista.
- Você me fez perder ele. – reclamei, mas Larissa não me ouviu por causa do som alto.
Tentar andar entre adolescentes alterados e dançando era uma tarefa difícil de se cumprir, mas eu insisti a todo custo enquanto arrastava Larissa pela mão. Sério, que graça tinha isso? Um monte de gente suada se esfregando em você? E tudo isso para nem lembrar direito no dia seguinte?
Senti uma mão envolver minha cintura e me puxar para o lado com uma certa força. Cambaleei, pega de surpresa, e trombei com um garoto.
- Está sozinha, princesa? – seu hálito era forte o suficiente para arder meus olhos.
- Não. Me solte. – empurrei seu peito com as duas mãos, irritada com sua grosseria.
Só então, quando vi minhas mãos apoiadas naquela camiseta vermelha, percebi que eu havia me perdido de Larissa e comecei a ficar mais nervosa do que irritada. O garoto, que não devia ter mais do que dois ou três anos a mais que eu, estava com uma expressão maliciosa impossível de ignorar.
- Por que não conversamos em um lugar mais calmo? – ele começou a me puxar por entre as pessoas em direção a uma porta que só poderia ser um quarto.
- Não. – neguei, o empurrando sem muito sucesso.
- Qual é! Você vai gostar, eu garanto. – ele continuou me puxando - Vocês sempre gostam. - a outra mão apertou minha cintura.
Senti o desespero me fazer tremer. Eu precisava me soltar, precisava me afastar a todo custo da porta que ele estava mirando.
- Me solta! – gritei, mas minha voz se misturou com a música ao nosso redor e ninguém pareceu ver nada de errado.
- Não seja histérica. – agora ele estava sério, quase assustador, e o aperto em meu braço começou a doer de verdade.
Pensei na chance que teria se ficássemos a sós. Eu conseguiria lutar por quanto tempo? Tempo o suficiente para perder, com toda certeza. Ele não era uma montanha de músculos, mas dava para notar que era consideravelmente mais forte do que eu.
- Acho que a moça disse não. – escutei uma voz atrás de mim e um braço se colocou entre mim e o babaca.
Eu não podia ver o rosto de quem tentava me ajudar, mas aparentemente não assustava nem um pouco o outro garoto. Eles se encararam por cima do meu ombro por alguns instantes.
- Você não deveria se meter no que não é da sua conta. – os olhos do meu agressor se estreitaram. Era uma ameaça, e ele parecia disposto a brigar para valer.
- O que está acontecendo aqui? – a voz de meu irmão nunca produziu tamanha felicidade em mim.
- Iago? – me virei, finalmente solta das garras que me prendiam.
- Izzie? – seus olhos estavam preocupados de um jeito que nunca vi.
Me joguei em seus braços chorando de alívio. Iago me abraçou, o que também não era comum, e senti o cheiro de seu perfume misturado com o cheio de alguma bebida.
- Tire ela daqui. – o garoto que me defendeu disse. Sua voz estava séria e não demonstrava nenhum medo.
Iago me tirou de lá com facilidade, empurrando as pessoas do nosso caminho com um braço sem se preocupar em pedir para favor, enquanto o outro me envolvia protetoramente. Saímos para o lado de fora da casa e eu me sentei em um sofá na varanda. Todo meu corpo tremia e as lágrimas não paravam de sair.
- Ele fez alguma coisa com você? – a voz de Iago estava sombria, do tipo que buscaria vingança se necessário - Qualquer coisa por menor que seja, você precisa me contar.
- Não. – gaguejei – Mas foi por pouco.
Nesse momento a porta se abriu com um estrondo e Larissa e Matteo surgiram.
- Izzie! – minha amiga exclamou, correndo para sentar ao meu lado e me abraçar. Não dava nem pra saber qual das duas tremia mais.
- Você está bem? – Matteo se abaixou para olhar diretamente nos meus olhos. Fiquei surpresa por notar uma expressão parecida com a de Iago em seu rosto.
- Foi por pouco. – Iago repetiu minhas palavras quando eu não consegui responder.
Eles trocaram um olhar significativo e Matteo segurou minhas mãos.
- Vai ficar tudo bem. – disse, e meu coração acelerou -Vamos para casa.
Iago me ajudou a levantar, depois me colocou no banco da frente com o melhor amigo. Gostei de estar ali, mesmo que as condições para isso tivessem sido as piores possíveis.
Fomos direto para casa, apenas com o som do carro ligado. Nenhum de nós parecia disposto a conversar sobre o que poderia ter acontecido, embora eu quase pudesse sentir o pânico de Larissa e a raiva de Iago. Matteo era um mistério com sua expressão fechada e os olhos atentos na rua.
Nos separamos assim que entramos em casa, indo para os respectivos quartos. A noite não tinha dado em nada, mas eu só podia agradecer por não ter acontecido nada de ruim comigo.
- Fiquei apavorada. – Larissa suspirou, se jogando sentada na minha cama – Quando vi aquele garoto puxando você, só o que pensei em fazer foi correr para procurar ajuda. - ela tremeu.
- Está tudo bem, Lari. – a tranquilizei, embora o pensamento também me desse calafrios – Felizmente deu tudo certo.
Ela passou a mão pelo rosto.
- Eu sabia que não era uma boa ideia. Nós nunca mais vamos a lugar nenhum com esses dois.
- Olha, nós nem chegamos a comer. Vou até a cozinha pegar algo. - eu só queria que Larissa não ficasse mal demais com isso e nunca mais quisesse fazer nada fora de casa.
- Ok. – ela deitou na cama e colocou o braço por cima dos olhos.
Saí silenciosamente do quarto e fui até a cozinha. A porta da geladeira já estava aberta, então me preparei para algum sermão de Iago - claro que ele iria discutir por eu não ter aceitado sua palavra de ficar em casa.
- Escuta, eu sei que você não queria me levar. – comecei antes que ele gritasse – Mas eu estou crescida agora e não posso ficar trancada em casa para sempre. Sou uma mulher agora. - declarei com orgulho.
- Eu sei. – a porta se fechou e Matteo me encarou com um sorriso.
Senti meu rosto ficar vermelho.
- Matteo. – minhas mãos cobriram minha boca.
- Izzie. – sua cabeça se inclinou levemente para o lado, achando graça.
Tentei lembrar de quando tínhamos ficado sozinhos pela última vez, mas acho que nunca tinha acontecido. Não estraga tudo, não estraga tudo. É a melhor chance que você já teve. – foi só o que pensei.
- Desculpa, pensei que fosse meu irmão. – sorri, sem graça.
Matteo se aproximou, subitamente sério, e colocou as mãos nos meus ombros. Seu toque era firme, mas muito delicado.
- Você está mesmo bem? Não está escondendo nada?
Meu coração deu pulos alegres, nervosos e surpresos. Matteo nunca me tocava – tirando passar a mão pelo topo da minha cabeça, mas isso nem contava.
- Sim, sim... – tentei não gaguejar com o nervosismo – Foi horrível, mas não aconteceu nada.
- Não sei o que eu faria se alguma coisa acontecesse com você. – ele me puxou para um abraço.
Enterrei o rosto em seu peito, em êxtase, e aspirei seu perfume. Matteo era quente, confortável e eu parecia me encaixar perfeitamente ao seu corpo.
Quando ele se afastou suavemente, eu já sabia o que viria. Finalmente ia acontecer. Quase me perder tinha aberto os olhos dele e mostrado quanto tempo estávamos perdendo.
Ele se inclinou na minha direção e fechei os meus olhos, segurando a respiração.
- Você é como uma irmãzinha para mim. – seus lábios pousaram na minha testa.