Capítulo 2 Um

[19 anos e meio atrás, visão de Stefano Martinelli]

Sem nenhum pingo de vontade, continuo sentado sobre a poltrona de couro observando meu pai andar de um lado para o outro quase abrindo um buraco no piso do chão e arrancando os poucos cabelos grisalhos que lhes restaram sobre a cabeça, ele está muito irritado comigo, e só não me fuzilou ainda por ser seu filho primogênito e além disso ser o melhor entre os irmãos, e o motivo disso, é simples: EU NÃO QUERO ME CASAR! Não é que eu queira ser para sempre solteiro mas eu quero curti, não acho que vinte e dois anos seja idade para casar. Ainda preciso conhecer varias bocas, sabores. Ainda não fiquei com nenhuma asiática, preciso ficar com uma antes de me amarrar! De repente ele para de andar e me olha, com um sorriso que me deixa desconfiado e diz:

- Já está decidido Stefano! - meu pai fala convicto, não entendo do que ele está falando.

- O que? - questiono com uma sobrancelha erguida.

- Daqui a três dias você estará casado. - fala com a maior calma do mundo.

- Eu já disse que não quero me casar meu pai. - tento manter a minha calma.

- Você não tem querer e tem sim que obedecer, para assumir sua responsabilidade na máfia tem que estar casado e sabe muito bem disso, sabe das tradições e como Don, você tem que ser o primeiro a dar exemplo, meu filho.

Respiro fundo, tenho ciência de todas essas coisas. Sei o quanto é fundamental para o cargo de Don está com uma família, mas não me sinto pronto para esse passo tão grande.

- Sim, mas onde arranjarei uma esposa? No momento estamos em guerra com outras famílias e as mulheres da nossa família são novas demais. - tento mostrá-lo que arrumar uma esposa agora é impossível.

- Não se preocupe, eu cuidarei disso!

Não o digo mais nada, simplesmente me levando e dou-lhes as costas. Sinto a raiva crescer em meu ser, aperto minhas mãos em punhos e sigo para a área de treinamento, tiro o meu terno e a camisa social, enrolo meus dedos com bandagens e começo a descontar minha irá e frustração no saco de pancada.

Meu pai está com os dias contados, ele está com um tumor cerebral e entendo sua preocupação com a família, mas não acho nem um pouco justo ter que casa para assumir meu lugar de direito por ser o filho mais velho. Isso é ridículo. Inaceitável!

Só depois de tirar sangue de meus dedos paro de bater, a raiva ainda passeia por minhas veias, mas agora mais controlado vou para meu quarto. Entro direto no banheiro e tomo um longo banho gelado, os ferimentos em meus dedos ardem, mas não me importo, já estou acostumado. Passei por muita coisa pior do que esses pequenos arranhões. Depois de banhado deito em minha cama e tomo uma decisão, vou fazer essa minha esposa a mulher mais infeliz do mundo, vou desconta nela todo ódio que estou sentindo por ter que me prender em uma mulher só, ah ela não perde por esperar.

[Luna Valentini]

Trancada em meu quarto a mais de uma semana, não como quase nada, não sinto sede e nem vontade de ir ao banheiro. Não consigo acreditar que meu pai morreu e me deixou com minha madrasta que me odeia com todas as suas forças e ainda acha que eu que sou a culpada pela morte de meu pai. As lembranças ainda são tão frescas em minha memória, e ainda me doem tanto. São como assombrações que me perturbam a todo instante. Mesmo sabendo que não é culpa minha, me sinto culpada e sempre me pergunto e si...

Suspiro e fecho meus olhos, mais uma vez as lembranças me invadem e as lágrimas caem:

"Era um dia de domingo, o sol brilhava forte no céu, eu e meus primos mais novos estávamos brincando de jogar bola na rua. Hoje meu pai está de folga e resolveu juntar a todos e fazer um churrasco. O cheiro da carne no espetinho preenchia toda a rua, até vizinhos se juntaram e todos foram recebidos de braços abertos.

Apesar de já ser quase adulta, sempre que meus primos pequenos vem aqui pra casa, eu brinco com eles, no caso, eu faço a parte da babá enquanto os outros se divertem e bebem. Sou doze anos mais velhas que meus sete primos, mas não me importo. Não sou nem um pouco social e não tenho amigos e nem amigas da minha idade. Prefiro assim. Crianças não são falsas.

Sigo com os olhos todos correndo para fora da pista, um som alto de buzina me deixa zonza e me faz olhar para trás, um caminhão desgovernado está vindo em minha direção. Meus pés ficam no chão, não consigo me mexer, as coisas começam a rodar em câmera lenta. Irei morrer aqui? Serei esmagada? É assim que minha vida vai acabar?

Sinto meus olhos tremerem e se enxerem d'água, eu não quero morrer aqui, não quero ter minha cabeça esmagada. Todo o meu corpo treme, sinto as gotas de suor escorrer por cada pedaço de pele minha que está completamente fria e trêmula. De repente só sinto minha cabeça batendo no chão, em minha testa se abre um corte e um filete de sangue quente começa a escorrer. Alguém me empurrou. Tento me equilibrar ficando de quatro no chão, no enquanto, meus joelhos e minhas mãos ardem muito. Mesmo com a visão turva consigo ver a poça de sangue embaixo de minhas mãos. Conto até três, ouço o som de varias pessoas gritando desesperadas e quando consigo me levantar, que olho para trás, só pude sentir minhas lágrimas escorrerem por meu rosto. Isso não pode está acontecendo!

Tudo ao meu redor some, não escuto mais nada, apenas juntos todas as minhas forças e corro em direção a meu pai que está debaixo do caminhão, está saindo sangue por sua boca e quando o toquei e ele me olhou deu um último sorriso e disse em um sussurro:

- Filha, eu te amo mais que tudo, você é o maior amor que o meu coração já sentiu e por você, eu sou capaz de tudo, minha filha querida.

Então ele fecha seus olhos, e para de respirar. Começo a grita que nem uma louca.

- Pai, pai, pai, por favor, não me deixe aqui sozinha, eu também te amo mais que tudo. Você é tudo o que eu tenho, por favor pai, não me deixe sozinha nesse mundo, por favor, por favor... Paiiiiii.

Recebi apenas o silencio como resposta, quando pude perceber já tinha sido arrancada de junto de meu pai por minha madrasta que assim como eu começou a chora e gritar pedindo por ajuda, ela nunca escondeu que não gostava de mim, mas ela realmente amava meu pai, isso eu não posso negar."

Não posso ficar assim, eu sei que não tenho culpa, meu pai me amava e não gostaria nada se me visse assim, com apenas dezessete anos de idade isolada do mundo, deitada o tempo todo e raramente se alimentado.

Está decidido! Me levanto da cama, com passos preguiçosos vou para o banheiro, me olho no espelho e o que vejo é algo que meu pai nunca gostou de ver em mim, meus olhos estão inchados por causa do choro, estou cheia de olheiras por causa das noites sem dormir, meu nariz parece um tomate de tão vermelho que estar. Tomo um banho frio e longo para meu corpo reagir, me arrumo, coloco um vestido abaixo de meus joelhos na cor é preta, pois ainda estou de luto, deixo meus longos cabelos ruivos solto e saio de dentro do quarto, ao chega na sala vejo minha madrasta sentada no sofá conversando com um homem de cabelos grisalhos. Quando seus olhos pausam em mim, ela abre um sorriso tão falso que faz eu me arrepender de ter saído do quarto.

- Que bom que veio querida, me poupou o trabalho de ir lá te chamar. Bom como pode ver esse homem sentado ao meu lado se chama Aleky Martinelli.

O tal do senhor Aleky se levanta, vem até mim e estende sua mão em comprimento, eu a aperto e ele diz:

- É um enorme prazer te conhecer srta. Luna, gostaria de lhe dizer que pessoalmente sua beleza é ainda mais surpreendente.

Não o respondo apenas lhes dou um sorriso forçado, que velho tarado. Só podia ser, amigo de quem é, não me surpreende. Então minha madrasta diz:

- Ele querida agora é seu dono - fala de maneira branda, confusão se faz na minha mente.

Como? Acho que não ouvir direito, como assim meu dono? Pisco meus olhos varias vezes pra ter certeza de que não estou sonhando, pera, sonhando não, tendo pesadelo. A olho com os olhos arregalados e ela da uma risada daquelas que as madrastas malvadas dão sabe?

- Como assim meu dono? Do que você está falando?

- Simples querida, ele te comprou - fala como se isso fosse a coisa mais normal do mundo.

- Como assim me comprou? Vocês estão loucos!? - grito mas alterada. - Ele não pode fazer isso. Não sou objeto, sou uma pessoa. Ninguém pode me comprar!

            
            

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