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Tateio o chão, é fofo e macio, encontro as parede e são da mesma textura do chão, macio fofo e frio. Com passos lentos caminho até encontrar um canto da parede e me sento, abraço meus joelhos, sinto meus olhos arderem.
Deus, por que levou minha mãe para si? Isso tudo só está acontecendo porque ela não está mais aqui. E não satisfeito ainda levou o meu pai, a única pessoa que me amava de verdade nesse mundo de merda.
Se minha mãe estivesse aqui, meu pai não teria se casado com aquela cobra, eu não teria entrado em depressão e nem teria me afastado das pessoas de quem gosto. Estaria sendo uma adolescente normal e feliz, talvez eu até tivesse tido uma irmãzinha ou um irmãozinho e alguém para chamar de namorado. Talvez... O acidente nem teria acontecido, estaríamos todos juntos até hoje...
As lágrimas transbordam de meus olhos, elas estão quentes. A solidão me abraça e eu a abraço de volta, ninguém gosta de mim, e as únicas pessoas que gostavam, que gostavam de verdade, me deixaram. Não tenho ninguém, e ainda fui deixada com esse lixo que tinha que chamar de madrasta.
Por mais que ela não gostasse de mim, ela não tinha o direito de me vender como se eu fosse um animal! Agr! Eu a odeio tanto, que não me importaria de matá-la com as minhas próprias mãos, ainda bem que meu pai não deu um filho aquela megera.
O que o futuro me reserva? Eu irei ser torturada até a morte? O que aquele velho quis dizer que o dever dele é arrumar mulheres qualificadas? Será que ele quer me transforma em uma prostituta de luxo? Não, não... Eu não quero ser isso. Não posso ser isso!
Apesar de não gostar de ficar conhecendo pessoas novas, eu sempre sonhei em um dia me casar, com um homem honrado que nem o meu pai. Que respeita e cuida da mulher que tem, um homem que lutaria pela minha felicidade e eu lutaria pela dele também. Um parceiro de vida. Eu acreditava que um dia encontraria o meu, assim como minha mãe encontrou o dela.
É assim que meus sonhos vão todos pro ralo, dessa maneira?
Nos livros, na parte final sempre tem um final feliz, será que isso acontecerá comigo também? Duvido, isso não é ficção, é o mundo real, onde pessoas morrem, e outras sentem prazer em fazer maldade com outros seres vivos.
Não consigo controlar as lágrimas, sinto minha garganta fechando, meu nariz entupindo e ao mesmo tempo corizando, não importa o quanto eu limpe, as cenas imaginaria de possíveis futuros vem em minha mente e me fazem chorar ainda mais compulsivamente, não consigo suportar a ideia de ser torturada, estuprada e virar um objeto sendo comercializada para vários homens diferentes a cada miserável noite pelo resto da minha vida. Meu peito doí, não aguento mais chorar; sinto meus olhos ficando pesados, sem forças para me manter sentada apenas sinto o contato da minha pele sobre o chão fofo, aos poucos vou fechando os meus olhos e deixo o sono me levar por alguns instante para longe de todo esse sofrimento.
[ Visão de Stefano Martinelli]
- Vai rolar uma festinha na empresa do sócio do seu pai, ouvir dizer que varias beldades vão está lá, iai vamos? - Enzo entra no meu quarto.
- Quando vai ser? - pergunto e guardo minha bebezinha.
- Desse jeito essa arma vai perde a cor, tu não para de limpar ela, cara.
- Cuida da tua vida, que da minha glock cuido eu. - fecho a gaveta e tranco.
- Não tá mais aqui quem falou, a festa vai ser daqui vinte minutos.
- E você só me fala isso agora, porra!? - questiono alterado.
- Você sumiu o dia todo, queria o que? - fala calmo, como se isso fosse o obvio.
- Que me mandasse uma mensagem, idiota! Existe celular pra quê? - continuo falando alterado e Enzo segura o riso, o que me deixa ainda mais estressado.
- Ih cara, vai ou não? Diga logo. - pergunta impaciente.
- Dez minutos e estou pronto.
Ele assente e sai do meu quarto. Desgraçado.
O meu dia hoje não foi nada produtivo, era para eu ter dado as boas vindas para os calouros, porém desde de ontem estou estressado com a conversa que tive com meu pai e a única coisa que estou fazendo é enchendo o boga de cachaça e descarregando minha glock nos alvos.
Estou na merda!
Suspiro frustrado e caminho sem pressa para o banheiro, tomo uma ducha fria e enquanto a água escorre por meu corpo tento esquecer a conversa com meu pai, durante o dia inteirinho fiquei pensando em como seria essa mulher que ele iria arranjar, na minha mente só vem mulheres feias e mais velhas que eu.
A minha mãe morreu no parto da minha irmã caçula, minha irmã hoje tem dez anos de idade e está numa escola feminina na Europa, ela se chama Nina.
Sinto falta da mamãe, ela era uma mulher forte, com os filhos ela era sempre muito carinhosa.
Sempre soube que meus pais não se amavam, meu pai nunca fez questão de esconder isso e sempre batia nela na frente dos filhos.
Uma vez eu tentei defendê-la, ele não gostou e me deu um dos piores castigos da minha vida. Ele me arrastou pelos cabelos e chamou todos os guardas que estavam dentro da casa, os empregados também. Ele mandou que levassem um chicote para ele e ali ele me arrancou a blusa e chicoteou minhas costas, não satisfeito, pegou a armação e atirou no meu dedão do pé. Eu tinha apenas quatro anos de idade, as cicatrizes estão até hoje em minhas costas e isso não foi nem o pior.
Quando voltei do médico da família, já era noite, meu pai estava me esperando na sala sentado no sofá, minha mãe estava semi nua de joelhos ao seu lado, ele a segurava pelos cabelos. Ele a obrigou a chupá-lo na minha frente, as lágrimas escorriam dos olhos dela e isso me machucava tanto, eu não tinha forças para fazer nada, eu ainda estava zonzo e só tinha quatro anos...
Eu a vi sendo estuprada na minha frente, isso foi o pior de qualquer coisa que ele já tenha me feito, e quando acabou ele disse que era assim que tinha que se tratar as mulheres, porque elas não eram nada além disso. Ele me disse que a esteva castigando por não ter me dado uma boa educação. Que as mulheres eram objetos.
No entanto, elas são necessárias, elas geram os herdeiros.
A medida que eu ia crescendo, via o quão hipócrita que meu pai estava sendo. Pois na academia, o Don precisa manter o respeito e a moral, e isso vem através da família.
Meu pai é um lixo de ser humano, ele não tinha o direito de fazer o que fazia com minha mãe. Mas quando entendi isso, já era tarde demais, minha irmã nasceu e ela se foi desse mundo.
Não existe segundo casamento aqui, mesmo após a morte de um dos cônjuges. Mas meu pai é tão baixo que ele pega vagabundas e mancha ainda mais a memória e honra da minha mãe, mesmo que ele faça isso por baixo dos panos.
Apesar da honra vim com a família, o dever do Don é proteger sua esposa e herdeiros, o dela é obedecê-lo, cuidar dos filhos e esquentar a cama, caso não faça, ele tem o direito de castigá-la, e isso incluí castigos físicos nas frentes de todos.
Mas o que meu pai fazia era desumano, e eu o odeio.
Não quero pensar nisso, talvez eu esteja indo para minha última festa solteiro. Preciso aproveitar ao máximo.