Capítulo 4 clube de tiro

Amelia acordou bem cedo no dia seguinte para que não se atrasasse para o primeiro dia de trabalho. Ela não daria motivos para Chase reclamar e seria diferente das outras secretárias, resistiria os três longos meses sem desistir. Ela colocou uma calça preta e uma camiseta fina, exatamente como Chase mandou.

Depois de minutos se olhando no espelho e decidido se estava mesmo bonita, Amelia decidiu que não perderia mais tempo se preocupando se seu cabelo estava liso o suficiente e chamou um táxi. Ela precisava urgentemente comprar um carro e fazer a carteira de motorista, e agora com o salário bem mais alto que a média para uma secretária ela conseguiria fazer isso.

- Bom dia! - Ela acenou para a recepicionista com um sorriso.

- Bom dia. - A outra sorriu. - O Sr. Albretch está lhe esperando.

Ela concordou e bateu na porta antes de escutar ele mandar ela entrar.

- Bom dia, Sr. Albretch - ela falou, deixando sua bolsa na cadeira ao lado -, eu preparei a sua agenda ontem a noite e...

- Não vou seguir a agenda hoje. - Ele tirou os olhos da janela e olhou para ela. - Que bom que atendeu ao meu pedido sobre roupas leves.

Amelia odiava a forma como ele falava com ela. Como se ela fosse uma cadelinha que precisasse de ordens e supervisão.

- O que pretende fazer? - Ela resistiu ao ímpeto de revirar os olhos.

- Nós vamos a um clube de tiro no qual eu sou um dos patrocinadores.

- Nós?

- Você é a minha secretária, deve ir comigo.

- Creio que ir a um clube de tiro não esteja nas funções de uma secretária.

Chase soltou um suspiro e balançou a cabeça. Ele sabia que seria difícil trabalhar com ela porque não poderia enganá-la como as outras. Amelia conhecia as leis e seus direitos e só por isso era uma inconstância perigosa.

- Eu pago o seu salário e você trabalha para mim, então eu digo o que faremos no horário de trabalho - ele respondeu sem paciência.

Amelia não entendia como ontem a noite, mesmo que só por alguns segundos, ele foi legal com ela e agora estava sendo um completo babaca.

Ela guardou a agenda em sua bolsa e colocou as mãos na cintura, esperando a boa vontade de Chase.

- Vamos - ele chamou, pegando a jaqueta sobre a mesa.

Amelia seguiu ele sem questionar e entraram no carro particular da empresa, que possuía o nome de Chase na placa do carro. Que tipo de narcisista egocêntrico colocava o próprio nome na placa do carro? Não havia nada mais ridículo.

- Não sei porque precisa de mim - ela comentou, olhando pela janela. - Eu preparei a sua agenda e o senhor decidiu que não vai segui-la, então eu deveria preparar os horários de amanhã.

- Vou ensiná-la a atirar - ele respondeu como se fosse óbvio.

- O quê? - Olhou para ele perplexa.

- Isso mesmo. E pare de me chamar de senhor, meu nome é Chase.

- Não acho correto chamar meu chefe pelo nome. Eu prefiro Sr. Albretch.

- O que mais você não acha correto?

Era um desafio, ela sabia. Ele estava a testando desde que entrou naquela empresa e as provocações não parariam por ali.

- Não é meu dever achar ou não coisas erradas - ela respondeu sem vacilar. - Quanto às aulas de tiro, eu prefiro apenas ficar observando de longe.

- Vai me agradecer quando precisar se defender. - Ele deu de ombros, saindo da sala. - A minha família e os amigos dela colecionam inimigos e pessoas dispostas a pagarem pelas nossas cabeças.

- Sr. Albretch! - Ela chamou, andando com pressa atrás dele. - O que quer dizer?

Chase não respondeu, apenas continuou andando até seu carro particular, sem olhar para os lados e nem dar bola a ela. Amelia só conseguiu retomar o fôlego quando sentou ao seu lado no passageiro e o encarou com perplexidade.

- O quê? - Ele perguntou com as sobrancelhas erguidas.

- Ninguém me avisou sobre ser um trabalho perigoso - ela disse, agradecida por não faltar fôlego. - Eu deveria fazer o que secretárias fazem: marcar horários, atender telefones e lhe entregar papeladas.

- E eu deveria fazer o que advogado fazem: defender os mocinhos, ganhar causas e ganhar em cima de pessoas sem conhecimento jurídico.

Amelia só queria gritar e lhe dar um chute. Ele a colocou nesse trabalho sem dar explicações nem detalhes sobre o cargo, e agora com esse contrato ela era obrigada a seguir todas as determinações que Chase Albretch lhe desse. Sem contar que, para um advogado de respeito, ele continha muita ironia.

[...]

Amelia não poderia se arrepender mais do dia em que pisou na empresa Albretch, e estava remoendo isso enquanto observava Chase colocar o colete a prova de balas por cima da regata branca. Por baixo do terno, ela nem imaginava que ele seria musculoso daquele jeito, porém respeitando o limite. Ela não sabia como ele não tinha uma namorada, talvez fosse por conta de sua vida criminosa. De qualquer jeito, rosto bonito nunca fez bom caráter.

- Amelia - ele chamou, mirando no alvo a sua frente com concentração.

Ela deixou sua bolsa de lado e foi até ele, pulando de susto quando Chase disparou a arma.

- Ah, meu Deus! - Amelia colocou as mãos no peito para acalmar o coração.

- Se assustou? - Ele soltou uma risada.

- Sr. Albretch, eu... - Ela começou, ainda de olhos fechados.

- Pare de ser tão chata.

- Eu sou chata?

- É.

- Pelo menos eu respeito as leis.

- Não estou fazendo nada ilegal. - Abaixou a arma. - Tiro esportivo é legalizado e dentro da lei.

- O senhor sabe que não estou falando disso.

- Quando me chama de senhor me faz parecer 50 anos mais velho.

- É porque eu respeito os mais velhos e por esse motivo o chamo de senhor.

Chase parou e deixou a arma sobre a mesa, então colocou as mãos na cintura e inclinou a cabeça levemente, franzindo o cenho.

- Você tem 22 anos e eu 36 - ele lembrou. - Não sou tão velho assim.

- Ainda são 14 anos de diferença.

- Tem razão, enquanto você estava nas fraldas eu estava dando meu primeiro beijo.

- Pois é!

- Vai me dizer que nunca teve um homem mais velho. Você chamava ele de senhor?

- Do que está falando? - Amelia franziu o cenho.

- Nunca namorou com um homem mais velho antes?

- Me desculpe, mas minha vida pessoal não diz respeito a você e os relacionamentos de uma secretária também não.

- Se eu perguntei é porque estou curioso. - Ele estreitou os olhos, desafiando ela. - Me diga, já teve ou não?

- Não. - Ela cruzou os braços.

- Como assim não? Até a Caroline já apresentou para a família um homem de 45 anos. - Chase arregalou os olhos, pensando. - Você nunca esteve com um homem antes, não é? Nunca namorou ninguém.

- Não, pare de ficar criando suposições sobre mim - ela parou ele. - E eu nunca estive com um homem mais velho porque prefiro os mais novos.

Chase soltou uma risada alta e colocou a mão sobre a boca para se conter.

- Então você é como a mãe deles? - Ele zombou.

- Isso é totalmente desnecessário e antiético. Não vou entrar nesse assunto com você e peço que não insista.

- Chata, chata e chata - ele repetiu pausadamente, irritando ela.

Chase Albretch tinha o dom de estressar Amelia. Ela nunca pensou que poderia se irritar tão facilmente com alguém, mas seu chefe estava ali para provar que poderia estressá-la em segundos, até mesmo de boca fechada.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022