–Senhora Diaz, me siga até minha sala, irei te instruir em como gosto das coisas, para que não haja erros.– Ele diz e sinto que tudo que sai da boca desse homem tem duplo sentido. Eu o acompanho até sua sala e o vejo trancar a porta, ele está atrás de mim, a poucos centímetros de distância e sinto minha respiração ficar pesada.
–Sente-se, senhora Diaz.–Ele diz, perto demais do meu ouvido, sua voz é sexy e meu corpo todo se arrepia. Eu me sento na cadeira a sua frente e fico feliz com a mesa nos distanciando. Ele me olha com um sorriso sarcástico, como quem gostaria de dizer algo mas não tem coragem o suficiente, então resolvo ajudá-lo.
–Gostaria de me perguntar algo, senhor Gonzalez?–Digo firme e me arrependo no mesmo instante por tamanha ousadia, mas ele logo me responde.
–Você me fascina, Cecília. O que te fez sair da boate?– Ele pergunta e meus olhos se arregalam, por que ele está tão interessado no meu passado? Pensei que não fosse dar importância para isso.
–Desculpe senhor, mas acredito que a minha vida pessoal não é do seu interesse, meu trabalho será feito independente do que me acontecer lá fora. Se não houver nenhuma pergunta profissional a ser feita, gostaria de começar a trabalhar.– Digo e o vejo me examinar, eu não deveria falar assim com o meu chefe, mas não vou permitir que ele pense que sou uma dessas mulheres que misturam vida pessoal com profissional.
–Tudo bem, vou pedir a Sandy que te apresente a empresa e te indique onde você irá trabalhar.– Ele diz e fico aliviada, não quero ser demitida no meu primeiro dia, embora ter que conhecer o lugar com aquela mulher não me agrada em nada, ela deixou bem claro que não vai com a minha cara, mas terei que lidar com ela se vamos trabalhar no mesmo ambiente. Não demora muito e a vejo entrar na sala, ela está com uma saia preta e uma blusa vermelha de botão que deixa seus seios avantajados em evidência, seus cabelos loiros estão em um coque despojado, e o batom vermelho combina muito bem com seus lábios. A bruxa é linda, uma mulher sexy que deixaria qualquer homem enfeitiçado, inclusive o nosso chefe, que certamente já foi pra cama com ela.
–Sandy, mostre onde ela irá trabalhar e depois peça para Jason vir até a minha sala.
–Pode deixar, querido.– Ela diz e não posso evitar minha cara de nojo, agora tenho certeza que eles dormem juntos. Nesse momento vejo o rosto dele mudar, ele está nitidamente irritado.
–Senhora Diaz, pode esperar lá fora por favor. Preciso ter uma conversa com a minha secretária a sós.– Ele diz e eu nem o respondo, saio da sala e aguardo até que alguém me diga onde posso começar. Alguns minutos depois vejo Sandy sair da sala irritada e percebo que será ainda mais difícil estar perto dela agora, pelo visto não foi nada boa a conversa que eles tiveram, mas não posso ficar parada aqui esperando que ela resolva me instruir. Quando eu penso em ir até sua mesa, a vejo vindo em minha direção.
–Sua mesa é essa, vamos ver até onde você aguenta. Quero todas essas planilhas prontas pra hoje. – Ela diz e eu engulo minha resposta, não vou dar esse gostinho pra ela.
–Tudo bem. Começarei agora.– Eu digo e começo a organizar tudo, vai ser trabalhoso, está tudo uma bagunça, com certeza não fazem isso a meses.
...
As horas passam rapidamente, ainda tenho muito serviço para fazer, Sandy não veio mais até mim e fico grata por isso, quanto mais distante daquela mulher eu ficar, melhor seria pra mim. Meu chefe não saiu o dia todo, um homem entrou em sua sala e estão lá desde então. Já está próximo do meu horário de almoço e envio uma mensagem para Lúcio avisando que pode vir me buscar, não demora muito e ele avisa que já está na recepção me aguardando. Então eu desço de elevador e vou ao seu encontro, ele está de calça jeans, uma blusa branca social e seus cabelos estão penteados para trás, o deixando ainda mais bonito.
–Você está linda.– Ele diz e sorrio imediatamente.
–Você não está nada mal.– Digo e o vejo sorrir de lado.
–Pensei em irmos em um restaurante que tem aqui perto, o que acha?
–Por mim está ótimo.
–Então vamos.– Ele diz e seguimos em direção ao restaurante que ele escolheu, fico encantada com a beleza do lugar, Lúcio já havia reservado nossa mesa e fico feliz que ele tenha escolhido uma próximo ao jardim que se encontra na parte externa, deixando tudo mais bonito. O garçom chega até nós e entrega o cardápio, Lúcio se oferece para escolher o meu prato e eu o agradeço, certamente não entenderia metade do que estava escrito ali, então ele faz os nossos pedidos e ficamos conversando sobre como estava sendo meu primeiro dia de trabalho. Não demora muito e nossos pratos estão em nossa mesa. Ele acertou em cheio, pediu salmão grelhado com arroz e legumes para nós dois, para acompanhar um vinho branco que com certeza foi mais caro que meu salário mensal. A comida está uma delícia, e quando estamos quase finalizando vejo meu chefe se aproximando da nossa mesa, ele está acompanhado do homem que ficou conversando durante a manhã inteira, seus olhos me fitam e não consigo decifrar o que ele está tentando fazer.
–Cecília, não sabia que vinha para esse restaurante. – Ele diz ignorando a presença de Lúcio e me sinto ofendida, só por que não sou da sua classe social não significa que não posso comer em um restaurante chique.
–Desculpem os modos do meu amigo aqui, eu sou Jason.– O homem ao seu lado diz tentando cortar o clima ruim.
–Muito prazer, me chamo Lúcio.
–Cecília.– Digo ainda sem entender o que está acontecendo, o senhor Gonzalez não tira os olhos de mim, somente quando Jason o chama que ele responde.
–Vamos deixar que vocês terminem o almoço.– Ele diz e sai sem expressar qualquer emoção. O vejo de longe me observar mas tento evitar, mantendo a atenção em Lúcio que parece não ter percebido a situação constrangedora. Após o almoço Lúcio me levou de volta ao prédio e nos despedimos, combinando de marcar alguma coisa para o final de semana. Agora estou no elevador e torço para que meu chefe esteja em alguma reunião e não consiga me atender no momento, não quero voltar ao assunto de antes, ainda mais depois da cena do almoço. Caminho lentamente até sua sala e não encontro Sandy em sua mesa, então bato na porta do escritório, mas ninguém responde, resolvo abrir e encarar meu chefe de uma vez, mas fico boquiaberta com a cena que vejo, Sandy está em seu colo rebolando, ele está de olhos fechados e parece gostar muito do que estão fazendo, ela quando me vê dá um sorriso malicioso, sinto vontade de ir embora, a raiva toma conta de mim, mas quando estou saindo ele percebe a minha presença.
–Porra.– Ele diz tirando Sandy de seu colo e fechando o zíper de sua calça. Eu mal consigo olhar para eles, a cena nojenta irá me assombrar por dias.
–Me desculpe, a porta estava aberta, o senhor me pediu que viesse em sua sala e por isso estou aqui, mas posso voltar mais tarde.–Falo e torço mentalmente para que ele me permita sair, mas ele me manda entrar e pede para que Sandy nos deixe a sós. Ela me olha furiosa e sai da sala, eu não consigo compreender, se ela não queria ser interrompida, ao menos deveria ter trancado a porta.
– Me desculpe pelo que viu, eu não..– Ele começa a dizer mas eu o corto e logo respondo.
–Senhor Gonzalez, a sua vida pessoal não me diz respeito, o que aconteceu aqui não é do meu interesse e não se preocupe que não irei contar para ninguém.
–Cecília, me chame de Eric, sem tantas formalidades, por favor. Agora me responda uma coisa, qual a sua relação com aquele homem? Foi por causa dele que você saiu da boate? Sei que o que ganha aqui não é suficiente para bancar um restaurante como aquele em que estava.– Ele diz e juro que se não fosse meu chefe eu daria um tapa em sua cara nesse momento.
–Senhor Gonzalez, escute bem, pois será a última vez que irei te dizer isso. A minha vida pessoal é de exclusiva responsabilidade minha, com quem eu saio ou deixo de sair no meu horário de almoço é um problema meu, mas para matar sua curiosidade, eu não preciso que homem nenhum pague minhas contas, o senhor como um bom advogado deveria saber que as ofensas que me fez são motivo de processo, no qual a causa seria facilmente ganha, mas deixarei essa passar pois tenho certeza que não irá se repetir. Estou certa?– Digo tão irritada que nem ligo mais se ele me demitir, precisava colocar ele em seu devido lugar. Ele fica surpreso com a minha reação e pela primeira vez o vejo sem saber o que dizer.
–Me desculpe se eu a ofendi, não foi minha intenção. Gostaria de avisa-la que semana que vem terei que fazer uma viagem para Seattle para verificar o andamento da construção da nova filial da empresa, mandei que comprassem suas passagens e reservassem um quarto de hotel para você, precisarei que me acompanhe. Ficaremos 3 dias fora, então se precisar de algo me avise que daremos um jeito. – Ele diz e não consigo acreditar, nunca sai de Los Angeles e ficar longe da minha família não me deixará à vontade.
–Senhor, será necessário a minha presença? Tenho minha faculdade e..– Antes que eu termine de dizer ele me responde.
–Senhorita Diaz, nós iremos na sexta e voltaremos no domingo, que eu saiba você não tem aula aos finais de semana, e se o problema for a aula de sexta, eu já entrei em contato com a sua faculdade. Algo mais a ser discutido?– Ele diz e minha vontade é ir embora, mas preciso desse emprego, então nego com a cabeça e não falo mais nada.
–Tudo bem então, agora vá fazer seu trabalho e feche a porta quando sair.– Ele diz e não me olha mais, eu saio de sua sala e nem olho para onde Sandy está, minha raiva é tanta que se eu a ouvir respirar sou capaz de voar em cima dela.
...
O restante do dia passa muito rápido, eu termino às planilhas e quando olho no relógio já são 16h. Eu precisei trocar meus horários na faculdade, trabalho de dia e a tarde vou para a aula, até eu me acostumar com essa rotina, vai ser difícil. Saio do escritório e vou em direção ao ponto de ônibus, como sempre, ele demora mais que o normal para chegar na faculdade. Já estou atrasada então vou em direção a sala de aula e noto que todos estão em silêncio, prova surpresa, que merda.
...
A prova acaba e com certeza eu levei bomba, mas evito pensar nisso agora. Mando uma mensagem pra Emma que logo me responde, marcamos de nos encontrar na minha casa para eu contar como foi meu primeiro dia. Chego em casa e já são 21h, Emma já me esperava ansiosa para saber tudo o que havia acontecido, eu conto cada detalhe e as reações que ela faz em cada assunto me faz rir a todo o momento.
–Amiga, você está muito ferrada.– Ela diz e eu não consigo compreender.
–Não entendi.
–O seu chefe ficou com ciúmes, ele te viu com o doutor Lúcio e agora quer te levar pra Seattle pra ficar a sós com você. – Ela diz como se fosse algo óbvio e eu acho graça de tudo isso, ela só pode estar ficando louca.
–Emma, você está lendo livros demais, eu acabei de te falar que o vi transando com a secretária.
–Depois não diga que eu não te avisei, esse homem está apaixonado por você.
–Você está louca. Ele é só mais um desses ricos que acham que podem ter tudo o que querem só por que têm dinheiro para pagar. Mas eu não estou a venda. – Digo séria após lembrar do insulto que ele me fez hoje mais cedo.
–Você precisa se divertir, nós vamos para balada final de semana, e eu não aceito um não como resposta. – Ela diz e eu lembro do convite que Lúcio me fez de sairmos, talvez seja legal me distrair com meus dois amigos.
–Tudo bem então.
–Digo e ela sorri.