Meu subconsciente, como sempre, fazendo me sentir pior do que já estou, nunca dormi com um desconhecido, mas quem pode me culpar? Não é nada fácil pegar a pessoa com quem você se casaria dormindo com outro homem em sua cama, depois discutir com sua mãe que resolveu arrumar um namorado vinte e cinco anos mais novo e no final de tudo ter o carro assaltado e para completar descobrir que o seguro havia sido cancelado por falta de pagamento. Não sei como pude me esquecer de pagar essa fatura. Em um único dia tive uma série de acontecimentos catastróficos que resultaram em muita tequila, um desconhecido com uma linda tatuagem de fênix e acordar em um quarto de motel. Será que ele ficou chateado por eu ter ido embora e deixado cem reais no travesseiro?
Resolvo empurrar meus problemas para debaixo do tapete e corro para fazer minhas higienes e vestir uma roupa rápido. Faço tudo em tempo recorde e finalizo com uma maquiagem básica. Assim que termino, desço as escadas e vejo minha cunhada e sua "bola de futebol" quer dizer barriga enorme colada no fogão.
- Bom dia, minha cunhada linda! Como você está?
- Beta meu amor, estou nada bem. – Viro a minha cabeça e sinto uma forte pontada, maldita ressaca.
- Eu sei, sua cabeça está doendo. Por isso eu deixei separado o comprimido do Grey e um copo de suco de laranja fresquinho para você. – Depois de cinquenta tons de cinza só chamamos advil de remédio do Grey.
- Beta, você não existe, obrigada! E esse meninão anda chutando muito? – ela sorri alisando sua barriga.
- Ele decidiu que não terá horário para treinar.
- Oh, Vini! Para de ser sapequinha e dê descanso para sua mãe. – Falei alisando sua barriga e ele chuta.
- Viu? Espero que ele seja uma criança bem calma e tranquila.
- Ele é filho do Maurício, nunca vai ser quieto, teve uma vez quando nós dois éramos crianças que....
- Pare de ficar contando os meus podres de infância, mana. – Meu irmão desce as escadas de cara amarrada.
- Eu queria muito saber o final da história, Afro.
- Não tem final nenhum. – Ele diz seco olhando para mim.
- Maumau! Me deixe contar, vai – Faço beicinho na tentativa dele me deixar contar algumas de nossas traquinagens, porém não obtive sucesso. Ele cisma que as nossas histórias malucas podem influenciar seus filhos, coisas de pai coruja.
- Pode contar, mas aí você vai ter que estar disposta a andar uma quadra e pegar um ônibus e o metrô.
- Você é ridículo. – Mostro a língua para ele, que sorri.
- Eu te amo. – Ele sorri vitorioso.
- Nossa, essa relação fraternal de vocês é muito estranha. Espero que Anny e Vinicius não fiquem desse jeito.
- Às vezes eu queria ser filho único, mas aí olho para essa praga aqui e vejo que minha vida sem ela não teria sentido.
- Ownt! Eu te amo, Maumau. – Jogo um beijinho no ar e ele pega.
- Retiro o que acabei de dizer, quero que a relação deles seja igual a de vocês.
- E vai ser, meu amor.
Os dois começam a se beijar e minha cabeça começa a doer novamente e mais uma vez amaldiçoo aquelas doses de tequila.
- A pegação tá bacana, mas precisamos ir.
- Tá bom sua chata, nessas horas eu queria ser filho único.
- E você perderia toda a luz que eu trouxe à sua vida.
- Nada convencida. Nós só vamos depois que você se alimentar.
- Mas não quero comer. – Cruzo os braços igual uma criança birrenta.
- Mas vai, nem que seja uma torrada e uma xícara de café.
- Me ajuda, Beta. – Olho para a minha cunhada em súplica pedindo apoio.
- Você está sozinha nessa. Eu preciso da tia favorita dos meus filhos, viva.
- Eu sou a única tia deles.
- Exatamente.
Depois de comer obrigada pelos dois chatos me despeço de minha cunhada e entramos no carro, já no meio do caminho olho para o meu irmão e fico pensando em como é bonito ver o amor dele pela esposa.
- O que você está pensando, pequena? – ele me dá uma rápida olhada e volta atenção para a estrada.
- Estava pensando em você e Roberta. Meu irmão, você é um sortudo, é uma pena que outros membros da família não tenham a mesma sorte.
- Afrodite, foi muito melhor você ter descoberto agora do que depois de casada com o João Marcelo.
- Isso você tem razão, mas todos da nossa família estão felizes. Mamãe foi feliz com o papai e agora está com o Manolo por mais que eu não aprove e você encontrou a Roberta e eu achei que tinha encontrado a metade da minha laranja e...
- A metade estava podre. – Ele começa a rir, mas se controla assim que o olho torto.
- Desculpa pequena, não deu para controlar. Mas pensa que agora você está de volta ao mercado e pode sair e namorar, enfim, conhecer pessoas novas e interessantes.
- Mas Maumau, eu já tenho 29 anos. Daqui a pouco vai ser impossível ter filhos.
- Não pense assim! E outra, você está nova e está voltando a ser saudável. Relaxe e pare de bobeira.
- Será que um dia eu vou voltar a ser feliz e amada? – uma lágrima escorre por meus olhos e a seco rapidamente.
- Com toda a certeza. – Ele sorri para mim me dando forças.
- Obrigada, mano! Não sei o que faria sem vocês.
- A nossa família pode ser louca e muitas vezes disfuncional, mas sempre estaremos juntos para apoiar uns aos outros, isso é o legado deixado por nosso pai.
Mauricio me deixa em frente à empresa em que trabalho e ele vai para o seu escritório de contabilidade. Meu irmão tem 38 anos, é casado com a Roberta que é um amor de pessoa e juntos eles têm a Anny Luiza e agora estão à espera do pequeno Vini. Maurício, tem seu próprio escritório de contabilidade quase em frente onde trabalho. Eu sou gerente comercial de propaganda na empresa Star Hair, uma empresa antes voltada apenas para estética feminina, porém com o mercado de produtos masculinos crescendo nossa empresa expandiu e isso significa ainda mais trabalho para mim, mas temos um chefe muito legal que é amado por todos, mas isso já não se pode dizer de seu filho que assumirá seu cargo. Os rumores na empresa são que Julio Muniz é linha dura e babaca e fico torcendo para que isso seja mentira, pois caso não seja, prevejo problema.