Sento na minha mesa, ligo o computador e começo a rascunhar o novo design do rótulo para o shampoo, mas não consigo me concentrar, por que me tomas aquele imbecil? Ele acha mesmo que me sujeitaria a dormir com o pai dele para conseguir meu cargo. Sujeitinho mais arrogante e intragável, trabalhei de semblante fechado e com afinco até o almoço, embora não esteja sentindo fome meus amigos me arrastam até o restaurante, o que foi bom para resfriar a cabeça, só que logo me arrependo, pois os dois começam a brigar comigo.
- Afrodite, você vai comer nem que pra isso eu tenha que te amarrar na cadeira.
- E eu te apoio, Rodrigo. – Jacque se manifesta.
- Vocês estão parecendo meu irmão e a mulher dele, Na verdade, aconteceram tantas coisas comigo esses dias, que me deixaram sem vontade alguma de comer.
Rodrigo chama o garçom e pede um prato extra e talher, a princípio se recusa a nos dar, pois é norma do lugar, meu amigo diz algo em seu ouvido e ele retorna com o prato e olha para mim pesaroso, lanço um olhar enviesado para Rodrigo que finge não perceber.
- Prontinha deusa, coloquei bem pouquinho para você comer, o macarrão está delicioso.
Olho para a comida e não tenho fome, sinto uma espécie de nojo, não sei explicar direito, só sei que meu estômago se revira. Pego o garfo e tento dar uma garfada no macarrão, mas acabo abaixando o talher novamente, meus amigos nada falam e apenas observam, pois sabem da luta que travo todos os dias com essa questão de alimentação. Mais uma vez tento levar o garfo até minha boca e finalmente consigo, mastigo rapidamente e engulo, o garçom vem a nossa mesa e põe um copo de água com limão e gelo.
- Tenho uma sobrinha que passa pelo mesmo problema que você, não se preocupe, é por conta da casa. – Ele sorri me dando força e fico vermelha.
Vendo meu desconforto Jacque me pergunta o que aconteceu na sala de Julio e assim que terminei de contar ambos estão indignados.
- Não acredito que aquele cretino fez pouco caso de você! Vou pôr o nome dele na geladeira.
- Ele não vale a pena Rodrigo, e também não acredito que isso funcionará.
- Então, vamos pôr o nome dele na boca do sapo?
- Excelente ideia, Jacque. – Ele terá uma morte lenta e dolorosa, os dois começam a rir malignamente.
-Vocês deveriam ver como são estranhos quando fazem isso. E outra, dá para vocês pararem com essa coisa de despacho?
- Mais vai ser uma mandinguinha de leve.
- Chega! Por mais imbecil que ele seja, é o nosso chefe.
- Você quem sabe, mais se mudar de ideia tenho uma prima que pode fazer a mandinga pra nós.
- Nem vou me dignar a responder, Jaque.
- Tá bom, eu só estava querendo ajudar. E sobre sábado, o que houve, para você sumir?
- Aconteceu tanta coisa que nem sei se dará para contar agora. – Olho para eles e respiro fundo, cansada.
- Então resuma para nós, mas antes dá mais uma garfada. – Rodrigo me obriga.
Como eles pediram, eu resumi o máximo que deu e quando terminei Rodrigo estava possesso.
- Como aquele cretino pôde fazer algo desse jeito com você?
- Faltando meses para o casamento! O que você vai fazer, Afro? – Jacque me pergunta e sinceramente não faço ideia.
- Vou enviar uma mensagem dizendo que quero conversar com ele sobre vendermos o apartamento.
"Afro, precisamos conversar!" – e como passe de mágica lá está ele querendo conversar.
"O que você quer?" – digito rapidamente.
"É sobre o apartamento." – Ele mandou um emoji de envergonhado e minha vontade era de mandar ele tomar no quinto dos infernos.
"Hum!" – digo apenas.
"Pedro e eu queremos comprar a sua parte."– Logo em seguida manda um emoji do cara correndo.
"Vai morar na nossa casa com seu amante?" – digito irritadíssima, como ele ousa?
"Não é isso Afrodite...é... difícil de explicar." – Olho para a mensagem por algum tempo e suspiro.
"Deve ser mesmo, né? Olha só, em relação ao apartamento, você me paga metade dele e metade do valor dos móveis."
"Tudo bem! Semana que vem depositamos o dinheiro para você e Afro..." – Ele mandou outro emoji de envergonhado e essas carinhas estão começando a me irritar.
"Afrodite para você." – Digito e não demora muito ele manda outra mensagem.
"Eu lamento."
"E eu mais ainda." – Digitei em resposta, em seguida travei o celular disfarçando a dor que estou sentindo.
- O que houve? Você estava conversando e de repente ficou séria.
Olho para minha amiga que logo entende.
- Era o João Marcelo? – Ela pergunta, mesmo sabendo a resposta.
- Era sim, ele acabou de pedir que eu venda a minha parte do apartamento para ele e o tal Pedro.
- Que cretino! Espero que você não tenha concordado. – Rodrigo espera a minha resposta.
- Não vou brigar por conta da casa. Se ele quiser ficar, que fique e seja feliz.
- Se fosse eu não teria toda essa maturidade não, a deusa Irene baixou mesmo em você.
- Amiga, não quero me desgastar brigando por algo que só iria me fazer mal.
- Você tem razão. Então no fim João Marcelo era gay? Como pode? Ele era tão machista. Até te repudiava por ser minha amiga.
Explico a eles que meu ex noivo me confidenciou que sempre foi bissexual, mas nunca contou a ninguém por medo de ser repudiado, pois todos da sua família são extremistas em relação a sexualidade e não o aceitariam por isso. Mais ao conhecer o cara que fraguei com ele não pode mais resistir.
- Entendo o lado dele não vou negar, já passei por isso e quando assumi a minha sexualidade fui expulso de casa. Só não aceito o fato dele te fazer de boba por cinco anos. O que Maurício fez quando soube da verdade?
- Não contei toda a verdade para Maumau e nem para ninguém da minha família, só vocês dois que estão sabendo e pelo amor de Zeus, não conte a ninguém.