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Como se tratasse de sair à rua, jogar o laço a um marido e arrastá-lo até sua casa! Como se um estranho pudesse cuidar dela e do filho de outro homem!
Como se atrevia a sugerir algo assim?
- Sabe que tenho razão, Mariah -estava dizendo quando lhe fechou a porta à costas.
Depois, Mariah começou a chorar.
Era a primeira vez que o fazia desde que descobriu que estava grávida, desde que começou a vomitar, desde que o medo a torturava.
Devia ser pelos hormônios, assegurou-se; não por Rhys. Ele não merecia suas lágrimas.
Mas mesmo assim, estas seguiam brotando. Lágrimas de frustração, de ira, de fúria. Lágrimas de traição, de perda, de sonhos destroçados. Chorou até que já não pôde mais.
E então se secou os olhos, limpou-se o nariz e se obrigou a olhar-se no espelho.
Uma mulher de trinta e um anos com o rosto avermelhado a olhou do vidro. Uma mulher de olhos inchados, nariz vermelho e cabelo alvoroçado. Uma mulher que não era bonita, e que tampouco era inteligente, como Rhys dizia. Se o fosse, não estaria naquela situação.
Sensível? Sim, bom, isso sim. Precisamente por ter sido sensível à dor de Rhys estava esperando um filho dele.
Dele, não; dela. Ele não o queria. Pior para ele.
-Parece-me que estamos sozinhos você e eu -disse em voz alta, apoiando a mão no ventre e tentando sorrir, e ficou ali, frente ao espelho, obrigando-se a olhar-se até que conseguiu convencer-se de que era uma mulher forte e valente.
Esteve ali de pé um bom momento. E chegou à conclusão de que não estava tão sozinha. Tinha amigos. Tinha família. Poderia contar com seu apoio... assim que o dissesse.
E como são as coisas, sua irmã Sierra se apresentou na manhã seguinte em sua casa antes de que tivesse oportunidade de dizer-lhe ela mesma.
Mariah se tinha levantado cedo, decidida a seguir adiante com sua vida, mas tinha terminado no banheiro inclinada sobre o vaso sanitário, angustiada pelos vômitos que o médico lhe tinha prometido que desapareceriam logo.
Mas esse logo não parecia chegar nunca, dizia-se Mariah quando, com uma taça de camomila e umas bolachas na mão, voltava a meter-se na cama.
Esteve deitada até quase onze horas, lendo um livro, tomando notas para um artigo, acarriciando a seu bebê.
E então soou a campainha.
Em um primeiro momento, temeu que fosse Rhys, mas depois decidiu que não lhe importaria nem um pouco que fosse. Ainda tinha o estômago um pouco revolto, mas se asseguraria de dirigir o que saísse de sua boca para seus sapatos. Com essa agradável perspectiva, abriu a porta.
- Ora, sinto ter-te despertado - disse Sierra. Era óbvio pela camiseta enrugada e o cabelo revolto de Mariah-. Está pior que eu.
Sierra levava o cabelo vermelho e de pé, uma camiseta de lycra curta e ajustada e umas calças cáqui e um par de botas altas. Mas seu aspecto era intencional.
-Estou trabalhando -mentiu Mariah-. O que passa é que não me penteei.
-Nem te vestiste -era evidente que sua irmã não havia acreditado em nenhuma palavra. Entrou na sala e se voltou para olhar a sua irmã de cima a baixo-. Sabe uma coisa? Está criando seios.
-O que? -instintivamente cruzou os braços sobre o peito e olhou a sua irmã com o cenho franzido. Não tinha nem idéia do que Sierra estava fazendo ali no meio da amanhã mas, certamente, não teria ido medir o tamanho de seus seios.
Um aroma estranho que emanava de uma bolsa que Sierra levava na mão estava lhe revolvendo de novo o estômago.
- Bom, também poderia ser que faz tempo que não te vejo sem sutiã e de camiseta, mas eu acredito que não - se aproximou de Mariah e afastou os braços-. Já era hora. Quantos anos tem? Trinta e dois?
- E um - corrigiu.
- Dá igual. Se aconteceu a ti, também poderá acontecer a mim - Sierra se olhou. Era verdade que estava reta como uma tábua-. Como o tem feito?
-Eu.
- E porque abandonaste o sutiã? Te tornaste uma feminista, ou é por consciência política de gênero?
Mariah suspirou e se passou a mão pelo cabelo.
-Não ia a nenhuma parte, assim não me incomodei em colocar o sutiã.
- Uma das maravilhas de trabalhar em casa. Invejo-te. Nisso e em seus seios.
Invejaria-lhe também a razão pela qual tinha os seios maiores?
-O que faz aqui? -perguntou-lhe, segurando-se no encosto de uma cadeira.
-Acabamos de terminar uma sessão no parque -explicou-, e como estava perto e faz uns dias que não nos vemos, passei pelo O'Toole e trouxe a comida -pôs a bolsa de papel marrom que levava em suas mãos-. Sua favorita.
O aroma. «Não, Por Deus, que não seja...»
-Carne guisada e salada de repolho -sorriu Sierra e abriu os olhos quando Mariah deixou cair a bolsa e saiu correndo-. Mariah? Mariah!
Mas Mariah já estava no banheiro, desfazendo-se da camomila e das bolachas.
Sua irmã esmurrou a porta.
-Mariah? Estás bem?
-Mm... bem... -respondeu quando pôde. Em seguida, sentou-se no chão, apoiada contra a banheira e deixou cair a cabeça entre as pernas. Seu cérebro parecia estar dando voltas e o estômago parecia com desejo de mudar-se para outra parte.
-Tem gripe? Por isso estava na cama?
-Não.
Levantou-se agarrando-se ao lavabo.
- Mariah!
-Estou bem.
Respirou fundo, lavou-se o rosto e os dentes e tentou recuperar um pouco a cor das bochechas.
Estava bem. Aquilo era normal. Mas não podia abrir a porta até que...
-Poderia, eh... tirar essa bolsa... lá para fora?
-Em seguida.
Ouviu sua irmã abrir a porta da rua e voltou a respirar fundo.
-Bem -se disse-. Estou bem.
Quando abriu a porta, Sierra chegava de novo, preocupada. As duas se olharam e afinal foi Mariah quem perguntou:
-O que?
Sierra moveu a cabeça como se tivesse pensado em algo, mas tivesse terminado descartando-o.
-Seios grandes, camiseta grande, sai correndo ao cheirar a carne... Mariah, está grávida?
-E se o estiver?
- Ai, Meu deus - os olhos estavam a ponto de sair das órbitas-. Estás grávida.
-E? Não tem por que ser tão horrível!
-Não, claro que não. É que não tinha imaginado que fosse você a que... é que sempre foste tão...
Não terminou as frases, mas não importava. Mariah sabia bem o que queria dizer: que ela sempre tinha sido a boa da família. A que nunca metia os pés pelas mãos.
E era verdade. Sua irmã já se ocupava de tudo isso pelas duas. E ambas sabiam que se alguma das duas irmãs Kelly ia ficar grávida em uma situação menos que aceitável, seria Sierra.
-Bom -disse sua irmã, que parecia sem saber o que fazer com as mãos-. Vai custar-me um pouco me acostumar -acrescentou com um sorriso-. Quem é o afortunado papai?
-Não importa.
-Não importa? Ele sabe?
-Sabe.
Mariah se encolheu de ombros tentando parecer o mais despreocupada possível.
-Não lhe interessa.
-Que não lhe...? Mas com que tipo de imbecil te...?
-Não é imbecil. Bom, pode ser que sim -sim, sem dúvida o era-. O que passa é que não quer ser pai.
-Pois deveria havê-lo pensado antes.
-Deixa-o, Sierra, por favor.
-Mas...
-Deixa-o.
Não parecia muito disposta a fazê-lo, mas se apoiou contra a parede e respirou fundo. Ao final, parecia disposta a esquecê-lo, mas foi para mudar de tática.
-As pessoas sabem?
-Ninguém. Só ele. E você, agora.
Sierra assimilou a resposta e ficou muito séria.
-Não estará...não estará pensando em não ter a...
-Claro que não! É obvio que vou ter-lo. E penso ficar com ele. Ou com ela.
Olhou a sua irmã com desaprovação por sequer havê-lo pensado.
-Bem. Não acredito que tinha pensado que...
É obvio que não. Conhecia sua irmã e sabia que jamais pretenderia arrumar um engano com outro maior.
Sierra se coçou a cabeça e afundou as mãos naquelas enormes calças que pareciam a ponto de cair dos quadris. Respirou fundo uma vez. E outra.
-Muito bem -disse com um sorriso-. Sempre quis ser tia. O que posso fazer para ajudar?
Mariah piscou. De repente tinha os olhos úmidos.
-Acaba de fazê-lo -disse, abraçando a sua irmã-. Obrigado.
Sierra a abraçou com força.
-Não terá pensado que não ia apoiar-te. Você sempre o tem feito comigo.
E era certo. Mariah sempre tinha estado a seu lado, defendendo o direito de sua irmã de ser diferente. Desde cortar o cabelo e o tingir-lo de verde, de rosa, ou de vermelho. A usar suas camisetas e suas botas militares quando o resto do Kansas usava jeans.
Também tinha apoiado Sierra em seu direito a ter um noivo com o nariz tatuado. E por aquele outro com uma Harley, correntes e os dentes banhados em ouro.
Sierra a abraçou um pouco mais e depois se separou para lhe olhar a barriga.
- Eu acredito que já se nota um pouco. E não só pelos seios. Além disso, tem algo diferente no rosto -acrescentou, estudando-a-. Está... não sei, radiante - sorriu-. Quando nascerá?
-Dentro de seis meses.
Sierra somou com os dedos.
-No Natal?
-O médico diz isso.
- Genial. Assim terei uma desculpa para não ir para casa. Mamãe e papai poderão vir aqui.
-Você acha que virão? -perguntou com cepticismo. Seus pais, granjeiros de toda a vida, fugiam de Nova Iorque tudo o que podiam.
-Conta com isso. Já sabe a vontade que tem mamãe de ser avó.
-Mas nestas circunstâncias...
- Querem que nossas vidas sejam perfeitas, mas estarão encantados com que nos encontremos bem e que vá lhes dar um neto. Estarão aqui -predisse.
E Mariah acreditou com convicção. Seus pais eram o sal da terra. Era certo o que Sierra dizia. Teriam desejado que sua filha ficasse grávida em outras circunstâncias, mas a apoiariam e acolheriam a seu primeiro neto com os braços abertos.
-Podes comer algo? -perguntou Sierra, de volta ao prático-. Morro de fome. Começamos a trabalhar às cinco da manhã.
Mariah sorriu.
-E eu te fiz tirar a comida.
-Não importa. Tem bolachas e manteiga de amendoim? -perguntou, a caminho da cozinha.
Mariah a seguiu.
-Vivo a base de bolachas. O médico me disse que as náuseas passarão logo. De fato, já estou melhor.
Sentou-se enquanto Sierra preparava umas quantas bolachas com manteiga de amendoim. Em seguida abriu umas latas de tónica e cortou uma maçã vermelha em pequenas partes que colocou em um prato. Depois colocou tudo na mesa e se sentou frente a sua irmã.
Mariah comeu uma bolacha e bebeu um pouco de tónica. Tomou outra bolacha e a mastigou consciente do atento olhar de Sierra. Só quando viu que não saía correndo ao banheiro suspirou, aliviada.
-Puf. Então, poderá ir a uma partida dos Yankees esta noite com Jeremy e comigo?
Mariah piscou.
-O que?
-Porque se o teu não é contagioso... -encolheu-se de ombros-. Jeremy tem entradas.
Jeremy, o noivo do mês, era treinador de atletas profissionais e estrelas da Broadway, entre outros. - Quatro assentos junto à terceira base. O que diz?
-Mm...
-Pode trazer quem quiser. Que tal ao pai do menino?
-Não.
-Está bem. Pois traga o Rhys.
- Não! -exclamou, e se tragou a bolacha, mas começou a tossir. Sierra lhe deu umas palmadas nas costas.
-Estás melhor? -perguntou, preocupada-. Por que não Rhys? Já veio outras vezes conosco.
-Porque... não.
-Eu acreditava que ele e você...
Não terminou a frase e olhou a sua irmã com a cabeça inclinada e o cenho franzido.
Mariah tentou não lhe dar importância e se encolheu de ombros.
- Simplesmente não gostaria de ir com ele.
Sierra se encolheu de ombros.
-Está bem. Rhys, não. Pois fica com a entrada e leva a quem quiser -disse, tirando a entrada da bolsa.
-Não conheço ninguém que...
-Pois vá sozinha. Mas vá.
-Eu...
Olhou a Mariah como tinha feito desde que eram meninas em Empória.
- Te atreva.
Depois daquilo, não ficava outra opção.
Rhys estava regando o jardim quando Sierra saiu.
Sempre tinha gostado da irmã de Mariah, embora se alegrava de que não se parecessem nem na forma de vestir, nem no gosto em calçados nem nas cores do cabelo.
Deixou de regar e a olhou com um sorriso.
-Olá, Sierra. Tudo bem?
-Porco -respondeu, e sentiu que uma daquelas odiosas botas de militar lhe cravava na perna.
O problema de viver no andar de baixo era que alguém sempre podia ver o que estava passando. Podia estar sentado vendo as notícias depois da partida dos Yankees e ver ao mesmo tempo as pessoas que entravam e saíam dos apartamentos de cima.
Ouviu uma risada feminina e soube imediatamente quem era. Mariah parecia sempre tão feliz, tão otimista quando ria. Depois, ouviu outra voz feminina e reconheceu Sierra. Não soube a quem pertencia a voz masculina da terceira pessoa, que parecia estar esperando que Mariah encontrasse a chave. Devia ser o noivo de Sierra.
Era reconfortante saber que Sierra levava a sua irmã embora saísse com seu noivo.
Era reconfortante saber que Sierra tinha uma qualidade redentora, pensou, esfregando-a perna, ainda dolorida dedde o encontro com sua bota naquela mesma tarde. Estava-se perguntando se saberia.
Ouviu Sierra dizer algo de uma corrida, o homem algo de pitcher e Mariah incrível. Fantástico.
Assim tinham ido a uma partida, e não lhe tinham convidado para acompanhá-los. Não é que esperasse que o fizessem. Ou que quisesse que o fizessem. Mas é que era o tipo de coisa que faziam sempre juntos!
Tinha sido ele quem a tinha levado a sua primeira partida de beisebol três anos atrás. Tinha sido ele quem tinha-a apresentado aos Yankees! E agora, ia sem ele.
«Deveria te sentir aliviado», recordou-se. Possivelmente assim poderia conhecer alguém. Inclusive podia ser que chegasse a conhecer um dos Yankees. Possivelmente algum lançador que a levasse voando ao altar e que se convertesse no pai de seu filho.
Aquela possibilidade não lhe fez tão feliz como esperava.
Mariah se alegrou de que Sierra a tivesse obrigado a ir à partida. Assim tinha tido que pensar em outra coisa, além de em si mesma.
Tinha tido que concentrar-se também em seu trabalho durante os últimos três meses, mas não tinha tido muita vida social desde que descobriu que estava grávida. Sempre tinha estado esperando que Rhys aparecesse.
-Não merecia a pena esperar -havia dito Sierra de repente na partida; edepois tinha acrescentado-: se quiser, dou-lhe, sua parte, um pontapé no traseiro.
Mariah se tinha posto a rir.
-Já lhe dei uma na perna -acrescentou. Mariah ficou calada um instante e depois voltou a rir.
- Não estás falando sério?
-É obvio que sim -tinha respondido sua irmã, indignada-. Não sei como pôde me parecer um tipo simpático.
-Faz o que pode -disse Mariah.
Sierra sorriu de meio lado.
- Como pode dizer isso quando não quer saber nada nem de ti nem do bebê?
-Há dito que se ocupará economicamente.
-Claro. Como se os tribunais não fossem obrigar-lhe de todos os modos. É um porco -concluiu-. Mereces algo melhor.
-Ele opina o mesmo.
Sierra havia se voltado para olhá-la.
-Rhys te há dito que busque a outro?
Mariah assentiu.
-Para que me apóie no plano pessoal. Diz que depois de ver Gib e Chloe e Finn e Izzy, acredita que é isso o que necessito.
Sierra tinha guardado silêncio um momento e depois moveu devagar a cabeça.
-Não estou segura de que dar-lhe um pontapé vai ser suficiente.
Sierra nunca fazia as coisas pela metade.
-Cheguei à conclusão de que Rhys tem razão -informou a Mariah no dia seguinte pela tarde, depois de entrar em sua casa com um papel na mão-, assim que te preparei uma lista.
-O que? Do que está falando?
-De que terá que te encontrar um homem.
- Eu não quero um homem!
-Tolices. Todos os que pus nesta lista, são tios encantadores. E estão desejosos... muito desejosos de te conhecer.
- Pode-se saber o que te traz entre mãos? Sierra compôs sua careta mais inocente.
-Quem, eu? Nada. Só quero ajudar.
-Parece-me que não -lhe tirou a lista da mão e a leu-. Quem são estes homens?
Esperava, pouco mais ou menos, uma lista de seus anteriores noivos, mas não reconheceu nenhum só de nomes.
-Tipos que conheço -respondeu, lhe tirando o papel da mão-. Damien vai vir esta noite, e iremos jantar com ele. Amanhã pode comer com Kent. No sábado, Brandon te levará a um concerto no Carnegie Hall...
-Um momento! Pode-se saber o que está fazendo?
-Pois o que quer Rhys -respondeu-. Vamos, Mariah, vais gostar.
-Eu não quero...
-Você quer a Rhys -adivinhou-, mas não o vais ter, assim tem que te esquecer dele e seguir
adiante.
-Não sei...
- Tem que seguir adiante, Mariah - Sierra a olhava com firmeza-. Confia em mim.
As duas se olharam durante uns segundos. Anos de batalhas fraternas, de amizade, de apoio, de devoção, estavam nesse olhar. Ao final Mariah assentiu.
-Damien esta noite -consertou Sierra-. Às sete.
Havia-lhe dito que saísse, mas não que o fizesse todas as noites.
Depois da partida dos Yankees, imaginou-se que ficaria em casa. Conhecia Mariah, e sabia que não era uma mariposa das que vai de flor em flor. Tinha amigos, sim, mas não passava a vida de festa em festa.
Ao menos, até então.
Agora era a abelha mais ocupada da colméia.
Cada vez que se dava a volta, via-a sair do braço de um homem diferente. Ao princípio, imaginou-se que seriam noivos de Sierra, mas ela seguia apresentando-se com o mesmo menino de cabelo comprido que vinha acompanhando-a ultimamente. Os outros iam com Mariah.
Tinha-lhe sugerido que se buscasse um homem, mas não lhe tinha ocorrido pensar que pusesse um anúncio no jornal. Que demônios sabia de todos aqueles tios? Podiam ser assassinos, ou violadores!
Além disso, tampouco tinha que parecer tão agradada cada vez que a via com algum deles. Nem todos podiam ser tão encantadores.
E voltava para casa muito tarde. Às dez e meia! Inclusive às onze! Uma mulher em seu estado não tinha que dormir?
Certamente ele não pregava o olho, sobretudo se tinha que esperar acordado dando voltas pela casa até que ela chegasse.
Tinha que afastar-se. Precisava tomar uma pausa.
De modo que quando seu irmão Nathan lhe ligou para lhe perguntar se gostaria de passar com ele uma semana em Vancouver, agarrou-se a oferta com unhas e dentes.
Nathan viajava por todo mundo fazendo fotos para artigos de imprensa e, recentemente, para seus próprios livros.
Como ele, Nathan tinha dado as costas ao negócio familiar já fazia tempo, embora por razões menos óbvias. Ninguém na família sabia por que estava ali e um bom dia, deixou de está-lo.
Nathan interpretava a família de um modo muito particular, o qual era perfeito para Rhys. Tampouco gostava de compartilhar os detalhes íntimos de sua vida.
Reuniu-se com ele em Vancouver e passaram a semana percorrendo a costa da Ilha de Vancouver e umas quantas ilhas mais pequenas.
A semana passou em um abrir e fechar de olhos. Nathan tinha que voltar para Paris, que era onde vivia se não tinha que estar fazendo fotos no outro extremo do globo.
E Rhys voltou para Nova Iorque.
Mas voltar para casa não lhe proporcionou a satisfação que em outras ocasiões. Claro que não voltava para casa depois de semanas a lutar contra o fogo, a não ser depois de ter estado de férias.
Férias, do que? Da horda de tios que perseguiam Mariah? Não, obrigado. Assim, do mesmo aeroporto, chamou seu irmão Dominic.
- Não quererá voltar a ir pescar? Dominic dirigia o negócio da família com interferências de seu pai. Estava atarrefado, tentando demonstrar a seu pai que era perfeitamente capaz das levar coisas inclusive melhor que ele. Era certo, mas seu pai não parecia capaz de dar-se conta.
Rhys tentou averiguar por que se desanimou ao responder seu irmão: -Pescar? Claro, por que não? Agora?
-Se quiser...
-Recolherei-te amanhã às sete da manhã. Podemos voltar para Montauk.
Assim lhe resultou mais fácil voltar para casa; sabendo que ia partir pela manhã. Passou a tarde fazendo a limpeza da casa e evitou sentar-se na sala para não ver a entrada. Não queria ver Mariah entrando ou saindo com o homem da semana.
Estava de pé e totalmente acordado quando chegou Dominic.
- Pescaremos uma tonelada -disse sorrindo ao subir ao carro.
-Surpreende-me que tenha podido escapar com tanta facilidade.
Seu irmão se encolheu de ombros sem apartar a vista da estrada.
-Precisava fazê-lo. Papai vem muito freqüentemente ultimamente.
-Acreditava que já tinha deixado o dia a dia do negócio.
-Não é somente pelo negócio.
Rhys arqueou as sobrancelhas. Desde quando seu pai não estava obcecado com o negócio?
Mas Dominic não explicou nada mais até que estiveram junto à água.
-Encontrou a outra mulher.
- Papai?
Não podia acreditá-lo. Seu pai, Douglas Wolfe, era viúvo há vinte anos e jamais tinha conhecido outra mulher desde que sua esposa morreu quando Rhys tinha oito anos.
-O que quer dizer com tem outra mulher? É que quer casar-se?
Dominic o olhou com dureza.
-Claro que não! O que quer é que me eu case!- passou-se uma mão pelo cabelo-. Ultimamente não me deixa em paz. Não faz mais que me trazer mulheres a torto e a direito. Quer que volte a me casar.
Não é que Dominic tivesse estado casado antes. A ponto, sim. Tinha estado comprometido, e lhe tinham deixado plantado no dia do casamento.
Doze anos antes, Dominic ia casar se com Carin Campbell, a filha de um dos sócios de seu pai.
Todo mundo tinha sido convidado ao casamento que ia celebrar-se na casa que a família tinha nas Bahamas.
Rhys ia ser o padrinho, e Nathan tinha tido que ir-se a Antártida na última hora para realizar uma reportagem sobre pingüins ou algo assim.
Os dois, Dominic e ele, estavam de pé no terraço, que era onde ia celebrar-se as bodas, esperando... e esperando até que Carla aparecesse.
Nunca chegou.
Mais tarde souberam que tinha abandonado a ilha pela manhã. Ninguém sabia para onde. E ninguém o tinha sabido após. Nem sequer seu pai.
Ninguém pronunciava o nome de Carin estando Dominic presente, nem se falava de matrimônio estando ele por perto.
Perdeu as bodas de Rhys com Sarah no ano seguinte. Estava em Hong Kong em viagem de negócios. Deliberadamente.
-Está tentando fazer tragar-me a outra garota -disse seu irmão-. Se está pondo nervoso já.
-Por que?
-No mês que vem faz setenta anos, e segundo ele, tem já um pé na tumba. Quer netos - suspirou.
Rhys olhou para outro lado.
O velho se voltaria louco se se inteirasse de Mariah. Ele mesmo o arrastaria ao altar.
-O mundo não é dirigido por um só homem, velho e irritante -resmungou Dominic.
-Não.
Os dois deixaram vagar o olhar. Contemplar o passado era enfrentar-se à dor do fracasso, das esperanças malogradas, dos sonhos quebrados.
Estiveram pescando cinco dias. Saíam cada manhã em um navio para percorrer a linha da costa e quando voltavam pela tarde, caminhavam quilômetros pela praia.
Não voltaram a falar sobre mulheres nem sobre seu pai. Falaram do tempo e dos peixes. Discutiram sobre o melhor tipo de cerveja e sobre beisebol. Pescaram uma tonelada.
Foi maravilhoso. Igual ao tinha sido estar com Nathan.
Rhys desfrutou enormemente. Sentia-se sereno. Nem sequer se inquietou quando, já de volta, Dominic sugeriu que compartilhassem parte do pescado com sua vizinha.
-Como se chamava? -perguntou Dominic.
- Mariah.
-Isso, Mariah. Gostará.
Possivelmente. Podia passar por sua casa e lhe oferecer parte das capturas. Como um amigo. Sem lhe dar importância.
Imaginou a si mesmo batendo na porta aquela tarde. Entregaria um grande pacote de pescado com seus melhores desejos.
Mas quando subiu, não encontrou ninguém.
Franziu o cenho e deu meia volta com o pacote nas mãos.
A senhora Álvarez subia naquele momento.
-Já está de volta.
- Sim. Queria dar a Mariah um pouco de pescado.
-Está fora. Saiu com Kevin.
E quem demônios era Kevin?
-Poderá dar-lhe manhã. Hoje chegará tarde.
-Muito tarde?
A senhora Álvarez se encolheu de ombros com um sorriso.
-Não sei, mas quando alguém está aproveitando, sempre chega tarde.
Rhys ficou ali plantado enquanto ela subia o seguinte lance de escadas. Olhou seu relógio. Eram quase dez horas. E isso era já bastante tarde.
Voltou a descer e colocou o pescado na geladeira.
Depois, procurou sua agenda e folheou as páginas. Sentia-se irritável e precisava fazer algo.
Conhecia muitas mulheres e alguma estaria disposta a fazer algo naquele momento.
Canie? Annie? Shauna? Teresa?
Teresa, decidiu, e marcou seu número para ver se queria ir ao cinema. Nos velhos tempos, o teria proposto a Mariah.
-Mas os velhos tempos já não existem - recordou enquanto marcava o número.
Teresa aceitou. E mais, parecia encantada. Encantada de ir ao cinema com ele e desejosa, parecia ser, de passar a noite com ele depois.
-Pode ficar um momento se quiser -lhe sugeriu, deslizando uma mão por seu braço até chegar à nuca para puxar-lhe e lhe beijar brincalhona.
Rbys se apartou.
-Estou cansado -bocejou-. Em outra ocasião, possivelmente?
-Pode apostar que sim, querido.
Ao voltar, deu-se conta de que Mariah seguia tendo a luz acesa. Era quase a uma da madrugada.
Uma mulher grávida devia precisar dormir. Seguro. No dia seguinte pela manhã, quando lhe levasse o pescado, ia lhe recordar isso.