Desde que ela se foi, tenho evitado fazer qualquer coisa em casa, especialmente as refeições, porque esse sempre foi um momento sagrado para nós.
Antes de sair de casa, passo pela sala de estar e pego um porta-retrato numa mesinha de canto, nele contém uma foto dela, nesse dia tínhamos acabado de chegar da nossa lua de mel e sentamo-nos no sofá para ver nosso álbum de fotos, seus olhos brilhavam a cada imagem que via e seu sorriso estava largo, por isso não pensei duas vezes, tirei essa foto dela [AM1] de surpresa.
Meu coração se aquece em recordar esse dia e sinto o peso das lágrimas em meus olhos.
Pisco repetidamente, tentando não me entregar a dor da saudade. Repouso novamente o porta-retrato sobre a mesinha e sigo para fora de casa.
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- Bom dia, Carter. Se não estiver apto a voltar, pode ir para casa, sei que não deve estar sendo fácil. - Harris, meu chefe, diz colocando uma mão em meu ombro em gesto de conforto e comprime os lábios.
- Tudo bem, senhor. Não se preocupe, estou bem. Além disso, preciso ocupar minha mente para não enlouquecer. - ele meneia brevemente a cabeça em concordância.
- Sendo assim, temos uma boa notícia para você - arqueio as sobrancelhas em expectativa - Compartilhamos nossas informações com o departamento federal e parece que eles tem um caso bem-parecido com o da Lisa e das vítimas anteriores a ela.
- Onde quer chegar com isso? - repouso os cotovelos sobre a mesa e cruzo os dedos, observando atentamente suas palavras.
- Eles decidiram enviar alguém para nos ajudar, provavelmente ela já está chegando. - noto uma certa animação em sua voz.
- Ela? - uno as sobrancelhas em sinal de confusão.
- Sim, logo você irá conhecê-la, assim que ela passar por essas portas. - aponta para a saída.
- Ok.
Ao terminarmos de falar, a imagem de uma mulher - muito bonita, tenho que admitir, mesmo com meu luto e sabendo que não tenho olhos para outra - adentra o lugar.
- Olha aí! Nossa nova colega acaba de chegar. - Harris olha-a sorridente.
Ela é morena, tem os cabelos negros como a noite e longos, descem até a cintura. Usa um terninho que demarca bem suas curvas, que são bem avantajadas.
Desvio o olhar, me repreendendo por admirá-la, Lisa acaba de falecer, isso é um completo desrespeito.
- Olá! - nos[AM5] cumprimenta ao se aproximar de nós - Sou Emma Baker, fui enviada do departamento federal.
- Seja bem-vinda, senhorita Baker - enquanto eles conversam, faço o possível para não encará-la - Gostaria de te apresentar Jack Carter, seu parceiro. É ele quem está cuidando desse novo caso.
- Suponho que ele seja o cara que perdeu a esposa - dessa vez me encara com seu olhar penetrante. Podia jurar que está tentando me decifrar.
Apenas meneio a cabeça em afirmação ao que ela disse.
- Minhas condolências, senhor Carter - estende a mão em minha direção - Garanto que iremos descobrir quem fez isso. - confesso que pensei em não retribuir o gesto, porém, acabo cedendo.
- Obrigado. - sou curto em minhas palavras, tentando evitar olhá-la.
Mas sinto que tem algo de estranho nela.
- Bem, agora que já se conheceram, irei deixá-los a vontade. - Harris nos dá as costas, retornando a sua sala.
Mesmo não querendo olhar, vejo cada movimento dela para sentar-se na cadeira frente a minha mesa.
E por último, mas não menos importante, o cruzar de suas pernas.
Poderia jurar que isso é proposital, espero estar errado, pois, não sou o tipo de homem cafajeste.
Pigarreio, sentindo-me bastante sem graça e observo ao meu redor, para me certificar de que não havia ninguém olhando.
- É... A senhorita obteve algum avanço em sua investigação? - ela dá uma gargalhada crua e seca, inclinando a cabeça para trás.
Franzo o cenho.
- Eu disse algo errado?
Ela aproxima o rosto de mim e eu aguardo o que irá falar.
- Não vim aqui fazer o trabalho por você, vim porque temos investigado um caso bastante parecido com esse, estamos a procura de um homem que está fugitivo faz tempo. Então não pense que já tenho tudo resolvido, porque está enganado. Não sou apenas um rosto bonitinho que você ou qualquer outro aqui irá ver desfilando, batalhei muito para chegar onde estou e certamente não vou deixar tudo ir por água abaixo por falta de profissionalismo de sua parte. Fui clara? - engulo em seco ao escutar.
- Sim. - minha voz quase não sai.
- Ótimo! Podemos ir até sua casa? - ela fica de pé.
- Não entendi. - revira os olhos, parecendo impaciente.
- Foi lá que o assassinato aconteceu, estou certa?
- Ah! - finalmente compreendo o que quis dizer - Sim.
- Está esperando o quê? Vamos! - gesticula como se fosse óbvio.
Já vi que será bem difícil trabalhar com essa mulher.
Levanto, pegando minha arma que deixei sobre a mesa e assim seguimos para fora da delegacia.
A parte boa é que não fomos no mesmo carro, porque nem sei o que poderia acontecer.
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- Onde exatamente tudo aconteceu? - pergunta assim que entramos em minha casa.
Para no meio da sala de estar me olhando.
- Siga-me, por favor. - estendo a mão, mostrando-lhe o caminho.
Ela vem logo atrás de mim.
- Foi aqui? - já começa a observar atentamente tudo ao seu redor.
- Sim, mas especificamente ali, próximo à pia. - aponto e me mantenho sério.
- Ok. - caminha até lá e se abaixa, parecendo procurar por vestígios do crime.
- Sabe que tem tido muitos assassinatos em série na cidade, não é mesmo? Não há nada que eu já não tenha visto, estou a frente disso há um bom tempo.
- Não insulte minha inteligência. - me responde com o maxilar trincado, parecendo irritada.
- Desculpe, não quis ofendê-la.
- Que seja! - me ignora, voltando ao que estava fazendo antes.
- Se me der licença, tenho uma ligação para fazer. - informo.
Ela não responde, mas vejo mexer a cabeça, não dando a menor importância ao que digo.
Enquanto faço a bendita ligação, passam alguns minutos e a mulher aparece na sala.
- Se importa se eu olhar em seu quarto? - já havia perdido a paciência com ela, então quanto menos tempo ficássemos no mesmo lugar, melhor.
- Tudo bem. - coloco a mão no celular, tapando o fone para poder respondê-la.
Em seguida ela some de minha vista.
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Emma Narrando
Não saberia dizer o que, mas tinha algo nessa história que não batia. Pelas poucas informações que me passaram a respeito desse caso, a esposa dele era bastante caseira e as breves saídas que dava, era para trabalhar. Sendo assim, qual seria a razão para alguém tê-la matado?
Inimigos? Duvido muito.
Giro a maçaneta, entrando no quarto do casal e vou analisando cada detalhe, para que nada passe despercebido.
Como estou de luvas, não há risco de contaminação de provas.
Ando até o guarda-roupas, vasculhando peça por peça, mexendo nos bolsos, porém, até o momento não há nada de errado.
Até que algo me chama a atenção, aparentemente uma peça de roupa feminina, que suponho ser da Lisa. Está jogada na lixeira, dentro do banheiro, mas foi deixada lá de qualquer jeito, e quem fez isso, esqueceu de abaixar a tampa.
À medida que vou até lá, a sensação que tenho não é nada boa. Aperto o interruptor, ligando a luz e me abaixo para ver melhor. Retiro o vestido branco da lixeira e minha mente recorda perfeitamente que era a roupa que Lisa estava usando no dia do crime.
O coração chega a palpitar de emoção em saber que talvez eu descubra tudo isso mais rápido que pensei.
Pego o celular no bolso, para ver a foto e me certificar de que não estou enganada e estava certa o tempo todo, era a roupa que ela usava no dia exato[AM2] .
Vou mexendo na peça e noto uma mancha de sangue. O que penso ser estranho é que ela estava bem ensanguentada no dia e há apenas uma única mancha, isso me deixa bastante intrigada. Isso só me dá uma única certeza. Jack matou a esposa.
Sem pensar demais, envio uma mensagem ao chefe do departamento de polícia.
"Enviem uma viatura o mais rápido possível, Jack Carter é o possível culpado."
Recolho a peça de roupa com a amostra de sangue e guardo para levar ao laboratório.
Deixo tudo exatamente como estava e caminho para fora do quarto, pegando minha arma.
Desço a escada e como ele está de costas se torna bem fácil coagi-lo.
Aponto a arma em sua direção e o vejo virar-se.
- O que está acontecendo? Ficou louca? - seus olhos estão arregalados.
- Jack Carter, você está preso pelo assassinato de Lisa Carter. Tem o direito de permanecer em silêncio e qualquer coisa que disser poderá ser usado contra você.