Eu e o Fazendeiro
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Capítulo 4 Capitulo 4

- Oh, meu Deus! - As lágrimas desciam como um rio pelo meu rosto, enquanto eu soluçava

- Pobre Jody.

- Xerife!

E em meio ao meu pranto desesperado, vi Dallas surgir. Era impressionante como o uniforme, sem muitos atrativos de xerife, caía perfeitamente bem nele. A camisa onde a estrela brilhava em seu peito parecia ter sido feita sob medida, as mangas ajustadas evidenciavam os braços musculosos. O cinto com a fivela de prata, em volta da cintura, destacava suas raízes de cowboy. A calça justa e as botas de cano longo completavam o visual.

Eu não deveria estar pensando em como o Xerife Walker conseguia ser sexy, inegavelmente atraente, e que mesmo na situação desesperadora que me encontrava, Dallas conseguia fazer o meu coração palpitar em meu peito.

- Mandy...

- Xerife, eu não quis fazer aquilo - Pressionei o rosto contra a grade fria - Quer dizer, eu quis...

- Mandy - sua mão cobriu a minha em volta das barras de ferro, e eu não consegui segurar o soluço.

- Eu só quis nos defender - murmurei, angustiada - Agora estou presa, porque matei um homem e a pobre da Jody irá perder a única pessoa que se importa com ela.

Fechei os meus olhos, enquanto um aperto em meu peito fazia meu coração diminuir.

- Mandy? - Sua voz carinhosa e o afago que dava em minhas mãos me impeliram a voltar a encará-lo, mesmo que pouco visse através de minhas lágrimas - Você não matou ninguém. Embora, se tivesse feito isso, seria uma boa contribuição para o mundo.

Parei de fungar e o olhei sem conseguir

acreditar.

- Não?

Ainda vivenciava um péssimo momento, para ele me presentear com um sorriso que me fazia esquecer de algo tão simples como respirar.

- M...mas eu o vi caído e sangrando - gaguejei, aproveitando que ele liberou minha mão para secar meu rosto com força - E eu... eu estou presa.

Dallas passou a mão no rosto e cobriu a boca, no que eu esperava não ser uma tentativa de esconder um sorriso.

Dallas Walker, o respeitado xerife de Peachwood, estava rindo de mim!

- Klein não está morto e você não está presa - esclareceu ele, dando nome ao homem que eu tinha atacado e dando dois passos para longe - Era só ter empurrado a porta, Mandy.

Todo mundo já passou por um momento

constrangedor na vida, mas se existir essa categoria no Livro dos Recordes, com certeza eu ocuparia o primeiro lugar.

Empurrei a porta vagarosamente, para constatar que Dallas falava a verdade. A porta esteve destrancada o tempo todo, eu só precisava empurrar e sair da cela.

- Mas, e aquele homem? Eu o atingi com a frigideira.

- Foi levado para o Centro Médico - respondeu Dallas, quando me juntei a ele no corredor - Levou alguns pontos e será enviado à penitenciária. Não é a primeira vez que agride a mulher, os filhos e ameaça outras pessoas. Estava solto sob condicional, mas seus dias fora da cadeia duraram muito pouco.

Eu ainda não conseguia entender por quê, mesmo não estando detida, estava na delegacia e aquele homem inescrupuloso acomodado em uma

confortável cama de hospital.

- Você desmaiou, Mandy - disse ele, como se fosse capaz de ler minha mente - Eu a trouxe para a delegacia e Derek levou Klein para tratar o ferimento na cabeça. Não achei que o centro médico fosse grande o suficiente para manter uma distância segura entre você e aquele homem.

O Centro Médico de Peachwood se resumia em um pronto socorro minúsculo, dois quartos com leito e área de medicação. Qualquer emergência mais grave, ou necessidade de cirurgia, precisava ser encaminhada a Houston ou alguma outra cidade grande mais próxima. Seria realmente quase impossível não esbarrar em Klein em algum momento.

- Klein sairia com muito mais do que alguns pontos na testa - disse ele, em um tom tão duro quanto seu olhar - Se ao menos imaginasse

dirigir uma única palavra a você.

Oh, meu Deus!

Dallas Walker, o homem que habitava os meus sonhos mais secretos e impossíveis, me trouxe até a delegacia porque se preocupava com meu bem-estar e segurança?

Eu contava com o apoio e carinho diário da Sra. Chan, mas fazia muito tempo que não recebia de alguém, a quem considerava muito, tal atenção e cuidado. E, com isso, a gravidade do que ocorreu nessa tarde caiu sobre minha cabeça, me fazendo estremecer.

- Você foi corajosa, Mandy. - Ele me puxou para um abraço, e me senti tão segura e protegida dentro de seus braços - Mas nunca mais pense em fazer algo como isso outra vez. Poderia ter se machucado.

Agi sem refletir na gravidade das minhas ações, mas não conseguiria ver a mulher e crianças

inocentes sofrerem e ficar imune a isso, mas o melhor seria que no momento Dallas ignorasse isso.

- E a Jody? - Me afastei dele, preocupada - Onde está a Jody?

- Vem comigo - Ele me afastou com gentileza.

E eu o acompanhei pelo curto corredor, passando pelas outras duas celas vazias que existiam ali. Vi Derek em sua mesa, ele tirou o olhar da papelada que estava preenchendo e ergueu o polegar para mim, e a Sra. Tyree, escrivã, estava ao telefone, mas me deu um sorriso simpático.

Segui para a sala do xerife e as surpresas do dia não haviam acabado. No chão, sob um amontoado de cobertas e lençóis, formando uma cama improvisada, estava Jody. Ao lado de seu corpo, o porta-caneta de Dallas, muitas folhas de papel riscadas e outra amassada, que ela levava à

boca.

- Não, Jody - alertou Dallas, se

aproximando dela, e com uma delicadeza que eu nunca imaginaria que ele fosse capaz de ter, tirou o papel de suas mãos - Isso não é de comer.

Na verdade, Jody rabiscar as folhas de papel não gerava mais interesse para ela, mastigá-la se mostrava mais interessante, mas Dallas não a conhecia o suficiente para saber o que a empolgava ou entediava.

- Den-dy! - Quando seus bracinhos se esticaram em minha direção, tive certeza que nunca encontraria no mundo um sorriso mais feliz e sincero que o dela - Den-dy tá dodói?

Avancei em sua direção e a puxei para um abraço apertado. Suas mãozinhas gorduchas tocaram meu rosto e novamente senti vontade de chorar, mas, dessa vez, porque meu peito transbordava de amor.

- Moço feio.

"Moço feio". Duas palavras novas. Então, olhei para Dallas com curiosidade.

- Eu disse que o moço feio não iria fazer mal a ela - Ele deu de ombros, pigarreou e foi em direção à mesa, onde ocupou sua cadeira - Você precisa fazer uma acusação formal contra o Klein.

A seriedade em seu rosto mostrou que o modo xerife estava novamente ligado.

- Mas, devido às circunstâncias - avisou ele - Todo o estresse que teve no dia, podemos adiar até amanhã. O Dr. Glover disse que só precisa de descanso.

- O Dr. Glover? - indaguei, surpresa.

O simpático senhor era o único médico do condado, e atendia os residentes há mais de trinta anos.

- Pedi que viesse dar uma olhada em você - Ele apontou para a minha sobrinha em

meus braços - E, principalmente, na Jody.

Durante o surto agressivo de Klein no café, minha preocupação maior era que ninguém mais, além de sua esposa e o Sr. Brosnan, fossem machucados. Mas não conseguia esquecer o quanto o evento tinha assustado Jody. Saber que Dallas havia se importado com ela, a ponto de pedir que o médico a examinasse, mexeu mais comigo do que ter feito o mesmo por mim.

- Obrigada, Xerife.

Ele coçou a cabeça, no que parecia ser um gesto encabulado.

- Eu a conheço desde menina e vou ao café todos os dias - murmurou ele - Acho que pode ser apenas Dallas, ok?

Assenti porque, para variar, ao lado de Dallas, eu perdia a capacidade de articular frases inteligentes.

- Bom... - ele se levantou - Vou pedir

que Derek leve vocês.

Mordi a bochecha, esperando que a decepção em ser jogada aos cuidados do assistente do xerife não tivesse ficado tão evidente em meu rosto.

O que eu esperava?

Que alguns minutos de atenção e carinho do xerife comigo fossem nos transformar em um casal apaixonado de uma hora para outra?

Isso apenas fazia parte do ofício dele. Dallas exercia a função com rigor e pulso firme, mas sempre se mostrou cuidadoso com todos os moradores do condado.

            
            

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