Eu não deveria estar pensando em como o Xerife Walker conseguia ser sexy, inegavelmente atraente, e que mesmo na situação desesperadora que me encontrava, Dallas conseguia fazer o meu coração palpitar em meu peito.
- Mandy...
- Xerife, eu não quis fazer aquilo - Pressionei o rosto contra a grade fria - Quer dizer, eu quis...
- Mandy - sua mão cobriu a minha em volta das barras de ferro, e eu não consegui segurar o soluço.
- Eu só quis nos defender - murmurei, angustiada - Agora estou presa, porque matei um homem e a pobre da Jody irá perder a única pessoa que se importa com ela.
Fechei os meus olhos, enquanto um aperto em meu peito fazia meu coração diminuir.
- Mandy? - Sua voz carinhosa e o afago que dava em minhas mãos me impeliram a voltar a encará-lo, mesmo que pouco visse através de minhas lágrimas - Você não matou ninguém. Embora, se tivesse feito isso, seria uma boa contribuição para o mundo.
Parei de fungar e o olhei sem conseguir
acreditar.
- Não?
Ainda vivenciava um péssimo momento, para ele me presentear com um sorriso que me fazia esquecer de algo tão simples como respirar.
- M...mas eu o vi caído e sangrando - gaguejei, aproveitando que ele liberou minha mão para secar meu rosto com força - E eu... eu estou presa.
Dallas passou a mão no rosto e cobriu a boca, no que eu esperava não ser uma tentativa de esconder um sorriso.
Dallas Walker, o respeitado xerife de Peachwood, estava rindo de mim!
- Klein não está morto e você não está presa - esclareceu ele, dando nome ao homem que eu tinha atacado e dando dois passos para longe - Era só ter empurrado a porta, Mandy.
Todo mundo já passou por um momento
constrangedor na vida, mas se existir essa categoria no Livro dos Recordes, com certeza eu ocuparia o primeiro lugar.
Empurrei a porta vagarosamente, para constatar que Dallas falava a verdade. A porta esteve destrancada o tempo todo, eu só precisava empurrar e sair da cela.
- Mas, e aquele homem? Eu o atingi com a frigideira.
- Foi levado para o Centro Médico - respondeu Dallas, quando me juntei a ele no corredor - Levou alguns pontos e será enviado à penitenciária. Não é a primeira vez que agride a mulher, os filhos e ameaça outras pessoas. Estava solto sob condicional, mas seus dias fora da cadeia duraram muito pouco.
Eu ainda não conseguia entender por quê, mesmo não estando detida, estava na delegacia e aquele homem inescrupuloso acomodado em uma
confortável cama de hospital.
- Você desmaiou, Mandy - disse ele, como se fosse capaz de ler minha mente - Eu a trouxe para a delegacia e Derek levou Klein para tratar o ferimento na cabeça. Não achei que o centro médico fosse grande o suficiente para manter uma distância segura entre você e aquele homem.
O Centro Médico de Peachwood se resumia em um pronto socorro minúsculo, dois quartos com leito e área de medicação. Qualquer emergência mais grave, ou necessidade de cirurgia, precisava ser encaminhada a Houston ou alguma outra cidade grande mais próxima. Seria realmente quase impossível não esbarrar em Klein em algum momento.
- Klein sairia com muito mais do que alguns pontos na testa - disse ele, em um tom tão duro quanto seu olhar - Se ao menos imaginasse
dirigir uma única palavra a você.
Oh, meu Deus!
Dallas Walker, o homem que habitava os meus sonhos mais secretos e impossíveis, me trouxe até a delegacia porque se preocupava com meu bem-estar e segurança?
Eu contava com o apoio e carinho diário da Sra. Chan, mas fazia muito tempo que não recebia de alguém, a quem considerava muito, tal atenção e cuidado. E, com isso, a gravidade do que ocorreu nessa tarde caiu sobre minha cabeça, me fazendo estremecer.
- Você foi corajosa, Mandy. - Ele me puxou para um abraço, e me senti tão segura e protegida dentro de seus braços - Mas nunca mais pense em fazer algo como isso outra vez. Poderia ter se machucado.
Agi sem refletir na gravidade das minhas ações, mas não conseguiria ver a mulher e crianças
inocentes sofrerem e ficar imune a isso, mas o melhor seria que no momento Dallas ignorasse isso.
- E a Jody? - Me afastei dele, preocupada - Onde está a Jody?
- Vem comigo - Ele me afastou com gentileza.
E eu o acompanhei pelo curto corredor, passando pelas outras duas celas vazias que existiam ali. Vi Derek em sua mesa, ele tirou o olhar da papelada que estava preenchendo e ergueu o polegar para mim, e a Sra. Tyree, escrivã, estava ao telefone, mas me deu um sorriso simpático.
Segui para a sala do xerife e as surpresas do dia não haviam acabado. No chão, sob um amontoado de cobertas e lençóis, formando uma cama improvisada, estava Jody. Ao lado de seu corpo, o porta-caneta de Dallas, muitas folhas de papel riscadas e outra amassada, que ela levava à
boca.
- Não, Jody - alertou Dallas, se
aproximando dela, e com uma delicadeza que eu nunca imaginaria que ele fosse capaz de ter, tirou o papel de suas mãos - Isso não é de comer.
Na verdade, Jody rabiscar as folhas de papel não gerava mais interesse para ela, mastigá-la se mostrava mais interessante, mas Dallas não a conhecia o suficiente para saber o que a empolgava ou entediava.
- Den-dy! - Quando seus bracinhos se esticaram em minha direção, tive certeza que nunca encontraria no mundo um sorriso mais feliz e sincero que o dela - Den-dy tá dodói?
Avancei em sua direção e a puxei para um abraço apertado. Suas mãozinhas gorduchas tocaram meu rosto e novamente senti vontade de chorar, mas, dessa vez, porque meu peito transbordava de amor.
- Moço feio.
"Moço feio". Duas palavras novas. Então, olhei para Dallas com curiosidade.
- Eu disse que o moço feio não iria fazer mal a ela - Ele deu de ombros, pigarreou e foi em direção à mesa, onde ocupou sua cadeira - Você precisa fazer uma acusação formal contra o Klein.
A seriedade em seu rosto mostrou que o modo xerife estava novamente ligado.
- Mas, devido às circunstâncias - avisou ele - Todo o estresse que teve no dia, podemos adiar até amanhã. O Dr. Glover disse que só precisa de descanso.
- O Dr. Glover? - indaguei, surpresa.
O simpático senhor era o único médico do condado, e atendia os residentes há mais de trinta anos.
- Pedi que viesse dar uma olhada em você - Ele apontou para a minha sobrinha em
meus braços - E, principalmente, na Jody.
Durante o surto agressivo de Klein no café, minha preocupação maior era que ninguém mais, além de sua esposa e o Sr. Brosnan, fossem machucados. Mas não conseguia esquecer o quanto o evento tinha assustado Jody. Saber que Dallas havia se importado com ela, a ponto de pedir que o médico a examinasse, mexeu mais comigo do que ter feito o mesmo por mim.
- Obrigada, Xerife.
Ele coçou a cabeça, no que parecia ser um gesto encabulado.
- Eu a conheço desde menina e vou ao café todos os dias - murmurou ele - Acho que pode ser apenas Dallas, ok?
Assenti porque, para variar, ao lado de Dallas, eu perdia a capacidade de articular frases inteligentes.
- Bom... - ele se levantou - Vou pedir
que Derek leve vocês.
Mordi a bochecha, esperando que a decepção em ser jogada aos cuidados do assistente do xerife não tivesse ficado tão evidente em meu rosto.
O que eu esperava?
Que alguns minutos de atenção e carinho do xerife comigo fossem nos transformar em um casal apaixonado de uma hora para outra?
Isso apenas fazia parte do ofício dele. Dallas exercia a função com rigor e pulso firme, mas sempre se mostrou cuidadoso com todos os moradores do condado.