Estava com frio, minha calça jeans parecia gelada contra o corpo, e bem naquele dia eu inventei de enfiar o tênis sem as meias. A sorte é que por cima da camiseta, eu estava usando uma camisa xadrez vermelha, de um tecido bem quentinho. Esfreguei os braços com força e me abracei enquanto subia aquele pedaço de rua escuro.
Foi quando tudo aconteceu rápido demais.
De repente, uma Land Rover preta parou do meu lado, eu já ia me preparando para xingar o tarado que estava ali quando dois seguranças gorilões, iguais aos da boate de sexta, desceram do carro e me pegaram pelos braços. Que merda era aquela?
- Me solta! - eu gritei e tentei empurrar os homens, um deles não gostou muito da minha atitude e bateu no meu rosto com as costas da mão. Aquilo doeu pra caralho. Senti meu lábio inferior abrir com a força do tapa, mas nada ia me fazer parar de lutar. Respirei fundo e me concentrei em acertar um
belo chute em um deles para depois poder descer a mão no outro e correr.
O plano deu certo até a metade do caminho, depois que um dos grandalhões se desequilibrou com meu chute, o outro me puxou pela trança que Isabella tinha perdido o maior tempo fazendo enquanto a professora enrolava para passar a nota.
Eu berrei. Berrei alto, mas parecia que a merda da música na rua de baixo também estava alta. Não tive nenhuma ajuda, achei que Deus também estivesse olhando para o outro lado. Quando o segurança tapou minha boca, fiz questão de dar uma bela mordida até sentir o gosto de sangue. Ele me jogou no chão, xingando em inglês, e então eu me toquei que aquilo realmente devia ser obra daquele gringo maluco. O que aquele bosta tinha na cabeça?
- Mande seu chefe se foder! - falei, sentindo os joelhos ardendo. O impacto tinha sido tão forte que rasgou minha calça.
- Ele vai foder você, sua vaca gorda! Agora entra nesse carro.
- Me obrigue - desafiei e voltei a gritar, pondo-me de pé e tentando correr. Foi então que senti uma dor aguda na nuca e tudo ficou escuro.
Bela hora para o primeiro desmaio da vida.
* * *
Eu sempre me achei forte e também pensava que aquilo nunca aconteceria comigo, porque não era o tipo de garota que chamava atenção dos caras. Nem dos certos, nem dos errados. Mas lá estava eu, dentro de um carro, com quatro homens estranhos, sendo levada para sei lá onde por conta de um gringo maluco.
Como eu me xinguei mentalmente por ter ido pelo lugar errado. Como eu me odiei por isso.
Quando voltei à consciência, ouvi a música que tocava no carro, era algo clássico, o tipo de música que me irritava profundamente. Senti minhas mãos amarradas, meus pés também. Que droga. Eu nem mesmo sabia onde estava, mas não importava, eu precisava lutar.
Respirei fundo e juntei minhas mãos. Olhei para o lado, de relance, e vi o segurança distraído enquanto conversava com o homem que estava no banco da frente em uma língua que eu não sabia qual era.
Estávamos a uma velocidade alta, mas poderia ser a chance de algum carro atrás de nós enxergar que havia algo de errado. Sem pensar duas vezes, me joguei sobre o colo do homem a minha direita, surpreendendo o maldito, e consegui abrir a porta.
Foi por um segundo, rápido demais para o que eu precisava.
- SOCORRO! - gritei o mais alto que podia antes de ouvir o baque da porta se fechando.
Continuei a gritar e o sequestrador em que eu estava no colo tentou calar a minha boca, mas mordi seu dedo com tanta força que lhe arranquei um grito, ganhando um soco na cabeça que me obrigou a soltar.
O homem que estava sentado do outro lado me puxou pelos cabelos e eu me ergui, tendo que ficar novamente sentada, com as mãos amarradas sobre o colo. Minha respiração estava completamente desregulada e o coração bateu forte quando vi a arma apontada na minha direção.
- Ei, garota! Se não ficar quieta, eu vou estourar os seus miolos, e se o chefe quiser, ele vai te foder morta - o cara do banco da frente me ameaçou como se declamasse uma poesia. Eu arregalei os olhos e engoli em seco.
- Eu vou foder a sua bunda com essa arma, me aguarde - falei baixo, com o orgulho ferido, tentando vencer o medo, demonstrando que não ia facilitar.
- Essa vadia me mordeu de novo! - o segurança ao meu lado reclamou. - Vou amordaçar essa vaca.
E foi o que aconteceu.
Achei que teria um infarto durante os vinte minutos seguintes, me sentindo como um gado indo para o abate. Estava na merda e agora só um milagre poderia me salvar.
O carro parou em frente a um galpão no meio do nada, era mato para todo lado, e tudo o que pensei foi em tentar correr e me esconder na plantação na primeira oportunidade.
- Nem pense em fugir, ou eu juro que meto uma bala na sua cabeça. Aquilo me assustou. Queria matar o desgraçado que havia me levado até
ali.
Depois de arrastada, fui jogada dentro do enorme armazém e caí sobre os
joelhos machucados. Aquilo doeu como o inferno, mas respirei fundo e me ajeitei o melhor que pude, olhando para frente e vendo Louis sentado em uma mesa de jantar, à luz de velas, encarando-me com muita curiosidade. Eu ia arrancar a cabeça daquele filho da puta.
Não reagi. Mantive meus olhos fixos no chão, vendo o homem se levantar e andar lentamente até mim pela visão periférica.
Podia ouvir cada passo que Louis dava contra o chão frio, e aquilo foi fazendo meu coração acelerar em um nível louco, achei que ele fosse saltar para fora do peito.
Eu me peguei rezando para que aquilo fosse um sonho doido e implorando ao meu inconsciente para que me acordasse, mas tudo o que
aconteceu foi o homem parar bem na minha frente com seu terno bem passado e soltar a mordaça da minha boca. Evitei olhá-lo e me mantive em silêncio, mas senti um alívio enorme sem aquilo me apertando.
Minha respiração estava descompassada, podia sentir meu peito subindo e descendo rápido demais, e engoli em seco quando vi Louis sacar uma faca do bolso e passar com ela próximo ao meu rosto. Ele se abaixou, e disse com a voz mortal e séria enquanto segurava meu queixo, obrigando-me a encarar seus olhos castanhos.
- Eu vou soltar você, mas me prometa que não vai correr.
"Que opção eu tenho?", pensei. "Se correr o bicho pega, se ficar o bicho
come."
Fiz que sim com a cabeça, travando os dentes para não mandar aquele
homem enfiar a faca no rabo.
Ele passou o dedão no meu lábio inferior.
- Quem fez isso?
- Um dos seus guardinhas - disse entre dentes.
Louis parecia enfurecido, passando a faca em uma velocidade incrível nas cordas que prendiam minhas mãos e pés.
- Tem um banheiro ali, limpe-se e volte aqui.
Eu me afastei o mais rápido que podia enquanto o ouvia sair do armazém.
O pânico quase tomou conta de mim dentro do banheiro quando me olhei no espelho. Meu lábio estava inchado e ainda sangrava. Tinha um arranhão leve na bochecha direita, e meus olhos estavam com marcas pretas do rímel úmido pelas lágrimas. Olhei meus pulsos marcados, os joelhos... Filhos da puta, estragaram meus jeans favoritos!
Limpei o rosto, ignorando que a maquiagem estava saindo e mostrando minhas imperfeições. Quanto menos interessante eu fosse, maiores as chances de voltar para casa inteira.
Lavei os joelhos e senti como se estivesse passando fogo na ferida. Que merda! Soltei meu cabelo da trança, que já estava praticamente desfeita, e o prendi no alto da cabeça, em um rabo de cavalo firme. Depois, encarei-me no espelho e fechei os olhos, respirando fundo enquanto tentava encontrar um pouco de paz no meio do turbilhão de pensamentos que estava tendo. Desejava ter uma mente brilhante o bastante para armar algum plano.
O banheiro não tinha nada que pudesse ser usado como arma, caso o idiota lá fora tentasse pôr as mãos em mim.