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- É injusto que ele possa curtir as férias de verão enquanto você fica em casa, preocupada em preservar a relação de vocês. Relação que não existe mais, a propósito - Clara completou.
- Certo - ela respondeu, ainda receosa. - Eu prometo dar uma resposta a vocês amanhã, ok?
Mais tarde naquela noite, quando as meninas tinham ido para casa e Eva estava deitada na cama, com os pés suspensos na parede e a atenção presa ao seu volume de O Grande Gatsby,
ouviu a porta abrir e viu a mãe entrar no quarto. Interrompeu sua leitura e analisou sua expressão.
Ela soube exatamente qual seria a pauta da conversa quando notou seus olhos semicerrados e os lábios comprimidos.
- Liguei para o Marcos hoje à tarde. - Marta encostou o corpo no batente da porta, uma expressão reprovadora no rosto.
- Por que você faria isso?
- Queria saber como ele estava após o término de vocês.
Marcos é um rapaz bom, me preocupo com ele.
Eva se ajeitou na cama e encarou a mãe, desconfortável.
- Eu gostaria que você se preocupasse comigo também. Acredite, ele não fez absolutamente nada para evitar que eu tomasse a decisão de terminar.
- Você tomou uma decisão idiota e esperou que ele implorasse para você voltar atrás?
- Você nem sabe o que aconteceu! Você pensou em me perguntar, ou simplesmente aceitou a versão que ele te deu dos fatos?
- Eu tenho que acreditar na única pessoa que falou comigo sobre isso, não é?! - sua mãe retrucou, cruzando os braços. - Se você conversasse comigo de verdade, talvez eu pudesse entender o que se passa na sua cabeça.
Eva engoliu o sabor amargo em sua língua e fechou os olhos. Não queria ter que lidar com a opinião de sua mãe naquele momento - opinião que estava a favor do seu ex-namorado.
- Eu quero ficar sozinha para terminar meu livro.
- Claro. - Ela se moveu do batente, fazendo menção de sair. - Se continuar sendo tão inflexível, é exatamente assim que vai ficar pelo resto da sua vida.
Sua mãe bateu à porta do quarto e a deixou sozinha. Eva jogou o livro na cama, frustrada, e mordeu os lábios. Decidiu, naquele mesmo instante, que passaria o maior tempo possível longe de casa; se iria ficar deprimida de qualquer forma, preferia fazer isso sem a ajuda da mãe.
2
AMANHECER
"Algo em você faz eu me sentir Uma mulher perigosa
Algo em você me faz querer fazer coisas Que eu não deveria fazer."
ARIANA GRANDE - DANGEROUS WOMAN
Ali, sob a lona azul que cobria a estrutura gasta de barras de ferro, uma gotícula escorreu livre, anunciando silenciosamente que a chuva estava chegando. A gota, furtivamente acompanhando as irregularidades do teto e escorrendo pelo espaço livre da borda, caiu sobre seus cabelos acobreados e ondulados.
- Era só o que me faltava.
Eva encontrava-se ligeiramente preocupada com a possibilidade de a chuva estragar seus planos - e os cachos que Clara havia levado uma hora para fazer. Ela olhou para o céu escuro e sem estrelas, nervosa, e torceu para que a chuva tardasse a chegar.
- Boa noite, qual o seu pedido?
Olhou para o rosto do senhor grisalho atrás do balcão, cujos vincos na testa denunciavam certa idade.
- Boa noite. - Ela analisou o grande panfleto e leu, receosa. Prestou atenção a cada item, analisando a variedade de bebidas disponíveis. - Vou querer um drink alcoólico, por favor.
- De qual sabor? - indagou o homem, sem tirar o lápis da caderneta que usava para anotar. Ele levantou os olhos rapidamente, como se tivesse esquecido de algo importante. - Preciso da sua identidade.
Ela procurou dentro da pequena bolsa preta e entregou o papel plastificado com certo orgulho. Era maior de idade e podia comprar sua própria bebida.
- Quero o de morango com vodka.
Cinco minutos depois, Eva deixou a área de bebidas e caminhou em direção às amigas, que estavam esperando do outro lado da
piscina. Ela riu consigo mesma ao se dar conta de que estava em seu terceiro copo e já se sentia um pouco mais leve, desinibida. O emaranhado de fios dos seus pensamentos parecia estar progressivamente se transformando em líquido.
- Eva! - Suas amigas a alcançaram, caminhando rapidamente entre os diversos corpos que buscavam passagem. Ela olhou para trás e sorriu, alegre. - Você devia ir com mais calma ou vai secar os baldes de bebida! - Jaqueline disse, tomando o copo de sua mão.
- Vamos para perto do palco, não quero causar um desastre - Eva respondeu, rindo. Capturou a mão de Clara e colocou-se entre ela e Jaqueline.
- Eu beijei um cara absurdamente gato - Clara sussurrou para Eva, dando pulinhos de animação.
- Eu fiquei longe por cinco minutos e você já beijou alguém? - Eva riu, balançando a cabeça.
Suas amigas estavam solteiras há algum tempo e lidavam com aquilo com mais naturalidade que ela.
- Olhe ao redor, Eva! - Jacqueline apontou para a multidão de pessoas. - Agora é o momento de tirar o Marcos do seu sistema. Escolha um desconhecido gostoso e fique com ele!
- Vocês sabem que eu não consigo fazer isso - protestou, frustrada. Entornou seu copo de bebida e o engoliu de uma só vez.
- Eu sou uma idiota, não é?
- Desculpe por te pressionar. - Jacqueline afagou seu ombro.
- Nós estamos aqui por diversão, faça apenas o que te deixar confortável.
Eva deu um sorriso e segurou a mão delas. Elas estavam em um espaço aberto destinado aos eventos do Chalé; no centro da festa havia uma piscina enorme e colorida, iluminada pelos refletores fixados à grama. Ao redor dela, diversos coqueiros e quiosques preenchiam o ambiente, trazendo àquela porção do chalé uma energia intensa de natureza. Distante dali, depois de uma vasta faixa de grama verde e úmida, havia uma fileira de pequenas casas
- os quartos que os hóspedes alugavam, e que provavelmente teria sido o lugar em que passaria a noite com Marcos.
Mas ele a tinha deixado esperando.
Elas caminharam em direção ao palco de madeira, colocado alguns metros após a piscina, e prestaram atenção na quantidade de pessoas se movendo ao redor da banda. O som da música pareceu um plano de fundo distante, enquanto os ruídos de vozes e risos preenchiam seus ouvidos.
Sorriu, satisfeita com o caos. O álcool tinha um benefício inegável: tornava mais leve a sua mente incessante; seus sentidos estavam bloqueados pela intensidade dos estímulos sonoros e pela própria impossibilidade de enxergar bem.
No meio do caminho, sentiu algo bloquear sua passagem.
Seu pé projetou-se para trás e ela notou que a bota tinha ficado presa em alguma irregularidade do chão. Tensa, vislumbrou a queda terrível que teria no meio daquela multidão e se concentrou na missão de manter-se de pé. Inevitavelmente, foi lançada para a frente e se desequilibrou, mas seu corpo encontrou um obstáculo rígido o suficiente para que a queda fosse evitada. Antes que registrasse, sua cintura foi envolvida e erguida para cima.
Uma fragrância masculina bloqueou qualquer outro aroma do ambiente; uma mescla suave de gengibre e sândalo inebriando seus sentidos. Um instante depois, o braço que segurava firmemente sua cintura tracionou e trouxe-a de volta para cima. Eva finalmente encarou o homem que tinha impedido sua queda e a luz parou naquela porção da festa, revelando o seu rosto.
Ele era inexplicável.
Talvez fosse a dose de bebida queimando em seu estômago, mas ela sentiu um calor tomar conta da sua pele no instante em que olhou para ele.
Poderoso. Quente. Masculino.
- Me desculpe - ele disse em voz alta, sua voz grave e profunda se fazendo ouvir.
Qualquer pensamento sobre Marcos evaporou da sua mente. Aquele homem gigante, de mandíbula forte e lábios grossos, arrastou ela para pensamentos nada inocentes.
Um homem não deveria ter lábios assim, Eva pensou, cobiçando-
o. Santa protetora das solteiras carentes, que esse homem delicioso me dê mole..
Eva percebeu que o estava encarando como uma devassa, enquanto ele aparentemente esperava por uma resposta. Abaixou o rosto, envergonhada com seu comportamento. No instante seguinte, sentiu a base da sua coluna ser cutucada e lembrou que as amigas estavam bem atrás dela.
- Estamos indo dar uma volta. - Clara alcançou seu ouvido e sussurrou. - Diga alguma coisa!
Eva mordeu os lábios e olhou novamente para o desconhecido; o braço dele ainda envolvia sua cintura. Sentiu-se ligeiramente mais corajosa pelo excedente de álcool em seu organismo e se aproximou dele.