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- Você deveria se desculpar por estar acabando com a chance de todos os homens dessa festa.
Ele a analisou, claramente surpreso pela resposta. Uniu as sobrancelhas, olhou para baixo e voltou a encará-la, agora com o esboço de um sorriso. Após os segundos intermináveis em que ponderou suas palavras, ela concluiu que levaria um fora. Consciente da vergonha e das possíveis bochechas vermelhas, Eva deu um passo para trás e, antes que ele dissesse qualquer coisa, fugiu.
Ela literalmente correu para longe dele.
Eva se sentiu tão patética que poderia chorar; ainda assim, continuou correndo em direção ao gramado. Na sua frente, uma pequena escada de concreto separava a grama de uma faixa de areia. Ela olhou para trás e percebeu que as pessoas e o chalé estavam distantes; frustrada, sentou no degrau gelado e olhou para frente, vislumbrando a areia se estender até uma corrente de água poucos metros à frente. Ela sentiu o cheiro do mar e percebeu, subitamente, que sabia exatamente onde ela estava.
Céus, ela havia se afastado demais do chalé.
De fato, o Chalé das Orquídeas fazia divisa com o Parque Ecológico da cidade, o qual era conhecido por abrigar uma pequena praia - que Eva estava encarando naquele momento.
Ela se sentiu uma completa idiota quando registrou o que tinha feito. Além de dar em cima de um homem absurdamente bonito e fugir antes de ouvir uma resposta, Eva correu no meio de uma festa. Ela deu um tapa em sua própria cabeça e gemeu, envergonhada.
O que suas amigas diriam se soubessem que ela era tão covarde?
Distraída, Eva sorriu ao notar que algumas borboletas estavam voando ao redor das flores que subiam pela estrutura de madeira da escada. Eram borboletas negras como a noite, quase imperceptíveis naquela porção pouco iluminada do chalé. Tentou tocar uma, mas elas voaram e seguiram o caminho oposto.
- Você fugiu de mim.
Eva girou o rosto abruptamente e encarou a figura enorme atrás dela. Ao redor dele, vislumbrou as borboletas que tinham fugido e sorriu; o moreno de olhos azuis estava de pé, com uma expressão séria no rosto e a atenção fincada nela. Eva duvidou de sua capacidade de respirar quando percebeu que ele estava se abaixando. Ele sentou ao seu lado, ocupando o pequeno espaço do degrau, e Eva notou que ele estava segurando uma garrafa de vinho em uma das mãos.
Sua voz era de uma intensidade impressionante. Diferente de tudo que estava acostumada, sem dúvidas. Não era a voz de um rapaz tentando impressionar uma garota, era a voz de um homem.
Engoliu em seco, sentindo a proximidade afugentar sua respiração. Ele era provavelmente o homem mais lindo que tinha visto na vida inteira.
Diga alguma coisa, sua tola.
- Sim, eu fugi.
Eva mordeu os lábios frente ao desejo intenso de beijá-lo. Se tivesse apenas coragem o suficiente para dar o primeiro passo, definitivamente o faria.
Seu celular começou a vibrar insistentemente. Ela suspirou, frustrada, e capturou o celular da bolsinha. Atendeu o telefone com uma reclamação.
- Eva, sua maldita sortuda! - Jacqueline gritou. - Para onde vocês foram?
- Não pense em desistir! - Clara completou.
Eva olhou para o desconhecido, verificando que ele não estava ouvindo suas amigas, e mordiscou os lábios.
- Falo com vocês depois.
- Eva. - Jacqueline tomou o celular de Clara. - Tem duas coisas que você precisa ter em mente. Primeiro, a gente só vive uma vez - ela enumerou, fazendo Eva revirar os olhos. - E segundo: coloquei lubrificante e camisinhas de morango na sua bolsa.
Eva arregalou os olhos e tapou a boca como se ele pudesse ouvir o que sua amiga estava dizendo. Ela apenas balbuciou algum agradecimento inteligível e desligou o telefone, envergonhada.
Quando olhou para ele, sentiu a vergonha ser gradualmente substituída por calor. Nervosa com sua presença, permaneceu em silêncio.
- Temos aqui uma mulher de poucas palavras - disse ele.
Eva percebeu, pela primeira vez, a real tonalidade dos olhos dele. Não era um tom clássico e confortável de olhar, mas um azul profundo e repleto de oscilações amareladas.
Ele tinha olhos que invadiam a alma, ou pareciam fazer isso cada vez que a olhava.
- Você tem olhos da noite estrelada de Van Gogh.
Ser espontânea cobrava seu preço, porque ela se arrependeu imediatamente de pronunciar aquelas palavras.
- Não estou à altura de Van Gogh. - ele sorriu discretamente.
- Eu não falei sério - ela arriscou. - Estou apenas treinando algumas técnicas de sedução para usar mais tarde.
- Você pretende me seduzir e procurar a próxima vítima, então?
- Uniu as sobrancelhas. - Isso é muito cruel da sua parte.
- Não fique magoado, você vai continuar sendo o melhor da noite.
- Mais um dos seus truques, eu suponho.
Eva soltou uma risada involuntária, surpresa com o senso de humor dele. Talvez não devesse ter saído correndo, afinal de contas. Ela percebeu que ele tinha sotaque, discreto e sensual como todo o resto. Quando ele falava, o ritmo e a entonação dançavam uma melodia envolvente e desconhecida.
Ansiosa, ela imaginou o que aconteceria se ele fosse um visitante da cidade; o brilho de uma oportunidade surgiu em seus pensamentos.
- Você tem sotaque - sugeriu, esperando que ele falasse de onde era.
Ele fez uma careta.
- É tão óbvio assim?
- Continue com ele, vai te trazer muitos benefícios. - Ele apenas olhou para ela com suspeita. - Brasileiros gostam de tratar bem os estrangeiros, principalmente estrangeiros bonitos.
Um sorriso sugestivo brotou em seus lábios.
- Então você acha que sou bonito?
Bonito não chegava nem perto.
- Talvez. - Ela se deu ao trabalho de soar misteriosa. - Está gostando da cidade?
- Gostei do que vi até agora.
Eva mordeu os lábios e olhou para ele de soslaio. Infelizmente, flertar com um desconhecido não era a mesma coisa que ir para a cama com ele, e ela sabia disso. No entanto, sabia também que aquela era a oportunidade da sua vida; uma noite com ele diria exatamente o que precisava saber sobre si mesma.
Ele levantou a mão em direção ao rosto dela e tocou seus lábios, provocando um tremor.
- Pare de fazer isso - ele sussurrou. Seus dedos fizeram pressão contra a boca dela, libertando-a de seus dentes. - Ou serei forçado a mantê-los ocupados.
Eva não sabia o que dizer, e tampouco seria confiante o suficiente para flertar naquele momento. Sua pele estava quente e seus lábios, famintos; ela queria que ele cumprisse sua ameaça provocante. Em resposta, puxou seu lábio inferior contra os dentes e ergueu o queixo, desafiando o desconhecido.
Ele se moveu no degrau e capturou seu rosto com as mãos fortes. Quando os lábios dele tocaram-na, Eva imaginou que pudesse morrer de puro deleite.
Os lábios dele tocaram os seus de leve; um toque sedutor que causou arrepios e deixou os seus sentidos inebriados. Ela sentiu o corpo amolecer conforme seus lábios macios e saborosos exploravam os dela, sem pressa, as mãos dele percorrendo sua mandíbula, pescoço e ombros. Eva gemeu quando sua língua tocou a dela, e sentiu que labaredas estavam consumindo seu corpo.
Estava atônita com a sensação. Não conseguia fazer nada além de permitir que ele tomasse espaço em seus lábios e em sua pele, queria que ele fizesse tudo o que quisesse. Seus lábios tornaram-se mais exigentes, sua língua investindo e provocando seu desejo, até que ela não pudesse fazer nada além de suspirar.
Céus, nunca tinha se sentido daquela maneira.
Entre beijos, ele segurou os cabelos curtos dela e arrastou ligeiramente seu rosto para trás, abrindo espaço para seu pescoço. Colou os lábios em sua orelha e deixou que eles tocassem seu lóbulo.
E então ele parou por completo.
Ela engoliu em seco ao observar seus olhos indistintos na escuridão. Ele se aproximou novamente, causando uma onda de revolta no fundo do seu estômago, e ela fingiu não estar enlouquecendo por dentro. A mão esquerda do desconhecido apoderou-se da nuca dela, abrindo espaço entre seus cabelos e provocando um arrepio perigoso em toda sua espinha.
- Se você continuar me deixando te beijar assim, provavelmente vamos acabar na areia dessa praia.
- Isso deveria ser uma coisa ruim? - ela perguntou, momentaneamente confusa.
Ele soltou uma risada e balançou a cabeça.
- Prefiro te levar para a minha cama essa noite.