Capítulo 5 Capitulo 5

Eva ficou nervosa.

Não estava pronta para ir para a cama dele, e imaginou se ele se arrependeria de ter escolhido uma garota tão insegura e tola. Ela precisava ficar mais calma antes de dar continuidade àquela conversa.

- Por que não bebemos deste vinho antes? - ela sugeriu, sorrindo. - Seria um desperdício deixá-lo fechado.

Ele concordou com a ideia e abriu a garrafa de vinho. Eva olhou para o rótulo e percebeu, surpresa, que aquela garrafa devia ter sido cara - e que definitivamente não estava no estoque do open bar; era uma garrafa de Château Rouget, um vinho tinto francês muito tradicional.

- Não trouxe taças comigo. - Ele ofereceu a garrafa para ela. - Dê o primeiro gole.

- Vamos tomar um vinho dessa qualidade direto do gargalo? - Eva soltou um risinho incrédulo antes de segurar a garrafa. - Você tem certeza?

- Você entende de vinhos?

- Cresci com um enólogo em casa - ele uniu as sobrancelhas, confuso; Eva imaginou que ele não soubesse o que aquele termo significava, já que não era uma palavra comumente usada pelas pessoas. - Meu pai é especialista na produção de vinhos. Digamos que eu aprendi a reconhecer um vinho de qualidade.

Eva virou o conteúdo da garrafa e experimentou o sabor intenso e frutado. A última vez que tomara um vinho tão bom como aquele foi quando o pai ainda vivia com ela.

Ela sentia saudades dele.

Eva entregou a garrafa para ele

- Sua vez. Dê um gole generoso e não me decepcione.

- Você é interessante. Tão interessante que me esqueci de perguntar seu nome.

Eva pensou nas amigas. Parte da experiência da noite era se sentir confortável consigo mesma e fazer o que desejasse, certo? Ela não precisava ser nada além do que quisesse naquela noite.

E se ela quisesse ser alguém diferente?

Se pudesse escolher, seria uma mulher confiante, provocadora e divertida. Uma mulher interessante.

Jamais veria aquele homem novamente, e aquilo deu a ela uma injeção de coragem e confiança. Com um sorriso, Eva contou a primeira mentira daquela noite.

- Me chamo Esmeralda. E você?

- Matteo - ele respondeu, alisando os cabelos. - O seu nome combina com você.

- O seu também. Você tem o nome de um homem sedutor.

Matteo fechou os olhos involuntariamente e fez algo que Eva não esperava. Ele soltou uma gargalhada gostosa.

- Você acha que eu sou um sedutor?

- Entre outras coisas - arriscou, arrancando de seu rosto a expressão risonha. Matteo observou-a com um sorriso ligeiro e sedutor.

Um homem como ele não aparecia diariamente na frente dela, e talvez nunca tivesse aparecido. Além da aparência, ele tinha um charme tão intrínseco que ela sequer podia definir em palavras. Matteo era naturalmente grande, de ombros largos e altivos, que acompanhavam o tronco e as pernas sem dificuldade. Era magro, mas sua estrutura óssea grande e definida contribuía para que parecesse um guarda-roupa humano.

Seu rosto era um pecado à parte.

- O que você faz, Esmeralda? Eva hesitou antes de responder.

- Sou estudante de Direito. E você?

- Combina com você. - Matteo sorriu, tomando outro gole do vinho. - Meu melhor amigo é advogado e simplesmente não consigo vencer uma discussão com ele. Ele tem uma personalidade impossível.

- Gosto da ideia de sempre vencer uma discussão - ela olhou para o céu, pensando no seu real trabalho e o quão distante estava de ser aquela mulher que estava interessando Matteo.

- Por que você escolheu essa área?

Eva olhou para ele, surpresa com a ideia de que Matteo quisesse realmente saber algo sobre ela.

- Eu fui estagiária no fórum da cidade por dois anos - inspirou fundo antes de continuar. - Todos os dias, tinha que ir até o gabinete do juiz e pedir a assinatura dele em algumas guias de pagamento. Em um desses dias havia uma audiência marcada, e eu fui instruída a aguardar pelas assinaturas do lado de fora.

Ela fez uma pausa e tomou outro gole de vinho, ansiosa. Matteo estava prestando atenção, e aquilo a deixava duplamente nervosa.

- Enquanto eu esperava, fiquei ao lado de uma senhora e sua advogada, que estavam conversando no corredor. Eu não pude deixar de prestar atenção na conversa, já que ela estava agradecendo muito a doutora. Fiquei curiosa, naturalmente, porque a outra parte do processo, o marido dela, estava gritando com o advogado. - Ela se lembrou exatamente da cena, ainda vívida em sua memória. - Fiquei muito tocada pelo agradecimento daquela mulher e, quando desci para o escritório, pesquisei o nome da advogada na internet. Descobri que ela era a fundadora de uma

ONG que oferece serviço gratuito de atendimento às vítimas de violência doméstica. A senhora que estava chorando tinha conseguido o divórcio, após quase trinta anos em um relacionamento violento.

- É por isso que você faz Direito?

- Eu quero lutar para que a justiça proteja aquelas que foram abandonadas. - Eva sentiu os olhos lacrimejarem, pois, ainda que estivesse mentindo sobre parte de sua vida, aquilo era muito real. - Jurei para mim mesma que, quando me formar, vou usar meu conhecimento para salvar a vida de mulheres como ela.

- Eu tenho certeza de que você fará isso. - Ele virou o corpo em sua direção. - É importante ajudar aqueles que a justiça não conseguiu alcançar.

Eva escolheu mudar o foco da conversa antes que começasse a chorar.

- E você?

- Eu sou professor. - Ele comprimiu os lábios, olhando para o vazio. - Dou aulas de Literatura.

Eva suspirou, imaginando o sofrimento de ter um professor tão bonito quanto aquele. Impulsivamente, tomou mais vinho; estava ligeiramente tonta e muito confortável ao lado de Matteo.

- Qual o seu livro favorito? - Ele deu um sorriso. - E eu espero uma resposta bem inteligente, só para constar.

- Os Miseráveis. - Eva tentou não sorrir, mas falhou quando ele olhou para ela. - O quê?

- Não gosto de livros assim. Acho que a vida já é triste demais para que eu perca meu tempo lendo histórias que vão me fazer chorar.

- Sua vida é triste?

Que pergunta complexa.

- A vida é triste. - Ela fez uma pausa, contemplando a lua brilhante no céu. - Mas passamos a vida tentando preencher nossa existência com memórias que façam essa jornada maluca valer a pena. Definitivamente não vou conseguir preencher minha vida se estiver sofrendo por personagens fictícios.

- É justo - ele comentou. - Qual é o seu livro favorito?

- Orgulho e Preconceito. - Matteo ergueu uma sobrancelha. - Não me julgue! Além de ser uma história incomparável de amor, Jane Austen criou um padrão inalcançável de homens ao escrever Mr. Darcy.

- Discutível. - Matteo sorriu. - Um aristocrático que detesta pobres, ele não é tão surpreendente assim.

Eva soltou uma risada.

- Odiando pobres ou não, compare Darcy com todos os homens que já conheci e verá que há uma diferença indiscutível.

Eva mordeu os lábios quando percebeu que havia insinuado ter conhecido muitos homens.

Ela tinha conhecido apenas um.

- Gostaria de mudar essa impressão.

- Você pode tentar.

Sua risada se perdeu no ar frio daquela noite; Matteo olhou para ela com desejo e quebrou a distância existente. Eva segurou o colarinho de sua camisa e fitou seus lábios. Quando eles se beijaram, havia uma certeza implícita de que não acabaria ali. Matteo atacou sua boca e a tomou com intensidade, dando espaço para que eles entrassem em um estado de necessidade.

Ela mal registrou quando a chuva começou a cair; estavam trôpegos pelo vinho e embriagados pelo contato explosivo de seus lábios quando as gotas invadiram o beijo. Eva soltou um gritinho e começou a rir, sentindo a água gelada arrepiar sua pele.

- Vem comigo.

Matteo levantou da escada e segurou a mão dela. Enquanto a chuva caía e molhava tudo ao redor, ele a conduziu pelo gramado e tomou o caminho que levava até as cabanas do chalé.

Eva deveria estar nervosa, mas não estava. Havia apenas a água da chuva, a mão quente de Matteo e o momento imperturbável que estavam compartilhando. Quando ele parou na frente de uma das cabanas de madeira, Eva esperou que ele abrisse a porta; no entanto, puxou Eva ao seu encontro e a beijou.

- Você salvou minha noite - sua voz rouca e embargada provocou arrepios na pele úmida. - Me deixe fazer a sua valer a pena.

                         

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