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Eva ficou nervosa.
Não estava pronta para ir para a cama dele, e imaginou se ele se arrependeria de ter escolhido uma garota tão insegura e tola. Ela precisava ficar mais calma antes de dar continuidade àquela conversa.
- Por que não bebemos deste vinho antes? - ela sugeriu, sorrindo. - Seria um desperdício deixá-lo fechado.
Ele concordou com a ideia e abriu a garrafa de vinho. Eva olhou para o rótulo e percebeu, surpresa, que aquela garrafa devia ter sido cara - e que definitivamente não estava no estoque do open bar; era uma garrafa de Château Rouget, um vinho tinto francês muito tradicional.
- Não trouxe taças comigo. - Ele ofereceu a garrafa para ela. - Dê o primeiro gole.
- Vamos tomar um vinho dessa qualidade direto do gargalo? - Eva soltou um risinho incrédulo antes de segurar a garrafa. - Você tem certeza?
- Você entende de vinhos?
- Cresci com um enólogo em casa - ele uniu as sobrancelhas, confuso; Eva imaginou que ele não soubesse o que aquele termo significava, já que não era uma palavra comumente usada pelas pessoas. - Meu pai é especialista na produção de vinhos. Digamos que eu aprendi a reconhecer um vinho de qualidade.
Eva virou o conteúdo da garrafa e experimentou o sabor intenso e frutado. A última vez que tomara um vinho tão bom como aquele foi quando o pai ainda vivia com ela.
Ela sentia saudades dele.
Eva entregou a garrafa para ele
- Sua vez. Dê um gole generoso e não me decepcione.
- Você é interessante. Tão interessante que me esqueci de perguntar seu nome.
Eva pensou nas amigas. Parte da experiência da noite era se sentir confortável consigo mesma e fazer o que desejasse, certo? Ela não precisava ser nada além do que quisesse naquela noite.
E se ela quisesse ser alguém diferente?
Se pudesse escolher, seria uma mulher confiante, provocadora e divertida. Uma mulher interessante.
Jamais veria aquele homem novamente, e aquilo deu a ela uma injeção de coragem e confiança. Com um sorriso, Eva contou a primeira mentira daquela noite.
- Me chamo Esmeralda. E você?
- Matteo - ele respondeu, alisando os cabelos. - O seu nome combina com você.
- O seu também. Você tem o nome de um homem sedutor.
Matteo fechou os olhos involuntariamente e fez algo que Eva não esperava. Ele soltou uma gargalhada gostosa.
- Você acha que eu sou um sedutor?
- Entre outras coisas - arriscou, arrancando de seu rosto a expressão risonha. Matteo observou-a com um sorriso ligeiro e sedutor.
Um homem como ele não aparecia diariamente na frente dela, e talvez nunca tivesse aparecido. Além da aparência, ele tinha um charme tão intrínseco que ela sequer podia definir em palavras. Matteo era naturalmente grande, de ombros largos e altivos, que acompanhavam o tronco e as pernas sem dificuldade. Era magro, mas sua estrutura óssea grande e definida contribuía para que parecesse um guarda-roupa humano.
Seu rosto era um pecado à parte.
- O que você faz, Esmeralda? Eva hesitou antes de responder.
- Sou estudante de Direito. E você?
- Combina com você. - Matteo sorriu, tomando outro gole do vinho. - Meu melhor amigo é advogado e simplesmente não consigo vencer uma discussão com ele. Ele tem uma personalidade impossível.
- Gosto da ideia de sempre vencer uma discussão - ela olhou para o céu, pensando no seu real trabalho e o quão distante estava de ser aquela mulher que estava interessando Matteo.
- Por que você escolheu essa área?
Eva olhou para ele, surpresa com a ideia de que Matteo quisesse realmente saber algo sobre ela.
- Eu fui estagiária no fórum da cidade por dois anos - inspirou fundo antes de continuar. - Todos os dias, tinha que ir até o gabinete do juiz e pedir a assinatura dele em algumas guias de pagamento. Em um desses dias havia uma audiência marcada, e eu fui instruída a aguardar pelas assinaturas do lado de fora.
Ela fez uma pausa e tomou outro gole de vinho, ansiosa. Matteo estava prestando atenção, e aquilo a deixava duplamente nervosa.
- Enquanto eu esperava, fiquei ao lado de uma senhora e sua advogada, que estavam conversando no corredor. Eu não pude deixar de prestar atenção na conversa, já que ela estava agradecendo muito a doutora. Fiquei curiosa, naturalmente, porque a outra parte do processo, o marido dela, estava gritando com o advogado. - Ela se lembrou exatamente da cena, ainda vívida em sua memória. - Fiquei muito tocada pelo agradecimento daquela mulher e, quando desci para o escritório, pesquisei o nome da advogada na internet. Descobri que ela era a fundadora de uma
ONG que oferece serviço gratuito de atendimento às vítimas de violência doméstica. A senhora que estava chorando tinha conseguido o divórcio, após quase trinta anos em um relacionamento violento.
- É por isso que você faz Direito?
- Eu quero lutar para que a justiça proteja aquelas que foram abandonadas. - Eva sentiu os olhos lacrimejarem, pois, ainda que estivesse mentindo sobre parte de sua vida, aquilo era muito real. - Jurei para mim mesma que, quando me formar, vou usar meu conhecimento para salvar a vida de mulheres como ela.
- Eu tenho certeza de que você fará isso. - Ele virou o corpo em sua direção. - É importante ajudar aqueles que a justiça não conseguiu alcançar.
Eva escolheu mudar o foco da conversa antes que começasse a chorar.
- E você?
- Eu sou professor. - Ele comprimiu os lábios, olhando para o vazio. - Dou aulas de Literatura.
Eva suspirou, imaginando o sofrimento de ter um professor tão bonito quanto aquele. Impulsivamente, tomou mais vinho; estava ligeiramente tonta e muito confortável ao lado de Matteo.
- Qual o seu livro favorito? - Ele deu um sorriso. - E eu espero uma resposta bem inteligente, só para constar.
- Os Miseráveis. - Eva tentou não sorrir, mas falhou quando ele olhou para ela. - O quê?
- Não gosto de livros assim. Acho que a vida já é triste demais para que eu perca meu tempo lendo histórias que vão me fazer chorar.
- Sua vida é triste?
Que pergunta complexa.
- A vida é triste. - Ela fez uma pausa, contemplando a lua brilhante no céu. - Mas passamos a vida tentando preencher nossa existência com memórias que façam essa jornada maluca valer a pena. Definitivamente não vou conseguir preencher minha vida se estiver sofrendo por personagens fictícios.
- É justo - ele comentou. - Qual é o seu livro favorito?
- Orgulho e Preconceito. - Matteo ergueu uma sobrancelha. - Não me julgue! Além de ser uma história incomparável de amor, Jane Austen criou um padrão inalcançável de homens ao escrever Mr. Darcy.
- Discutível. - Matteo sorriu. - Um aristocrático que detesta pobres, ele não é tão surpreendente assim.
Eva soltou uma risada.
- Odiando pobres ou não, compare Darcy com todos os homens que já conheci e verá que há uma diferença indiscutível.
Eva mordeu os lábios quando percebeu que havia insinuado ter conhecido muitos homens.
Ela tinha conhecido apenas um.
- Gostaria de mudar essa impressão.
- Você pode tentar.
Sua risada se perdeu no ar frio daquela noite; Matteo olhou para ela com desejo e quebrou a distância existente. Eva segurou o colarinho de sua camisa e fitou seus lábios. Quando eles se beijaram, havia uma certeza implícita de que não acabaria ali. Matteo atacou sua boca e a tomou com intensidade, dando espaço para que eles entrassem em um estado de necessidade.
Ela mal registrou quando a chuva começou a cair; estavam trôpegos pelo vinho e embriagados pelo contato explosivo de seus lábios quando as gotas invadiram o beijo. Eva soltou um gritinho e começou a rir, sentindo a água gelada arrepiar sua pele.
- Vem comigo.
Matteo levantou da escada e segurou a mão dela. Enquanto a chuva caía e molhava tudo ao redor, ele a conduziu pelo gramado e tomou o caminho que levava até as cabanas do chalé.
Eva deveria estar nervosa, mas não estava. Havia apenas a água da chuva, a mão quente de Matteo e o momento imperturbável que estavam compartilhando. Quando ele parou na frente de uma das cabanas de madeira, Eva esperou que ele abrisse a porta; no entanto, puxou Eva ao seu encontro e a beijou.
- Você salvou minha noite - sua voz rouca e embargada provocou arrepios na pele úmida. - Me deixe fazer a sua valer a pena.