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|| Dominic Ford ||
A apresentação já havia terminado e uma parte do grupo se retirou, restando apenas algumas garotas que geram entretenimento para as pessoas. A hora estava passando, só aceitei uma bebida para não desfazer da recepção do meu irmão Lauro, ficando só nos aperitivos.
Mas a inquietude dos meus olhos fazia-me varrer o local à procura dela.
- E a sua garota, Lauro, onde está ela? - perguntei tentando me distrair.
- A Morgana está ali... - Apontou para o lado esquerdo onde ficava a área de som.
Ele acenou para ela e a mesma sorriu docemente para ele. Antes de falar, olhei para ele que mantinha um sorriso radiante no rosto.
Realmente ele estava apaixonado.
- Ela parece ser uma ótima garota... - toquei no seu ombro firmemente. - Como diria o meu pai: mantenha os olhos atentos no amor.
- Essa dica é valiosa. - Soltamos um risinho fraco. - E serve para você também.
Estreito meus olhos em sua direção sabendo que a sua intenção era alfinetar a minha decisão.
- Serve também. Mas se você olhar bem quem foi flechado pelo cupido foi você. Rá! - ele riu jogando a cabeça para trás.
- Meu Deus, Dominic. O amor parece ser a sétima praga do Egito para você. - deu dois tapas no meu ombro e rindo, continuou:
- A mulher que conquistar seu coração terá a oportunidade de conseguir um beijo meu. - brincou, rindo ainda mais de mim.
- Nem fodendo! Minha garota é minha garota.
- Olha, Ian. A mocinha corou.
Ambos gargalharam.
- Vocês são uns cuzões. - respondi fingindo estar irritado.
- Dio! - Ian falou na sua língua nativa. - Isso é carência afetiva.
- Ou só falta de sexo mesmo. - disse Lauro.
- Não fode! - disparei ranzinzo com eles.
Através dos vidros olhei para o balcão e encontrei a feiticeira trabalhando. Soltei um riso alto ao ver que ela também já estava vestida de betty boop, os dois figurinos só provam o quão natural era o seu lado sexy.
- Se me dão licença, tenho algo a fazer. - levantei-me e fechei o botão do terno.
- E a descrição? - Lauro indagou confuso.
Parei na entrada da sala VIP e o olhei de viés.
- Era só para lhe dar mais trabalho com essa questão. Ah, a questão dos figurinos foi uma ótima ideia, cara.
- Vá se foder, Dominic. - disparou indignado.
Balancei a cabeça negativamente enquanto ria. Desço as escadas olhando para os degraus, o local está lotado. Desvio das pessoas que balançam os corpos com a música pop que tocava, passo pelas mesas e sigo em direção ao balcão.
Sento-me na seção dela e a vejo guardar as bebidas no seu devido lugar, olhei rapidamente para o seu corpo naquele figurino. Suas curvas, ainda mais realçadas, causavam uma agitação no meu sangue.
Belíssima demais.
- Um copo de vodka, por favor. - falei, observei o seu corpo tensionar e ficar por alguns minutos paralisado naquela mesma posição.
Ainda de costas a vejo preparar a minha bebida, e girando nos calcanhares ela se aproxima do balcão. Havia algo estranho na sua ação, a mão apertava o copo com força e seu olhar podia jurar desejar me fulminar.
Sua mão se estende em minha direção, e a bebida é derramada no meu terno enquanto ela diz:
- Nunca, senhor Ford, faça uma mulher se sentir insegura em uma entrevista. - a bebida despejada e sua rispidez em falar, me deixaram paralisado. - Eu não gosto de pessoas arrogantes e prepotentes.
Seus olhos azuis cobaltos me fuzilaram, ao encarar nos seus olhos pude quase ter um vislumbre de um mar em plena tempestade.
- Mas eu te pedi perdão! - consigo finalmente encontrar a minha voz. - Eu fui sincero!
- Foi sim, mas fiquei irritada com a situação que você criou. - cruzou os braços, e levantou os ombros fazendo com que os seus seios ficassem ainda mais volumosos.
Ela pigarreou, e rapidamente levantei a minha cabeça para encará-la nos olhos. Essa mulher está tirando minha lucidez por completo!
- Ok, justo. - estendi a minha mão em sua direção a vendo ficar confusa. - Eu, Dominic Ford peço perdão por te fazer ficar insegura e por agir igual a um babaca.
Sua sobrancelha se arqueou e seus olhos descem para minha mão e depois sobe novamente para os meus olhos. Penso que ficarei no vácuo...
- Está perdoado! - diz, fazendo com que o meu coração suspire aliviado quando ela aceita o meu aperto de mão.
- Ainda vai querer a bebida, essa fica por conta da casa. - sorriu largamente e sinto meu coração quase arriar.
Confuso, com toda essa bola de neve de sensações estranhas, balanço a cabeça negativamente.
- Boa noite! Senhorita Hernandez. - Engulo em seco ao ser alvo do seu olhar felino. - Foi bom lhe rever.
- Boa noite! Senhor Ford.
Afasto-me com pressa do balcão e passo pelas pessoas que estão dançando, subo as escadas novamente e encontro Lauro e Ian em uma conversa animada.
- Cara, você é ruim de paquera! - disse Ian.
- Quem é que usa a palavra paquera hoje em dia? Flerte é mais moderno! - os encarei incrédulo. - E não, eu não estava paquerando a Kristal.
- Eu! - ambos falam em uníssono.
- Como não? Vimos ela derramando a bebida em seu terno.
- Foi uma vingança feminina. - revirei os olhos ao explicar.
- Como assim? Conta essa. - disse Ian curioso.
- Fui um pouco arrogante com ela pela manhã.
- Espera... - Lauro se manifesta. - Não me diga que a entrevista que ela fez foi na sua empresa?
- Pois, é. Mundo pequeno esse. - dou de ombros.
- Ainda não consigo entender o porquê de você ter sido arrogante com ela? Estamos falando da Kristal, a garota que chega atrasada e quebra alguns copos, não de uma garota estilo cruela. - Lauro chacoalhou a cabeça sem entender.
- E você não age assim Dominic. - apontou Ian.
- O problema estava em mim. Não nela. - fui sincero. - Eu agi feito um babaca.
- É, agiu. - falaram juntos novamente.
- Qual é? Vocês estão em um complô contra mim?
- Não! - soltaram juntos.
Ambos voltaram a rir de mim, desde quando eu havia me tornado um comediante?
- Bom, hora de ir. Obrigado pelo presente de aniversário, irmão. - nos abraçamos.
Despeço-me do Lauro, e antes de ir embora olhei para Kristal uma última vez. Simplesmente uma deusa da beleza e da sedução.
Na minha adolescência meu pai me deu um conselho: filho, se uma garota cruza o seu caminho duas vezes no mesmo dia, fique atento, pode ser o destino lhe indicando a mulher da sua vida.
Seu conselho foi em base da sua história com a minha mãe, mas para mim o destino teria que ser mais insistente com essas aparições. Essa garota estava sendo uma caixinha de surpresas ambulante, que atraia: como um imã que puxa o metal em sua direção.
Eu precisava manter-me bem longe. Não estava aberto para o amor no momento. Eu tinha outros planos em mente e nenhum deles envolvia ter meu coração abduzido pela paixão.
*
Como combinado encontrei com a minha equipe e depois que nos equipamos, repassamos o plano e as informações que o Ian descodificou foi passada para todos, sabíamos qual era a mercadoria negociada, quantos homens estariam no local e infelizmente só sabíamos os nomes que faziam parte da máfia italiana. E tomamos a precaução de não colocar os drones no céu já que os mesmos seriam captados rapidamente. Como eu havia previsto, eles haviam preparado o terreno com detectores de tecnologia voadoras.
E seguindo o plano à risca, deixamos a van encostada perto do mercado de peixe abandonado e seguimos para o local dos galpão de contêiner a pé, nos camuflando nas sombras da noite e através dos óculos de visão noturna seguimos atentos no caminho. O perigo serpenteava o meu sangue com luxúria, enviando cargas de alerta para todo o corpo.
Cada um do grupo era altamente treinado para matar, e como uma serpente que se prepara para dar o bote na presa no momento certo da caça, assim agimos.
Enfraquecer o poder das alianças para tornar o alvo vulnerável.
Sendo um caçador que não brinca em serviço, foco em eliminar cada rato que sente prazer em ferir inocentes. Usando a sombra da noite ao nosso favor, verifico os pontos dos prédios abandonados antes de acenar positivamente para atravessar.
Chegando no último prédio, falo através do ponto de comunicação:
- Morris e Stewart, vocês nos darão cobertura e se possível saiam antes de nós. - Morris teria que fazer um reconhecimento de campo antes de adentrarmos e a Stewart fotografaria os criminosos que estariam presentes e seria a nossa cobertura junto do Morris.
Faço sinal para eles subirem a escada que os levariam para a cobertura do prédio, e sigo com a equipe para o final do beco. Tínhamos que ser silenciosos com os passos dados, a bota pisava nas poças sujas de água e junto da fina chuva a adrenalina corria solta pelo meu corpo. Parei no fim do beco e ficamos na espera do sinal que iríamos receber.
Dois minutos se passaram quando Morris nos comunica:
- Movimento ao lado norte. O lado sul está limpo.
Assim que recebemos o aviso, seguimos para o lado sul. Abeiramos as grades enferrujadas e na primeira abertura entramos, a tensão perigosa do momento corria solta pela atmosfera da noite.
- Homens sendo enviados para o lado sul, na área c e d. - A voz de Ian cortou o silêncio. - Hoje, eu sou o olho que tudo vê. - Comemorou, pois, o senhor Bennett havia dado a autorização.
- Então se concentra no que está fazendo. - Kenzie o corta e foi inevitável a equipe não rir.
- É por isso que eu te amo Kenzie, sua alma tem sabor de limão. - George brincou e arrancou um riso baixo de kenzie e dos demais. Ele tinha uma enorme admiração por ela.
Soltei um riso baixinho e balancei a cabeça negativamente, com as armas em punhos e todas com silenciadores anunciei a divisão da equipe como já estava previsto.
- Equipe B, cobre área c. - Segui para área D, e como a área era grande cada um seguiu com sua dupla e eu sozinho.
- Curtindo bem o momento sozinho? - escuto kenzie falar usando a linha particular.
- Super bem. - falei, mas atento à minha volta. - E você?
- Esse momento é meu desde que eu nasci. - falou.
Antes de passar entre os contêineres, verifiquei o corredor e vi um dos homens tragando o cigarro de costas para mim. Balancei a cabeça e mirei em seu pescoço para o eliminar, a chuva havia se intensificado um pouco mais. Pegá-los desprevenidos era uma carta surpresa, sempre que era possível usávamos a nosso favor.
Esse foi fácil!
Andei em direção ao corpo para o esconder, a ideia era não deixar rastros e fazer o Buuuh surpresa. Após esconder o corpo sigo o caminho que o GPS mostrava no relógio de pulso.
- Área C, limpa. - Kenzie anunciou.
Continuei em silêncio, estava chegando na entrada e supostamente o lugar deveria estar mais vigiado.
Havia caminhões e contêineres o que de certa forma ajudava os dois lados. Escuto passos vindo na minha direção e sem pensar duas vezes me escondo embaixo do caminhão, reprimo uma careta ao sentir o chão molhado pela chuva. Não demora muito e mais dois chegam ao local conversando algo.
- O que estão fazendo fora do posto?
- Calma, não precisamos nos preocupar. Quem ousaria entrar aqui? O lugar está cercado. - riu - Sabe o que acabamos de ver? - esperou a resposta do outro, incitando a curiosidade. Parecia um marica fofoqueiro. - A filha do chefe aos amassos com o líder da máfia, estamos indo agora contar para o chefe...
- A Lí...
- Essa mesma, a que só entra em confusão. - o terceiro cortou.
Da forma mais silenciosa sai, ainda escutando a conversa dei a volta pela frente do caminhão os mirando, o primeiro a ser eliminado foi o que segurava a arma. O segundo foi o careca que fez a fofoca e o terceiro tentou correr, mas morreu tentando.
Respirei fundo, e andei em direção aos corpos escondendo embaixo dos caminhões. Com o passe livre segui até o ponto de encontro e ao avistar minha equipe, vejo que faltavam dois da minha equipe. Observei todo o perímetro, apesar de saber que todos eram treinados, era o meu pessoal e eu me preocupava com cada um deles.
Fecho os olhos prestes a decidir quando ouço Otto se pronunciar:
- Senhor, eu posso ir atrás deles.
- Se estiverem feridos entre em contato. - aceno afirmativamente com a cabeça e assim ele sai, se camuflando como um fantasma na sombra do seu inimigo.
- Perímetro limpo! - Ian avisa.
Adentramos no perímetro, o fogo da adrenalina incendiava-me por baixo da pele. O calor do momento era quente e viciante, o desconhecido era o mistério que cercava a todos nós naquele breu da noite. Estavam todos na frente do galpão, as luzes dos carros estavam acesas e os líderes estavam um de frente para o outro, provavelmente conversando os termos da aliança.
Eu e a minha equipe estávamos na última linha de bloqueio, se ultrapassarmos essa barreira só nos restarão os barris de metal, o que seria suicídio se avançasse para aquele ponto.
Fazendo a conta de quantos homens tinham para enfrentar no total geral, eram dezoito homens. Com o binóculo noturno miro no líder da máfia russa e assim que foco a lente no seu rosto, vejo que não era ele. Concluo que se trata do seu braço direito por estar o representando.
- Não é ele. - Falei. - Ele não está aqui. Morris e Stewart? Vocês têm autorização para agir!
Aguardamos o primeiro tiro e assim que o outro líder foi derrubado, iniciamos a troca de tiros.
- Kenzie, cobre a minha retaguarda! - gritei.
A voz de Otto surgiu abafada no meu ouvido.
- Senhor, o agente Simmons está gravemente ferido! - encostei-me atrás do caminhão, Otto usou a linha particular ao entrar em contato. - Os italianos o cercaram!
- Droga! Quantos? - Minha voz saiu autoritária, não ouve resposta - OTTO, QUANTOS PORRA? - gritei, eu tentava achar uma brecha para disparar de volta, mas os tiros não deram trégua. - De olho na retaguarda estamos sendo cercados. - Avisei para todos.
- Seis deles estão atrás de vocês. Dividiram-se em três. - Ian passou a localização e assim ninguém foi pego de surpresa.
E os tiros vieram pelas nossas costas.
- Otto?- Chamei.
- Consegui derrubá-los! Estou levando o Simmons para a van, lá tem a maleta de primeiros socorros. - Comunicou.
- E o George? - Perguntei.
- Infelizmente não sobreviveu.
Fechei os olhos, e com raiva bati a cabeça na lata do caminhão, George era o mais velho do grupo e querido por todos. Era pai de uma menininha e um ótimo marido para Elba.
Kenzie atirava sem cessar o disparo, não dava espaço para o inimigo prosseguir. Voltei a disparar, a raiva e a sede de vingança que me envenenou há muito tempo rugiu com força nas entranhas da alma.
- Otto, onde está o corpo do George? - perguntei.
Se fosse para recuar eu não deixaria o corpo do meu amigo.
- Terceiro bloco da área D. - disse. Concentrei-me em atirar e eliminar aqueles ratos, eu fazia parte de uma rede criada para aniquilar esses malditos mafiosos.
- Kenzie, me passa a sua granada! - gritei.
Seus olhos esverdeados me encararam e sem falar nada ela me deu a granada.
- Me cobre!
- O quê? Você ficou louco! Isso é suicídio! - Falou, descrente.
Assim que vi uma brecha, atravessei, ficando atrás dos barris de metal. Dei um tiro em um dos barris para comprovar se a minha suspeita estava certa, encolhi-me um pouco mais, pousei a arma no chão ao meu lado e peguei a granada.
- Um da máfia Dragão sangrento entrou no carro! - Ian falou.
- Kenzie, Morris cobre a minha retaguarda! Agora!
Assim que tirei o pino da Granada, e recebi cobertura, joguei a Granada para perto do carro. Não demorou muito e a explosão aconteceu.
Abaixei-me novamente e agarrei a minha arma, e antes de voltar para o meu posto peguei a minha granada, tirei o pino e a deixei ali no meio dos barris. Saí correndo, indo para trás dos contêineres. Da mesma forma que o carro explodiu o barril também, dentro do barril havia pólvora que provavelmente seriam usados no acordo.
- Seu filho da Puta desgraçado! - Kenzie soltou raivosa.
Os tiros do outro lado cessaram.
- Um desgraçado inteligente. - pisquei um olho para ela e a vi grunhir.
Com a explosão, metade morreram e outros fugiram. Não restava mais nada para fazer ali, fizemos a vistoria no lugar e quando fui verificar o que havia restado do carro, não havia nenhum cadáver presente só manchas de sangue no chão. A polícia foi acionada para que a mercadoria ilegal fosse apreendida.
Dei ordens para todos voltarem na frente, eu tinha que buscar o corpo de um amigo.
- Ford - viro-me e vejo kenzie vindo na minha direção.
A expressão dura e o olhar furioso me fizeram franzir o cenho sem entender nada. Assim que se aproximou seus lábios foram de encontros ao meu, ferozmente. Seu corpo me prensou no contêiner e suas mãos agarraram o meu cabelo. Eu correspondi por um momento, sedento. O fogo da adrenalina estava queimando em minhas veias e naquele pequeno momento não pensei com clareza.
Afastei ela com cuidado ao recobrar a consciência, em parte eu sabia do sentimento dela por mim e não a queria com os sentimentos magoados.
- Kenzie, volta com os outros. - pedi.
- Eu escutei você falando com o Otto. Como você trará o corpo do George sozinho? - perguntou, eu dei de ombros.
Andamos em silêncio até o local.
- O que o Simmons disse? - A voz de Kenzie saiu cortante, enquanto me ajudava a levar o corpo.
- Ainda não falei com ele.
- É um ferimento de faca mortal. - Seus olhos encararam o local do ferimento, abaixo da axila, um único golpe. - isso precisa ser investigado, não ouvimos troca de tiros. Não faz sentido!
Fiquei em silêncio, Kenzie tinha razão. Nossas armas possuem silenciadores e essa lacuna nos fazia ficar em alerta. Mas para termos um julgamento justo precisávamos que Simmons contasse a sua versão.
Assim que chegamos na van, o silêncio pesou e assim como a escuridão da noite nosso coração estava mergulhado na escuridão da dor.