__Estou indo, calma!__ Ela sai do quarto arrastando uma mala de viagem e trajando uma roupa para lá de esquisita. Olho para minha amiga de cima a baixo.
__ Kat, você sabe que nós não vamos para um rodeio ou coisa parecida, né?
Tento ser delicada no comentário, mas é impossível não rir com a imagem de Kat com chapéu de vaqueiro, calças de couro e camisa xadrez, carregando uma mala abarrotada de roupas.
__Por que está me olhando assim? Não vamos para uma fazenda?__ Suspira resignada.__ Estou muito exagerada, né?
__Só um pouquinho, amiga. Mas se estiver se sentindo confortável, tudo bem! Ah, e outra coisa! Sabe que é só um fim de semana, né? Tem certeza que precisa disso tudo?__Kat volta para o quarto desanimada. Ela sabe que exagerou. Sempre faz isso quando viajamos.
__Enquanto termina de se arrumar, vou pedir à dona Sônia para cuidar de minhas hortaliças enquanto estivermos fora! Ok?__Grito da porta.
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Uma hora depois pegamos a estrada. Detonalta por enquanto se comporta bem no banco traseiro. Kat está responsável pela música e eu conduzo o carro.
Passamos pelos distritos de Paty de Alferes e Barra do Piraí. Quando chegamos em Ipiabas, paramos para um cafezinho e para Detonalta fazer suas necessidades.
__ Falta pouco para chegarmos. __ Anuncio.
Katiane está na direção agora. Durante a parada dei uma alongada, mas meu traseiro parece amortecido de tanto ficar sentada. Até Detonalta foi vencido pelo cansaço e cochila deitado no banco traseiro.
Passamos por Conservatória, lugar que sempre quis conhecer, mas hoje não dá tempo de parar. Prometo a mim mesma, voltar com calma para explorar esse distrito adorável.
Pegamos uma estrada que serpenteia a serra e seguimos em frente. O dia ensolarado me surpreende, apesar de não ser o mesmo calor opressor do Rio.
__ Ouvi dizer que por aqui é comum fazer calor durante o dia e à noite esfriar.__ Comento admirando a paisagem.
__Liz, olhe que linda!__Kat aponta para uma cachoeira escondida pela mata próxima a estrada.
__Vamos parar só por alguns minutos para nos refrescar?__Dou a ideia.
Estacionamos o Jeep no acostamento. Levo Detonalta comigo, não gosto de deixá-lo dentro do carro sozinho. Entramos por um caminho, que leva à beira do córrego. Detona bebe bastante água. Aproveito que vim de biquíni por baixo e tiro minha regata e o short jeans para me refrescar. Kat faz o mesmo.
__Esse lugar é maravilhoso! Nosso fim de semana promete. Espero que a fazenda também nos surpreenda. __ Concordo e afundo meu corpo na água gelada.
__Elias já foi na Fazenda 3 irmãos. Disse que é enorme. Só o casarão principal tem uns 10 ou mais quartos. Possuem criações de vários animais, além de ser uma referência em produção e comercialização do café.__ Comento caminhando para fora da água.
De volta à estrada mais relaxadas, tomamos a via que leva à fazenda. De um lado da estrada só há mata, porém do outro podemos desfrutar da bela paisagem de pastos, rebanhos, plantações e uma ou outra casinha.
Ao longe, o verde é salpicado por vários pontos brancos e malhados, que ao fixar melhor, identificamos vacas, bois e cavalos.
No som do carro toca uma das músicas preferidas de Kat, "Eu amei te ver" de Tiago Iorc. Ela aumenta o volume e começa a cantar alto feito uma louca. Acabo me contagiando e acompanho a cantoria. Até Detonalta arrisca uns uivos uma vez ou outra.
Viramos em uma estrada de pedra com uma placa lateral indicando "Fazenda 3 irmãos". Pelo caminho, passamos por uma pequena residência antiga...
__Liz, veja que delicadeza! Eles costumam deixar as sobras do que colhem expostas para compartilhar com quem quiser.
Olho distraída em direção ao muro baixo. Consultava o GPS.
__Pegue para mim Liz, por favor! Sabe que amo goiaba.
A encaro não acreditando.
__Por que não vai você?!
__Por que estou na direção, ora!
__Mas olhe como estou!__Aponto para o minúsculo short jeans e o biquíni que cobre a parte de cima.
Estava molhada, por isso fiquei assim.
__O que é que tem? Não tem ninguém nas redondezas. Vá rapidinho Liz, por favor!
Saio do carro contrariada. Ainda por cima estou descalço, pois tinha retirado os tênis para respirar os pés.
Corro até a mureta, recolho todas as goiabas e viro para voltar, mas Kat parou o carro a uma certa distância. Para meu desespero, uma picape vem avançando em nossa direção. Um senhor surge de dentro da casa.
Tento pensar rápido. Então, começo a correr em direção ao Jeep. Mas é inútil. As portas estão travadas e Kat continua com o som alto.
Ouço a picape parar bem ao nosso lado. Giro e observo os passageiros. Contabilizo uns quatro homens. Todos sorriem com exceção do motorista. Com certeza, debocham da visão da garota seminua correndo descalça pela estrada segurando umas goiabas. O passageiro ao lado do motorista se estica e me olha de cima a baixo. Somente o motorista, que por sinal tem um rosto lindo, se mantém sério com expressão de crítica.
__Precisa de ajuda, senhorita?__ Pergunta o motorista.
É sério que ele me chamou de senhorita? Quem ainda fala assim hoje em dia?
Para piorar a situação, Kat continua com o som alto cantarolando e absorta a tudo o quê acontece do lado de fora do carro. O senhor que vinha saindo da casa nos alcança. Sua expressão é de "poucos amigos".
__O que houve Tião?__O motorista da picape encara o velho que agora resmunga muito.
__Estava colhendo umas goiabas para Firmina fazer um doce, quando essa daí apareceu do nada e levou tudo!
Simplesmente não sei onde enfiar minha cara. Acho que fico pálida e depois vermelha de tanta vergonha. E tudo por culpa de Kat!
Finalmente ela percebe que há algo errado, porque Detonalta começa a latir. Abaixa o vidro e põe o rosto para fora do carro.
__Conseguiu minhas goiabas, Liz?__Olho para ela séria.
__Essas goiabas são minhas!__ O velho que responde. Pega as goiabas de minhas mãos com rudeza e sai andando.
__Não leve Tião a mal! Ele já está ranzinza.__ O rapaz ao lado do motorista que me conforta.
Sorrio agradecida por alguém entender a situação.
__Precisa de alguma informação ou ajuda, senhorita?__ O motorista carrancudo pergunta com sua formalidade.
__Na verdade sim, gostaria de saber se estamos próximas da Fazenda 3 irmãos. Estamos indo para lá...
Ele parece se surpreender com algo que digo. Ergue as sobrancelhas, depois sorri pela primeira vez.
__Sim, estão bem perto da Fazenda. Basta seguir essa estrada de pedra até o fim. A porteira fica logo a frente.
__ Obrigada pela informação!__ Respondo séria e entro apressada no Jeep.
__Aconselho as senhoritas a moderarem o volume do som que escutam na roça e tomarem cuidado com a vestimenta. As pessoas daqui não estão acostumadas a badernas e todo esse excesso de exposição__ O motorista para a caminhonete próxima a minha janela, dá um último recado e vai embora levantando poeira.
Que idiota! Por acaso as pessoas da roça nunca viram uma mulher de biquíni?
__Reconheça Liz, até que foi uma situação bem divertida!
__Diz isso porque não foi com você! E ainda fui acusada de ladra!
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