Fazenda 3 Irmãos-No Vale do Café. Vol.1
img img Fazenda 3 Irmãos-No Vale do Café. Vol.1 img Capítulo 5 A fazenda
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Capítulo 6 Betina Fonseca img
Capítulo 7 O cafeeiro img
Capítulo 8 Bruno Fonseca img
Capítulo 9 Noite na fazenda img
Capítulo 10 A festa. Parte I img
Capítulo 11 A festa. Parte II img
Capítulo 12 A festa. Parte III img
Capítulo 13 A flor do café. img
Capítulo 14 Veneno img
Capítulo 15 Amizades sinceras img
Capítulo 16 Conservatória img
Capítulo 17 Rio - Parte I img
Capítulo 18 Rio - Parte II img
Capítulo 19 Rio - Parte III img
Capítulo 20 Corações rasgados img
Capítulo 21 Nem tudo está perdido. img
Capítulo 22 Doce de goiaba img
Capítulo 23 Flores img
Capítulo 24 Meu remédio é você. img
Capítulo 25 ♡ Bom dia, meu amor! ♡ img
Capítulo 26 Margaridas img
Capítulo 27 Que bicho é img
Capítulo 28 Erros do passado img
Capítulo 29 Seguindo em frente img
Capítulo 30 Formatura img
Capítulo 31 Minha cor preferida img
Capítulo 32 Despedidas img
Capítulo 33 Castelo. Parte I img
Capítulo 34 Castelo - Parte II img
Capítulo 35 Castelo - Parte III img
Capítulo 36 Noivos img
Capítulo 37 Minhas escolhas img
Capítulo 38 Final - Parte I img
Capítulo 39 Final - Parte II img
Capítulo 40 Final - Parte III img
Capítulo 41 Epílogo img
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Capítulo 5 A fazenda

"Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

(Fernando Pessoa)

Katiane continua dirigindo pela estrada de pedra como nos indicaram. Chegamos à porteira da Fazenda 3 irmãos, atravessamos e seguimos em frente por uma estradinha de barro ladeada por palmeiras.

Nos admiramos com a imensidão de terras que fazem parte da propriedade. Além das plantações de café, que começam no campo e seguem por colina acima no formato de uma grande escadaria, há criações de gado, um haras à distância e bem no meio de toda a exuberância da natureza, uma enorme construção rosada no estilo colonial com janelas brancas e uma escadaria de pedra com estátuas de leões em cada pilar. Ao redor, jardins floridos com grande diversidade de plantas e na entrada um chafariz decorado com azulejos portugueses.

Estacionamos o Jeep e descemos. Uma jovem senhora, que alimenta um par de pavões no pátio de entrada, vem nos recepcionar com sorriso amistoso.

__Bom dia, senhora! Me chamo Lizandra e essa é minha amiga Katiane! Venho indicada por Elias Maduro, meu irmão.

__Bom dia, meninas! Sou Doralice, governanta da fazenda. Estávamos no aguardo de vocês. Como foi a viagem? Bruno disse que viria uma estagiária do Rio.

Simpatizo com Doralice de início. Noto que chama o dono da fazenda pelo primeiro nome, então deve ser parente ou convive com a família há anos.

__A viagem foi um pouco cansativa, mas tudo correu bem. __ Katiane que responde dessa vez.

__Ah, que bom! Mas vamos entra! Devem estar com vontade de beber algo! Está muito quente aqui fora.

Antes que sigamos Doralice, Detonalta late de dentro do carro.

Abro a porta sem ter tempo de prever o que poderia acontecer. Detonalta parte desenfreado atrás do par de pavões que se exibiam ao sol. Pisoteia um jardim, esmagando flores e espalhando terra para todos os lados. Seu latido assusta as aves frondosas, que se alvoroçam e tentam fugir batendo as asas.

Não acredito que ele está fazendo isso!

__Meu Deus!__Doralice se assusta.

Um senhor que cuidava do jardim ali perto, tenta acalmar a situação sacudindo o chapéu.

__Xô, xô, calma aí rapaz!

Um homem alto e jovem vem descendo a escadaria de entrada. Reconheço-o imediatamente. É o motorista da picape que me surpreendeu carregando as goiabas de biquíni na estrada.

Toda humilhação do mundo para mim parece pouca!

__ O que está acontecendo? De quem é esse cão?__ Sua voz é grave.

Eu o analiso enquanto se aproxima. É muito bonito. Mas sua beleza não é do tipo clássica. É mais rústica com um ar selvagem. Cabelos castanhos escuros em desalinho, pele morena, que parece ser curtida pelo sol e lindos olhos castanhos claros. Interrompo minha análise quando Detonalta passa correndo atrás de algumas cabras que descansam em um campo próximo ao lago.

__Detonalta! Venha aqui! Pare com isso agora! __Vou atrás, seguida por Katiane que carrega a guia.

Juntas conseguimos segurar Detonalta e prendê-lo. Retorno envergonhada. Paro em frente aos três que nos observam.

__Sinto muito! Ele não ataca ninguém. Só é muito brincalhão e bruto. E as vezes acaba destruindo coisas.

__Pelo nome dele percebe-se!__ Olhos críticos me observam.

Lembro-me de acrescentar a minha análise que apesar de bonito, o motorista da picape é mal humorado e antipático.

__Não se preocupe, querida! Foi só o susto do momento! Depois ele se acostuma! Venâncio pode ajudar, arranjando um cantinho para ele, não é Venâncio?__Definitivamente, Doralice conquistou minha gratidão eterna.

__É sim, moça! Deixe comigo! Lá atrás temos um espaço para ele se divertir sem destruir as coisas.__Venâncio pega a guia de Detonalta e o leva.

Doralice se aproxima para ajudar Katiane a arrastar sua bagagem enorme.

__Me chamo Lizandra Maduro. Sou a irmã de Elias__ Tomo a iniciativa e me apresento ao carrancudo de plantão.

Sem pressa, me analisa de cima a abaixo e dá um sorriso quase imperceptível.

__Finalmente conheço a irmãzinha de meu amigo. Do jeito que sempre falou de você, tinha a impressão de que era ainda uma adolescente.

__ Elias...__ Bufo sem jeito.

__Sou Bruno Fonseca.

Nos encaramos por um tempo. Parece que nossas conversas sempre serão assim, reticentes.

__Obrigada por atender ao pedido de meu irmão e permitir que eu viesse estagiar em sua fazenda.__Bruno apenas acena a cabeça. Parece ser um homem de poucas palavras. Em compensação é bastante observador.

Se dirige a Doralice.

__Dodo irá mostrá-las os quartos que irão ocupar. Deixem suas bagagens que eu ou um dos rapazes levaremos para dentro.

Concordo e começo a seguir Doralice.

__Senhorita?!__Me viro.__Tente manter seu cão sob controle.

Que sujeito arrogante! Como meu irmão consegue ser amigo de alguém assim?!

Retorno e ergo o rosto para encará-lo, apesar das diferenças de alturas.

__Como quiser, senhor! Mais uma vez sinto muito pelo incidente com meu cão! Cuidarei para que ele não cause mais infortúnios! Com licença.__ Faço um cumprimento no estilo do século passado.

Bruno ergue as sobrancelhas.

Sei que comecei muito mal e posso ter colocado tudo a perder, mas não consigo controlar minha indignação.

A princípio, ele não diz nada. Apenas seus olhos se estreitam.

__ Liz! Vamos!__ Kat me chama.

__ Com licença!__Viro depressa e caminho atrás das duas...

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Entramos no salão principal do prédio. Ficamos deslumbradas com a decoração do lugar. Parece que fomos transportadas para o século XIX. Os móveis, a tapeçaria, o piso e os objetos são todos antigos, porém bem conservados.

Seguimos Doralice que cruza a sala de estar e começa a subir um lance de escadas. No segundo andar existe um longo corredor com quadros distribuídos na parede de um lado e no outro lado várias portas dão acesso ao que eu acredito serem os quartos. Um tapete vermelho cobre todo o caminho e lustres de cristais dão uma iluminação aconchegante ao ambiente.

Cada uma de nós ganha um quarto. O meu fica com a janela de frente para a entrada da casa. Posso ver o chafariz, o pátio principal, os jardins, o lago e os pastos ao longe. Ainda tenho acesso a uma sacada com mesinha e cadeiras brancas de ferro. Minha cama é antiga de ferro com dossel. As paredes são pintadas em tons pastéis, variando em azul e amarelo. A colcha floral também é em tom de azul. As cortinas são brancas e finas, muito delicadas, dando um ar de frescor ao ambiente. Tenho um banheiro privativo com banheira e azulejos escuros.

Uma batida na porta do quarto interrompe minha avaliação, deve ser Katiane querendo comentar sobre o quarto dela.

__Entre Kat!

Mas quem aparece é Bruno carregando minha mochila.

__Ah, obrigada!__Pego rápido a mochila de sua mão.

__Espero que tenha gostado do quarto.__ Espera uma resposta.

__Sim, claro! Tudo é tão lindo!

Realmente gostei do lugar.

__Que bom. Qualquer coisa que precisar pode falar com Dodô.

Permaneço em silêncio. Entedi o recado. Ele não quer ser incomodado. Como alguém tão jovem pode ser tão intolerante?

Começa a sair, mas lembra de algo, então retorna.

__Quando a senhorita pretende começar as pesquisas?

__Hoje mesmo. Tenho pouco tempo para cumprir as horas de estágio e ainda preciso terminar o trabalho de entrega.

Bruno acena apenas a cabeça e sai.

Que desconcertante! Ora me trata como se eu fosse um estorvo que veio para dar trabalho, ora se comporta como se importasse.

Elias me contou que conheceu Bruno na faculdade. Enquanto ele cursava administração de empresas, Bruno cursava agronomia. Disse que Bruno foi o único dos três filhos que quis ficar na fazenda para cuidar dos negócios da família depois que o pai morreu de um infarto fulminante. Os irmãos ficaram desgostosos da fazenda, enquanto que sua mãe caiu em uma depressão profunda e quase nem sai do quarto.

Segundo Elias, Bruno sofreu muito na infância e não gosta de falar sobre isso. Mas sabe que tem algo haver com seus pais. Talvez as coisas que aconteceram no passado tenham o deixado assim frio e antissocial. Alguém que parece que parou no tempo...

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