- Você estava exausta quando a mandei para casa na se¬mana passada, Celeste. Fiquei muito preocupada com você.
- Estou bem agora, depois da licença de saúde e de ter descansado tanto.
Quando Meg não pareceu convencida, Celeste abriu o jogo: - Meu teste de tolerância à glicose veio um pouco alto, era esse o problema comigo, mas faz dez dias que comecei uma dieta, e além disso, venho descansando, fazendo ioga e cami¬nhando pela praia. Eu me sinto fantástica... e algumas pessoas trabalham direto até as últimas semanas de gravidez!
- Não na Emergência - disse Meg -, e você certamente não irá tão longe. Com quantas semanas você está?
- Trinta - disse Celeste. - E o médico disse que estou ótima.
Meg não pôde mais discutir depois dessa declaração e, de qualquer forma, aquele não era o lugar ideal para esse tipo de conversa. Então, ela mostrou o quadro de avisos paras as enfermeiras, explicando o histórico dos pacientes dispersos pelas diferentes salas que compunham a Emergência.
- Quando a sala de observação abrir, Celeste pode ficar lá...
- Eu não preciso ficar plantada em um lugar só - disse Celeste, culpada por estar recebendo a tarefa mais leve do plantão, mas Meg a encarou.
- Eu não tenho pessoal suficiente para passar todo meu tempo poupando você por conta de sua gravidez, Celeste. Se seu médico diz que você está bem para trabalhar, e você concor¬da, tenho que aceitar. Estou apenas distribuindo as tarefas aqui.
Celeste concordou com a cabeça, mas não importava o quanto Meg agisse como se não desse a mínina, ela sabia que os colegas estavam zelando por ela. E pela décima vez desde que descobrira que estava grávida, ela se sentiu culpada.
Descobrir que estava grávida já tinha sido bem ruim, mas os acontecimentos seguintes foram espetaculares.
A família não falava mais com ela, especialmente depois que ela se recusara, repetidas vezes, a dizer o nome do pai do bebê. Mas como ela poderia fazer isso? Após descobrir que, não apenas seu namorado era casado, como ainda a mulher dele trabalhava no setor administrativo do hospital onde ela mesma trabalhava, apesar de ninguém saber de nada, deixara Celeste tão culpada e envergonhada que ela não tivera alterna¬tiva, a não ser esconder essa informação. E quando tudo pare¬cia perdido para ela, fora aceita no programa de graduação em enfermagem de emergência, no Bay View Hospital, que ficava do lado oposto da cidade. Ela não estava grávida quando se candidatara ao emprego e a coisa correta a fazer seria recusar a vaga, talvez isso fosse o esperado dela, mas com um futuro tão incerto se aproximando, um salário mensal seria a melhor coisa que poderia lhe acontecer a curto prazo. Além disso, já que ela obviamente seria mãe solteira, obter mais qualifica¬ções profissionais não seria de todo mal. E, por último, afas¬tar-se de sua família e amigos poria fim às perguntas que não podiam ser respondidas.
Mas era uma vida solitária.
E agora, seus novos colegas estavam tendo que fazer con¬cessões, não importava o quanto eles negassem isso.
- No leito sete está Matthew Dale, que tem 18 anos. Ele sofreu um ferimento de pouca gravidade na cabeça, tropeçou enquanto corria, não houve perda de consciência. Ele deve re¬ceber alta, Ben está examinando o garoto agora.
- Ben? - Celeste perguntou.
- O novo residente. Ele começou esta manhã. Ah, olha ele aí. - Meg acenou para ele. - O está acontecendo como leito sete, Ben?
- Vou segurá-lo aqui mais um pouco. Desculpe por abrir a sala de observação tão tarde, mas... - Ele parou de falar subi¬tamente quando bateu os olhos em Celeste, mas, por alguma razão, optou por não demonstrar que a havia reconhecido, e continuou a dar suas ordens sobre como o paciente deveria ser tratado. Apesar de ela não ter que explicar para ele o que fazia ali, e apesar de não existir uma razão para, pela zilhonésima primeira vez, sentir-se assim, Celeste sentiu-se culpada. Qua¬se como se tivesse sido pega no pulo. Fazendo o quê? Celeste deu uma bronca em si mesma enquanto percorria a enfermaria de observação, acendia as luzes e preparava uma cama para Matthew. Ela estava ganhando a vida... Celeste tinha que ga¬nhar a vida. Ela ainda tinha dez semanas de gravidez pela fren¬te e depois o bebê não poderia ir para o berçário até que tivesse tomado todas as vacinas. Se ela parasse de trabalhar agora, ficaria quase seis meses sem trabalhar.
O pavor absoluto estava sempre à espreita dela.