Capítulo 1 Vivendo meu próprio clichê

Na minha vida tive somente dois grandes verdadeiros amores, à moda e a fotografia e hoje, podendo conciliar os dois em meu trabalho e ganhando razoavelmente bem, me sinto realizada. É por esse motivo que não me interessa fazer coisas que pessoas da minha idade costumam fazer, como por exemplo arrumar um parceiro para construir uma família e todo o clichê que a gente costuma ver em romances. O que eu quero mesmo é crescer profissionalmente, comprar um apartamento na praia e andar de BMW- à minha BMW!

Minhas amigas costumam me chamar de insegura, dizem que olho para o outro lado pois tenho medo da rejeição, ou do abandono, e de certa forma, realmente não quero me dedicar à alguém por anos para no fim das contas cada um seguir seu caminho e depois de muito tempo sem se ver, não passar de completos estranhos- e não me julgem, mas normalmente é isso que acontece hoje em dia.

Já tive muitos exemplos e não preciso viver algo assim para aprender, pois levo de lição os erros dos outros, afinal eu sou quase a "senhora perfeição" e para manter esse título não posso me permitir agir de forma impulsiva, e essas coisas idiotas que os apaixonados fazem.

Um casal se aproxima e reparo de imediato o look que a mulher está vestindo- calça de couro preta, moletom, jaqueta jeans e tênis branco. Seu cabelo ruivo ressaltando a pele branca e os olhos claros. Era a primeira pessoa com estilo que vi desde que cheguei ao ginásio de esportes.

Estou trabalhando em uma matéria sobre o uso de tendências de moda no cotidiano, por isso achei que poderia conseguir boas fotos nesse evento que se trata de um campeonato de futebol de salão, mas o primeiro jogo já encerrou e até então não fotografei nada de extraordinário.

- Com licença! Me aproximo deles. - Posso tirar uma foto? Olho de relance para o homem, mas me mantenho focada na garota. - Estou fazendo uma matéria para uma revista online de moda!?

A ruiva abre um sorriso caloroso.

- Claro! Me responde.

Seu namorado à abraça um pouco incomodado.

- Só dela! Dou de ombros, me referindo à fotografia.

Vejo sua testa franzir um pouco e balbuciar algumas palavras e quase me divirto com a situação " parece que o senhor centro das atenções não gosta de ser antagonista". Penso e não consigo conter um riso.

- Você pode ficar ali ! Aponto para a mulher se posicionar em frente à quadra e subo em um degrau da arquibancada. - Finja que não sabe que estou te fotografado e dê alguns passos para a frente.

Ela faz exatamente como instrui e posso apostar que deve estar acostumada com as lentes.

Consigo capturar lindas imagens.

- Perfeito! Digo e me volto para o homem, ao tempo de vê-lo revirar os olhos para mim.

Tiro uma fotografia da expressão dele para guardar de recordação- se o narcisismo tivesse um rosto seria esse - olhos azuis claros, pele parda, lábios carnudos e cavanhaque.

- obrigada! Agradeço a mulher. - a matéria será postada no dia primeiro de junho, no site da Steal de Look. Sorrio. - Se quiser dar uma olhada!

Ela retribui e vai até o namorado, passando o braço ao redor de sua cintura.

- Irei olhar sim ! Me responde e passa em minha frente, exibindo seu bom gosto para roupas e homens.

Fico observando eles se acomodarem algumas arquibancadas abaixo, junto de um grupo de pessoas, com uma sensação de nostalgia. Quando vejo o olhar do namorado se voltar para mim por alguns instantes, sorrio.

" Eu sei quem esse cara é! "

- Nicolau Blanco! Penso alto.

Mordo o lábio em seguida, sem conseguir parar de encara-lo, por sorte, o mesmo ja estava distraído com seus amigos.

Ele não é nada menos do que o empresário milionário mais jovem da cidade. Herdou os negócios da família depois que o pai sofreu um acidente fatal de carro. É uma história que todos daqui conhecem.

Nicolau é o filho mais velho, mas não deve passar muito dos trinta anos de idade e tem um irmão caçula que só visualizo como uma criança, pois não vejo há muito tempo, mas que agora também já deve estar na sua idade adulta.

Suspiro.

É engraçado ver pessoas você só conhece de longe, que já ouviu falar e já viu por aí, mas que não tem nenhum tipo de intimidade, em um momento de lazer como esse, você fica imaginado como deve ser a vida dessa pessoa, então por um instante você se imagina no lugar dela, ou convivendo com ela.

Suspiro mais uma vez e olho para a namorada de Nicolau - não poderia ser mais perfeita para ele, provavelmente rica, levando em consideração o alongamento de cílios, as unhas em gel perfeitas e a pele de porcelana, sem contar o corpo de quem tem tempo de ir para a academia.

Meu celular começa a vibrar, me puxando para a realidade, desbloqueio a tela e visualizo as mensagens de minha colega de apartamento, barra, melhor amiga.

Reviro os olhos nada surpresa por ela ter esquecido à chave.

Me levanto e saio pelos fundos.