Capítulo 2 O Plano de Sofia.

Sofia desliga o chuveiro, tira o excesso de água de seu cabelo e estica seu braço para alcançar sua macia e cor-de-rosa toalha que está no suporte prateado que fica ao lado direito do cômodo, com a toalha em mãos, a menina passa por todo o seu corpo até sentir que o mesmo está quase que completamente seco, para que logo em seguida, pegue a toalha levemente úmida para enrolar em seu cabelo recém-lavado.

Lentamente ela sai da banheira e caminha até a pequena pia do banheiro, onde ela abre o pequeno armário plástico branco que contém um espelho do lado de fora, tira dele uma escova de dente com cabo vermelho e listras brancas e um tubo branco com pequenos e quase imperceptíveis detalhes e nome da marca em um tom de azul marinho. Sofia abre o tubo da pasta e coloca um pouco da massa esbranquiçada nas cerdas macias e vermelhas cerdas de sua escova e logo começa a fazer a escovação, seus movimentos variam assim como a velocidade que a menina movia a escova em seus pequenos dentes, em poucos minutos, ela escova sua língua e finaliza a escovação. Novamente o armário plástico branco é aberto e os itens que anteriormente foram pegos, agora estão sendo devolvidos, ao fechar o armário, Sofia olha seu reflexo no espelho e vê o quão cansada ela está, abaixo de seus grandes olhos que agora estão "caídos" (olhos de peixe morto) por causa do sono, há grandes e escuras olheiras que se formaram graças a sua privação de sono durante o final de semana, sua pele está ainda mais oleosa do que de costume, rendendo assim algumas espinhas em sua zona "T" (testa, nariz e queixo), a única coisa que se manteve intacta durante o duro fim de semana de Sofia, foi seu brilhante e sedoso cabelo.

Sofia pega a escova de cabelo que está em cima da caixa d'água de seu vaso sanitário e tira a toalha, agora encharcada, de seu cabelo, agora seco, e pendura a toalha de volta no suporte, o que com certeza iria deixar sua mãe furiosa com tal descuido. Sofia abre novamente o armário plástico ao se lembrar que esqueceu de pegar um pouco de seu creme de cabelo, fecha o mesmo mais uma vez depois de pegar o pequeno pote branco com detalhes em roxo onde contém uma pasta esbranquiçada e mole, seu creme de cabelo, coloca um pouco em sua mão, passa em seus medianos fios loiros e desembaraça com o auxílio da escova de cabelo que a pouco pegou, geralmente ela reparte o cabelo em três partes para ajudar na hora de arrumar seu cabelo, mas, hoje ela não está com muito ânimo para tal cuidado, então, passa apenas as cerdas duras da escova sem realizar a divisão, repartindo seu cabelo apenas na parte da frente de seu cabelo (do lado esquerdo para o direito), para dar um charme e guarda todos os itens que pegou anteriormente em seus devidos lugares.

Ela pega suas roupas limpas em cima de um grande cesto de plástico preto e começa e se vestir, sua roupa não é nada de muito especial, tendo em vista que é um look que sua mãe comprou em uma venda de garagem realizada por uma vizinha que mora na rua atrás de sua casa, ao acabar, olha mais uma vez seu reflexo no espelho, passa a mão no seu cabelo a fim de deixar as ondulações mais evidentes até que fique do seu agrado e, em seguida, abre a porta branca e sanfonada para poder enfim sair. Ao sair do banheiro, ela observa que a sala, antes escura, agora está completamente clara, as luzes foram acessas enquanto ela estava no banho, seus pais haviam acordado durante este processo.

Diana McLaren, a mãe de Sofia, está andando de um lado para o outro na pequena cozinha da casa, enquanto prepara rapidamente o café da manhã de sua família e, Robert McLaren, pai de Sofia, está sentado no velho sofá amarelado, o homem está com um semblante despreocupado enquanto toma uma xícara de seu café com leite, seus olhos estão vidrados na pequena tela cheia de chuvisco da televisão de tubo, o jornal matinal apresentado por um homem relativamente velho, fala sobre um empresário que foi preso ontem á tarde por suspeita de envolvimento com organizações criminosas e tráfico de drogas.

Diana McLaren é uma mulher de 45 anos, que cursou a Universidade Estadual do Arizona (Arizona State University), assim que terminou seus estudos no ensino médio, a Universidade fica localizada na cidade de Tempe, no Arizona (Tempe fica a mais ou menos 3h 50 min de distância de Needles), Diana acabou ingressando no curso de Bacharel em Administração de Empresas, com duração de 4 anos, mas, abandonou o curso um pouco depois do primeiro ano por questões financeiras. Ela começou sua a trabalhar com seus 14 anos de idade, quando foi babá dos filhos de seus vizinhos, logo depois evoluiu e acabou trabalhando como garçonete, Diana atualmente está trabalhando como vendedora de uma pequena loja de roupas, Needles é uma cidade muito pequena e com pouca oportunidade de grandes empregos, então, por falta de oportunidade e pelo medo de abandonar sua casa em Needles para tentar algo melhor e uma carreira promissora em Los Angeles ou, em outra cidade grande, Diana acabou se acostumando com a trabalhar apenas para ter o suficiente para comer e pagar as contas. Diana tem um cabelo ondulado de cor castanho claro mantido em um corte curto e repicado, um pouco acima de seus ombros, seus olhos são grandes e de um tom azul claro, é uma mulher com um pouco mais de 1,70m de altura e sua pele era tão pálida quanto a de Sofia, em sua juventude Diana havia sido magra, atualmente tem um corpo normal, nada de mais e nem de menos.

Robert McLaren é um homem de 46 anos que largou o ensino médio antes mesmo de chegar ao último ano, sempre foi um aluno nada dedicado, problemático e conquistador, trabalha desde dos 10 anos de idade, quando começou a ajudar seu pai na pequena oficina da família. Apesar de sua falta de estudos, Robert é um homem bastante gentil e carismático. Atualmente ele é o novo dono da oficina que antes era do seu agora falecido pai, de onde consegue tirar uns trocados ou outros para sustentar a casa. Robert tem o cabelo curto e loiro, barba grande também loira, assim como suas sobrancelhas, é um homem branco e barrigudo, diferente do que era quando jovem.

Diana e Robert se conheceram no segundo ano do ensino médio, antes de Robert abrir mão dos seus estudos para se dedicar ainda mais em seu trabalho na oficina, Robert sempre gostou de mexer com automóveis. Diana era a típica adolescente bonita e cobiçada, era magra, loira e o sonho de consumo de quase todos os jogadores de futebol americano do time de sua escola, ela parecia uma boneca de tão linda, mas, negava e ignorava todas as cantadas e investidas dos rapazes por ser uma garota tímida e desconfiada. Ela nunca foi de ter muitos amigos e não se sentia mal por isso, muito pelo contrário, ela não se importava, não queria correr o risco de criar laços com garotas fúteis e sem futuro que apunhalaria pelas costas na primeira oportunidade. Até que um dia, em uma tarde de primavera, ela avistou seu antigo e encrenqueiro ex-colega de classe, Robert, ele havia indo buscar um café onde ela trabalhava como garçonete. No início, nada passou de um contato entre freguês e garçonete, mas, depois de muitas investidas por parte do lindo e atlético garoto loiro, e após a marra de encrenqueiro e durão de Robert passar perante a visão de Diana, eles começaram a se aproximar cada vez mais, até que um dia, Robert enfim pediu Diana em namoro, este namoro foi evoluindo ano após anos até que se tornou um casamento, casamento este que perdura até os dias atuais e que gerou uma linda filha, Sofia.

- Bom dia filha! - fala Robert abrindo um largo sorriso ao ver sua filha passar por ele e ir em direção á cozinha.

- Bom dia pai! - responde e retribui o sorriso simpático do mesmo e continua a andar até chegar na cozinha.

- Sofia! - exclama Diana com seu habitual tom de voz sério, Diana está parada na frente da mesa da cozinha colocando o café da manhã no prato. - Entrega isto aqui para o seu pai! – estende o braço e entrega um prato de tom azul com desenhos de flores tortas e amarelas, onde contém pão com manteiga em cima e um copo de vidro simples cheio de café com leite do jeito que seu pai gosta.

- Tudo bem! - responde enquanto pega os itens e caminha de volta para a sala, onde encontra novamente seu pai vidrado no noticiário. - Mamãe pediu para te entregar, papai. - estende o braço e entrega o prato com pão e o copo com café para seu pai, antes de se afastar, a menina se inclina e dá um beijo estalado em uma das bochechas do pai. - Agora sim, bom dia, papai.

- Bom dia, minha princesa. – Robert segura de maneira suave o pulso de Sofia e beija delicadamente o dorso de sua pequena e delicada mão, ela sorri timidamente com o ato. - E obrigada.

Diana é o oposto de Robert, enquanto seu marido é carinhoso e brincalhão, a mulher, por sua vez, é durona e autoritária, uma verdadeira tirana quando se tratava do seu trabalho e da educação de sua única filha. Mesmo tendo este jeito frio e indiferente, Diana é uma mulher muito apegada a sua família, só não sabe como se livrar desta capa de mulher durona.

- Passa lá no trabalho hoje depois que pegar o resultado das provas. - fala enquanto mexe os ovos que estão fritando na frigideira, sem sequer virar para encarar sua filha. - Você não vai atrapalhar Sofia, fique tranquila. - alerta após receber o silêncio como resposta. - Se não tiver nada para fazer, claro.

- Tudo bem, passo lá depois. - sorri timidamente, caminha até a geladeira, abre a mesma e pega um galão de leite, após abrir o recipiente, ela vira o galão direto na boca para beber um pouco do leite.

- Quantas vezes já te falei que não se deve fazer isso? Isso é nojento! – Diana grita e bate nas costas de Sofia com o pano de prato que está pendurado em seu ombro esquerdo.

Tchauzinho mamãe! - Sofia fala enquanto ri da cara e reação de Diana e corre para a sala.

Vai sair sem comer Sofia, quer desmaiar pela rua? - pergunta Diana com os braços cruzados e com cara de poucos amigos.

- Sim! - grita Sofia enquanto abre a porta de madeira escura que dá acesso ao lado externo da casa e sai, recebendo os raios solares mornos diretamente em seu pálido rosto.

O céu está repleto de nuvens e a manhã está com uma temperatura agradável, agora o vento sopra um delicioso ar frio e fresco que, infelizmente não duraria muito mais que até ás 9h da manhã ou menos.

Sofia está vestida com uma blusa rosa choque com flores brancas pintadas em todo o tecido e com alça fina, calça de cintura baixa e folgada com um tênis preto e básico. Ela está caminhando normalmente pelas ruas pouco movimentadas de Needles enquanto canta baixinho como forma de se distrair para fazer com que o trajeto seja mais rápido. Em sua caminhada, Sofia acaba encontrando sua amiga Lilly em frente á uma loja de conveniência, a garota estava mascando um chiclete enquanto olhava distraída para uma criança que brincava em um balanço, ela não teve sinal algum de sua amiga durante todo o fim de semana. Lilly está vestindo uma blusa azul bebê com detalhes brancos e manga cumprida, calça também de cintura baixa e um cinto cor-de-rosa com pedrarias coladas nela e um tênis branco que de tão velho está encardido.

- Lilly! Como você está? - pergunta curiosa depois de parar ao lado da garota, garota esta que se assusta com a repentina aparição de sua amiga.

- Tirando a parte de que meu pai está uma fera, eu estou bem! - responde e dá um leve sorriso, voltando a encarar a criança no balanço.

- Eu estava pensando em como te ajudar, eu acho que sei como te fazer passar de ano. - sorri largamente e dá pulos de euforia e excitação com tudo que planejou durante seu final de semana.

- Você quer tanto assim ir para a fazenda junto com a Adélia e a Adelina? - Lilly arqueia sua sobrancelha direita e coloca suas mãos na cintura, seu semblante não é um dos melhores e mais amistosos. – Não finja que quer me ajudar Sofia!

- Eu quero ver nosso grupo unido de novo, passando as férias juntas brincando e conversando como todos os anos e não vai ser a mesma coisa sem você lá com a gente, por favor, me deixa te ajudar. - junta as mãos e faz carinha de cachorro pidão enquanto pula freneticamente na frente da amiga a fim de fazer a garota cair em seus encantos.

- Qual é o seu plano? - começa a caminhar enquanto espera a resposta da outra, seus olhos a todo o momento se mantém fixos no chão, parece que Lilly não quer ter qualquer contato visual com Sofia.

- Todo ano tem um grupinho de pessoas populares que também ficam de recuperação assim como você, eu estava pensando que seria uma ótima ideia pedir para eles te ajudarem, já que todo mundo sabe que eles só passam porque colam uns dos outros. - entrelaça seu braço no de Lilly a caminha ao seu lado sussurrando para que ninguém seja capaz de escutar.

- Aquelas pessoas não vão querer me ajudar, Sofia! Tudo que eles querem é me ver perder de ano novamente, para poder zombar de mim no ano seguinte, assim como sempre fizeram. - para em uma faixa de pedestres e espera o sinal ficar vermelho e os carros pararem para atravessar a rua e continuar sua jornada, outros poucos pedestres fazem o mesmo e a rua passa a ficar cada vez mais movimentada. - E eles também nunca falariam com você. – deu de ombros.

- Tá, eles não falariam comigo, mas, com uma ajudinha das nossas amigas gêmeas, podemos convencê-los a participar do nosso plano, caso eles não aceitem, vou até o diretor Smith e conto que eles estão com papéis cheios de cola escondidos em suas carteiras, o senhor Smith ficará muito feliz em saber. - Sofia sorri e assim que o sinal fica vermelho atravessa a rua ainda de braços dados com a Lilly.

- As gêmeas mudaram Sofia! Elas quase não falam mais com a gente na escola e nem está tendo tempo de falar com nós duas fora de lá também, elas não vão querer queimar sua imagem por mim ou por você, elas não são mais as nossas antigas e boas amigas, agora elas só pensam na popularidade delas. - enquanto caminha, Lilly acena gentilmente com a cabeça para duas mulheres que estão se alongando perto de um banco na parada de ônibus. - Bom dia senhoras. - fala com uma voz suave.

- Bom dia! - as mulheres respondem sorridentes e também acenam com a cabeça.

- Se elas não se importassem, não teriam nos convidado e teriam convidado aquelas pessoas populares com quem elas andam, e outra, a Adelina mesmo disse que conseguiria dar um jeito. - sorri de forma vitoriosa quando Lilly esboça em seu rosto um olhar de esperança ao ouvir todo o plano maluco.

- Okay, vamos tentar! - sorri e com o auxílio de sua mão livre, aperta a bochecha de Sofia que logo fica vermelha e reclama de uma pequena e incomoda dorzinha no local. – Você é a melhor amiga que alguém poderia ter! Agora já sei por que seu rosto está tão acabado, deve ter dormido bem pouco só para pensar em todo esse plano mirabolante, altamente perigoso. – sorri.

- Isso não é nada, sei que todo o esforço vai valer a pena e nada vai dar errado. – Sofia dá um sorriso vitorioso e presunçoso.

            
            

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