Dama de Prata
img img Dama de Prata img Capítulo 3 Projeto Cinderella
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Capítulo 6 Baile de Máscaras img
Capítulo 7 Dama de Prata img
Capítulo 8 Sapatinho de Crystal img
Capítulo 9 Vou Encontra-la img
Capítulo 10 De frente para o vestido img
Capítulo 11 Visita Inesperada img
Capítulo 12 Luz no fim do túnel img
Capítulo 13 A ajuda vem de quem menos espera img
Capítulo 14 Que comecem os jogos img
Capítulo 15 Provocação img
Capítulo 16 Aconteceu img
Capítulo 17 A verdade img
Capítulo 18 Ele quer ouvir a sua voz img
Capítulo 19 Casper img
Capítulo 20 Holly img
Capítulo 21 Jogando img
Capítulo 22 Tensão img
Capítulo 23 Divirta-se Anya. img
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Capítulo 3 Projeto Cinderella

A lua já despontava no céu escuro, enquanto uma garoa fina caia. Eu estava de frente para a enorme porta giratória do paredão de vidraça fumê que compunha a fachada da Archer, protegida no canto da extensão de lona preta que protegia o manobrista dos carros, mas ainda assim fui golpeada por uma rajada de vento que trouxe a garoa quase vaporizada e embaçou meus óculos. Quando o limpei e coloquei novamente, percebi que a luz não era da lua, e sim do poste.

Ri sozinha me dando conta disso, não percebendo que bem ao meu lado passou Cohen Archer, direto para o seu carro que o manobrista estava estacionando. Quando ele finalmente pegou suas chaves, prestes a entrar no carro, seus olhos me encontraram, e pude jurar que ele diria alguma coisa se uma buzina familiar não tivesse me assustado. Era Holly, seu carro estava há alguns metros de distancia e uma corridinha foi necessária para chegar até ela e entrar com pressa no seu automóvel preto.

- O Ateliê está uma loucura! - Se explicou, me pegando em frente ao prédio da empresa. Era caminho para ela vir me buscar no fim do seu expediente e assim irmos juntas para a faculdade. - Desculpa pelo atraso, trouxe sua janta.

Apontou para o embrulho de um restaurante mexicano, e pelo cheiro eu presumia que fosse taco.

- Tudo bem, acabei de descer, pelo mesmo motivo. Meu trabalho dobrou igual ao ano passado agora que estamos na semana do evento. - Murmurei saboreando a primeira mordida. E quando me dei conta, Holly me olhava de escanteio reprimindo um sorriso catatônico. - O que foi?

- O que foi que eu tenho uma novidade, e não vou aguentar você terminar de comer pra contar então segura esse taco na boca, porque sua melhor amiga recebeu uma oferta de produção da Stella Valencio.

Não cuspir tudo foi quase uma missão, e a surpresa boa me fez esquecer como engolia.

- Holly! - Gritei de boca cheia. - Isso é incrível! - E eu sabia o quando minha amiga estava esperando por essa oportunidade.

- Eu sei! - Concordou com um gritinho estridente. Se não estivéssemos as duas presas por cintos de segurança, uma com a atenção na estrada e a outra em não morrer engasgada, estaríamos agora gritando, pulando e comemorando.

- Como aconteceu? - Inquiri após engolir.

- Bem, ela passou no ateliê mais cedo, e acabou encontrando meus croquis. Ela se encantou por um modelo e quer vê-lo pronto em alguns dias, disse que tinha uma proposta de lançamento e se seu feeling não falhar, aquele modelo seria perfeito. - Despejou entusiasmada.

- Proposta de lançamento?

- Sim, e pasme, tem a ver com o baile de máscaras preto e cinza da Archer. - Disse, ganhando totalmente minha atenção. - Se chama projeto Cinderella. Basicamente, ela quer consignar o modelo a uma pessoa oculta, visando enaltecer somente o vestido e a figura de uma mulher sexy dentro dele. O conceito baile de máscaras era, na verdade, o que ela estava esperando para o seu próximo lançamento de passarela, modelos sexys que fazem uma mulher se sentir desejada e ser dentro dele quem ela quiser, como se sua identidade não importasse. E é nesse momento que eu conto que preciso da sua ajuda.

Prestei atenção enquanto devorava um taco que seria então minha última refeição do dia.

- Quer que eu consiga alguém que aceite o consignado pra você? - Perguntei de boca cheia. O que não era muito difícil já que eu tenho a lista de contato inteiro da Archer no meu computador da empresa.

- Na verdade, eu disse a Stella que tinha a pessoa perfeita. - Pontuou. - Digamos que todos os convidados vão estar mascarados, então algumas identidades vão ficar ocultas, a menos é claro, por celebridades inconfundíveis. Ela quer uma pessoa anônima, convidada porém, que ninguém cogite sua identidade por baixo do vestido. - Ainda com a boca cheia, comecei a listar umas dezenas de funcionárias da Archer que topariam fazer isso. - E essa pessoa é você.

Me engasguei com pedaços de tomate que desceram pela minha garganta sem minha autorização. E foi após longas tossidas nada femininas que me recuperei com os olhos cheio de lagrimas.

- Eu usar aquele vestido? Nunca, Holly, essas coisas não são pra mim não. - Vi os ombros da minha melhor amiga cederem.

- Anya, por favor, você é a única pessoa que conheço que toparia fazer isso por mim, e quando a Stella explicou o que queria eu imediatamente pensei em você.

- É loucura, amiga, eu disse que não queria ir. Aquele lugar não é pra mim, só vai ter gente chique e eu... Sou só uma secretária.

- Não é loucura quando absolutamente todos os funcionários, fornecedores, parceiros e prestadores de serviço da Archer foram convidados. E é justamente por isso que você é tão perfeita, ninguém nem espera mais que você apareça, tem alguém mais improvável e oculta que você? Eu duvido.

- Olha, eu prometo pensar tá legal? Mas, por favor procura outra pessoa porque se você tiver um plano b, eu não vou me importar. - Ela me olhou com um sorriso sem graça.

- Eu garanti a Stella que conseguiria te convencer.

Soprei uma risada desacreditada e anui verdadeiramente compreensiva. Não era falta de vontade, eu faria qualquer coisa para ajudar minha amiga que já me ajudou inúmeras vezes, inclusive me chamando para morar com ela quando me viu desempregada há dois anos atrás. Eu devia muito a Holly, e mesmo que não devesse, ela merece, somente por isso prometi pensar.

É claro que nesse meio tempo eu procuraria outra pessoa para ir no meu lugar, mas quando me vi dentro do vestido prata, dias depois para seus ajustes, foi inevitável não me sentir tentada, principalmente com uma mascara de dominó cobrindo meus olhos e metade da face em uma renda misteriosa.

Pela primeira vez na vida, me senti outra pessoa, ainda que o vestido não estivesse pronto, eu podia admirar seu tecido cintilante e o caimento perfeito que valorizava minhas curvas. Aceitei provar para ajudar a Holly em uma sexta-feira movimentada na hora do meu almoço, o único horário que ela teria para finalizar o vestido digno de um conto de fadas erótico, pois, marcando meus seios em um caimento leve e as costas nuas, eu me sentia sexy.

- Holly, é lindo! - Minha voz saiu macia, o mundo dentro dele parecia girar mais lentamente, como se ele pedisse para ser apreciado. O toque do tecido não parecia ser digno da minha pele, ele me acariciava e o movimento era tão sublime, que eu me sentia excitada. A iluminação ajudava, pois ela quis simular o salão de festas que eu sabia que estaria em baixa iluminação com uma fumaça predominante deixando o ambiente ainda mais obscuro e atraente.

- A Stella quer ver. - Estalei meus olhos observando minha amiga com o semblante apreensivo. Ela roía uma unha enquanto uma fita métrica circundava seu pescoço e uma pulseira de alfinetes abraçava seu pulso.

- Stella Valencio? Ela está aqui? - Perguntei boquiaberta.

- É a chance da minha vida amiga. Se ela decidir etiquetar um croqui meu, vai ser o dia mais feliz da minha existência. - Seus olhos castanhos se encheram de lágrimas enquanto eu queria pular nos braços da minha melhor amiga e parabeniza-la, e só não fiz isso, pois a cortina da sala de ajustes foi aberta, e ninguém menos que a estilista Stella Valencio adentrou a sala, detendo seu olhar sobre o vestido, analisando-o dos meus pés a cabeça.

Seu olhar foi indecifrável, o silêncio deixava tudo mais agonizante. A testa da Holly suava enquanto sua chefe com as chaves principais da porta do seu futuro me circundava. Sem dizer nada, Stella foi até uma mesa de apoio, onde pescou um palito de cabelo e o trouxe até estar atrás de mim, dividindo o reflexo do espelho comigo. Ali ela juntou meu cabelo em um coque despojado e o prendeu no alto da minha cabeça, deixando meu colo livre.

- Perfect! Holly, isso é uma obra de arte no corpo de uma sedutora. Sabe o poder que esse vestido tem? - Perguntou com a voz no meu ouvido, olhando fixamente em meus olhos através do espelho. Arfei levemente tremula e neguei com a cabeça.

Pela visão no canto do olho vi uma lágrima emocionada da minha amiga que continha sua comemoração e empolgação exagerada, mas ela a reduziu em um único sorriso.

- O poder de deixar qualquer homem de joelhos, implorando para te proporcionar prazer dentro dele.

Esvaziei o ar dos meus pulmões pela boca.

- Isso foi um sim? - Indagou Holly, foi quando Stella, conhecida por seus modelos exuberantes e sexys sorriu soltando meu cabelo.

- Eu etiqueto seu vestido Holly, ele poderá ser vendido aqui no ateliê com sua assinatura. - Anunciou cruzando os braços, ainda namorando o modelo. - Mas ele precisa estar no corpo dela na festa!

***

Não pude esperar para comemorar com a Holly como ela merecia, mas prometi me render ao seu pedido de comemoração em um bar depois que sairmos do trabalho, já que hoje não teríamos aula na faculdade.

Meu cabelo se manteve preso como Stella havia deixado, e confesso que eu estava até animada para sair mais tarde depois da dose de auto estima que ganhei no ateliê da mesma. Eu me sentia bem, de uma forma estranha. Um pouco mais confiante, até considerando realmente usar aquele vestido contradizendo minha vontade. Mas tudo caiu por terra quando cheguei novamente no andar presidencial e dei de cara com Drizella aguardando sentada no sofá de couro preto para espera.

Ela notou quando me aproximei, e se levantou com uma risadinha.

- A porta está trancada, porteira, e antes que impeça minha passagem, eu coloquei meu nome na agenda. Ou seja, você deve me anunciar ao Cohen. - Despejou andando em passos precisos em minha direção.

- Anunciar é uma coisa, se ele vai permitir sua entrada é outra. - Falei, dando a volta no balcão discando o ramal da sala do Cohen. Longos segundos se passaram sem que ninguém respondesse. - Ele não deve ter voltado ainda, ninguém atende.

- Fala a verdade gata borralheira, você nem ligou. - Desdenhou dando a volta no balcão tentando discar ela mesma, mas soquei o telefone no gancho não permitindo.

- Não me chama assim! - Ordenei olhando no fundo dos seus olhos azuis que eu morreria sem saber se eram lentes. Drizella soltou uma risada forçava ficando praticamente cara a cara comigo.

- Como? Gata Borralheira? Mas é isso que você é, ou prefere rata subordinada?

- Ele não está, vai embora Drizella. - Pedi, engolindo minha raiva cada vez mais evidente.

- Prendeu o cabelo e está se sentindo gente? - Zombou, puxando do meu cabelo o palito personalizado do ateliê Stella Valencio, e por ler sua inscrição, a loira riu enquanto meu coque se desmanchava nos ombros. - Isso aqui não é pra gentinha como você, Anya, mas... guarda de recordação. - Disse colocando o prendedor palito no meu porta canetas. - É tudo o que seus valiosos centavos que sobram no fim do mês podem comprar.

Fechei os olhos quando uma ardência indicou que em breve eles estariam turvos.

- Quer que eu anote recado? - Perguntei, tentando não me rebaixar.

- Quero, diz ao Cohen que eu volto de noite para bagunçarmos a mesa que você arruma todos os dias. - Disse me olhando com acidez enquanto meu rosto esquentava em raiva. A palma da minha mão ardeu para esfolar aquela cara pálida.

- Anotado. - Declarei, apertando o telefone contra o gancho com ainda mais força ao vê-la sumir do hall com seu andar apelativo.

Dessa vez, não controlei a vontade de me olhar pelo reflexo da vidraça, e encarar uma temporária fracassada que vivia em prol dos outros. Me sentei sem vontade na cadeira, espalhando meu cabelo pelo ombro, e arrumando meus óculos que escorregavam constantemente pelo nariz. Fitei o porta retrato sobre minha bancada com a foto da minha família e sorri, mesmo que muito desanimada. Era por eles, sempre foi e sempre vai ser.

Mamãe, papai e Tom, meu irmão caçula de apenas 9 anos de idade que estava sendo beneficiado com o plano de saúde da Archer. Com o tratamento avançado, em breve meu garotinho teria a oportunidade de escutar pela primeira vez na vida, e era por ele que eu saia da cama todos os dias, sabendo que a cada passo mais perto de me formar, mais perto eu ficava de voltar para Minnesota e cuidar de todos eles.

Estava pronta para me entregar a lágrimas frustradas quando o aparelho do ramal tocou, ascendendo em uma luz que indicava estar vindo de dentro daquela sala.

- Tá de brincadeira com a minha cara! - Protestei me levantando as pressas, abrindo a porta gigantesca agora destrancada, invadindo a sala dando de cara com Cohen sentado na sua poltrona de CEO empoderado que só ele tinha. - Com todo respeito senhor Cohen, mas eu não sou paga pra levar esporro das suas amantes enquanto você finge que não tem ninguém na sala. - Despejei sob o olhar avido de Cohen Archer e sua postura autoritária. - Adoraria dizer que sou paga para anotar recado, mas graças a sua porta sem acústico eu suponho que isso não seja necessário, o que me livra da vergonha de dizer que sua amante incapaz de me chamar pelo meu curto nome com apenas quatro letras que dispensa apelidos como os que ela me batiza, marcou presença em cima dos relatórios que eu organizo e folheio todos os dias.

Um silêncio perdurou por longos minutos enquanto eu me recuperava e admitia que descontei no meu chefe, minha fodida vida.

- Anya. - Começou, soprando meu nome. - Não atendi a senhorita Hummer porque eu posso sim, fingir que não tem ninguém na sala, e eu faria isso pela tarde toda, se não tivesse acabado de receber uma resposta da agencia que você trabalha.

Dei um passo para trás apreensiva com seu tom sério e o semblante endurecido.

- Uma resposta... - Repeti, agora dez tons abaixo de quando entrei nessa sala. - Para qual pergunta?

Meu coração tamborilava contra as costelas em um aviso de mau presságio.

- Não sou o cara que pergunta, sou o cara que pede. E eu pedi para que você fosse desligada da agencia. - Declarou, arrancando todo o calor do meu sangue, que eu já nem sentia mais correr pelo meu corpo paralisado.

A única coisa que consegui pensar, foi no meu último ano da universidade, eu estava no meu fodido último semestre, com os pés na minha formatura, recebendo praticamente a noticia de que eu não poderia mais paga-la.

            
            

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