Dama de Prata
img img Dama de Prata img Capítulo 4 Funcionária da Archer
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Capítulo 6 Baile de Máscaras img
Capítulo 7 Dama de Prata img
Capítulo 8 Sapatinho de Crystal img
Capítulo 9 Vou Encontra-la img
Capítulo 10 De frente para o vestido img
Capítulo 11 Visita Inesperada img
Capítulo 12 Luz no fim do túnel img
Capítulo 13 A ajuda vem de quem menos espera img
Capítulo 14 Que comecem os jogos img
Capítulo 15 Provocação img
Capítulo 16 Aconteceu img
Capítulo 17 A verdade img
Capítulo 18 Ele quer ouvir a sua voz img
Capítulo 19 Casper img
Capítulo 20 Holly img
Capítulo 21 Jogando img
Capítulo 22 Tensão img
Capítulo 23 Divirta-se Anya. img
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Capítulo 4 Funcionária da Archer

Perdida em pensamentos vazios e desconexos, eu jurei que minhas pernas falhariam a qualquer momento, se eu não fizesse alguma coisa para reverter minha situação. Não que eu estivesse acomodada com meu emprego, mas ele é quem garantia as mensalidades da minha faculdade e por Deus, eu não podia perdê-lo agora, não quando até meus pais também dependiam daquele dinheiro para o tratamento do meu irmão.

Mais alguns meses e ele poderia ouvir normalmente com a ajuda do aparelho, mas para isso acontecer eu precisava me manter aqui, justamente por causa do convênio e a pequena quantia de dinheiro que eu podia mandar para eles.

E não agora, faltando alguns meses para me formar. Portanto cheguei a conclusão que meu diploma valia minha humilhação e eu imploraria para Cohen não me demitir se fosse necessário.

- O-olha... Se isso é pelo que eu disse agora, eu peço mil desculpas, é que eu realmente não estou no meu melhor dia, eu já aguentei essa mulher milhares de vezes, mas esses apelidos me tiram do sério e eu não queria descontar no senhor, mas eu sou uma idiota que se sentiu no direito de me meter na sua vida pessoal que nada tem a ver comigo, mas eu só fiz isso porque você se meteu na minha e puta merda eu estou piorando tudo. - Me desesperei quando Cohen finalmente se levantou e caminhou preguiçosamente até a porta.

Passou por mim enquanto eu ainda falava, e não se deu o trabalho de me responder ou ao menos me direcionar o olhar.

A minha vontade era de grudar nesse homem, lhe dar uns chacoalhões e dizer todos os motivos pelo qual ele não podia me demitir.

Entendi que aquilo era sua palavra final e tomei como um desaforo.

- Tudo bem... Eu já entendi. Não vai gastar sua saliva comigo, mas eu vou dizer o que eu gastei com você por dois anos consecutivos, quarenta dólares semanais do seu precioso café que é descontado do meu salário. - Terminei de falar justamente quando Cohen alcançou a porta e me olhou com a testa franzida. - É isso mesmo, se eu vou ser demitida eu quero o ressarcimento com juros e correção monetária, se você está ainda mais rico senhor Archer, é porque eu banco seu café todos os dias, então por favor, você sabe que sou boa em cálculos então não tente ingrupir nenhum centavo.

Quando eu finalmente ia passar pela porta, Cohen fechou a mesma, me trancando ali dentro com ele, e se eu não estiver enganada, ele reprimia uma risada.

- Anya... - Meu nome saiu dos seus lábios enquanto ele fitava o chão, e a sombra de um sorriso surgia em seus olhos. - Eu não disse que você estava demitida.

Tudo que enxerguei foi uma tela azul de pani no sistema de um Windows 98.

- Não? - Ele negou com um manear de cabeça.

- Disse apenas que pedi para desligarem você. Isso significa que agora você não é mais terceirizada pela agencia, você é uma contratada direta da Archer. Portanto, seu salário foi reajustado e talvez agora, você receba para fazer muito mais que apenas anotar recado, você recebe para fazer o que você já faz, mas devidamente reconhecido.

- Depois de quase dois anos? - Quando vi já tinha escapado. - Quer dizer... Caramba, eu jurava que o senhor estava me demitindo.

- Você precisa escutar antes de qualquer coisa.

- E o senhor precisa ser um pouquinho mais direto e não contar as coisas pela metade. - Cohen riu voltando para sua mesa, me indicando a poltrona em frente a mesma para me sentar.

Sua presença em um ambiente fechado era de certa forma... sufocante. Intimidadora também, pelo fato dele saber como deixar uma pessoa desconfortável usando apenas o olhar. É como se Cohen medisse os cenários dignos da sua atenção, e quando esse é direcionado a mim, sinto como se minha pele fosse descolar do corpo enquanto mãos de ferro pressionava meu peito limitando minha respiração.

- Preciso que assine sua contratação e depois leve isso até o departamento pessoal. - Disse me entregando minhas novas cláusulas contratuais e o aumento considerável no meu salário que eu podia afirmar com veemência, que sobrariam muito mais do que centavos no fim do mês. Meus olhos brilharam ao vislumbrar minha festa de formatura paga, algo que eu já estava cada vez mais certa de que não seria possível, e o tratamento avançado que Tom poderia receber se eu enviasse uma quantia a mais.

Céus, em poucos meses eu poderia comprar o aparelho auditivo, e tudo isso eu podia vislumbrar apenas encarando aquela folha entre meus dedos, os mesmos estavam levemente trêmulos pela comoção interna que eu estava vivenciando. Lutei contra o ímpeto de comemorar e me emocionar em frente ao Cohen, pois sentia seus olhos fixos detendo sobre mim, não ousei procura-los, mas eu os sentia.

Ia apoiar a ficha na mesa, mas observei os poucos papeis que ali restavam e me recordei do que Drizella disse, então apoiei minha própria ficha sobre a perna e assinei ali mesmo, ouvindo uma risada abafada do Cohen.

Ao assinar, coloquei em um envelope e com um sorriso no rosto perguntei:

- Era só tudo isso? - Cohen anuiu. - Nossa, acho que eu não estava esperando por isso. Me desculpa mais uma vez Senhor Cohen, eu não deveria ter falado daquele jeito com o Se...

- Se me chamar de senhor mais uma vez serei obrigado a te chamar de senhora. - Interrompeu-me, reforçando um pedido que há muito tempo vem sendo feito. Cohen parece de certa forma se divertir tentando quebrar a barreira profissional que eu mesma criei contra ele. Diante dos outros ele não se opunha, mas através de suaves brincadeiras e comentários descontraídos ele buscava por uma Anya que eu não permitia ser encontrada, e uma das coisas que eu raramente abria mão era romper essa barreira me referindo a ele com tamanha intimidade.

- Desculpe, mais uma vez eu... não vai se repetir. - Garanti, sentindo o ar ao meu redor ficar estranhamente pesado ao fitar por tempo demais seu sorriso repuxado para o lado enquanto Cohen me olhava fixamente.

- Veremos. - Senti meus músculos faciais tencionarem pela confusão diante daquela simples e inexplicável expressão.

Eu não soube dizer o que ele quis dizer com aquilo, pois ao mesmo tempo que pareceu uma ameaça, minha mente traiçoeira reconheceu uma espécie de desafio.

- Eu vou voltar ao meu trabalho. - Falei me levantando, reagindo contra um repentino nervosismo.

Não tinha necessidade alguma, mas quando dei por mim Cohen estava me acompanhando até a porta, fazendo questão dele mesmo abri-la, e esperou que eu passasse para dizer:

- Te vejo na festa de lançamento, funcionária da Archer. - Piscou com um sorriso torto no canto dos lábios, reprimindo seu triunfo por tirar de mim meu único argumento contra essa festa, e eu cai direitinho!

De noite, Holly e eu estávamos sentadas no balcão de uma cervejaria que ela frequenta com colegas da universidade, comemorando o fato da sua marca ser confeccionada pelo ateliê onde ela era apenas estagiaria, e eu minha quase promoção. Todavia no momento, Holly gargalhava sozinha ao ouvir que Cohen me desligou da agência para que eu fosse a festa de lançamento da Archer, convocação quase obrigatória para todos os funcionários.

Antes de estar com raiva, eu estava frustrada comigo mesma, por ter acreditado que isso tinha a ver com reconhecimento. Não. Essa é a forma do intitulado poderoso Cohen Archer mostrar como consegue tudo.

- Me lembra de pedir desculpas a ele por todas as vezes que esse trabalho já ferrou com sua saúde mental. - Disse em meio a risadas enxugando uma lágrima. - Gosto de pessoas que resolvam meus dilemas.

- Nem por um segundo eu cogitei a possibilidade... de que ele estava fazendo isso só pelo que eu disse a ele. Como se eu realmente o tivesse desafiado. - Falei encarando meu copo de cerveja, ainda indignada.

- O cara faz um anuncio de que quer toda sua equipe de funcionários no evento e você solta que não trabalha pra ele, até eu me senti desafiada.

- Eu não disse que não trabalho pra ele, disse que sou contratada pela agencia.

- Era! - Pontuou. - Agora você é contratada da Archer e está convocadíssima, pelo Cohen, Stella Valencio e euzinha. Sua melhor amiga fada madrinha, e estilista em ascensão, não tem para onde correr. Sabe o que isso significa Anya? Sabe o que é você entrar em um ateliê da Stella Valencio e ter um cabide só meu lá?

- Eu sei, eu sei... - concordei admirada por sua empolgação e brilho nos olhos. - E estou muito feliz por você, mesmo. Mas, eu ainda acho que não sou a pessoa ideal para usar algo com essa importância.

Seu semblante endureceu.

- Ah, nada disso, sem auto depreciação! Já fiz todos os ajustes e Cohen Archer, sem saber, me deu a resposta que eu queria. Você vai àquela festa, e vai vestindo alta costura, para provar àquela sebosa descascada que você não escolheu Stella Valencio, ela é quem te escolheu. Anda.. bebe, eu quero minha amiga do ensino médio de volta. - Ordenou me empurrando uma dose de vodka.

- Ela era uma inconsequente. - Murmurei.

- Ela era feliz! E eu entendo que esteja se esforçando tanto por eles, mas está se esquecendo de você. - Disse Holly, apoiando sua mão sobre a minha mão no balcão.

Confesso que me sinto perdida desde o nascimento do Tom, seguido do acidente do meu pai que o tirou da usina onde trabalhava, para sobreviver de uma pequena oficina na garagem da nossa própria casa. As coisas mudaram da noite para o dia, eu me vi como a única pessoa capaz de melhorar nossas condições e essa vaga na Archer tem sido desde então a melhor coisa que nos aconteceu, pois ela me permitiu trabalhar e estudar enquanto eu ainda ajudo, mesmo que longe de casa.

Sair de Minessota não foi nada fácil, mas eu sei que se tivesse ficado, ainda estaria trocando meu futuro para apenas sobreviver enquanto trabalhava em um escritório local, para um velho que não gosto nem de lembrar. De certa forma agradeço passar pelo que passei, ele foi o estopim final para me fazer sair daquela cidade, e eu só vou voltar pra lá, quando puder abrir meu próprio escritório.

- Pelo contrário, Holly. Tudo o que eu aprendi trabalhando na Archer, vendo o Cohen trabalhar e todo conhecimento que aquele lugar me proporcionou, só vão me acrescentar quando eu me formar. Prefiro pensar que são anos dedicados ao meu futuro e ao futuro da minha família. O Tom precisa de mim agora, mas vai precisar muito mais quando começar a estudar e eu quero garantir o mesmo que meu pai sempre me garantiu se matando de trabalhar naquela porcaria de usina.

Quando percebi que estava falando sem parar, foi quando notei os olhos da Holly brilhando em lágrimas.

- Ai amiga... - choramingou. - Eu tenho tanto orgulho de você. Quando eu crescer quero ser igualzinha a você.

Sorri envergonhada.

- Desculpa, saímos para comemorar e eu estou aqui te enchendo com minhas ladainhas.

- Não! Não... Anya, você é a minha maior inspiração. Eu só me preocupo com você é por isso que te cobro tanto. Você é nova deveria se permitir mais. - Disse com sinceridade.

Anui concordando cabisbaixa.

- Você tem razão! Eu nunca disse que não tinha, eu só tenho medo que certos tipos de regalias me tirem do foco. - Confessei.

- Eu sei. Mas, me promete uma coisa! - Disse buscando novamente minha mão, para então olhar no fundo dos meus olhos. - Você vai nessa festa, já que agora é quase uma obrigação, mas você vai fazer dessa obrigação a chance de viver por uma noite o que você não vive a anos, Anya, você vai aproveitar como se o mundo fosse acabar à meia noite.

Reprimi uma risada, por mais que eu soubesse que ela estava falando sério.

- E meia noite e um eu faço o quê? Saio correndo com um único sapatinho de Crystal?

- Não. À meia noite e um você vai estar louca, bêbada, chapada ou até nua na cama de um mascarado, não interessa, você vai estar se permitindo. Sabe que se eu pudesse estaria lá para garantir que isso aconteça, mas eu sou só a fada madrinha, e como sua fada madrinha eu vou fazer você estar tão linda, que estar nua depois da meia noite vai ser um fato imutável, e vai ser com quem você quiser, porque eles vão cair aos seus pés!

Um arrepio percorreu meu corpo enquanto eu escutava com atenção o que eu podia descrever como afirmação, pois Holly estava convicta da sua promessa.

            
            

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