A Herdeira Virgem e o Garoto de Programa
img img A Herdeira Virgem e o Garoto de Programa img Capítulo 3 Separação
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Capítulo 6 Esquecer o passado e conhecer o futuro img
Capítulo 7 Entrevista de emprego img
Capítulo 8 Primeiro dia de trabalho img
Capítulo 9 A primeira aula física img
Capítulo 10 Depois da primeira aula img
Capítulo 11 Não posso me apaixonar img
Capítulo 12 Aula cancelada img
Capítulo 13 Ameaça img
Capítulo 14 Fim do contrato img
Capítulo 15 Após o adeus img
Capítulo 16 Os vilões img
Capítulo 17 Grávida img
Capítulo 18 Contar para ele img
Capítulo 19 Pai, eu img
Capítulo 20 Papéis invertidos img
Capítulo 21 Minha sogra me odeia img
Capítulo 22 A verdade revelada img
Capítulo 23 Uma louca img
Capítulo 24 Finalmente acabou img
Capítulo 25 Família img
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Capítulo 3 Separação

Sol Ávila

O médico me afastou da escola por uma semana. Também orientou ao meu pai a procurarmos orientações de um terapeuta.

Estava marcado para a minha primeira consulta depois do retorno as aulas. Esses foram os assuntos que conversei com meu pai. Ele me avisava sobre as coisas e eu assentia. Não havia conversas sobre banalidades, nem novelas que assistíamos juntos, nem mesmo o beijo de boa noite de todas as noites. Não havia como negar, ele me culpava. Se não pela morte de mamãe, me culpa por eu não conseguir lembrar o rosto do assassino.

Coloquei o uniforme, peguei minhas coisas e desci para o café da manhã. Ele não estava mais lá. Havia ido trabalhar.

Tomei meu café em silêncio e fui tentar voltar a rotina. Mas algo estava errado. O carro com motorista não estava ali. No lugar dele havia um segurança gigantesco, um dos que andavam com meu pai em eventos especiais.

- Com licença. - O chamei. - Você viu o motorista e o carro que me levam para a escola.

- Vi com os outros na garagem, senhorita - respondeu com seu tom profissional.

- Garagem? - sussurrei.

Será que esqueceram que volto as aulas?

Como se lesse os pensamentos, o homem comentou:

- Seu pai colocou todos lá até segunda ordem. Avisou que a senhorita não tinha permissão para sair da residência.

- Como?

- Sou apenas um funcionário. Não questiono ordens.

Olhei para aquele homem gigante. Não adiantaria nada gritar com ele, brigar. O jeito era esperar meu pai. Teremos uma conversa séria.

Fiquei até tarde esperando meu pai voltar.

Acabei dormindo no sofá. Era quase meia noite quando despertei com um barulho.

Abri os olhos apavorada. Toda a cena do assassinato da minha mãe veio com tudo. Sentia como se o assassino sem rosto estivesse ali, pronto para me tirar a última família que me restou.

Dessa vez meu corpo não ficou paralisado. Corri até o meu pai caído no meio da sala.

O que encontrei me fez perder o chão. Ele estava embriagado, mal conseguia ficar de pé.

- Pai, o que aconteceu? - tentei levantá-lo. O cheiro de bebida exalava forte. - O senhor está bêbado?

- Você... A culpa é toda sua. Se não existisse... Por que tinha que nascer?

O soltei e olhei para ele apavorada.

- Não fui eu quem matou a mamãe.

- Foi. Ela está morta porque não teve coragem de te impedir de nascer. - Seu tom embriagado era cheio de raiva.

- Do que está falando?

- Suma daqui!

- Não. Precisa me dizer porque me odeia - insisti sentindo lágrimas quentes descerem por minhas bochechas.

- Suma daqui! Sumaaa! - gritava.

Ele veio em minha direção gritando e fazendo gestos. Parecia prestes a me agredir fisicamente.

Me vi correndo para o quarto, me trancando e me escondendo sob os cobertores. Magoada e confusa.

"Por que?" "O que está acontecendo?"

***

No dia seguinte, coloquei o uniforme novamente. Iria para a escola nem que precisasse pular o muro e pedir carona a um de meus amigos.

Ao contrário do dia anterior, meu pai estava sentado tomando o seu café. Ele mal olhava para mim.

Comecei a tomar meu café em silêncio, mas acabei explodindo.

- Eu queria lembrar - gritei. - Queria lembrar, pois talvez assim acabassem os pesadelos. O senhor não foi o único a perder a mamãe.

Ele me olhou. Parecia não ter nenhum sentimento nesse olhar.

Levantando, disse:

- Você não vai mais a escola. Não vai sair dessa casa.

- Não pode fazer isso. Temos seguranças que podem me proteger.

- Nada disso importa. Está decidido.

- Pai! - corri atrás dele, pois já saia da sala de jantar. Ele continuou andando como se eu nem existisse, saiu da casa, entrou no carro e se foi.

Até tentei me rebelar e fugir, mas o poder dele é grande o bastante para bloquear os sinais dentro e fora da casa. E as câmeras me impediam de ir muito longe. Sempre aparecia um segurança. Ele encheu a nossa casa de seguranças. Eu estava literalmente vivendo um pesadelo. Sonhava todas as noites com o assassino levando a vida da minha amada mãe e quando acordava encontrava a frieza do meu pai e suas proibições.

Só quero que isso acabe. Quero acordar.

***

Com o passar dos dias descobri que sou mais que uma prisioneira. Não posso mais sair, nem meus amigos podem entrar.

Faz dois meses que não vou a escola. Nem sei como estão meus amigos ou meu namorado. Como me comunicar com eles sem internet ou sinal de celular? Até o telefone fixo ele cancelou. Queria saber se Fábio tentou me procurar, se desistiu de mim.

Eu também queria saber se meu pai me deixaria crescer sem estudos. Ter milhares de livros na biblioteca e tempo de sobra para ler não me tornaria médica como minha mãe ou CEO como ele. Ainda assim eu não desistia. Ser ignorante é o pior dos males, ainda mais quando se tem condições de tentar evitar.

Estava lendo uma enciclopédia sobre a flora brasileira quando uma voz me assustou:

- Precisamos conversar.

Olhei para ele e meu coração começou a desacelerar ao perceber que não estava bêbado.

- Sim senhor. - Em seu olhar percebi uma leve mudança, acho que ele entendeu que nunca mais seria chamado de pai, muito menos de papai.

- Você não pode ficar presa aqui. Precisa estudar.

Meu peito se encheu de alegria com a possibilidade de finalmente voltar a escola. Mas tudo desmoronou quando ele disse:

- Amanhã você começa em um colégio interno.

- Colégio interno?

- É mais seguro. Só para meninas e comandado exclusivamente por freiras.

- E os meus amigos? Meu namorado? - minha voz saia baixa, fraca, enquanto as lágrimas desciam com força. Ultimamente tenho chorado tanto que mal percebia quando começava.

- Não tem idade para namorar. Nunca aprovei isso. E fará novos amigos.

Levantei e o encarei.

- Pois não vou para lugar nenhum que o senhor mandar. Se não aguenta olhar para mim, me leva para meus avós maternos. Eles me amam.

- Até alcançar a maior idade, você é minha responsabilidade. E vai fazer o que eu mandar. Amanhã te levarei ao colégio. Está avisada.

Ele virou as costas e saiu. Tenho certeza que foi beber. Só trabalha e bebe nas últimas semanas.

Responsabilidade? Não sou mais sua filha, sou sua responsabilidade.

- Não vou para colégio interno algum - resmunguei limpando o rosto.

O livro ficou no chão enquanto eu corria para o quarto e juntava algumas coisas para fugir. Tinha total certeza que meus avós me aceitariam.

Quando tentei abrir a porta do quarto, descobri que estava trancada. Alguém trancou enquanto eu estava ocupada com a mala da minha fuga.

Voltei para a cama e me encolhi em posição fetal. Não tinha como fugir. Se ele estava disposto a me mandar para longe, não seria gritos para abrir a porta que mudaria sua opinião.

- Mamãe! - chorei até adormecer chamando pela minha rainha.

Na manhã seguinte, ele estava pronto para me levar para longe de sua vida.

- Não precisa levar nada. Suas roupas, material, tudo que precisar será fornecido pelo colégio.

- Eles poderiam me fornecer um pai novo também - resmunguei entrando no carro e batendo a porta.

Ele foi na frente com o motorista.

Depois de uma noite de choro, continuei chorando até dormir no carro. Só despertei quando a porta do meu lado foi aberta.

- Chegamos. - Ele avisou assim que abri os olhos.

Encarei aquele portão de madeira imenso e o muro de pedras alto.

Bem-vinda ao lar, Moranguinho!

Segurei as lágrimas e entrei.

            
            

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