A Herdeira Virgem e o Garoto de Programa
img img A Herdeira Virgem e o Garoto de Programa img Capítulo 5 Voltando para casa
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Capítulo 6 Esquecer o passado e conhecer o futuro img
Capítulo 7 Entrevista de emprego img
Capítulo 8 Primeiro dia de trabalho img
Capítulo 9 A primeira aula física img
Capítulo 10 Depois da primeira aula img
Capítulo 11 Não posso me apaixonar img
Capítulo 12 Aula cancelada img
Capítulo 13 Ameaça img
Capítulo 14 Fim do contrato img
Capítulo 15 Após o adeus img
Capítulo 16 Os vilões img
Capítulo 17 Grávida img
Capítulo 18 Contar para ele img
Capítulo 19 Pai, eu img
Capítulo 20 Papéis invertidos img
Capítulo 21 Minha sogra me odeia img
Capítulo 22 A verdade revelada img
Capítulo 23 Uma louca img
Capítulo 24 Finalmente acabou img
Capítulo 25 Família img
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Capítulo 5 Voltando para casa

Sol Ávila

Antes de entrar no carro, olhei para trás, para o portão que me manteve prisioneira por tantos anos. Em um lugar onde as pessoas sequer me deram uma chance de tentar. Sairia dali sem deixar para trás nenhuma amizade. Eu era a única ali sem permissão para telefonemas, e que não recebia visitas. Mas o pior de tudo era que sabiam da morte da minha mãe e, mesmo sem saber a verdade do que realmente aconteceu com ela, me tornei a excluída. Nem mesmo toda a fortuna da minha família foi atrativo para aquelas meninas cruéis que me chamam de amaldiçoada. A amaldiçoada que vivia de castigo. Alguém curioso e rebelde não combina com regras exageradas.

Segurei firme a vontade de chorar. Ninguém merecia uma lágrima minha. Talvez mamãe, mas ela não me ouviria chorar, não cuidaria de mim como fazia quando eu era criança. Nem se quisesse poderia, mortos não cuidam dos vivos. Apenas ela se importou comigo, apenas ela me amou.

Clovis, o advogado e amigo do meu pai, falava sem parar enquanto o carro seguia para longe do colégio, de volta para a mansão onde nasci.

Não prestei atenção em nada do que falava, ele devia ser inteligente o bastante para saber que eu estava passando por um momento difícil, devia ver que eu nem o estava olhando, muito menos respondendo aos seus comentários. Teria que me explicar tudo novamente depois.

Quando o carro parou na frente do imenso portão de ferro, percebi que não via mais aquele lugar como um castelo onde vivia um rei, uma rainha e uma princesa, era só uma casa grande demais para uma família destruída. Uma família que agora, apenas eu represento. A rainha se foi, o rei a seguiu, deixaram a princesa sozinha.

O que mais me doía é que meu pai morreu sem nunca ter me visitado ou sequer ligado. Passei todas as datas especiais sozinha. Natal, dias dos pais, tudo perdeu o significado para mim, até mesmo meus aniversários.

Faltava poucos dias para o fim do ano em que eu teria que voltar para casa, pois o colégio não oferecia ensino superior. As alunas poderiam ficar até os vinte e um anos no máximo. Era a regra.

Tinha um monte de coisa que eu queria dizer ao meu pai quando retornasse, mas ele decidiu morrer antes. Dizem que morreu de tristeza. Para mim foi de covardia.

Minha saída foi antecipada em alguns dias por causa do enterro. Tudo que ensaiei agora era inútil. Em uma semana será o meu primeiro aniversário fora daquele lugar desde que fui jogada ali.

Entramos na mansão e segui o advogado até o escritório onde muitas vezes fiquei lendo enquanto meu pai trabalhava. Só para estar perto dele.

Segurei a onda de lágrimas que se formou.

O homem apontou a cadeira do meu pai, como se dissesse que ela agora é minha. Caminhei lentamente e me sentei.

- O senhor precisa repetir o que disse no carro. Eu não estava em condições de absorver - informei.

- Basicamente, disse que sugiro que nomeie alguém para te representar na empresa, de preferência um homem. A maioria dos funcionários do alto escalão são homens e pode ser mais fácil lidar com eles assim.

Já fui obrigada a seguir regras demais, para me sujeitar aos desejos dos outros.

Isso vai mudar - resmunguei em pensamento.

Em voz alta disse:

- Vou pensar em sua sugestão.

- A senhorita decidindo ficar à frente dos negócios, podemos providenciar pessoal capacitado para que aprenda todo o funcionamento da empresa.

Sorri vagamente com a oferta. Era a primeira pessoa a demonstrar interesse em saber o que eu quero fazer em anos.

- Eu me lembro do senhor. Muitas vezes o vi aqui - comentei.

- Sim. Eu trabalho com o seu pai desde antes de você nascer. Talvez já tenha dito, mas sinto muito por tudo que passaram. O que a senhorita precisar, pode contar comigo.

- Obrigada! Eu ainda me sinto anestesiada - confessei. - É como se nada fosse real. Ainda espero acordar na minha cama com treze anos e descer para tomar o café da manhã encontrando meus pais conversando e sorrindo.

- Era uma família linda.

- Essa é a palavra: era. Lamentar não vai mudar nada.

- Descanse um pouco. O enterro será amanhã de manhã. Uma noite de sono ajudará a passar por ele com mais força.

- Vou seguir seu conselho. Não aguento mais pensar. - Levantei da cadeira e comecei a andar para a porta. - Obrigada por tudo.

Por mais estranho que parecesse, eu via um amigo nesse senhor baixinho de aparência frágil e cabelos grisalhos.

Subi até o meu antigo quarto, mas, ao contrário de dormir, fui mexer nas minhas coisas. Tudo parecia estar exatamente no mesmo lugar que deixei. Acabei dormindo abraçada a uma foto onde estávamos minha mãe, meu pai e eu.

Na manhã seguinte, peguei um dos vestidos pretos da minha mãe e segui para o principal cemitério da cidade de carro com uma motorista. Percebi que quase que 100% dos funcionários da casa são mulheres, os que não são, é porque já faziam parte da equipe antes daquele maldito dia. Depois do que passamos, acho que meu pai temia algo. Talvez temesse que o assassino sem rosto dos meus pesadelos voltasse.

Percebi que eu não tinha nada para a mulher que me tornei. Naquele quarto tudo era de uma garotinha de doze anos., magrela e sem peito.

Preciso comprar roupas - pensei enquanto descia de roupão para o café da manhã. Não queria ficar usando as roupas da minha mãe.

Por um momento, a lembrança do colégio me fez esperar encontrar todas as outras garotas a mesa. Cheguei a me imaginar como a atrasada, pronta para ser castigada mais uma vez. Mas não havia ninguém, só encontrei uma imensa mesa repleta de guloseimas. Assim que me aproximei para sentar, vários empregados se aproximaram também.

- O que a senhora deseja que a sirva? - uma garota com o uniforme dos funcionários, que parecia ter a minha idade, perguntou.

- Não sei... - respondi com sinceridade. - Qual o seu nome?

- Carolina, senhora.

- Me chame de Sol, Carolina - pedi.

- A senhora pode me chamar de Carol, se quiser, meus amigos me chamam assim.

- Posso fazer isso, se puder parar de me chamar de senhora. Obviamente não sou velha nem casada.

- Desculpe, sen... Sol - se corrigiu sorrindo.

Sorri para aquela moça simpática e voltei para o assunto café da manhã.

- O que sugere para alguém que não sente fome alguma, mas sabe que precisa comer?

- A senhora pode começar pela salada de frutas.

- Sem senhora, por favor, já pedi. - Ela suspirou. Sabia que não seria nada fácil conviver com empregados que deviam ter sido treinados como robô. Demoraria um pouco para fazê-los agir como humanos. E eu tenho pressa. - Carol, sente-se comigo. Coma um pouco.

A empregada me olhou como se eu tivesse dito um absurdo.

- Por favor, todas comíamos juntas as refeições no convento, me sinto estranha sozinha nessa mesa gigante.

- Eu já tomei meu café da manhã, mas posso tomar um suco e lhe fazer companhia, se quiser.

- Adoraria, obrigada!

Esperei que ela nos servisse e se sentasse, só depois que tomou o primeiro gole de suco foi que pedi:

- Então, me fale um pouco sobre você.

Ouvi brevemente que ela trabalhava na casa com a mãe que era cozinheira, e ela assistente na cozinha. Contou também que estava no começo do curso de direito.

- Você tem namorado? - perguntei curiosa. Ser privada de presença masculina parece ter me deixado ansiosa por ela.

- Nada sério.

De repente me veio uma ideia.

- Se importa de me ajudar a comprar algumas roupas? Como vê não tenho muitas opções. - Olhei meu roupão. - E minha noção da moda atual é zero.

- Seria divertido, mas não tenho muita noção de moda para pessoas como você.

- Só não me deixe vestir como puta ou como santa. - Dei de ombros. - Podemos ir? - levantei.

- Vai de roupão?

Balancei a cabeça sorrindo.

- Não. Volto já.

Corri até o quarto dos meus pais e voltei com um dos vestidos da minha mãe. Sinto que não vou conseguir me desfazer deles como pretendia. Ao vestir suas roupas, é como se ela me abraçasse. Como me livrar dessa sensação tão boa?

Carolina me seguiu até um dos shoppings que fazia parte de um dos negócios da família.

Os Ávilas, ao que parece, sempre foram ricos. Por esperteza ou sorte, em nenhuma geração essa riqueza foi ameaçada. E desde o meu avô que começaram a investir em empresas com potencial, mas sem recursos, tornando-se sócios. Nenhuma delas faliu. E quase todas dão um lucro absurdo.

Carolina ficou mais calma quando expliquei que de certa forma era dona do shopping para onde iriamos. Segundo ela, era seu dia de patricinha.

                         

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