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Tente visualizar uma máscara toda branca, que cobre apenas do nariz para cima, a parte do olho direito envolta em pétalas como se fosse uma rosa, o lado esquerdo apenas com pequenas pétalas na parte dos cílios inferiores e na parte superior, flores de diversos tipos e tamanhos. O portal para verità.
Todo aquele que a colocava, via o que não era normalmente visto, e também o que era encoberto. Disfarces de demônios? Qualquer criatura mística? Desfeito, camuflagem para não ser visto por mortais a olho nú? Adivinhe...Desfeito.
Parece algo inofensivo, certo? Bom, até pode-se dizer que é, não tem nada demais em uma máscara que te faz ver a verdadeira forma de alguém ou dos espaços vazios ao seu redor, mas no caso desse item, o problema não é ele em si, mas sim...Aqueles que eram vistos por causa dele.
A pessoa que acabou a obtendo em mãos, foi uma pequena amiga. Era uma criança alegre que adorava mexer em meus cabelos e viver me lembrando que eles se assemelhavam à neve, e que minhas caudas eram tão macias quanto uma coberta felpuda.
Em um dia que achei que seria como todos os outros, ela veio correndo em prantos com a máscara em mãos, estava assustada, dizendo que a mulher que fora visitar a sua família era um monstro e haviam mais deles em seus ombros. Suas lágrimas tinham desespero, um temor que eu nunca consegui presenciar.
Ela se afundou em meu peito e jogou a máscara para o lado, e por curiosidade, acabei a colocando em meu rosto. Não era só a mulher que não era humana, alguns empregados de sua casa também não eram.
"É assustador...Agora eles não me deixam em paz..." afundou mais ainda o rosto, e já estava começando a sentir uma poça se formar em minhas vestes, o que me fez levantar levemente o seu rosto.
"Primeiro...Me explique o que aconteceu" acabei dizendo de forma serena. E aos soluços, ela tentou me explicar.
"E-eu...Mexi nas caixas antigas no sótão...P-porque e-eu queria...Procurar brinquedos...E..." ficou pausando e tentando respirar, acreditei que não precisava do resto.
"E quando a achou e a usou, viu as criaturas. Estou certo?" limpei suas lágrimas com as mãos e ela assentiu com a cabeça. É por isso que sótãos são trancados.
Ver os seres que se camuflavam, não era problema para ser bem sincero, a visão normal que eu possuía já era o suficiente, talvez fosse uma das vantagens de ser algo sobrenatural, sendo assim a máscara não era necessária para protegê-la, neste caso, o único esforço seria ver qual era a farsa.
Então, fiquei esperando, e por alguns segundos confesso que até achei que eles haviam desistido, porém eu estava enganado.
A mandei para casa, estava ficando tarde e sua família claramente começaria a procurá-la, a ficar preocupada por ainda não estar na cama, o que me fez a tranquilizar e fazê-la ir. Gostava do lugar no qual ficava, não queria perdê-lo.
Inquietação, começou a me invadir. Detestava com todas as minhas forças tal sensação mas não podia evitá-la. Fui até a janela da minha pequena amiga.
Tudo parecia normal, ela estava dormindo tranquilamente, sua respiração parecia calma mas existente. Eu poderia ir embora, certo? Não.
Não conseguia ir embora, guardei aquele sono mais do que uma águia guarda o seu ninho e quando quase me deixei levar pelo canto sedutor do sono...Um grito foi escutado.
Estava se contorcendo, as mãos no pescoço como se estivesse sendo enforcada e os olhos demonstravam desespero. Ela não conseguia ver sem a máscara, mas sabia o que estava ali, sabia o que queria matá-la.
"Quanta covardia..." flutuei até a cama e aquilo cessou. Raposas de nove caudas ainda tinham alguma imponência naquela época.
"Ela nos viu!" um deles tentou argumentar, "ela pode falar sobre a nossa existência para todos! Não queremos nossa vida arruinada..." outro continuou.
"Bobagem, ela é uma criança...Sabe quantas pessoas acreditam em uma criança?" falei calmamente, o que fez eles se entreolharem. Sabiam que eu tinha razão, quem acreditaria em uma criança? Não acreditariam nem em um adulto, o internariam com o laudo de esquizofrenia ou algo do gênero.
"Ela manterá a identidade da mestra de vocês em segredo, afinal, ela só quer viver uma vida normal, certo?" assentiram. Era um caso mais comum do que se poderia imaginar.
"Você manterá o nosso segredo...Não vai?" Um deles chegou e tentou falar.
"Ela não consegue ver vocês, ela só conseguiu por conta disso" mostrei a máscara e então joguei para eles.
"Façam o que quiserem com ela, queimem, escondam...Não é problema meu" o desdém acabou sendo óbvio, o que apenas fez com que eles concordassem e saíssem de forma rápida.
"Não mexa mais no porão" disse de forma séria, e mesmo depois de tudo, aquela criança apenas sorriu. Aquilo foi adorável, mesmo com um de seus dentes faltando.