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Não aguentava mais, dias, semanas, meses se passaram, e ela continuava com a mesma coisa, a mesma maldição.
- Chega...Chega!...
Via fios em sua frente, fios dourados e abundantes que mostravam como cada coisa iria acontecer, como cada caminho seria percorrido...Como cada destino seria desvendado. Era uma tortura.
Porém, sua vida nem sempre foi assim, nem sempre sua mente conseguiu percorrer pelas dançantes linhas do tempo. Antes era normal, com uma vida medíocre, rotina medíocre de todo universitário que tenta sobreviver em meio a tantos projetos, cargas horárias e desastres de pressão...Até que, ela achou uma ampulheta na biblioteca de sua faculdade, tão bem escondida, que você suspeitaria que ela não queria ser achada.
- O que isso está fazendo aqui...? Alguém a perdeu?
A pegou sem pretensão alguma, mas quando percebeu, seus olhos começaram a doer, doíam tanto que pareciam que seriam arrancados de suas órbitas, eles haviam ficado da cor do ouro, e as lágrimas que seguiram e escorriam pelo seu rosto...Também tinham a mesma cor.
- O...o que?...
Viu ouro líquido pelas suas mãos, não aquele líquido transparente e aquoso que geralmente se esperava. Com isso, viu seu reflexo no fragmentos de vidro espalhados pelo chão. Não era mais a mesma.
- Isso...Não está certo.
Dizia enquanto via seus cabelos que agora eram longos, lisos e completamente loiros, no lugar de suas sardas, agora haviam pontos brilhantes como estrelas...Virou uma aberração da natureza? Algo não humano?
Saiu correndo dali, o mais rápido que conseguiu. Seu capuz a cobria completamente e para a sua sorte, o dormitório no qual morava não era tão longe dali. Isso provavelmente a salvou de virar algum tipo de experimento.
- Tem que ter algum jeito...Tem que...
Dizia ao enrolar seus dedos em seus cabelos e praticamente puxá-los, estava desesperada, querendo respostas, querendo...Voltar a ser o que era antes.
Mas para piorar tudo, foi aí que começou a ver os fios em sua frente. Viu o seu futuro, o viu de forma completa e sem censura nenhuma, tanto como sua vida poderia ter sido, como também como ela seria a partir de agora. Não conseguiria viver em paz, pelo menos, não fora de seu quarto.
- A curiosidade matou o gato...
Esse ditado popular nunca fez tanto sentido para ela, como estava fazendo naquele momento, tudo era assustador, todas as probabilidades à sua frente eram assustadoras. O mundo parecia ainda mais assustador.
- Tão...Divertido.
Acabou brincando por já não saber como reagir, e então, voltamos ao início, a meses depois disso.
Após cansar e desistir de apenas olhar, tentou tocá-los, tentou ver se tinha alguma diferença...Havia conseguido mudar algo, algo mínimo.
Os fios agora eram tocados por ela como uma harpa, conseguiu fazer com que demorassem mais para virem vê-la, conseguiu fazer com que nada interferisse em todos os seus projetos, e então...A parte do passado, a parte na qual havia errado.
- Não posso mudar o meu passado...
Percebeu inevitavelmente, mas sorriu mesmo assim quando foi compor sua nova melodia.
- Mas posso fazer uma versão minha...Não passar pelo mesmo.
Fez a ampulheta sumir, ser guardada de forma devida e responsável. E assim, ela dormiu, dormiu tranquilamente, tanto que nunca mais abriu seus olhos novamente.