Capítulo 4 Vamos ver a Mamãe tia

Eram por volta das sete da manhã quando Maraisa acordou, não conseguia se quer pregar os olhos novamente. Olhou para a irmã ao seu lado que dormia tranquilamente e levantou-se saindo do quarto.

Seguiu até o quarto do pequeno, abrindo a porta devagar vendo o menino dormir. Fechou a porta novamente e desceu as escadas, seguindo até o sofá, jogando-se contra o mesmo. Pegou o controle no centro a sua frente e ligou a televisão colocando na Netflix. Passou pelo catálogo de filmes, sem achar nada interessante e saiu do aplicativo, colocando no YouTube. Entrou na playlist das Patroas, colocou a música em um volume que não incomodasse sua irmã e seu garotinho no andar de cima, permitindo que "Motel Afrodite" tomasse conta da sala.

Aquela música era tão boa, o vocal de Marília nunca decepcionava. Amava ver as expressões que ela fazia em meio a música. Sentia falta de gravar algo com ela.

Pegou seu celular, ao senti-lo vibrar, eram seus amigos mandando mensagem no grupo. Sorriu deixando um "bom dia" e bloqueou a tela, voltando a dar atenção ao vídeo.

- Irmã? - A voz sonolenta de Maiara se fez presente nas escadas, enquanto descia calmamente pelas mesmas e seguia ate a irmã mais velha.

- O que faz acordada a essa hora? - Perguntou Maraísa esperando que a mais nova se juntasse a ela e assim que o fez, deitando de lado a sua frente, passou seus braços em volta dela e a apertou contra si.

- Eu não senti você na cama. - Maiara comentou baixinho enquanto mantia seu olhar na televisão. - Você está bem?

- Tô sim, só não consegui dormir de novo. - Concluiu a mais velha com a atenção ainda na televisão e acabou por depositar um beijo em meio aos cabelos da irmã que sorriu.

Motel Afrodite acabou e a música que vinha logo em seguida, era fã clube. A atenção das duas estava no vídeo, a loira como sempre estava com um enorme sorriso no rosto.

- Mamãe. - A voz do menino mais novo se fez presente na sala assustando as duas. Ele correu com o pijama e o ursinho em mãos, com um enorme sorriso no rosto e sentou-se no tapete fofinho, focando seu olhar na televisão.

As duas sorriram com a cena e voltaram a atenção para o vídeo, Maraísa pareceu lembrar de algo importante ao sentar-se rapidamente.

"As tatuagens."

- Que foi, irmã? - Maiara perguntou olhando preocupada para a mais velha que parecia pensativa.

- A Marília tinha uma tatuagem com o nome do Léo nos dedos. - Lembrou-se vendo a sua irmã lhe olhar assentindo com a atenção no pequeno sentado no chão. Rezava para que não fosse nenhuma loucura, não importava o quanto aquilo parecesse impossível, nem questionaria como aquilo estava acontecendo se isso significasse ter ela ali de volta.

Não só pela saudade enorme que sentia, mas também pelo quanto ela faria falta na vida do pequeno garotinho. Era bom vê-lo sorrindo, ele sempre associava elas a Marília.Toda vez que as via, perguntava onde estava ela. E aquilo lhe partia o coração, pois ele as via chegar e nunca via a mãe. Ele queria tanto receber e ser recebido com vários beijos e abraços, gritos de felicidade como sempre foi.

Passaram mais algumas horas assistindo os videos de Marília, até Maraísa levantar-se para se arrumar. Seus amigos logo chegariam ali.

- Vem Léo, vamos nos arrumar para passear no parquinho? - Maraísa chamou o menino.

Os olhinhos do mais novo brilhando e um enorme sorriso tomando conta de seu rosto, enquanto levanta rapidamente.

- Vamos ver a mamãe, tia? - Questionou com um sorriso correndo em direção a tia, segurando a mão da mais velha.

- Vamos. - Confirmou subindo as escadas animados.

Maiara observava tudo de longe, era bom ver o menino mais novo daquele jeito. Marília fazia falta na vida de qualquer pessoa que a conhecesse. Ela era um ser humano tão bom, gentil e marcou uma história. Ter ela de volta, significava ver o Léo sorrir de fechar os olhinhos, com saudades da mamãe que enfim de certa forma, ele estava vendo de novo.

"E não era por foto, nem vídeo."

Viu sua irmã e o pequeno subirem para se arrumar e aproveitou para fazer o mesmo.

Do outro lado, Marília permanecia sentada em sua cama, olhando para o espelho a sua frente com uma expressão confusa. Tudo o que queria era saber quem era e lembrar de tudo, aquilo era tão frustrante. De alguma forma sentia saudades do menininho, não sabia o porquê, mas o abraço dele era bem aconchegante.

Por alguns segundos se passa por sua cabeça que talvez o motivo disso, seja saber que ele não tem mais a mãe. Mas por outro lado, lembra-se que ja sentia isso antes mesmo de descobrir aquilo.

Estava disposta a conversar com a mulher que o acompanharia hoje no parque, queria se abrir para alguém. Em algumas semanas já estava enlouquecendo sem saber quem era e se aquela mulher parecia ter tanta certeza de quem ela era, então ela falaria.

Melhor arriscar e acabar sabendo a verdade, do que não arriscar e se arrepender.

Só não queria que as gêmeas se decepcionassem, pois se ela não fosse a tal artista, elas não teriam como lhe ajudar se não a conhecessem. Um turbilhão de pensamentos se faziam presente, ela balançou a cabeça e pegou sua roupa seguindo até o banheiro para tomar um banho. Precisava relaxar ou enlouqueceria.Tirou sua roupa e colocou a toalha pendurada, ligou o chuveiro e se jogou em baixo de uma vez. A agua fria em contato com seu corpo, lhe trazia uma sensação boa e suas preocupações já não existiam mais.

Passou as mãos pelo cabelo e logo em seguida pelo rosto, soltando um suspiro relaxado. Após lavar seu cabelo com shampoo e ensaboar-se terminou o banho e saiu, se enxugando e logo em seguida, enrolando-se na toalha para seguir até sua cama, onde havia deixado sua roupa.

Se vestiu, penteou os cabelos e saiu de casa. Ainda era bem cedo, a sua chefe havia lhe dispensado com a desculpa de que ela precisava de um dia para relaxar.

No caminho, ainda era possível ver as pessoas lhe olharem. Com as mãos dentro do sobretudo, seguiu até o parque sob comentários e olhares. Sentou em um dos bancos e ficou observando as crianças brincando, viu sua chefe caminhar em sua direção e sorriu para a mulher que sentou-se ao seu lado.

- Você está esperando alguém em especial? - Perguntou a mulher olhando para a loira que pareceu pensar.

"Era alguém especial?"

- Sim. - Comentou com um sorriso vendo a mulher ao lado calar-se por alguns segundos. Parecia pensar bem no que iria dizer. - O menininho que eu falei ontem e a tia dele.

- Tenha um ótimo dia, se permita confiar na pessoa que você considerar certa. - Aconselhou passando as mãos pelas costas da loira, logo levantando. - Tire essa semana para descansar, não precisa trabalhar.

- Eu ia fazer algumas perguntas, mas sei que você não vai responder claramente. - Maria concluiu vendo a senhora ao seu lado dar um pequeno sorriso.

- As respostas que você precisa, não estão comigo minha querida. - Concluiu a mais velha saindo dali.

Marília suspirou voltando seu olhar para as crianças animadas ali e assim manteu-se. Pegou seu celular, apenas para ver que horas ainda eram. Sua cabeça doeu, uma dor forte e fina. Fechou os olhos e os apertou, algo parecia querer vir a tona. Suspirou frustada ao sentir a dor ir embora e decidiu ir até a casa dar Maraísa.

Sentia uma enorme vontade de gritar e colocar toda aquela dor para fora, não aguentava mais aquela situação. Que segunda oportunidade seria essa? Que lhe faria sofrer tanto?

Deixou que suas lágrimas caíssem, enquanto andava de cabeça baixa até a casa da moça do dia anterior.

Yasmin, Henrique e Juliano já se encontravam na casa das gêmeas, esses que estavam espalhados pelo carpete da sala com algumas latinhas de cerveja. Maiara estava no sofá com Léo que lhe mostrava alguns desenhos no tablet.

- Tá, mas e aí como tá sendo as agenda de shows? - Henrique pegou outra latinha na mesinha da sala e abriu com a atenção em Yasmim.

- Tá ate boa, tô trabalhando no meu limite. - Afirmou a cantora tomando um gole de sua cerveja.

Maraísa apareceu na sala com uma calça meio rasgada, uma camisa de botão com a manga dobrada e um boné preto.

- Vocês não querem dar um rolê por aí, não? - Henrique perguntou tomando o resto de bebida que ainda havia em sua lata, olhando para todos ali.

Maraísa estava prestes a falar, quando foi interrompida pelo interfone. Arqueou a sobrancelha, desconfiou, até porque, não estava esperando mais ninguém.

- Senhorita, tem uma moça querendo falar com você. - Avisou o porteiro fazendo com que os outros mantessem o olhar sob ela.

- Posso saber quem é? - Perguntou desconfiada.

- Ela diz que se chamar Maria. - Concluiu o porteiro.

Maraísa olha para seus amigos ali que tinham a atenção sob ela, que agora se encaravam.

- Pode pedir pra entrar. - Pediu colocando a interfone no lugar e abrindo a porta, para ver a mulher se aproximar lentamente.

O pequenininho levantou do sofá e correu até a porta, pulando em animação ao ver a mãe ali.

- Mamãe, mamãe. - Chamou com um enorme sorriso olhando para Maraísa, que assentiu em permissão para que ele fosse até a mulher. O pequenininho correu com os braços abertos e a loira parou no caminho, se ajoelhando e abrindo os braços. Sentiu seus corpos colidirem e fechou os olhos, apertando o menino contra si.

"Ela amava tanto aquele abraço."

Maraísa via tudo de longe com um sorriso no rosto, não lhe restava dúvidas que aquela era sua Marília, estava claro em tudo e ela estava obstinada a ajudá-la a lembrar de tudo.

- Feliz aniversário, mamãe. - Desejou Léo enchendo o rosto da mais velha de beijos, essa que sorriu sem entender.

"Então era seu aniversário?"

- Obrigado, meu amor. - Maria levantou, dando a mão ao menino, enquanto caminhava de volta em direção a Maraísa que estava encostada na porta com as mãos no bolso e um pequeno sorriso no rosto.

O menino andava saltitante e sorridente de mãos dadas com a mãe, essa que pensava em uma desculpa por ter ido lá sem avisar.

- Me desculpa vir sem avisar, de verdade. - Pediu recebendo um sorriso da mais velha.

- Não tem problema, pode vir quando quiser. - Concluiu dando espaço para que a mais nova entrasse e mesmo hesitante, assim ela o fez.

Maraísa havia percebido os olhos chorosos da garota que havia acabado de entrar, com certeza tocaria no assunto em um momento mais apropriado. Fechou a porta e deu de cara com todos os seus amigos olhando a mulher assustados. A loira parecia desconfortável, o que fez Maraísa pigarrear para chamar a atenção deles.

- Meu Deus. - Foi a única coisa que Yasmin conseguiu falar, antes de seguir até a loira e olha-la bem de perto.

- É igual. - Henrique concluiu surpreso com o irmão ao lado que também a olhava, sem conseguir concluir mais uma frase se quer.

- Vocês estão assustando ela. - Maiara concluiu puxando a loira pela mão para sentar-se no sofá, consequentemente afastando-a dos outros.

- Isso tudo é muito surreal. - Juliano comentou, voltando a sentar-se de frente para Marília.

Léo correu até a mãe e sentou em seu colo, fazendo com que a loira sorrisse depositando um beijo em seus cabelos.

- Você nasceu aqui? - Yasmin perguntou sentando no tapete com atenção na loira que assentiu.

- Maria, antes que você se assuste. - Maraísa comentou sentando ao lado. - Esses são Yasmin, Henrique e Juliano.

- Você bebe? - Henrique perguntou vendo a menina assentir.

- Obrigado. - Agradeceu ao pegar uma latinha, logo abrindo a mesma.

Estavam todos tentando fingir normalidade diante daquela situação insana, não havia como aquela não ser Marília. Discretamente, Maraísa levou seu olhar para a mão da loira que prestava atenção na conversa, mas não dava para ver, já que o bracinho de Léo cobriam a mão da mesma.

Maiara começou a contar sobre algumas coisas que havia escutado, fofocas no mundo dos famosos e de amigos próximos. Aquilo fazia com que todos prestassem atenção no que ela estava falando.

- Como que você sabe disso? - Juliano questionou confuso tendo um olhar culpado da menina que coçou a nuca. - Mulher você é muito fofoqueira, misericórdia. - Comentou com a atenção no grupo que levaram a atenção até ela e gargalharam.

- Não é fofoca, é troca de informações. - Maiara se defendeu sorrindo, a loira parecia estar a vontade ali e de fato ela estava. A Marília lhe disse a mesma coisa uma vez.

- Eu posso falar com você? - Maraísa perguntou se levantando e Maria assentiu com um sorriso, colocando o pequeno no sofá e levantando para seguir a morena. Subiram as escadas até o primeiro andar e entraram no quarto do pequeno Léo, a mais nova parecia confusa porém permanecia calada.

Maraísa suspirou passando as mãos pelo rosto e pensou bem no que iria falar.

- Tá tudo bem com você? - Perguntou primeiramente vendo a loira parar para pensar.

A dúvida se deveria ou não contar tudo se fez presente, ela não queria, mas ao mesmo tempo ela não aguentava mais guardada só pra si. Mas aquele não parecia ser o momento adequado pra isso. Mas também não saberia quando estaria tão disposta a falar sobre aquilo novamente.

- Eu tenho uma coisa a dizer. - Concluiu tendo a morena com um olhar curioso sob si. - Eu menti, eu não faço a mínima ideia de quem eu sou.

            
            

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