Capítulo 3 E você é idêntica a Ela

- Por Deus, alguém me diz quem é essa Marília? - Sua paciência já estava esgotada, várias pessoas por todos os lados lhe chamando por aquele nome, quem era essa Marília?

Maraísa estava de cabeça baixa e de olhos fechados, aquilo tudo era a coisa mais estranha que já havia lhe acontecido. Agora ela estava em frente a uma mulher idêntica a Marília e precisava lhe explicar quem era Marília.

Mas, falar sobre ela lhe doía tanto...

Principalmente a alguém idêntica a ela...

Maiara tinha lágrimas espalhadas por seu rosto, ainda não conseguia acreditar no que estava vendo. Tudo aquilo parecia surreal, o que realmente estava acontecendo ali? Era realmente Marília ali na sua frente? Então porque ela tá perguntando quem é ela mesma? Isso é possível? Tudo o que ela queria era uma resposta.

O pequeno Léo tinha uma expressão confusa enquanto olhava as três mulheres ali presente. Maria agora em pé, voltou sua atenção ao pequeno sentado no sofá e sorriu.

Como ele poderia lhe fazer se sentir daquela forma, sendo que ela havia acabado de conhece-lo?

- Por que você não vai brincar um pouco pequeno? Eu preciso falar com elas, tá bom? - Abaixou-se ficando na altura do menino, tendo um assentir dele que passou os braços por seu pescoço e depositou um beijo em sua bochecha, logo saindo dali para ir ao jardim.

O silêncio tomou conta do lugar, Maiara ainda tentava entender tudo o que estava acontecendo. Aquela era sim Marília e nada tiraria aquilo de sua cabeça até que se fosse provado o contrário.

- Você me disse que ia me explicar tudo, aí eu chego aqui e tem outra você? - A loira perguntou confusa enquanto olhava para Maiara a sua frente.

- Eu sou Maraísa e essa é a minha irmã gêmea, Maiara. - Maraísa começou a explicar. - Marilia Mendonça era uma cantora muito conhecida, que morreu há um ano e oito meses atrás em um acidente de avião. Ela era a mãe do Léo e você é idêntica a ela.

- Em todos os sentidos. - Maiara completou ainda encarando a mulher a sua frente, que mantinha a expressão confusa.

Maraísa apontou para o quadro ao lado da televisão e a loira cerrou os olhos para tentar enxergar. Maiara levou seu olhar até a irmã que sorriu um pouco.

Maria seguiu até o quadro e o pegou em suas mãos, na foto estavam as duas gêmeas e uma loira identica a ela no meio. As três pareciam felizes, os sorrisos iam de orelha a orelha. Era uma foto descontraída, parecia ter sido tirada em um momento só delas.

Maraísa aproximou-se sorrateiramente, mostrando um porta retrado da mulher realmente idêntica a ela abraçada com o pequeno que ela estava até alguns minutos atrás. Era tudo muita loucura, quais seriam as chances de ser ela aquela mulher? Ela não estava mais ali, então não teria como ser ela.

- Então é por isso que ele achou que eu fosse a mãe dele? - Questionou Maria baixinho ainda olhando a foto. Era triste, saber que o garotinho havia perdido a mãe e nem sabia disso ainda.

Não sabia porque aquilo tava lhe afetando tanto, claro, ele perdeu a mãe e isso era muito triste. Talvez o que estivesse doendo mesmo, era que ele havia lhe confundido com a mãe.

O tanto de saudades que ele parecia estar sentindo, quando ficou com medo que ela fosse embora de novo. Agora ela iria embora e ele ficaria novamente sem a mãe, mas dessa vez para sempre.

- Ele é muito pequenininho para entender o que aconteceu, só dissemos a ele que ela virou uma estrelinha. - Maraísa limpou a garganta tentando evitar chorar ali mesmo. - Amanhã seria o aniversário dela.

Por alguns momentos, Maria consegue imaginar a dor que a mãe dele onde quer que esteja deve estar sentindo agora, deixou um neném tão pequeno. Sendo a "mãe" daquele garotinho, gostaria de passar o dia inteiro ao lado dele.

- Mas fala um pouquinho mais sobre você, de onde você é? Como é seu nome? Quantos anos você tem? - A voz de Maiara ameaçava falhar, ela sentia tanta falta de Marília e ver aquela mulher idêntica a ela ali presente ainda lhe parecia surreal e doloroso.

Só queria abraça-la e não soltar mais, mesmo que tentasse seguir em frente, sempre dava alguns passos para trás.

Maria não queria que aquilo parecesse estranho, se dissesse que não se lembrava de nada só de ter acordado há alguns dias em um lugar completamente desconhecido sem saber nada sobre si mesma, deixaria as duas ali querendo saber mais a fundo.

De alguma forma, era muito estranho.

- Me chamo Maria, tenho vinte e cinco anos e sou daqui mesmo, de Goiânia. - Concluiu vendo as duas irmãs se entreolharem por alguns segundos, antes que pudessem perguntar mais alguma coisa, decidiu esquivar-se do assunto. - É seguro o Leozinho ficar no jardim sozinho?

- É sim, temos muitos seguranças por ali, além de que ele gosta de ajudar as jardineiras com as flores. - Concluiu Maraisa vendo a loira assentir.

O silêncio tomou conta do lugar, antes que pudesse falar mais algo a voz do pequeninho invadiu a sala.

- Mamãe. - Chamou correndo até a loira que o olhou com um pequeno sorriso.

Nossa, aquilo estava doendo.

- O que foi meu amor. - Perguntou a loira baixando-se para ficar na altura do menino que parecia animado enquanto contava sobre as flores que estavam grandes.

Maiara não aguentaria mais ver aquela tortura, subiu as escadas, sumindo de vista. Maraisa observou o menino falar animado enquanto Maria lhe dava total atenção e subiu as escadas para ir atrás da irmã.

Entrou no quarto, vendo-a jogada de bruços com o rosto enterrado no travesseiro, abafando um pouco de seu choro agora pouco audivel e sentou-se ao seu lado.

- Irmã. - Chamou passando as mãos pelo cabelo da irmã mais nova que levantou passando os braços em volta de seu pescoço, permitindo-se voltar a chorar.

- Eu sinto tanto a falta dela. - Maiara disse entre soluços.

Maraísa fechou os olhos apertando sua irmã um pouco mais contra si, ela também sentia tanto a falta de Marília. Queria ter contado tantas coisas, deveria ter contado o que sentia por ela, deveria ter feito tantas coisas e não tinha um dia em que ela não pensasse nisso.

- Será que é ela? - Maiara questionou baixinho após alguns minutos de silêncio.

- Não tem como ser ela irmã, pensa aí. - Disse Maraísa com certeza na voz.

As esperanças que a mais nova demostrava ter, fazia com que Maraísa se sentisse pior. Porque ela não sabia lidar com decepções e caso estivesse errada, odiaria ver sua irmã sofrer ainda mais por causa dessa expectativa.

- Como seria ela? Você não ouviu? A idade não bate. - Conclui Maraísa.

- Me diz como que poderia ter a mesma voz, a mesma risada, o mesmo sorriso, a mesma aparência, ser do mesmo lugar e ninguém nunca ter comentado isso? - Questiona Maiara saindo do abraço para olhar sua irmã.

- Maiara, ela se foi. -Diz Maraísa. Uma facada doeria bem menos do que ter que pronunciar isso em voz alta, mas estava morrendo de medo de quebrar a cara.- A gente viu tudo, irmã.

Sua voz demonstrava sua vontade de chorar, mas ela precisava ser realista. Se negaria a criar expectativas, morria de medo de se desapontar. Pegou seu celular e mandou uma mensagem para seus amigos, explicando o que havia acontecido.

No andar de baixo, Maria tinha seu olhar focado no menininho em seu braço. Ele não lhe largava e ela precisava ir embora.

Sua mente agora estava presa nessa tal "Marília Mendonça", ela realmente queria saber mais sobre essa mulher, quem era, como era. Por um momento, se perguntou como poderia ser tão parecida com a mulher da foto e como poderia ter tido um apego tão grande com uma criança que nem conhecia direito.

- Eu preciso ir embora, Leozinho. - Falou sentindo os braços do menino lhe apertarem ainda mais.

- Você volta, mamãe? - Perguntou com seus olhinhos esperançosos. - Vai trabalhar?

Não tinha nem coragem de dizer aquele menino que não era a mãe dele depois do que escutou, já havia dito mais cedo, mas ele nem lhe deu ouvidos. Talvez passar um ano e sete meses sem ver a mãe, somente por vídeos e fotos, tenha lhe deixado uma saudade enorme. E de alguma forma, ela estava amando ser chamada daquele jeito. Jamais querendo tomar o lugar de sua mãe, apenas não querendo vê-lo triste naquele momento.

Colocou o menininho no chão e depositou um beijinho em meio aos seus cabelos. O rostinho triste, enquanto lhe olhava se afastar. Um tiro doeria bem menos.Viu uma folha em branco na instante ao lado da porta e colocou seu número de telefone ali, com seu nome logo em baixo.

- Mamãe. - Léo a chamou antes que ultrapassasse a porta e ela o olhou com um sorrisinho. - Você volta logo?

- Volto, eu prometo. - Prometeu Maria vendo o menino sorrir e logo correr em sua direção, abaixou para receber um abraço do menino mais novo e o abraçou forte depositando um beijo em seus cabelos, logo saindo dali.

No caminho para casa, pensou sobre tudo o que havia acontecido em seu dia. Precisava muito saber de seu passado, seria possível que ela já tenha sido associada a uma sósia daquela artista? Por que ela não lembrava de nada? Por que não sabia quem era ela mesma? Tudo o que ela lembra é de ser acordada em uma casa completamente desconhecida, por um telefonema de uma senhora que lhe dizia para ir trabalhar. Após isso a mesma vem lhe ajudando em tudo o que é necessário. É assistente pessoal da mulher e pelo que entendeu, este era um cargo temporário.

Ao chegar em sua casa, que ao seu ver era bem confortável. Não era grande, mas estava ótimo só para ela. Pegou seu celular e abriu seu whatsapp, onde só havia o contato da senhora que vinha lhe ajudando e também era sua chefe.

Ela não tinha amigos?

Quanto mais prestava atenção nas coisas, mais achava tudo uma grande loucura. Afim de esfriar a cabeça, Levantou-se, colocou seu celular em seu bolso e saiu de casa novamente.

Novamente sob o olhar das pessoas e algumas tiravam suas fotos nada discretas, suspirou e apressou seus passos até o prédio perto dali. Subiu pelo elevador, até o último andar, onde ficava a sala de sua chefe e bateu na porta algumas vezes.

Não demorou a se atendida, a velha tinha uma expressão serena em seu rosto, como se já esperasse que ela fosse até ali.

- Olá querida, algum problema? Precisa de algo? - Questionou dando espaço para que passasse e assim ela o fez sentando-se na cadeira.

A senhora retornou ao seu lugar, sentou-se na cadeira atrás de sua mesa e colocou toda sua atenção na loira a sua frente.

- Na verdade eu tenho muitas dúvidas. - Comentou Maria vendo-a assentir, esperando que continuasse. - Por que eu não sei quem eu sou? Quem sou eu?

Talvez tenha soado desesperada e de alguma forma ela estava, era desesperador não saber seu nome, nem sua idade, se tinha uma família, se era sozinha.

- Eu não posso te responder isso, você precisa descobrir sozinha. - Concluiu a senhora em um tom calmo e com a mesma expressão, como se já esperasse por aquilo.

Como se fosse algo natural.

- A vida está te dando uma nova oportunidade. - Concluiu a mulher, tentando tirar a expressão decepcionada que tomava conta do rosto de Maria.

- O que quer dizer com isso? - Agora estava confusa. O que isso significa? Que ela esqueceu todo seu passado para poder recomeçar? Mas antes ela já parecia com essa tal artista? Ou ela era a tal artista tendo uma nova chance na terra?

- Você vai descobrir quando for a hora, se permita conhecer mais as pessoas. -Aconselhou a senhora tendo um suspiro cansado da loira a sua frente.

- Mas como eu vou descobrir quem eu sou, se eu não lembro de nada nem de ninguém? - Perguntou frustrada deixando que sua cabeça caísse sobre a mesa.

- Seu coração vai te mostrar, quando encontrar alguém em quem confie realmente, se abra sobre isso. Evite mentir ser alguém, se você não sabe quem você é. - A senhora aconselhou novamente vendo Maria ter toda atenção sobre ela. - E quando você perceber, logo logo você não terá apenas se encontrado. Outras coisas boas virão junto, é uma segunda chance que a vida esta te dando de ser feliz da melhor forma.

Maria sorriu para a senhora e assentiu levantando-se. Não havia entendido era nada do que aquela senhora estava falando, parecia um monte de enigma.

- Hoje eu conheci um garotinho. - Virou-se de repente ao lembrar do ocorrido e a mulher a olhou esperando que continuasse. - Ele ficava me chamando de mamãe e a moça que estava com ele, me falava sobre eu parecer com a mãe dele.

- Pelo que vejo, você está no caminho certo. - A mulher sorriu uma última vez voltando sua atenção aos papéis.

Maria colocou uma expressão confusa em seu rosto, porém, mesmo assim, virou-se e seguiu até a porta. O que ela queria dizer com "você está no caminho certo? Sentiu seu bolso tremer e pegou seu celular vendo mensagem de um número desconhecido.

{Desconhecido} :

- Oi, sou eu Maraísa.

- Vi que você deixou seu número aqui e te adicionei.

Então Maria responde :

- Oii, como tá o pequeno?

Maraísa :

- Acabou de dormir.

- Imagino que esteja cansado do dia de hoje!

- Te incomoda o Léo te chamar de mãe?

Maria :

- De forma alguma.

- Eu até gosto.

Maraísa :

- Aí que bom.

- Você quer fazer algo amanhã?

- Eu, você e ele?

Maria :

- Eu trabalho pela manhã.

- Então só tô disponível a partir das duas horas.

Maraísa :

- Então te vejo as duas no parque?

- O Léo já está morrendo de saudades.

Maria :

- Claro! 🙂

Se conheceram há um dia e já estavam marcando encontro como se conhecessem há meses. E para deixar tudo ainda mais irônico, era como se tivesse um filho.

E se ela realmente fosse essa cantora tendo outra segunda chance de ser feliz?

Na casa das gêmeas, Maraísa bloqueou o celular com um sorrisinho no rosto após a conversa com a loira. Estava tranquila com o encontro no dia seguinte, algo em seu coração lhe dizia que estava fazendo a coisa certa. Por um momento algo lhe afirmava com toda certeza do mundo, que aquela era sua Marília e algo não estava encaixando quando a loira se apresentava como "Maria."

            
            

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