Grita furioso e começa a chutar a porta que está quase caindo.
- Os seguranças estão subindo.
Alguém grita pro homem que solta uma sequencia raivosa de palavrões.
- Temos que matar essa vaca.
- Ela não viu nossa cara, então estamos bem. Vamos logo!
- Reza pra eu não cruzar com você, vadia!
Fala pra mim e escuto o som da correria no quarto. Agarro minhas pernas, não consigo mais chorar baixo e meu corpo todo treme. Tudo fica silencioso lá fora e tenho medo de sair. Medo de estarem me esperando e de levar um tiro na testa como o Jonny. Escuto batidas na porta e me encolho mais.
- Senhorita, consegue abrir a porta?
- Não!
Sussurro de volta, mas não sei se a pessoa me escutou.
- Senhorita, meu nome é Jerry e sou segurança do hotel. Consegue abrir a porta? Está seguro, já chamamos a polícia.
- Não consigo... me mexer...
Respondo mais alto e gaguejando. Me assusto quando a porta é derrubada e um homem bem moreno entra no banheiro. Seus olhos percorrem o local me procurando e quando me encontra, respira aliviado. É um dos seguranças que olhei na recepção.
- Está ferida?
Nego com a cabeça, mas permaneço travada no lugar.
- Consegue se levantar?
Em lágrimas nego novamente com a cabeça. Jerry sai do banheiro e volta com um cobertor. De forma protetora coloca em cima de mim, sem me tocar se ajoelha a minha frente.
- Sabe o que aconteceu no quarto?
Confirmo com a cabeça que sim.
- Esteve no banheiro enquanto o Sr. Silver era assassinado?
- Sim...
- Eles tentaram entrar pra te pegar?
- Sim...
- Você que ligou pra recepção pedindo ajuda?
Confirmo com a cabeça e o choro aumenta.
- Ele quase me matou.
Sussurro e sua mão repousa sobre a minha cabeça.
- Vai ficar tudo bem. A polícia já deve estar chegando e vai ficar segura.
**********
Dez minutos depois o quarto está tomado de policiais, estou sentada na cama encarando o corpo do Jonny no chão. Queria conseguir não olhar, mas é impossível. Alguns policiais parecem procurar alguma coisa no quarto, enquanto outros conversam com o segurança Jerry e me olham como se eu fosse a assassina.
- Srta. Victória Jones, certo?
Um dos homens que conversava com o segurança pergunta.
- Sim!
- A senhorita é...
Posso completar sua frase, mas estou querendo ver como ele me classifica. Vai mostrar muito o tipo de policial que é.
- Acompanhante do Sr. Silver.
Jerry completa por mim.
- Estava com ele nesse quarto no momento do crime.
- Gostaria que apenas a Srta. Jones respondesse minha pergunta.
O policial é grosseiro com Jerry, mas ele não se intimida. Senta ao meu lado como se fosse meu cão de guarda.
- Sou acompanhante de luxo e hoje Jonny Silver era meu cliente.
Digo firme e tomada por uma coragem assustadora. Talvez seja coragem de enfrentar pessoas como esse policial de olhar julgador.
- Poderia me contar o que fizeram até o momento em que o Sr. Silver foi assassinado?
- Qual o nome do senhor?
- Phil!
- Jonny me contratou para acompanhá-lo em um evento aqui perto. Passamos cerca de meia hora no local e depois decidiu vir para o hotel.
- Apenas meia hora no evento? Acho que tinha pressa em ficar a sós com você.
- Jonny estava incomodado com um assunto chato da festa e decidiu vir embora. Em nada meu corpo teve culpa em sua rapidez no evento.
- Incomodado?
- Sim!
- Qual era o assunto?
- Sua prisão e sua soltura rápida.
- Só isso?
Questiona e algo em mim diz pra me calar sobre o resto. Não sei em quem confiar. Pode ser que a pessoa que matou o Jonny tenha informantes.
- Acho que sim! Não somos pagas pra ouvir essas conversas, eles nos afastam desses assuntos.
O policial me analisa toda.
- Você tem algum namorado ciumento, algum cafetão, algum cobrador de dividas?
- Não!
- Ninguém que pudesse invadir um quarto onde esteja com um cliente e usá-lo pra pagar suas dividas?
- Por que eu devo ser a responsável pela morte do Jonny e não ele mesmo? É mais fácil ele ter inimigo do que eu!
O policial se cala e anda pelo quarto.
- Não gostei dele.
Jerry diz perto do meu ouvido.
- Também não!
- Tenho um amigo que trabalha na policia, vou pedir ajuda dele.
Sai de perto de mim e sai do quarto com o telefone no ouvido.
***********
DUAS HORAS DEPOIS
Finalmente vou sair desse quarto e parar de olhar o corpo do Jonny no chão. Jerry conseguiu ajuda de seu amigo e vão me levar a delegacia de homicídios. Saio do quarto enrolada em uma coberta e entramos no elevador. Jerry está ao meu lado, seu amigo policial a minha frente e descemos para o térreo. As portas do elevador se abrem e vejo uma multidão na porta de vidro do hotel.
- A imprensa já soube da morte do Jonny.
Jerry resmunga e aperta o botão do subsolo.
- Vamos sair pelo estacionamento, evitamos que tirem foto da Victória. Temos que preservá-la o quanto der.
Saímos para o estacionamento e Jerry me para no meio de um dos corredores.
- Cobre o rosto.
Pede e me ajuda a puxar o cobertor.
- Jerry, pode levá-la em seu carro? Vou sair com a viatura e chamar atenção desses abutres. Vem em seguida com seu carro e me encontra na delegacia.
- Perfeito!
Ele segue para a viatura e caminho com o Jerry até o carro dele.
- Obrigada por me ajudar e me proteger.
Digo e ele sorri pra mim.
- Minha irmã é acompanhante. Só estou te protegendo como eu gostaria que a protegessem.
Abre a porta do seu carro e me pede pra entrar no banco de trás e me abaixar. Faço o que me pede e não vejo mais nada, apenas sinto o carro entrar em movimento. Escuto o barulho da rua e das pessoas, mas não me mexo. Sinto o carro se mover mais rápido e meu celular na bolsa começa a tocar. Pego ele escondida e vejo um número restrito.
- Alô!
- Oi, vadia!
A voz do homem que matou o Jonny faz meu corpo gelar. Me descubro e olho para o Jerry.
- O que foi?
Pergunta e cubro o telefone com a mão.
- É o homem que matou o Jonny.
- Te mandei não cruzar de novo meu caminho.
Diz e em segundos a viatura do amigo do Jerry a nossa frente passa um cruzamento e é atingida por outro carro.
- Meu Deus!
Jerry grita e escuto a risada do homem no telefone.
- Adeus, vadia!