A TESTEMUNHA
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Capítulo 4 4

O que esse homem tem de lindo, tem de idiota.

- Não! Eu sou "A MULHER" que estava no quarto do hotel com o Jonny.

Digo furiosa e usando um tom mais forte em uma certa parte da frase pra que veja o quanto foi indelicado.

- A mídia disse garota de programa.

Levanto do chão unindo o resto de dignidade depois de vomitar com as forças que me restam. Apoio a mão na parede e olho o grande homem a minha frente.

- Tão bonito e tão alienado ao que a mídia diz. Uma visão linda por fora, mas tudo oco por dentro. Devia parar de malhar em frente a televisão e ler mais livros.

Enquanto caminho pra fora do banheiro e passo por ele, posso ver seu sorriso de canto. Força nas pernas pra não amolecer com esse risinho, Victória!

- Quero ir embora!

Peço ao Jerry, assim que fico de frente pra ele.

- Ir embora pra onde? Acabou de dizer que o cara que matou o Jonny tentou te pegar.

- Quero ir embora daqui, depois me viro pra achar um lugar.

- Victória, aqui é o lugar mais seguro do mundo agora, vai por mim.

Sinto algo atrás de mim e meu corpo todo trava, sentindo um calor absurdo.

- Você precisa de ajuda!

- Por isso quero ir embora. Aqui eu sei que não terei ajuda, mas sim julgamento.

Viro e firmo meus olhos nos do homem lindo que me olha intensamente.

- Sou uma acompanhante de luxo, durmo com meus clientes quando eu quero e não quando eles querem. Eu decido se a noite termina na cama ou se apenas farei literalmente companhia.

Sua cabeça tomba e o filho da mãe devolve o olhar firme.

- Garota de programa cara que pode escolher o cara com quem vai dormir.

- Muito músculo e pouco cérebro. Uma pena mesmo.

Volto a olhar para o Jerry.

- Se não me tirar daqui, eu mesma saio pela porta e vou embora.

- Pode pelo menos nos ouvir? Depois escolhe o que fazer.

- Eu vou fazer uma bebida.

O idiota musculoso passa por mim esbarrando em meu corpo e some, me fazendo respirar fundo.

- Erick não é um idiota forte!

Jerry tenta defender o amigo e passa a mão pela cabeça.

- Vai entender um pouco da raiva dele agora. Vem comigo!

Pega minha mão e me leva com calma por um corredor, até chegar em uma cozinha. O tal Erick está fazendo sua bebida e apenas ergue os olhos para nós.

- Vão querer?

- Não!

Respondo e evito olhá-lo.

- Também não quero.

Jerry me coloca em um banquinho de frente pro amigo dele e quando percebo que o idiota me olha sem qualquer vergonha, resolvo encará-lo também. Ergue o copo até sua boca e toma a bebida, sem deixar de me olhar. Abaixa o copo e lambe os lábios, recolhendo o resto da bebida que ficou.

- Como ainda está viva? Muito estranho um cara que tem a capacidade de passar por seguranças, invadir um quarto de hotel e matar o Jonny, ir embora sem ser preso e você estar sem nenhum arranhão.

- Estava trancada no banheiro quando ele invadiu o quarto e fez o que fez. Enquanto tentava me pegar, invadir o banheiro, liguei na recepção do hotel e pedi ajuda.

- Como tinha o telefone da recepção?

- Quando seu trabalho te expõe a violências de vários tipos, é preciso ter em mãos algum tipo de segurança. Jonny estava alterado quando chegamos ao hotel e sabia que poderia se tornar violento comigo. A primeira coisa que fiz, antes de ir com ele para o quarto foi pegar o telefone da recepção do hotel.

- Esperta!

- Não é uma questão de esperteza, mas sim de sobrevivência. Aprendemos com o tempo e com os erros a cuidar da gente.

Olho no fundo dos olhos azuis lindo dele.

- O fato de vender sexo com o meu corpo não dá o direito da outra pessoa de usá-lo como saco de pancadas. O fato de terem comprado sexo comigo, não dá o direito de ultrapassar meus limites, minhas regras. E o fato de ser uma acompanhante de luxo, não me torna menos merecedora de respeito, de educação.

- Indireta pra mim?

Pergunta com um sorriso irônico no rosto.

- Não! Isso foi uma direta mesmo, no meio das suas bolas julgadoras. O que eu faço ou deixo de fazer com o meu corpo, com a minha vida, não me torna menos mulher, menos digna.

- Não me importo com seu corpo e o que faz com ele. Não sou eu que preciso de você, acho que é o oposto aqui. Aparentemente sua vida está em perigo e o Jerry acha que posso te manter viva.

Nós dois olhamos para o Jerry que parece sem saber o que fazer em meio a nossa discussão.

- Apenas me escutem e calem a boca.

Fala e vira pra mim.

- Jonny é investigado por lavagem de dinheiro e há alguns meses vem sendo vigiado.

- Eu sei! Ele chegou a ser preso. Dizem que entregou todo mundo.

Digo e os dois se olham como se soubesse muito sobre isso.

- Jerry!

O chamo e ele volta a olhar pra mim.

- Assim que Jonny foi solto, a polícia queria colocá-lo em proteção, mas o infeliz não aceitou. A única saída era colocar policiais disfarçados em torno dele.

Abre um sorriso quadrado e assume uma expressão de culpado.

- Jonny passou a morar naquele hotel e policiais viraram seguranças ali, para protegê-lo.

- Você é um policial?

Ele confirma com a cabeça.

- Imagino que você também.

Olho para o tal Erick que vira sua bebida toda, mas não responde.

- Erick está afastado.

Jerry comenta e volto a olhá-lo.

- É importante que eu saiba o por que?

Pergunto e o vejo respirar fundo.

- Erick era o responsável pela investigação do caso de lavagem na empresa do Jonny.

Jerry diz e seu amigo se afasta de nós.

- Se você é policial, porque não falou quando chegou no quarto do hotel? Por que aqueles policiais não disseram que você também era um deles?

- Porque somos de comandos diferentes. Não somos policiais de delegacia, como os que apareceram na cena do crime. Trabalhamos com crime organizado.

- O seu amigo Luke que sofreu o acidente também é da área de vocês?

- Sim! Como você foi testemunha do assassinato do Jonny, cabeça principal da nossa investigação, achei importante te proteger. Aqueles idiotas seriam capazes de te colocar como culpada na morte dele.

- Seu amigo idiota também me colocaria.

Sussurro e posso ouvir um rosnar do Erick, que me faz sorrir.

- Quem matou o Jonny queria calá-lo, antes que ele fosse na frente do juiz confirmar seu depoimento.

- Então sua investigação foi por água abaixo. Sem o Jonny vocês não possuem o cabeça de tudo, o delator.

- Temos o depoimento dele gravado, que será avalidado após o assassinato dele ser resolvido. Se for comprovado que a pessoa que o matou está ligado a quem ele entregou, tudo estará perfeito.

- A policia que estava no hotel não parecia empenhada em descobrir o assassino.

- Por isso você é importante, Victória. Você agora é a chave para tudo.

- Eu?

Questiono assustada e um riso nervoso escapa de mim.

- Você pode nos ajudar a chegar até o assassino.

- Mas eu não sei quem ele é ou como ele é. Não vi rosto, não vi corpo, não vi nada. A única coisa que conheço dele, porque está gravado na minha cabeça é a voz.

- Não chegou a ver nada?

- Não, passei o tempo todo trancada no banheiro e ele não entrou.

- Você disse que ele te achou no meio do acidente e tentou te pegar.

- Sim, mas foi por trás. Falou algumas merdas no meu ouvido e tentou me arrastar, mas com tanta gente acabei me soltando.

- Merda! Fica difícil assim.

- Ela é uma testemunha sem importância.

Erick diz e olha para o Jerry.

- Não sabe de nada, não viu nada, não reconhece ninguém.

Diz todo irônico e isso me irrita muito.

- Zach!

Digo ao me lembrar do nome que ouvi na festa. Os dois se olham como se esse nome fosse muito importante.

- Na festa um dos homens que estava conversando com o Jonny comentou que ele fez merda entregando o Zach.

- Ela ouviu eles falarem do Zach.

Jerry fala empolgado e Erick se aproxima.

- O que mais ouviu?

Pergunto e balança a cabeça de forma negativa.

- Jonny ficou bravo e foi nessa hora que fomos embora.

Erick volta a olhar para o Jerry.

- Continua sendo uma testemunha sem utilidade.

Que vontade de tacar o copo que usava no meio da testa dele.

- O homem que matou o Jonny tinha três letras tatuadas no braço.

Pude ver pelo buraco da fechadura, enquanto ele atirava. Digo ao me lembrar e volto a ganhar a atenção dos dois.

- Quais letras?

Erick pergunta curioso.

- Vou contar apenas ao Jerry, não confio em você.

Seu olhar de ódio é tão sexy. Causar sua raiva é excitante. Viro para o Jerry que parece ansioso em ouvir.

- Não quero que diga as letras, mas apenas me confirme se significam algo.

Vou até seu ouvido e sussurro as letras pausadamente.

- P... G... J...

Jerry se afasta e seus olhos arregalados encaram os meus.

- Tem certeza que viu essas iniciais?

- Sim!

- Certeza?

- Sim!

- Porra!

Se afasta e passa a mão pela cabeça.

- Ela viu a sigla deles?

Erick pergunta e Jerry confirma com a cabeça.

- Ela não é uma testemunha sem importância. Victória pode reconhecer o braço direito do Zach, o matador dele.

            
            

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