Enquanto caminho pra fora do banheiro e passo por ele, posso ver seu sorriso de canto. Força nas pernas pra não amolecer com esse risinho, Victória!
- Quero ir embora!
Peço ao Jerry, assim que fico de frente pra ele.
- Ir embora pra onde? Acabou de dizer que o cara que matou o Jonny tentou te pegar.
- Quero ir embora daqui, depois me viro pra achar um lugar.
- Victória, aqui é o lugar mais seguro do mundo agora, vai por mim.
Sinto algo atrás de mim e meu corpo todo trava, sentindo um calor absurdo.
- Você precisa de ajuda!
- Por isso quero ir embora. Aqui eu sei que não terei ajuda, mas sim julgamento.
Viro e firmo meus olhos nos do homem lindo que me olha intensamente.
- Sou uma acompanhante de luxo, durmo com meus clientes quando eu quero e não quando eles querem. Eu decido se a noite termina na cama ou se apenas farei literalmente companhia.
Sua cabeça tomba e o filho da mãe devolve o olhar firme.
- Garota de programa cara que pode escolher o cara com quem vai dormir.
- Muito músculo e pouco cérebro. Uma pena mesmo.
Volto a olhar para o Jerry.
- Se não me tirar daqui, eu mesma saio pela porta e vou embora.
- Pode pelo menos nos ouvir? Depois escolhe o que fazer.
- Eu vou fazer uma bebida.
O idiota musculoso passa por mim esbarrando em meu corpo e some, me fazendo respirar fundo.
- Erick não é um idiota forte!
Jerry tenta defender o amigo e passa a mão pela cabeça.
- Vai entender um pouco da raiva dele agora. Vem comigo!
Pega minha mão e me leva com calma por um corredor, até chegar em uma cozinha. O tal Erick está fazendo sua bebida e apenas ergue os olhos para nós.
- Vão querer?
- Não!
Respondo e evito olhá-lo.
- Também não quero.
Jerry me coloca em um banquinho de frente pro amigo dele e quando percebo que o idiota me olha sem qualquer vergonha, resolvo encará-lo também. Ergue o copo até sua boca e toma a bebida, sem deixar de me olhar. Abaixa o copo e lambe os lábios, recolhendo o resto da bebida que ficou.
- Como ainda está viva? Muito estranho um cara que tem a capacidade de passar por seguranças, invadir um quarto de hotel e matar o Jonny, ir embora sem ser preso e você estar sem nenhum arranhão.
- Estava trancada no banheiro quando ele invadiu o quarto e fez o que fez. Enquanto tentava me pegar, invadir o banheiro, liguei na recepção do hotel e pedi ajuda.
- Como tinha o telefone da recepção?
- Quando seu trabalho te expõe a violências de vários tipos, é preciso ter em mãos algum tipo de segurança. Jonny estava alterado quando chegamos ao hotel e sabia que poderia se tornar violento comigo. A primeira coisa que fiz, antes de ir com ele para o quarto foi pegar o telefone da recepção do hotel.
- Esperta!
- Não é uma questão de esperteza, mas sim de sobrevivência. Aprendemos com o tempo e com os erros a cuidar da gente.
Olho no fundo dos olhos azuis lindo dele.
- O fato de vender sexo com o meu corpo não dá o direito da outra pessoa de usá-lo como saco de pancadas. O fato de terem comprado sexo comigo, não dá o direito de ultrapassar meus limites, minhas regras. E o fato de ser uma acompanhante de luxo, não me torna menos merecedora de respeito, de educação.
- Indireta pra mim?
Pergunta com um sorriso irônico no rosto.
- Não! Isso foi uma direta mesmo, no meio das suas bolas julgadoras. O que eu faço ou deixo de fazer com o meu corpo, com a minha vida, não me torna menos mulher, menos digna.
- Não me importo com seu corpo e o que faz com ele. Não sou eu que preciso de você, acho que é o oposto aqui. Aparentemente sua vida está em perigo e o Jerry acha que posso te manter viva.
Nós dois olhamos para o Jerry que parece sem saber o que fazer em meio a nossa discussão.
- Apenas me escutem e calem a boca.
Fala e vira pra mim.
- Jonny é investigado por lavagem de dinheiro e há alguns meses vem sendo vigiado.
- Eu sei! Ele chegou a ser preso. Dizem que entregou todo mundo.
Digo e os dois se olham como se soubesse muito sobre isso.
- Jerry!
O chamo e ele volta a olhar pra mim.
- Assim que Jonny foi solto, a polícia queria colocá-lo em proteção, mas o infeliz não aceitou. A única saída era colocar policiais disfarçados em torno dele.
Abre um sorriso quadrado e assume uma expressão de culpado.
- Jonny passou a morar naquele hotel e policiais viraram seguranças ali, para protegê-lo.
- Você é um policial?
Ele confirma com a cabeça.
- Imagino que você também.
Olho para o tal Erick que vira sua bebida toda, mas não responde.
- Erick está afastado.
Jerry comenta e volto a olhá-lo.
- É importante que eu saiba o por que?
Pergunto e o vejo respirar fundo.
- Erick era o responsável pela investigação do caso de lavagem na empresa do Jonny.
Jerry diz e seu amigo se afasta de nós.
- Se você é policial, porque não falou quando chegou no quarto do hotel? Por que aqueles policiais não disseram que você também era um deles?
- Porque somos de comandos diferentes. Não somos policiais de delegacia, como os que apareceram na cena do crime. Trabalhamos com crime organizado.
- O seu amigo Luke que sofreu o acidente também é da área de vocês?
- Sim! Como você foi testemunha do assassinato do Jonny, cabeça principal da nossa investigação, achei importante te proteger. Aqueles idiotas seriam capazes de te colocar como culpada na morte dele.
- Seu amigo idiota também me colocaria.
Sussurro e posso ouvir um rosnar do Erick, que me faz sorrir.
- Quem matou o Jonny queria calá-lo, antes que ele fosse na frente do juiz confirmar seu depoimento.
- Então sua investigação foi por água abaixo. Sem o Jonny vocês não possuem o cabeça de tudo, o delator.
- Temos o depoimento dele gravado, que será avalidado após o assassinato dele ser resolvido. Se for comprovado que a pessoa que o matou está ligado a quem ele entregou, tudo estará perfeito.
- A policia que estava no hotel não parecia empenhada em descobrir o assassino.
- Por isso você é importante, Victória. Você agora é a chave para tudo.
- Eu?
Questiono assustada e um riso nervoso escapa de mim.
- Você pode nos ajudar a chegar até o assassino.
- Mas eu não sei quem ele é ou como ele é. Não vi rosto, não vi corpo, não vi nada. A única coisa que conheço dele, porque está gravado na minha cabeça é a voz.
- Não chegou a ver nada?
- Não, passei o tempo todo trancada no banheiro e ele não entrou.
- Você disse que ele te achou no meio do acidente e tentou te pegar.
- Sim, mas foi por trás. Falou algumas merdas no meu ouvido e tentou me arrastar, mas com tanta gente acabei me soltando.
- Merda! Fica difícil assim.
- Ela é uma testemunha sem importância.
Erick diz e olha para o Jerry.
- Não sabe de nada, não viu nada, não reconhece ninguém.
Diz todo irônico e isso me irrita muito.
- Zach!
Digo ao me lembrar do nome que ouvi na festa. Os dois se olham como se esse nome fosse muito importante.
- Na festa um dos homens que estava conversando com o Jonny comentou que ele fez merda entregando o Zach.
- Ela ouviu eles falarem do Zach.
Jerry fala empolgado e Erick se aproxima.
- O que mais ouviu?
Pergunto e balança a cabeça de forma negativa.
- Jonny ficou bravo e foi nessa hora que fomos embora.
Erick volta a olhar para o Jerry.
- Continua sendo uma testemunha sem utilidade.
Que vontade de tacar o copo que usava no meio da testa dele.
- O homem que matou o Jonny tinha três letras tatuadas no braço.
Pude ver pelo buraco da fechadura, enquanto ele atirava. Digo ao me lembrar e volto a ganhar a atenção dos dois.
- Quais letras?
Erick pergunta curioso.
- Vou contar apenas ao Jerry, não confio em você.
Seu olhar de ódio é tão sexy. Causar sua raiva é excitante. Viro para o Jerry que parece ansioso em ouvir.
- Não quero que diga as letras, mas apenas me confirme se significam algo.
Vou até seu ouvido e sussurro as letras pausadamente.
- P... G... J...
Jerry se afasta e seus olhos arregalados encaram os meus.
- Tem certeza que viu essas iniciais?
- Sim!
- Certeza?
- Sim!
- Porra!
Se afasta e passa a mão pela cabeça.
- Ela viu a sigla deles?
Erick pergunta e Jerry confirma com a cabeça.
- Ela não é uma testemunha sem importância. Victória pode reconhecer o braço direito do Zach, o matador dele.