ME APAIXONEI POR VOCÊ
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Capítulo 3 3

Abro mais uma vez os arquivos para ter certeza que salvei certo. É a coisa mais fácil e idiota do mundo pra mim, engenheiro da computação, mas isso aqui é tão importante agora, que não posso falhar. Hoje devolvo o trabalho realizado para a empresa e não vou ter mais acesso à lista de pessoas que receberam os órgãos da Sabrina. Levo um enorme susto quando a campainha toca, só pode ser o Tadeu. Recolho tudo, enfio o pen drive no bolso e arrumo as pastas que ele precisa levar. Impaciente ele bate na porta e me chama várias vezes reclamando da demora e do calor.

Tento não parecer nervoso por roubar informações sigilosas do hospital, que pode causar minha demissão e provavelmente um processo criminoso. Abro a porta e Tadeu entra rápido, indo direto pra frente do meu ventilador.

- Eu te odeio muito por me fazer sair do ar condicionado da empresa. Uma hora eu desisto de te ajudar e te obrigo a sair daqui.

Fecho a porta e já vou pra cozinha buscar um enorme copo de água gelada pra ele.

- Fez tudo?

- Sim, está em cima da mesa!

Respondo e pego a jarra com água da geladeira e um copo grande no armário.

- Trouxe mais quatro pastas.

- Deixa na mesa.

- Por que você tem impresso uma lei sobre doação de órgãos?

Que merda! Esqueci de guardar a lei que imprimi pra ler. Volto rápido pra sala, dou a água para o curioso e arranco de sua mão a lei.

- Estava na minha gaveta, usei quando precisei autorizar a doação dos órgãos da Sabrina.

Abro a gaveta da minha mesa e jogo os papeis dentro, fechando em seguida.

- Que susto! Por um minuto imaginei que estava pensando em suicídio e uma forma de deixar tudo certo para ser doador.

- Se alguma coisa acontecer comigo, já tem tudo orientado nos meus documentos que sou doador. E quanto ao suicídio...

Dou de ombro, porque muitas vezes me peguei pensando em formas rápidas e sem dor de acabar com tudo.

- Já pensou em tirar a própria vida?

- O que acha? Pensa um pouco, olha a minha vida e me diz se vale a pena ainda ficar aqui.

- Felipe, você nunca conversou assim comigo e estou ficando preocupado.

- Você nunca me perguntou nada sobre esse assunto.

Vou para o sofá e sento nele, jogando minhas costas no encosto e deitando minha cabeça que parece que vai explodir. Fecho meus olhos e respiro fundo, ouvindo os passos do Tadeu se aproximando.

- Você precisa de ajuda!

Ignoro-o e volto a puxar o ar com força pra dentro de mim, soltando em seguida.

- Posso trazer ajuda até você.

Abro um olho e o vejo de pé a minha frente, me olhando com medo e pena.

- Vai trazer minha família de volta?

- Sabe que não posso.

- Então você não tem como me trazer ajuda.

- Ajuda profissional, pra você aceitar o luto.

- Aceitar o luto?

Pergunto irônico e começo a rir.

- Já perdeu alguém próximo, Tadeu?

Sento direito, mantendo os olhos nele.

- Perdi minha avó faz uns três anos.

- Espera, vou reformular a pergunta.

- Você já perdeu alguém de forma inesperada, alguém que não seguiu o curso natural da vida?

- Não!

- Você conhece a saudade que o luto trás, mas nunca sentiu a perda, a sensação de vazio, de impotência, a raiva pela forma como aconteceu e o medo da solidão.

- Por isso mesmo que você precisa de ajuda, pra poder entender tudo isso.

Senta do meu lado e ainda mantém o olhar com pena em mim.

- Não podemos trazer seus pais e muito menos a Sabrina de volta, mas você pode encontrar novas pessoas que te façam se sentir vivo, feliz, que ajude a preencher o vazio.

- Não tem como preencher o vazio de uma pessoa, com outra pessoa.

Encaro minhas mãos e parece absurdo o que andei pensando esses dias, mas quem sabe o Tadeu me entenda e acredite na mesma coisa.

- Você acha que...

Perco a coragem de perguntar, por que pode ser algo muito idiota. Será que estou ficando louco?

- Continua!

Tadeu pede e passo a mão pelos meus cabelos, tentando colocar as coisas em ordem na minha cabeça.

- O que está acontecendo, Felipe?

Levanto do sofá e caminho pela sala sem rumo algum, só tentando não surtar.

- Solta!

Paro de andar e foco nele.

- Você acha possível que a pessoa que recebeu o órgão de quem faleceu, carregue junto alguma lembrança da vida dela?

- Não entendi!

- O órgão que a pessoa recebeu, se ele leva junto lembranças da vida de quem se foi?

- Felipe, que assunto louco é esse?

- Eu sei! Não faz sentido algum, mas...

Bufo cansado me sentindo um idiota.

- O coração que bate em um novo peito agora poderia se lembrar ou carregar o afeto de quem antes era seu dono? A pele que antes foi tocada por mim, reconheceria meu toque estando em outra pessoa?

- Espera!

Tadeu levanta e faz cara de quem descobriu o enigma do mundo.

- Por isso a lei sobre doadores de órgãos.

Vai rápido até a mesa e vasculha as pastas. Pega a do hospital e tira tudo de dentro dela.

- Foi nesse hospital que sua irmã morreu?

- Foi!

Respondo baixo e ele continua mexendo em tudo.

- Foi aqui que retiraram os órgãos e decidiram quem seriam as pessoas que receberiam?

- Sim!

- Caralho, Felipe!

Diz nervoso, bravo, revoltado, não sei dizer ao certo como ele está agora.

- Me diz que você não copiou os arquivos do hospital que falava da sua irmã e dos órgãos doados.

Não respondo e Tadeu solta uma sequência bem grande de palavrões.

- Isso vai dar uma enorme merda.

- Eu só copiei, não fiz mais nada.

Ele passa a mão no rosto e quase arranca os cabelos.

- Você não vai usar esses dados, vai me prometer que vai apagar o que tem.

- Não posso!

- Felipe, que merda você vai fazer com essas informações?

- Ainda não sei! Talvez procurar saber se deu certo a doação, se a pessoa está bem.

- Só isso?

- Eu não sei!

Tadeu vem em minha direção, focando os olhos no fundo dos meus.

- Depois das perguntas insanas que me fez agora pouco, acho que sabe muito bem o que quero fazer.

Meu coração acelera, minhas mãos tremem e sinto os olhos se enchendo de lágrimas.

- Sabia!

Diz com a voz baixa e seus ombros que antes estavam erguidos imponentes, se abaixam em sinal de paz. Seus olhos não parecem mais irritados sobre mim e voltam a ter pena.

- O que você quer fazer é loucura e sabe disso.

- Talvez seja uma loucura, mas eu preciso saber.

- O que você quer saber?

Uma lágrima solitária escorre pelo meu rosto e limpo rápido.

- Me diz o que você quer com isso tudo?

- Quero saber se ainda existe um pedacinho dela aqui comigo. Não um pedaço de órgãos, mas um pedaço da minha irmã, uma lembrança, qualquer coisa.

- Órgãos não carregam lembranças, Felipe!

- Me deixa pensar que sim! Me deixa acreditar que talvez eu encontre novamente um motivo pra viver. Se Deus realmente existe, vai entender meu desespero, atender o desejo do meu coração e vou encontrar um pedaço da Sabrina em uma dessas pessoas que ela ajudou.

Muitas lágrimas descem pelo meu rosto e já não consigo mais limpar todas.

- Ele me deve isso!

            
            

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