ME APAIXONEI POR VOCÊ
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Capítulo 4 4

NARRAÇÃO TADEU

Encaro o homem destruído a minha frente. Felipe perdeu muito peso nesse ano, está tão magro que posso ver os buracos que se formam em suas clavículas. Sua pele branca se tornou pálida pela falta de sol e em torno de seus olhos está tudo escuro, mostrando bem suas insônias. Sua barba está grande, quase escondendo sua boca. Não lembra em nada meu amigo que antes adorava se cuidar, tinha o rosto sem pelos e um sorriso enorme. Felipe era o tipo de cara que toda menina procura na balada. Boa pinta, olhar sedutor, sorriso encantador, cabelo liso escuro, com jogada lateral e tímido. Tinha o porte físico bom para seu quase 1,80m e olhos escuros e cheios de segredos.

- Não posso deixar você fazer uma loucura dessas.

Digo e seu choro diminui um pouco, enquanto tenta secar as lágrimas.

- Eu preciso! É a primeira vez desde que a Sabrina foi embora que eu sinto esperança, vontade de sair daqui.

Respira fundo pra acalmar a dor no peito.

- Estou apavorado por ter que sair, mas cheio de uma esperança que me faz bem. Não sei explicar, só sei que estou me agarrando a uma chance de encontrar motivo pra ainda viver.

Não posso simplesmente tirar dele isso, essa esperança, sabendo que posso condená-lo a viver isso aqui para sempre. Só que também não posso deixá-lo cometer uma loucura dessas guiado por sua dor.

- Felipe, não posso permitir que saia pra cometer uma loucura dessas sozinho.

- Tadeu, você precisa...

- Só me escute!

Interrompo e ganho sua atenção.

- Vou com você em todas as suas saídas pra encontrar essas pessoas. Quero ficar por perto, pra ter certeza que não vai afetar a vida daqueles que receberam um pedaço da Sabrina.

- Não precisa fazer isso, não quero ser um peso pra ninguém. Não vou fazer nada de errado.

- Você não está entendendo! Não estou pedindo para ir, estou dizendo que só vai sair por aquela porta pra cometer essa loucura se for comigo. Caso contrário vou dar um jeito de te impedir legalmente.

- Não faria isso!

- Faria! Para o seu próprio bem eu faria. Não por punição, mas por proteção. Não sei o quanto ter acesso a essas pessoas pode mexer com você, por isso vou estar ao seu lado. Impedindo também que afete a vida deles.

Felipe se afasta e começa a andar pela sala.

- Quero conversar com essas pessoas.

Fala e me olha esperando que eu diga alguma coisa.

- Quero ver se encontro algo da Sabrina nelas e só tendo contato pra saber.

Isso não vai dar certo! Vai ser uma grandiosa merda!

- Felipe, não acho isso bom! Se uma dessas pessoas descobre sua ligação com a doadora, pode muito bem surtar ou até mesmo te processar. E se descobre suas intenções na aproximação, pode causar um dano psicológico.

Pego meu celular e tento achar alguma coisa que fale sobre isso na internet. Encontro um artigo e começo a ler.

"Riscos

Emocionais: Parentes de pessoas que doaram órgãos podem buscar no transplantado vínculos afetivos e emocionais por acreditarem que há um prolongamento da vida do ente falecido. Por outro lado, o transplantado pode ter sentimento de culpa pela morte.

Financeiros: Receptores podem criar relações de dependência com a família do transplantado, dando presentes e dinheiro.

Psicológicos: Confusões de identidade podem se desenvolver"

Felipe não diz nada e fica olhando para sua mesa como se ele tivesse alguma coisa importante nela. Algo me diz que tem e só pode ser nome e endereço das pessoas transplantadas. Vou até a mesa e procuro por essas informações. Abro a gaveta e tem uma pasta com o nome Sabrina. Olho para o meu amigo que abaixa a cabeça, como se estivesse se enfiando na escuridão da sua dor. Fico dividido com tudo isso, sei que Felipe precisa de ajuda, mas não acredito que seja essa a forma correta de ajudá-lo. Esse cara nunca vai aceitar sair daqui para encontrar uma ajuda profissional.

- Você já leu tudo isso?

Pergunto e sua cabeça se move de forma negativa.

- Não chegou a olhar nada?

- Nada!

Saio de perto da mesa e dele, indo para uma poltrona no canto da sala. Sento nela e o observo vir para o sofá a minha frente.

- Essas são fichas médicas dos pacientes que receberam os órgãos e que tirou do arquivo do hospital?

- Sim!

- Sabe que algumas pessoas podem ter mudado de endereço, certo?

- Sim!

- Sabe que algumas pessoas podem ter rejeitado o órgão e falecido, certo?

- Por isso não olhei nada. Tive medo de ver que alguém morreu por não conseguir ficar com uma parte da Sabrina.

Abro a pasta e vejo que possui muitos arquivos grampeados individualmente. Tortura demais percorrer tudo isso em busca de alguém que já se foi. Sei que ele nunca encontrará a irmã nessas pessoas, mas Felipe quer acreditar nisso. Preciso de alguma forma converter esse desejo dele em algo positivo, mesmo que tudo seja errado.

- Não posso te impedir de fazer uma loucura dessas.

Seus olhos tristes me encaram.

- Também não posso deixar que faça isso sozinho.

Felipe abre um pequeno sorriso.

- Você não vai atrás de todas essas pessoas, vou selecionar no máximo cinco e te acompanho nessa loucura.

- Não precisa fazer isso por mim!

- Preciso! Por mais que você não consiga entender, não está sozinho no mundo Felipe. Posso não ser seus pais e muito menos a sua irmã, mas sou seu amigo e não vou te deixar, mesmo quando for preso. Vamos pra cadeia juntos e espero pelo menos que os jornais sejam carinhosos ao nos chamar de "perseguidores de órgãos".

- Belo apelido pra gente.

- Sim! Se formos presos vamos alegar insanidade, mesmo que só você seja louco aqui.

Acho que é o primeiro sorriso que ele dá desde que Sabrina se foi.

- Obrigado!

- Vou selecionar as pessoas que vamos atrás, ver os endereços e começamos a perseguição dos órgãos esse fim de semana.

- Certo!

- Precisa me prometer uma coisa.

- O que?

- Já que vai sair pra procurar o que não deve, vai buscar seu trabalho na empresa, porque não vou vir mais aqui. Só virei pra te pegar no fim de semana.

- Mas eu...

- Nem vem fazer drama, vai buscar seu trabalho e se queimar no inferno lá fora um pouco.

Levanto do sofá e enfio a pasta no meio do braço.

- Te vejo amanhã na empresa.

Ele resmunga e acho até que rosna um pouco, mas não me importo. Felipe pode me odiar o que for, desde que saia dessa casa e dessa escuridão toda.

- Esse assunto fica entre nós, por favor.

Pede enquanto caminhamos até a porta.

- Acha mesmo que vou contar essa loucura pra alguém?

Abre a porta e segura meu braço.

- Coração e córneas!

Fala com a voz embargada.

- Esses dois eu preciso ter acesso.

- Tem certeza?

- Sim!

- Certo! Começamos pelo coração e fechamos com os olhos. Depois desses cinco você esquece essa história de órgãos com lembranças.

- Combinado!

- Tchau!

Saio da casa do Felipe e vou para o meu carro. Assim que sento no banco e estou realmente sozinho, procuro pelas pessoas que receberam o coração e as córneas. Encontro a ficha da mulher que agora carrega o coração da Sabrina, se claro o transplante deu certo. Vasculho mais um pouco e encontro a outra mulher que agora enxerga o mundo graças às córneas da Sabrina. Agora só preciso descobrir se continuam no mesmo endereço e se tudo deu certo com o transplante.

            
            

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