Capítulo 4 EU NÃO POSSO

NARRAÇÃO PATRÍCIA

Vejo a ambulância seguir para o hospital e sei que Ricardo vai para cirurgia. Vou para casa tomar um banho e manter contato com o hospital sobre ele. Olho Bento ao meu lado e seus olhos estão brilhando para mim. Sei que nutre um desejo por mim, mas não sinto nada por ele. É um bom amigo, mas estou focada no meu trabalho ultimamente.

- Patrícia você é incrível, não sei de onde tira essa força e garra para salvar a vida dos outros assim. Você tem noção que puxou de um carro um homem de aproximadamente 1.90mts de altura e que deve ter uns 85kg?

- Bento, na hora a adrenalina te deixa mais forte e mais ágil. Você nem pensa muito e só faz. Preciso ir pra casa tomar um banho e descansar, te vejo no próximo plantão.

Sem dar espaço para qualquer tentativa, vou andando para meu apartamento que fica próximo ao hospital. No caminho só consigo pensar naqueles olhos intensos, aquela boca. Deus, preciso beijar ele todo e me acabar naquele corpo. Faz tanto tempo que não transo, preciso de um bom orgasmo e acho que aquele homem me levaria a loucura.

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Entro no apartamento e sigo para o chuveiro com pensamentos nele, pedindo para que esteja bem. Após o banho escolho um vestido florido, uma sapatilha e me visto. Ligo para Cássia que está de plantão no hospital e conto tudo o que aconteceu. Ela vai poder me manter informada sobre o estado dele. É fisioterapeuta e uma grande amiga. Me informa que Ricardo ainda está em cirurgia, mas assim que sair me avisa. Estou tão cansada que deito no sofá mesmo e lá adormeço, sonhando com meu pai.

" - Papai cheguei, onde o senhor está? Papai preciso ver seu curativo, estou na sala te esperando.

Estou na sala esperando meu pai e nada. Resolvo andar pela casa e procurá-lo. Entro no quarto e meu mundo desmorona... não posso acreditar... Me jogo no chão e começo a gritar como louca...

- Pai NÃO... eu NÃO acredito...

No teto do quarto já sem vida, meu pai se encontra enforcado com uma corda. Olho para os lados e vejo um bilhete.

"Patrícia meu pequeno anjo me perdoe, mas não tenho mais forças. Sou fraco e não vou suportar essa dor. Te amo"

Acordo gritando e tento focar onde estou. Faz um bom tempo que não sonhava com a morte do meu pai. Demorei meses para conseguir dormir após ver meu pai morto enforcado em seu quarto. Uma semana antes de morrer ele tentou cortar os pulsos, mas consegui socorrer antes do pior. Estava em meu último ano de residência e não conseguia ficar muito tempo com ele, me sinto culpada por não conseguir evitar o pior. Preciso me ocupar pra não pensar no pior momento da minha vida. Enquanto preparo meu jantar, Cássia me manda uma mensagem avisando que Ricardo saiu da cirurgia e que não corre nenhum risco. Desligo tudo e corro para o hospital. Quero estar lá quando aqueles lindos olhos voltarem a observar o mundo.

Quando estou chegando no hospital, recebo uma mensagem de Cássia.

De: Cássia

Para: Patrícia

Está no quarto 204, a mãe dele está lá.

Chego no hospital e vou pelo setor dos funcionários. Entro no elevador e subo para o andar dele. Paro em frente a porta e meu coração quer sair pela boca. Não sei o que devo falar, será que devo entrar? Mas eu preciso olhar pra ele, toca-lo. Respiro fundo, dou uma batida na porta e entro com um sorriso que não consigo esconder de felicidade. Assim que localizo as pessoas no quarto meu coração para de bater por segundos. Dra. Moretti é a mãe do Ricardo? Então ele é o Ricardo Moretti! Preciso sair daqui, preciso respirar, meu peito dói. Eu não posso.