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- Eu vou te pegar seu canalha! Dessa vez vou amarrar seu pescoço!
George dirige enquanto olha para a estrada. Não demora muito e ele encontra Kenny logo à frente.
- Hehehe, esse verme não passa de hoje.
Enquanto isso, na fazenda, Atélia fica sem entender o que tinha acontecido naquele momento.
- Alguém me diz o que houve aqui?
- Mamãe, vem aqui, rápido!
Atélia foi até o porão e quando chegou, não havia ninguém.
- Mas como? Não tinha como ele...
- Será que foi o...
- Tilly aonde você vai?
Boonc! Tilly dá um cascudo em Bill.
- Aaaiii! Por que fez isso?
- Você é burro ou o quê?
- Mas o que eu fiz?
Tilly o empurra tão forte que ele cai no chão.
- Calma filha! Bill, o que você fez foi errado. Primeiro, não devia ter se metido em algo que não era da sua conta. Segundo, vai ter que enfrentar seu tio quando ele chegar.
- Prender uma criança da minha idade, é certo pra você?
- Por ele ter quase cortado a cabeça da sua prima? Sim, eu acho certo.
- Espera aí, como é que é?
- É seu imbecil, ele quase arranca minha linda cabecinha!
- Mas... ele tava sofrendo muito ali dentro... eu vi a Tilly...
- A Tilly o quê?
- Ela tava torturando ele!
- É mentira dele mãe, como eu iria ter coragem de fazer esse tipo de coisa?
- Tia ela pegou um pedaço de ferro quente e ficou batendo nele!
- Para de falar besteira! Por que você tá fazendo isso comigo? Achei que a gente era amigo! Buuááá!
Tilly começou a chorar. Bill tenta acalmá-la mas ela o empurra para trás e sai correndo para dentro de sua casa.
- Espere filhinha! Pronto, feliz agora?
- Mas tia eu...
- Shiu! Não quero ouvir mais nada.
Atélia vai atrás de sua filha. Bill abaixa a cabeça e sente uma grande tristeza. Ele não sabe se o que fez foi certo. Enquanto isso, George perseguia Kenny. Ele nunca correu daquele jeito em toda sua vida. A caminhonete era um pouco velha, e algumas vezes ela desacelerava, mas naquele momento, não tinha dado nenhuma falha se quer.
- Venha aqui, seu moleque lazarento!
- Oof, ooof!
George pega a espingarda, se estica para o lado direito, e mira em Kenny.
Bang! Bang! Bang!
- Que merda, como que eu errei esses tiros?
Kenny deu uma olhada para trás, e percebe que George estava armado. Então resolve correr mais rápido enquanto mudava discretamente para esquerda.
- Por que ele mudou pro outro lado? Ah ele não vai aprontar outra não!
Bang! Bang! Bang! Bang!
- Aaaaiiii!
Um dos tiros pega no calcanhar direito de Kenny que cai e rola em direção a uma ladeira íngreme de um arboral. Haviam pedras espalhadas pelo chão. Kenny se batia nelas, enquanto rolava ladeira abaixo.
George parou seu veículo para ver se ainda encontrava o garoto.
- Vixe, ele deve ter caído aqui.
George anda até a descida e olha para baixo.
- Daqui ele não volta mais! Olha o tamanho disso! Espero que ele bata a cabeça numa árvore.
Ele entra na caminhonete para voltar à sua casa. De repente, Kenny sente uma pancada muito forte.
BAAASH!!!
- Oooouch!!!
Ele se choca contra uma árvore. A sacola que estava segurando atingiu a árvore e amorteceu o impacto, mas isso não impediu que a sua barriga se machucasse, o que o fez ficar sem ar.
- Oof...oof...oof...
Tentou se levantar mas não conseguiu, então resolveu deitar em posição fetal esperando que a dor passasse e o fôlego voltasse.
Chegando em casa, George entra e grita:
- Bill! Venha aqui agora!
- " É agora que eu morro, pensou."
- Você...hmm...
George apertava suas mãos tão forte que suas veias começaram a aparecer e a mesa tremia intensamente. Estava se segurando para não bater em Bill, que suava de medo e desviava o olhar para outras direções.
- Está... proibido...
- Querido? Que bom que voltou! Calma, se sente um pouco.
- Oof, obrigado Atélia.
- Tilly dormiu, então, pode continuar.
- Filho... você está proibido de pisar nesta casa!
- Hum, ok.
- Não quero olhar pra essa sua cara nunca mais! Se eu te ver andando por aqui, eu vou te...
- Querido por favor, ele entendeu.
- Por mim tudo bem, não quero ficar numa casa cheia de caipiras psicopatas!
- Mocinho! Vou ligar agora pra sua mãe avisando pra vir buscar você!
- Já chega, não quero mais saber disso! Vou subir e tomar um banho.
- E o garoto, querido?
- Ah ele caiu numa descida que tem no começo daquele monte de árvore. Deve ter morrido.
- Aaah não!
- Viu o que acontece quando se é intrometido? Seu amiguinho ia ficar vivo aqui e trabalhando pra gente mas você o soltou. Agora ele vai morrer por sua causa!
Bill começa a lagrimar. Ele ficou bastante confuso. Libertar um garoto de 7 anos acorrentado com risco de morrer em sua fuga teria sido uma péssima ideia ou deixá-lo sofrer nas mãos da própria família que o faria trabalhar sem descanso seria uma boa escolha? De qualquer forma, não adiantaria encontrar uma resposta, pois já havia respondido ao deixar Kenny fugir.
- Oi Grace! É a Atélia, escute, o Bill vai pra casa hoje, poderia vir buscá-lo?
- Sim eu posso, mas isso é estranho. Chego aí em 1 hora.
- Tá bom, tchau.
Depois de se passar 1 hora e 45 minutos, a mãe de Bill chega.
- Oi Atélia, bom dia. O que houve?
- Nada de preocupante Grace, o Bill só quer ir pra casa, não é?
- Estou sentindo falta dos meus amigos, mamãe.
- Ah tudo bem meu amor, então vamos. Mas isso continua estranho, você chora quando é hora de voltar.
- Eu sei mãe, mas meus amigos são minha verdadeira família.
- Não entendi e nem vou perguntar o porquê. Atélia como anda o George?
- Ah muito cansado sabe? Trabalhando muito pra manter tudo isso que temos.
- Nossa! Eu entendo muito bem, ele precisa descansar bastante.
- Pois é, até contratamos um rapaz para nos ajudar, mas ele se demitiu.
- Hahaha, não aguentou a responsabilidade.
- Ia ser muito bem pago, mas resolveu sair, atrás dele que não íamos.
Bill teve que escutar toda aquela mentira calado.
- Vi que a fazenda de vocês cresceu muito! Tá maior que no ano passado!
- George comprou o terreno dos fundos, ele queria muito o tão sonhado milharal.
- E ele conseguiu! Quem diria que um grande empresário viraria fazendeiro. O engraçado é que a fartura não largou dele, haha.
- Sabe o que ele pensou? Que viver no campo era melhor que ficar em uma sala fechada cheia de papéis e pessoas estressadas.
- O trabalho só aumentou, hahaha. Bem, eu tenho que ir.
- Tchau querida, até.
- Tchau.
Ao entrar no carro de sua mãe, Bill olha para aquela casa e se pergunta como ele pôde ser feliz estando no meio de pessoas que não tinham se quer um pingo de compaixão. Ao mesmo tempo, se sentiu aliviado por não ter que nunca mais pôr seus pés naquele lugar que antes era seu motivo de diversão e alegria, agora se tornou seu maior medo.