Capítulo 3 Pequena grande ajuda.

Às 4:30 da madrugada todos os convidados estavam indo para suas casas. Ao amanhecer, o telefone toca. Era a irmã de George, perguntando se o seu filho poderia passar algumas semanas na casa dele.

- Então ele pode ir pra aí hoje?

- Claro que pode, é só trazer o moleque.

- Tá bom, obrigada George!

Ao desligar, ele vai até o porão para arrumar algumas coisas que estavam bagunçadas. Quando chegou, viu Kenny caído no chão.

- Olha aqui seu verme, meu sobrinho vem me visitar. Se ousar a gritar ou fazer algum barulho, eu te mato de madrugada!

Kenny estava ouvindo tudo. Terminando de lavar o chão e colocar as coisas em seus devidos lugares, ele se retira e tranca a porta. Não tinha como Kenny escapar, então só lhe restou esperar pela morte.

- Ooii tioo George! Como o senhor está? - disse seu sobrinho correndo para abraçá-lo.

- Como vai campeão? Estou bem sim.

- Cadê a Tilly?

- Ela está lá em cima, no quarto dela.

- Posso ir falar com ela, tio?

- Sua tia fez lanches para vocês dois. Pode ir na cozinha comer um pouco.

- Tá beleza tio!

- Vou chamar a Tilly pra você.

Toc, toc, toc, toc.

- Tilly, seu primo já chegou!

- Ah tá bom papai, já já eu desço.

Quando ia saindo, lembrou do porão e voltou ao quarto.

- Filha preciso te lembrar uma coisa.

- O quê papai?

- Não fale nada sobre o que tem no porão, não deixe pistas, sinais, nada!

- Tudo bem papai.

- Ótimo, já acabou?

- Já sim.

- Tá, vamos descer porque seu primo tá esperando.

Quando foram na cozinha, Tilly viu seu primo com a boca suja de cobertura de bolo.

- Hahahaha!

- Para de rir Tilly, eu tava com muita fome!

- Também quero bolo mamãe.

Ao anoitecer, logo depois de todos terem jantado, George estava carregando uma tijela cheia de sobras do jantar.

- Come isso aí. Se não quiser morrer! Você vai continuar trabalhando aqui. Mas primeiro, quero que você aprenda uma lição.

- Hmmmmm - resmungou Kenny. A madrugada chegou. Estavam todos dormindo. Kenny aproveitou para tentar forçar as correntes na chance de entortá-las. Ele as puxava para frente, para esquerda e direita, mas eram resistentes demais.

- Aaahhn...nossa que sede.

O sobrinho de George acordou e foi até a cozinha beber água, mas antes que chegasse lá, ele escuta diversos ruídos vindos do porão.

- Mas...que barulho é esse? Alguma coisa está se batendo nos fundos.

Seguindo os ruídos, chegou ao porão e tentou abrir a porta, mas não conseguiu.

- Droga, tá trancada!

Ele volta para o quarto aborrecido.

- Ruurrrggghhh!!! Aaarrrggghhh! - berrava Kenny tentando quebrar as correntes - Aaaaaiiii! - Gritou de dor por ter forçado e cortado os pulsos nas algemas.

No dia seguinte, George chama seu sobrinho.

- Bill, venha aqui.

- Sim, tio?

Bill estava com medo de seu tio ter descoberto que ele tinha ido para o porão.

- Você quer me ajudar no moedor de café?

- Aah sim, eu quero!

- Vou no depósito pegar os sacos com os graus, quando eu voltar, te chamo.

- "Acho que ele deve andar com as chaves do porão. Vou tentar ficar perto dele até descobrir onde ele guarda, pensou."

- Ufaa, esse tava pesado. Tá vendo esse botão vermelho? Aperte ele que você liga a máquina.

Bill se assusta com o barulho, George abre o saco e joga os grãos na máquina.

- E agora tio, o que eu faço depois?

- O recipiente já tem a medida certa, é só esperar o moedor terminar de triturar todos os grãos.

Depois de horas nessa tarefa, eles terminam tudo e limpam o local.

- Você já pode ir meu filho.

- Ah, mas eu queria ajudar o senhor em outra coisa!

- Nunca vi ninguém gostar tanto de trabalhar! Mas os serviços são muito pesados pra você. Pode ir brincar.

- Ah...tudo bem.

Decepcionado, Bill foi à procura de sua prima. Ele escuta barulhos vindo dos fundos da casa.

- Nossa mas quem está gritando? A titia não está em casa. Titio está trabalhando e a Tilly...

Assustado, tentou seguir os gritos. Ele procurou por alguns cantos e quando chegou ao porão, ouviu Tilly gritar com alguém.

- Toma isso seu pedaço de esterco de cavalo!!!

- Aaaaaiiiii!!! Aaaaiiiii!

- Você não é homem o suficiente pra aguentar isso? Agora eu vou esquentar mais esse seu couro!

- Aaaaarrrrrhh!

- Nãoo acredito! Tem uma pessoa no porão! Por que a Tilly tá machucando essa pessoa?

- Aguenta essa!

- Aaaaarrrrhh!

- Droga! Eu não consigo ver nada.

- Hahahaha! Isso é mais divertido que queimar minhas bonecas e colar seus pedaços em lugares diferentes!

Bill se aproximou mais um pouco para ver o que estava acontecendo. Quando conseguiu, se deparou com um menino acorrentado e sangrando.

- Seus gritos estão me irritando! Vou dar um jeito nisso.

Tilly colocou mais lenha numa fornalha que havia no local e esquentou metade de um pedaço de ferro.

- Muito bem, agora...tome isso!!!

Ela acertou o pescoço de Kenny com o ferro quente, o que fez ele se contorcer de muita dor. Por conta do impacto, ele não estava conseguindo respirar.

- Ma-mas por que ela tá fazendo isso??? - Sussurrou Bill.

- Como eu tô adorando isso! Seus braços e pernas estão todos queimados. Só faltou um lugar...

Tilly soltou o ferro, se aproximou de Kenny e rasgou sua camisa.

- Hahahaha! Mas como você é magrelo, parece aqueles pulguentos de rua.

- E-eu preciso fazer algo! Mas...eu tô com muito medo...

- Vou fazer você parar de sentir fome! Hahahaha!

Ela esquenta novamente o ferro na fornalha e com toda sua força, bate no estômago de Kenny várias vezes até ele desmaiar.

- Meeuuu Deuuusss!!!

- Quem está aí??

Bill correu o mais rápido possível para o quarto de seus tios.

- Quanta crueldade! Eu não acredito que vi isso! A Tilly...a Tilly fez tudo aquilo? - Bill senta no chão e encosta sua cabeça na cama - pensei que ela fosse uma menina doce, boazinha. Mas ela é um monstro!

No porão, Tilly cutucou Kenny para ver se ele ainda estava vivo.

- Que droga, eu tô ferrada. Se ele não tiver vivo o papai me bate.

- Ssssshhhhh...

- Acho que ele está respirando. Vou deixar ele aí, já me diverti mesmo.

Ela sai, tranca tudo e sobe.

- Preciso saber aonde titio guarda as chaves. Aquele menino precisa sair daqui! E eu também...

- Hahahaha, o dia hoje foi muito legal! - Exclamou Tilly. Ela sobe as escadas correndo e Bill se levanta e a segue.

- Amanhã vou terminar a brincadeira com ele.

- "Vamos Tilly, como você entrou lá? Pensou."

Ela tira uma chave do bolso e pendura no cabide do armário.

- A chave! - Sussurrou. Para seu azar, ela tranca as portas do armário e guarda outra chave no seu bolso.

- Agora, hora do meu banho da beleza.

- Droga! Ela levou a chave junto. Eu não posso ficar aqui o tempo todo esperando, se não alguém pode me pegar.

- Bill?

Ele se espanta e quando olha para trás, sua tia o olha desconfiada.

- O que você está fazendo olhando pro quarto da Tilly?

- Ahh...eu ia...perguntar se ela ia brincar agora, mas ela foi tomar banho.

- Ah sim, entendi, você quer comer um pedaço de bolo?

- Não, não. Obrigado tia. Vou passear um pouco pela fazenda.

- Tá bom meu filho, só não volte tarde.

Sua tia vai embora. Em seguida ele desce as escadas e vai até o quintal.

- Nossa! Essa foi por pouco. Preciso daquela chave.

Anoitece e todos estão reunidos para o jantar.

- O jantar de hoje é frango assado, carne de porco assada e salada. E para sobremesa temos mousse de maracujá.

- Atélia mas que banquete é esse? Tudo parece estar gostoso!

- Mamãe a senhora é demais! Eu amo mousse de maracujá!

- Podem comer à vontade. Não quero ver ninguém estragando nada.

- Nossa tia, o cheiro está muito bom mesmo!

- Obrigada meu filho.

- Tá já chega de cerimônias, vamos comer logo que eu tô morto de fome. Trabalhei muito hoje.

Quando todos terminaram o jantar, Atélia leva o mousse até a mesa.

- Alguém aí ainda aguenta a sobremesa?

- Coloca um pedaço grande pra mim Atélia!

- Eu também quero um pedação mamãe!

- Se acalmem, vou servir pra todos vocês.

- Hmmm, tia esse mousse parece estar muito bom!

Ao terminarem a sobremesa, Atélia começou a tirar a mesa e lavar as louças. George chega perto dela e diz:

- O jantar de hoje estava uma delícia, você é a melhor querida.

- Obrigada querido, smack! - Atélia beija a boca de George.

- Bem, eu vou tomar meu remédio para dormir, boa noite crianças.

- Boa noite tio!

- Boa noite papai!

- "Espera! Ele disse remédio? Pensou Bill."

- Ah eu também já vou indo, boa noite mamãe.

- Tioo! É...eu posso tomar um pouco do seu remédio?

- Como assim? Você não precisa!

- Não estou conseguindo dormir...estou vendo coisas estranhas à noite.

- Tá bom Bill, eu vou te dar um pouco, mas tome só uma metade, porque ele é muito forte.

George sai da cozinha. Não demora muito, ele volta com uma pílula.

- Não esqueça, tome só uma metade.

- Vou tomar antes de dormir.

Bill vai para seu quarto e espera o momento certo para agir. Ele vai na cozinha, pega um copo de água e coloca a pílula dentro e espera ela derreter. Depois ele foi até o quarto de sua prima, e deixou o copo dela numa pequena cômoda. Voltou para seu quarto e esperou Tilly dormir.

- Já tem muito tempo que eu fui lá deixar o copo. Será que ela já pegou no sono?

Chegando lá, ele abre a porta lentamente.

- "Ótimo, ela já dormiu. Agora posso começar a procurar, pensou."

Ele começou pela cômoda. Não encontrou nada além de meias, roupas íntimas e laços. Foi até a escrivaninha onde havia duas gavetas. A chave não estava lá. Pegou alguns potes cheios de lápis, num estojo, pastas mas nada também. Olhou embaixo da cama, mas nada achou. Avistou a mochila dela que estava no chão, perto da cama, abriu a mochila, mas a chave não estava.

- Meu deus, será que ela engoliu? - Sussurrou ele.

- Aaaaahhh...

- Caraca!

Bill se joga no chão.

- Vem cá zzz, vou te matar...

- Que susto cara! Ela só tava sonhando.

Ele se levanta, olha pra ela e percebe algo em seu pescoço.

- Espera, o que é isso? Um colar? Mas ela odeia colares.

Quando ia se aproximar para pegar no colar, ela se mexe e vira de lado.

- Ah não, e agora?

Ele senta no chão e pensa em algo.

- Tive uma ideia! Vou cutucar ela com alguma coisa.

Pensando nisso, ele pega um lápis e vai até Tilly. Foi até o lado esquerdo da cama, o mesmo lado que ela virou e começou a espetá-la. Ela vira e coça o rosto até mudar de posição e ficar de barriga pra cima. Ainda com o lápis, Bill foi puxando o fio para fora da blusa de Tilly. Ele percebe que a chave estava presa ao fio.

- Finalmente! Agora só preciso cortar e pegar.

Voltou à escrivaninha, colocou o lápis no lugar e pegou uma tesoura.

- Devagar -Ticc! - Ela deu um nó na chave, que espertinha - Ticc!

Bill puxou a cordinha do pescoço dela com cuidado, colocou no bolso e guardou a tesoura.

- Certo, vou abrir aqui sem fazer barulho.

Cccrrr!

- Aah! Ela tá rangendo, parece que tudo só dificulta agora.

Ele olha para Tilly que continua dormindo.

- Ufa, talvez se eu abrir as duas de uma vez, o barulho não sai tão alto. Fuuuh, vamos lá, 1...2...3!

Crrr!

- Deu certo! E ela não acordou.

Ele encontra as chaves do porão.

- Ótimo, agora é só fechar do mesmo jeito.

Bill sai do quarto com passos lentos, fecha a porta e desce as escadas.

- Nem acredito que consegui. Bom, hora de ver como está o menino que está preso lá embaixo.

Bill chegou ao porão. Quando abriu as portas, ele vê Kenny dormindo.

- O que esse menino está fazendo todo acorrentado aqui?

- Hmm? Aaaarrrgghh! - Kenny acorda enfurecido.

- Calma não faça barulho! Estão todos dormindo!

- Aaarrggh!

- Eles vão acordar e me descobrir!

Kenny imediatamente se acalmou e abaixou a cabeça.

- Eu vim tirar você daqui. Vi o que minha prima fez e não acreditei.

Ele se aproxima de Kenny que se afasta um pouco para trás.

- Não vou te machucar. Nossa! Quantas queimaduras!

Ele olhou para as fechaduras das correntes que estavam prendendo Kenny na parede e disse: - Ah não, isso só pode ser brincadeira. Preciso de mais 4 chaves pra abrir essas trancas.

Olhando ao seu redor, percebeu que havia algumas ferramentas.

- Que maravilha, nenhuma delas servem pra quebrar as correntes.

Kenny se sentou no chão e encostou sua cabeça na parede. Bill volta até ele, põe a mão direita em seu ombro e pergunta: - Você consegue aguentar mais um pouco?

Kenny balança a cabeça lentamente fazendo que sim.

- Eu prometo que você vai se livrar desse lugar.

Bill se levanta e anda até a porta. Antes de sair, ele fala: - Por favor, não morra. Aguente firme.

Kenny olha fixamente para a porta se fechando e começa a lagrimar.

            
            

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