No mesmo condomínio que a gente, morava Gustavo e Mariana, Gustavo também trabalhava na polícia com o Miguel e com o tempo eu e Milena viramos amigas. Ela estudava na mesma faculdade, mas cursava direito e eu medicina. Eu nunca pensei que um dia iria cursar medicina mas depois de tanta insistência do Miguel para fazer a prova , eu passei mas meu sonho sempre foi a culinária , sempre sonhei com um restaurante ou uma cafeteria e eu sempre disse a todos que eu iria montar uma, iríamos morar na casa que a gente sempre sonhou e seria tudo lindo, mas nada aconteceu como eu sonhava.
- Dandara? - Mari me chama e eu levo um susto - A porta estava aberta e eu vi quando Miguel saiu.
- Oi - Eu falo sorrindo para ela - Entra , estou organizando algumas coisas ainda que não consegui.
- Nossa ainda tem coisa Dan - Ela fala sentando no chão ao meu lado.
- Olha são fotos antigas - Eu falo mostrando para ela - Cartas que eu e Miguel trocamos ainda quando crianças . - Ela pega uma foto na mão.
- Quem são esses ? - Ela pergunta sorrindo
- Léo e Alice , nossos vizinhos de Itaipava - Eu falo - A gente era bem unidos , os quatros sabe - Suspiro - Mas do nada tudo mudou, Léo e Miguel que sempre foram bem amigos começaram a se odiar e nunca mais se falaram direito.
- Mas porque? - Milena pergunta
- Eu não sei - Eu falo para ela - Eles nunca me falaram nada , nem tocam no assunto e como sempre fui apaixonada pelo Miguel por consequência acabei me afastando deles também, mas Léo sempre foi como um irmão para mim.
- Que desagradável toda essa situação - Ela diz colocando a foto de volta na caixa .
- Nem me fala - Eu falo me levantando e guardando as caixas - Imagina para mim? Nossos pais são mais unidos do que nunca, todos os feriados e comemorações eles fazem juntos , não existe nem muro ou grade para separar as casas que são uma do lado da outra, vai fazer uns três natal que Léo e Alice não passam mais em Itaipava , eu agradeço porque o clima era horrível .
- Mas se eles eram tão amigos porque do nada eles deixaram de se falar ? - Ela pergunta me ajudando a guardar as caixas .
- eu gostaria de saber também - Eu falo para ela
- Estou indo para o shopping - Ela diz sorrindo - Se arruma e vamos comigo.
- Não sei se estou afim de ir não - Eu falo para ela
- Você reclama que o Miguel não tem tempo para você e aí fica o dia inteiro dentro desse apartamento - Ela diz mexendo no meu closet e pegando um vestido lindo que eu tinha comprado - Veste e vamos - suspiro e pego o vestido da sua mão.
Começo a me arrumar , faço uma maquiagem leve e me olho no espelho, pego a escova e prendo apenas metade do meu cabelo deixando ele solto atrás , pego a minha bolsa verde que combinaria com o vestido e passo um perfume .
- Estou pronta - Eu falo sorrindo e ela me encara .
- Então vamos - Ela diz
Saímos do apartamento conversando , eu morava na cobertura e tinha dois apartamentos apenas nela , um que até hoje estava desocupado, assim que chegamos no elevador a porta do outro apartamento se abre saindo dois caras de dentro.
- Boa tarde - Um deles fala me encarando
- Boa tarde - Eu falo dando um leve sorriso para ser educada .
O outro não diz nada, apenas fica em silêncio e observa nós duas . Em quanto esperava o elevador eu pego o celular e mando uma mensagem para Miguel mas a mensagem nem entrava para ele , guardo o celular na bolsa .
Respiro fundo e penso que ele deveria está na delegacia. Ele era um homem super ocupado por lá e as vezes mal tinha tempo para nós dois, mas eu entendia que isso seria apenas no começo.
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JOANA NARRANDO
- Você está me dizendo que um bando de homens vestidos de vacas pegou a nossa carga? - meu pai pergunta e eu seguro a risada, porque nem meu pai e nem ninguém conseguia acreditar.
- Tá duvidando de mim? – Bn pergunta – está duvidando do que estou te falando? Está aqui a porcaria da fantasia – ele fala tirando uma de dentro de um saco preto e jogando em cima da mesa e eu observo os dois.
- Bandidos vestido de madona – Jn fala – parece até piada.
- É alguém caçoando com a nossa cara – meu pai fala nervoso – alguém que está querendo fazer a gente de palhaço.
- Quem? – Bn pergunta – quem seria o filho da puta que roubaria a nossa carga vestido de uma vaca?
- Alguém que queira atingir seu ponto fraco – eu falo – a vaca mandona, seu patrimônio, o patrimônio histórico do morro. - Eles me encaram.
- Ela tem razão – Jn fala – o tempo que perdemos discutindo quem é a pessoa, a pessoa já está fazendo outra coisa.
- Isso mesmo – eu respondo – isso é só uma distração. A pessoa que fez isso é alguém que vocês nem imagina quem seja, mas usou um assunto que é bem comum nas nossas vidas, que liga os morros para agir, que é o fato de o Bn ter a vaca, que todo mundo sabe,
- Né que você é esperta, puxou isso da sua mãe, porque do seu pai – Bn fala
- Tô aqui – Perigo fala e eu sorrio de canto.
- Tá dizendo que é alguém dos morros? – Bn fala
- Ou não, pode ser alguém que vocês não imaginam e seja alguém de fora, porém esse assunto é tão comentado – Eu falo.
Os três começam uma nova discussão e eu me aproximo da fantasia vendo o nome da confecção onde ela foi feita, eu tiro uma foto e saio da boca, eu começo a descer o morro do alemão e encontro Alicia.
- Joana – ela fala – por que não me disse que estava aqui?
- Eu vim acompanhar meu pai, mas já estou indo embora. Estou com um pouco de pressa.
- O que aconteceu?
- Nada de mais, manda um beijo para tia Maiara – ela sorri,
- Espera, eu posso ir com você.
- Não dá, não quero te colocar em problemas.
- O que você vai fazer? – ela pergunta
- Eu vou atrás de pistas sobre quem roubou a carga que vinha para cá – ela me encara.
- Seu pai sabe?
- Não e você não vai contar.
- Me deixa ir com você – ela fala.
- Fica me dando cobertura aqui – eu sorrio
- Se cuida – ela fala
- Fica tranquila – eu falo sorrindo para ela.
Eu tinha passado a mão na chave do carro do meu pai, eu entro dentro procurando o porta luvas e encontro a arma, eu ligo o carro e saio do morro do alemão, coloco meu celular no silencioso e logo depois coloco o nome da confecção e logo vem o endereço, coloco no gps e começo a seguir aquele endereço, eu estaciono o carro próximo e vejo que eu estava um pouco afastada do alemão, da maré e da rocinha, aqui ficava um pouco na saída do Rio de Janeiro, onde tinha alguns morros pequenos. Eu desço na frente da confecção que tinha apenas uma placa pequena na frente, tinha umas senhoras na frente conversando e quando eu me aproximo, elas me encaram.
- Confecção Sarini? – eu pergunto
- Sim – uma delas se levanta.
- Eu peguei o endereço na internet, eu preciso fazer uns uniformes para os meus pequenos onde eu trabalho, usar na apresentação do final do ano.
- Você é professora? – ela pergunta
- Sou sim – eu respondo
- Entra – ela fala
- Não é perigoso deixar o carro aqui? Eu vi que tem uns morros aqui perto – eu pergunto.
- Não – ela fala – aqui tem só o morro da fé.
- Morro da fé? – eu pergunto arqueando a sobrancelha – bom, eu nunca ouvi falar.
- Entra – ela fala
- Que tipo de uniformes você precisa? – ela pergunta
- Eu precisaria de uns uniformes para crianças de 3 a 4 anos, eu posso tirar as medidas e enviar para senhora, vamos apresentar o teatro da '' fazenda feliz'', então eu pensei em algo com animais.
- Ah, tipo macaco, girafa, vaca, galinha, porco?
- Mais ou menos isso, cada criança terá uma fantasia de animal diferente – eu olho vendo uma fantasia de vaca jogada – estilo aquela – eu aponto.
- Ah, essa é de adulta – ela fala escondendo.
- Entendi, pelo jeito tem mais gente que teve a idéia dessa fantasia – eu falo sorrindo.
- É para um grupo de teatro do morro – ela pergunta – pode me passar os nomes dos bichos? – ela fala me encarando.
Eu encaro as outras senhoras que estão na porta me encarando, eu começo a agir naturalmente e começo a passar para ela tudo que eu precisava, meu número e meu nome, ela me olhava sempre muito desconfiada e eu tentava sorrir e passar que eu era uma pessoa completamente desinteressada de qualquer assunto.
- Boa tarde – uma mulher entra – eu vim pagar a encomenda que Jesus fez.
- Olivia, cobra ela – a senhora que me atende fala e eu encaro aquela mulher.
- Boa tarde – eu respondo sorrindo, ela me encara de cima a baixo e não me responde, ela vai lá fora e vejo que entrega um monte de dinheiro.
- Era isso?
- Isso, posso buscar quando?
- Em 7 dias – ela fala – você pode vir buscar para fazer os primeiros testes se fica pronto.
- Aqui o adiantamento – eu falo tirando uma quantia do bolso que eu tinha pegado no carro do meu pai.
- Obrigada – ela responde
- Como a senhora se chama?
- Otaviana – ela responde
- Otaviana, você sabe me dizer se por aqui tem algum grupo de teatro ou dança?
- Não – ela responde
- Só no morro?
- Nem no morro – Olivia fala.
- Sim, no morro tem – Otaviana fala – por isso a fantasia que você viu.
- Vou deixar meu cartão – eu falo tirando do bolso – eu tenho um trabalho incrível com crianças e gostaria muito de expandir ele.
- Para o morro? – Olivia pergunta
- Porque não? Lá existe crianças que tem o dever de serem felizes também.
Eu me despeço delas e entro dentro do carro, durante o caminho eu ligo para Pedrinho e falo que preciso encontrar ele o mais rápido possível.