Capítulo 5 A minha falecida mãe

O relógio já passava das duas e meia da manhã e o meu pai ainda não tinha chegado a casa. Agora, mais do que nunca, precisava de tirar satisfações com o homem que julgava poder confiar cegamente.

Finalmente, após uma hora à espera, a porta abriu e o meu pai entrou. Este que, por sua vez, ao observar-me sentada na poltrona a olhar fixamente para si, arqueou a sua sobrancelha e, lentamente, fechou a porta atrás de si enquanto se aproximava do interior. O seu olhar demonstrava ansiedade e, de certa forma, confusão.

- Thomas Potter era um híbrido. – comecei por murmurar e, num semicerrar de olhos, levantei-me e aproximei-me do antigo caçador de vampiros. – Era isso que não querias que eu soubesse, não era?

Como resposta, obtive um arregalar de olhos que, após alguns segundos em silêncio, começou a caminhar em direção ao sofá.

- Chegaste mais rápido a esse capítulo do que eu pensava. – respondeu o meu pai após sentar-se e encarar-me seriamente. – Quem é que te anda a ajudar?

- Ninguém. – disse prontamente enquanto cruzava os meus braços e encarei-o, mais uma vez. – Pai, eu matei o vampiro da ordem. Eu matei-o porque já não consigo controlar a minha força. Isso não é normal. – decidi explicar-lhe rapidamente tudo o que tinha acontecido.

O meu pai, surpreendido, levou uma das mãos à cabeça enquanto abanava a mesma e, enquanto se negava aceitar tudo o que tinha acontecido, deu um murro na mesa que se encontrava à frente do sofá.

- A ordem não vai deixar passar isto. – murmurou o antigo caçador e levantou-se. – A partir de hoje estás proibida de sair de casa sem a minha presença e esquece a universidade. Vamos ficar assim até que eu consiga perceber o que podemos fazer para mudar o teu destino.

- O meu destino? Pai! Que merda de conversa é esta? Desculpa-me mas eu não vou deixar de ser quem eu sou só por causa de uma ordem! – exclamei visivelmente irritada e cerrei o punho. – Eu quero e preciso de saber a verdade! O Thomas Potter é um híbrido e eu também devo ser! A força que eu tenho, não é normal. Não é igual à tua e muito mais forte do que qualquer caçador de vampiros! Pai, diz-me a verdade! Eu quero ouvir pela tua boca a verdade. Eu imploro!

- Não! Não estás pronta para ouvir e eu quero respeitar a memória da tua falecida mãe! – exclamou o meu pai prontamente e aproximou-se de mim. – És a Diana! Apenas isso interessa!

- A minha falecida mãe? Ela se quer é minha mãe? – questionei quase retoricamente e abanei a cabeça completamente desiludida. Deste modo, abaixei-me para apanhar a minha mochila preta e coloquei a mesma às costas. – Vou passar a noite em casa da Camila. Neste momento não quero olhar para ti.

- Não vais sair de casa! Não me ouviste? És uma presa fácil neste momento! A ordem vai estar em cima de ti e não posso deixar que morras! – gritou o meu pai, agarrando o meu braço com alguma força. – Nem que eu te feche em casa mas não vais sair.

- Entende que já não mandas em mim! – retorqui sem pudor e, afastando-o, semicerrei os olhos e abanei a cabeça. – Afasta-te.

- Não vais sair.

Ignorando a sua ordem, respirei fundo e dei-lhe um empurrão com alguma força, fazendo com que o caçador caísse no chão. Com esta ação, arregalei os olhos preocupada. No entanto, decidi correr até à porta de casa e, em lágrimas, olhei-o uma última vez.

- Desculpa-me! Eu disse que não consigo controlar a minha força!

Ao dizê-lo, saí a correr e subi para a minha motocicleta, conduzindo em direção ao apartamento da Camila. Esta que, por sua vez, deveria estar ainda na festa, porém, sabendo o código de entrada do prédio, poderia chegar ao meu principal destino.

" – Fica comigo, eu posso proteger-se. – murmurou o Lucas enquanto me olhava. – Confia em mim. "

" – Preciso de falar com o meu pai. – respondi enquanto subia para o meu veículo e respirei fundo. – Mas talvez precise de um lugar para dormir. "

" – Eu moro no mesmo prédio que a tua amiga, no último andar. Bem na cobertura. O código do prédio é..."

" – Seis, nove, quatro, três. Eu sei qual é. A Camila é a minha melhor amiga, eu passo a vida com ela. Mas sim, obrigada. "

Deste modo, em poucos minutos, cheguei ao local e, assim que entrei no mesmo, entrei no elevador e carreguei no botão do último andar. Chegando ao meu destino, bati à porta da casa do vampiro e, em poucos segundos, a mesma foi aberta.

- A conversa correu muito mal. – murmurei enquanto limpava as lágrimas que ainda secavam na minha face. – Posso entrar?

- Entra. – respondeu prontamente o vampiro, esboçando um leve sorriso nos lábios.

Assenti com a cabeça como agradecimento e entrei na sua casa, olhando em volta. A mesma era um apartamento espaçoso e com uma decoração moderna, parecia ser um lugar confortável para se viver. Por sua vez, o Lucas estava com um look descontraído enquanto segurava um livro.

- Incomodei?

- Não! Estava apenas a ler, mas estava à tua espera. – explicou o Lucas calmamente e caminhou em direção ao sofá. – Fica à vontade. Tens fome?

- Tens comida em casa?

- Posso encomendar uma pizza ou algo do género.

Abanei a cabeça ao ouvi-lo e sentei-me no sofá, olhando-o. Deste modo, respirei fundo e mordi o lábio nervosa.

- O meu pai não quer admitir que eu sou uma híbrida.

- Então achas que és uma híbrida? Como o Thomas Potter? – questionou calmamente o vampiro e, sentando-se do meu lado, pousou o livro que segurava na mesa que se encontrava à nossa frente.

- Não achas também? Então qual seria o motivo de me teres dito para ler o capítulo dezasseis do livro? Não consigo entender nada disto mas eu sinto que algo dentro de mim está muito errado desde que fui mordida pelo maldito vampiro que me tentou matar! Eu só sei que sinto mais poder do que nunca e, de certa forma, sinto que poderei ser uma descendente de bruxa! Isso torna-me uma híbrida, certo? Metade humana e metade bruxa!

- A única coisa que sei é que sinto uma energia poderosa vinda de ti que chega ser assustadora até mesmo para um vampiro. – começou por explicar o professor e olhou-me nos olhos. – Quando soube que a Sophie quis deixar-te o livro sagrado da família contigo, apercebi-me que ela poderia achar que poderias ser uma híbrida, sim. E, todas as tuas reações, comprovam isso,

- Comprovam?

- Eu conheci o Thomas. – admitiu Lucas e, humedecendo os seus lábios, abanou a cabeça. – Antes da sua morte, tive a oportunidade de trocar algumas ideias com ele. Aprendi que o facto de ele ser metade vampiro e metade bruxo, fazia com que ele sentisse, dentro dele, uma guerra infinita entre o ódio aos vampiros e o amor natural por ser um. Por isso é que ele começou a eliminar a escumalha da nossa raça, eu entendi-o. – finalizou-o com um suspiro alto.

- Conheceste o Thomas? Quem és tu? O Thomas é como se um fosse um vampiro lendário e tu tiveste a oportunidade de conhece-lo! Isso é brutal! – exclamei prontamente e levantei-me, visivelmente emocionada.

- Sou o Lucas Roux. Da família Roux, apenas isso.

- Posso confiar em ti? Mesmo eu sendo uma caçadora de vampiros e tu seres um?

- Podes, não te preocupes.

Esbocei um leve sorriso no rosto ao ouvi-lo e voltei a sentar-me enquanto o observava. O seu rosto perfeito parecia transmitir uma certa preocupação misturada com tranquilidade, o seu sorriso retribuído era falso. – era confuso.

- Obrigada. – murmurei.

- O teu poder assusta-me mas, ao mesmo tempo, é atraente. – informou o vampiro, olhando-me e, aproximando os seus lábios do meu ouvido, suspirou e colocou uma das suas mãos na minha cabeça. – Se fores realmente uma bruxa, o veneno do vampiro ao entrar em contacto com o teu organismo, provocou esse ódio e sede por matar vampiros. Isso fez com que o teu poder aumentasse mais do que era suposto, tens de saber controlar essa ira. – explicou junto ao meu ouvido e, de seguida, afastou-se. – Deixa-me ajudar-te.

Ao ouvi-lo, mordi o lábio para controlar os meus sentimentos que se encontravam mais aflorados do que o normal. Deste modo, assenti com a cabeça e, ao encara-lo, estiquei o meu braço em sua direção, sendo correspondida com um aperto de mão.

- Afinal tenho fome. – comentei, soltando uma leve gargalhada.

- Que coincidência, eu também.

- Como assim?

- Tenho sangue no frigorífico, de animais. Não te preocupes. – explicou o vampiro calmamente e levantou-se. – Liga e encomenda o que quiseres, eu pago já que sou o adulto responsável por sua excelência. – brincou, soltando uma leve gargalhada rouca e atirou o seu telemóvel em minha direção.

- Ah que piada! – exclamei, agarrando o seu telemóvel. – Não sabia que vampiros tinham sentido de humor.

- Antes de ser um vampiro eu já fui um humano como tu, não aches estranho. De certa forma, muitos caçadores esquecem-se que ainda podem existir vampiros com alguma humanidade dentro deles. – disse o vampiro quase como um desabafo e, ainda com um sorriso no rosto, entrou na sua cozinha.

Vencida pelas suas palavras, liguei para a pizzaria que trabalhava vinte e quatro horas da cidade e encomendei uma pizza média para mim. Posteriormente, aproximei-me da porta da cozinha para avisar ao Lucas que já tinha utilizado o seu telemóvel. No entanto, antes que eu pudesse dizer algo para que ele notasse a minha presença, deparei-me com o mesmo a falar sozinho.

- Não, não quero saber. – referiu o Lucas com um tom de voz sério após soltar um suspiro alto. – Para de utilizar este método para falares comigo! Se eu te eliminei dos meus contactos, por algum motivo foi!

Com isto, entrei na cozinha e acenei em sua direção, tentando chamar a devida atenção. Porém, assim que o mesmo olhou para mim, arregalou os olhos.

- Não! Não! Volta aqui, volta aqui! – exclamou um pouco desesperado e, cerrando o punho e batendo o mesmo contra a parede, olhou-me. – Estava a falar com a minha irmã, a Margaret.

- Tens irmã? E como assim? Estavam a falar como?

- Ela tem um dom especial. Ela consegue entrar nas mentes de qualquer humano, animal e vampiro. – explicou o vampiro e suspirou. – É um poder perigoso que, infelizmente, fez com que ela apercebesse que eu estava acompanhado.

- Oh! Desculpa, eu apenas fiquei confusa. – murmurei e abaixei a cabeça. – Talvez seja melhor ir embora? Não quero arranjar problemas com a tua família.

- A minha família é que arranja problemas comigo. Não te vás embora. – respondeu prontamente o vampiro, agarrando o meu braço. – Perto de mim, nada de mal te vai acontecer.

Ao ouvi-lo assenti com a cabeça e, ao sentir a sua mão fria no meu braço, soltei um suspiro de desilusão. Essa diferença de temperatura relembrava-me que ele estava morto, ao contrário de mim.

- Vocês nunca têm frio?

- Uma sensação que não sinto falta. – murmurou calmamente e, fazendo com que eu o olhasse com a sua mão livre, esboçou um leve sorriso no rosto. – Felizmente, há sensações que continuam connosco, mesmo depois da transformação.

- Que sensações?

Como resposta, o vampiro aproximou-se mais de mim e, agarrando-me pela cintura, sentou-me na bancada da cozinha e colou os nossos corpos, fazendo com que as nossas testas se juntassem. Assim, olhando para os lábios um do outro, ficámos alguns segundos enquanto tentávamos perceber o que estava a acontecer entre nós.

- Sinto-me mais calma contigo.

Admiti quase inaudivelmente.

- Sinto-me vivo contigo.

Respondeu o vampiro, fazendo com que eu me apercebesse que o meu comentário tinha sido ouvido.

Dois dias se passaram desde da minha discussão com o meu pai. Com esse acontecimento, aproximei-me ligeiramente do Lucas Roux, o vampiro que me deixava completamente confusa. No entanto, logo após da primeira noite a dormir fora de casa, decidi pedir à Camila para que ela me deixasse ficar em sua casa, contando-lhe apenas que tinha discutido com o meu pai por causa de um motivo idiota.

De certa forma, ao mesmo tempo que eu queria estar próxima do vampiro, sabia que era algo errado não só por este ser o meu principal inimigo mortal mas também por ser o meu professor na universidade. – não era ético.

Assim sendo, após um longo dia de aulas, decidi ir ao centro comercial com a Camila e com o novo grupo de amigos dela do qual também pertencia o Felipe Gomes. Infelizmente, desde da festa de sexta feira, nunca mais tinha falado com ele, então não sabia como iria estar o clima entre os dois. – ele beijou-me e eu desapareci logo depois dessa situação.

- Fomos as primeiras a chegar. – murmurei, olhando em volta. – Desde quando és amiga de uma turma de veteranos de direito?

- Desde que me abandonaste na festa para discutires com o teu pai!

Revirei os olhos ao ouvi-la, contudo, antes que me pudesse defender, fui interrompida pela voz do Felipe que, assim que se afastou do grupo que o acompanhava, se aproximou de mim, com um sorriso no rosto.

- Ainda estás zangada comigo?

- Zangada?

- Sim. Eu fui um idiota na festa, não fui? Admito que quis falar contigo antes mas achei que por telemóvel poderia ser um pouco infantil. – explicou calmamente o loiro e esboçou um leve sorriso no rosto. – Estou desculpado? Prometo não te voltar a beijar.

Soltei um leve suspiro de alívio ao ouvi-lo e assenti com a cabeça, esboçando um sorriso gentil quase instantaneamente.

- Ok, retiro o que disse. Com esse sorriso, não sei se consigo acalmar os meus sentimentos. – brincou o loiro, colocando as mãos no peito, fingindo que tinha sido acertado com uma flecha.

- Ai que queridos, vamos deixa-los a sós? – comentou a Camila, soltando uma gargalhada. – Ai que a Diana até está a corar!

- Hey! Cala-te! – exclamei prontamente e cruzei os braços. – Vamos ficar parados aqui?

- Obviamente que não. – comentou um rapaz que normalmente seguia o Felipe para todo o lado. Mal o conhecia, no entanto, sabia que o mesmo se chamava Jaime. – Soube que já estreou aquele novo filme de comédia. Vamos ver?

- Olha que boa ideia! – disse não dando oportunidade para que ninguém respondesse e comecei a andar em direção ao cinema do centro comercial.- Vamos para não perdermos os melhores lugares!

Ver o filme foi um momento descontraído e divertido. A companhia de pessoas normais que viviam uma vida normal, fazia com que eu me sentisse mais normal do nunca. Porém, ao mesmo tempo, fazia com que eu sentisse cada vez mais falta da presença do Lucas Roux. – era quase como um vício.

Depois de vermos o filme, sentamo-nos a lanchar um hambúrguer e a conversar sobre um pouco de tudo. O grupo era divertido, simpático e, consequentemente, por algumas horas consegui esquecer-me completamente da realidade que eu vivia.

- Já viram as últimas notícias? – questionou o Jaime enquanto olhava para o seu telemóvel. – Um rapaz foi encontrado morto na floresta. O que se passam com os animais selvagens?

- Hey! Não vamos falar sobre isto à frente do Felipe! – resmungou a Mariana, uma das amigas que acompanhava o Felipe no seu grupo de amigos popular.

- Não se preocupem, podem falar sim. – informou o Felipe, soltando um suspiro e abanou a cabeça. – Nada vai trazer a minha irmã de volta. Além disso, confesso que esta história dos animais selvagens parece uma mentira.

- Achas que a tua irmã foi...?

- Assassinada? Oh, sim.

Arregalei os olhos ao ouvi-lo e, desviando o meu olhar para as minhas batatas, comecei a comer compulsivamente.

- Isso é horrível. – comentou a Camila um pouco desconfortável. – Se anda um assassino entre nós, a polícia tem de fazer algo.

- Se fizer o mesmo que fez pela minha irmã, mais pessoas vão morrer.

- A floresta é perigosa. – murmurei e encarei o Felipe. – Animais selvagens são perigosos mesmo. Eu também fui atacada por um, lembras-te?

A minha afirmação foi completamente ignorada devido ao grito de surpresa do Jaime.

- Acabaram de colocar nas redes sociais que uma uma mulher está desaparecida desde ontem. – informou o Jaime e olhou-nos. – Nos comentários dizem que foi o assassino selvagem da floresta.

- Já deram um nome e tudo ao assassino? – questionou a Camila prontamente. – Que horror!

- Que mais diz a notícia? – questionei, encarando o Jaime. – Todas as informações.

- Ah! Dizem que ela foi vista, pela última vez, a sair do café e que tinha referido à família que ia correr pela cidade. Mas depois um homem comentou nas redes sociais que a tinha visto junto à estrada que dá acesso à floresta e parecia estar à espera de alguém.

Ao ouvi-lo, assenti com a cabeça como agradecimento e encarei cada um que se encontrava comigo. Posteriormente, levantei-me e esbocei um sorriso forçado.

- Tenho que ir.

- Como assim? Nós estamos a dormir na mesma casa! Eu é que tenho a chave, lembras-te? – comentou a Camila confusa.

- Recebi uma mensagem do meu pai, tenho de resolver as coisas com ele. – menti com a primeira coisa que me apareceu na cabeça. – Depois conto-te como correu, até logo e voltem para casa em segurança! Alguém que dê boleia à Camila! – exclamei enquanto corria em direção à saída do centro comercial.

Em poucos minutos, com o auxílio do meu veículo, cheguei à floresta da cidade da qual entrei na mesma pronta para encontrar um vampiro sedento por sangue.

- Esta floresta está a ficar cada vez mais mal frequentada! – exclamei em voz alta para ser ouvida e semicerrei os olhos. – Os teus assassinatos vão chegar ao fim! Não acredito que demorei tanto tempo para descobrir que andava outro vampiro a frequentar a minha cidade!

Como resposta, um silêncio claro e evidente. Porém, eu conseguia sentir que não me encontrava sozinha na floresta. Os olhares daqueles que me observavam eram reais e, em termos de poder, assustadores.

- Estive algum tempo apagada devido à minha confusão mental. – murmurei e respirei fundo. – Porém, não vou fugir.

Ao dizê-lo, tirei o meu arco da mochila e coloquei-o às costas, posicionando uma flecha no mesmo. Posteriormente, olhei em volta enquanto me tentava concentrar para encontrar a direção certa.

- Oh que fofa! – exclamou a voz de uma mulher que, ao mesmo tempo que era doce, era possível perceber o tom sarcástico da mesma. – Não acredito que foi assim tão fácil!

- Quem és tu? – gritei enquanto olhava para todos os lados e semicerrei os olhos. Após alguns segundos, atirei a flecha em direção a norte da minha posição.

Com a minha ação, consegui ver a flecha a ser agarrada e, como consequência, uma mulher parou à minha frente com um sorriso no rosto. A mesma tinha longos cabelos ondulados pretos brilhantes e os seus olhos eram azuis. Em termos de feições, a mesma era bastante semelhante com o Lucas. – igualmente perfeita fisicamente.

- Chamo-me Margaret Roux. Prazer! – exclamou esticando o seu braço em minha direção. – És boa nisto! Soubeste exatamente o local que eu estava. Que interessante. – terminou, humedecendo os seus lábios enquanto me observava de cima a baixo.

Arregalei os olhos e dei um passo atrás. Por algum motivo, a irmã do Lucas tinha aparecido na cidade. – eu era o motivo?

- Estás a matar inocentes? Sei que és irmã do Lucas mas eu não posso deixar-te fazer o que bem entendes! Muito menos na minha cidade!

Questionei sem pensar duas vezes e posicionei outra flecha em sua direção. Desta vez, esta encontrava-se junto à cabeça da vampira.

- Não, não sou eu.

- Qual é o motivo da tua visita, então? – perguntei uma vez mais, no entanto, afastei lentamente a flecha para o lado.

- Queria ver a cara da mulher que estava com o meu irmão naquela madrugada. – explicou a Margaret com o seu olhar fixado em mim e um sorriso estampado no rosto. A mesma parecia surpreendida e irritada. – Agora apercebi-me que ele estava com uma caçadora. Uma caçadora? Então os rumores são verdades? O meu irmão trai a família? A ordem?

- A ordem? Como assim a ordem? E ele não trai ninguém! Eu e o Lucas não somos amigos! – exclamei prontamente e respirei fundo. – Apenas aceito a sua presença em Mar Verde porque sei que ele não é um perigo para a humanidade.

- Oh mas já foi, querida. – murmurou a Margaret, agarrando o meu braço com força. – Ele já matou, ele já massacrou, ele já destruiu.

Arqueei a minha sobrancelha ao ouvi-la e, quase como um coro, consegui ouvir várias vezes as suas últimas palavras a ecoar na minha mente. De algum modo, a mesma estava a utilizar o seu dom em mim e aquele conjunto de vozes estava a perturbar-me.

" Ele já matou, ele já massacrou, ele já destruiu "

- Para! O teu dom é uma merda! – exclamei, empurrando-a para longe de mim e semicerrei os olhos. – Se queres lutar, eu luto. – acrescentei, posicionando o meu arco em sua direção. – Serás só mais uma que morre enquanto eu fico a observar.

- Oh! Entendo agora! Tu também tens um dom! – referiu a vampira, deixando-se cair no chão e ficando sentada a observar-me. – Tens uma força maravilhosa! Que humana interessante!

- Não vou perguntar mais uma vez, o que é que pretendes?

- Já disse. Conhecer a humana do meu irmão. Do meu irmão mais novo! Ah! O meu querido Lucas.

- Ele não parecia muito feliz quando entraste na mente dele. – disse com um tom sarcástico e esbocei um sorriso provocador no rosto. – Vais sair da minha cidade agora? Já olhaste para mim, já me encontraste! Já descobriste que eu sou uma caçadora, portanto, agora sai daqui antes que eu te mate!

- Uma caçadora a mostrar misericórdia? Admito que tens audácia! Mas eu entendo! Tu não sabes nada! Absolutamente nada! Não tens ideia! E eu consegui perceber isso logo assim que te vi. Ainda és imatura. – comentou enquanto se levantava e cruzou os braços. – Se as minhas intenções fossem para matar, eu tinha conseguido fazê-lo assim que te encontrei. Tens muito para treinar, minha querida.

- Já não te consigo ouvir. – resmunguei, revirando os olhos e abanei a cabeça. – Agora entendo o teu irmão. Até os vampiros se cansam de vampiros faladores.

- Cala-te! Não fales do meu irmão assim! Assim tão informal! Não sabes mesmo quem é o meu irmão, pois não?

- Como assim? O teu irmão é um vampiro poderoso sim! Mas o que tem isso? Os humanos não vivem na vossa democracia! Muito menos uma caçadora de vampiros!

- Deveria ser universal o respeito por um membro importante da Ordem. A ordem é muito mais importante para o mundo do que, vós caçadores de vampiros ingratos, podem imaginar.

- Um membro importante da Ordem?

- Lucas Roux, é o sétimo da Ordem. Um dos mais poderosos e respeitados da comunidade vampira em todo o mundo. Ele mata, ele destrói, ele massacra quando quer e da forma que quer. Ninguém mais está no nível dele, nem mesmo o grande líder da ordem. – informou Margaret transmitindo um enorme orgulho do seu irmão mais novo. – Vou leva-lo de volta.

                         

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