Rainha de Sangue
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Capítulo 2 01 Capítulo

Estava me vendo em um belo vestido branco, meus cabelos negros eram a única coisa que tinha cor ali, meus olhos castanhos faziam semanas que não brilhavam, minha pele clara se perdia na cor branca do vestido. Três mulheres enfiam alfinetes no vestido e minha mãe chorava sem parar.

- Elisabeth, por que está chorando tanto? - Uma das mulheres pergunta, enquanto enfia um alfinete no vestido.

- De felicidade! Não é mamãe? - Digo antes que minha mãe possa dizer algo que nos comprometa.

- Sim, não podia estar mais feliz. - Minha mãe diz com seus lindos olhos verdes tristes.

E eu a compreendia, afinal quantas vezes uma mãe pode ver sua filha vestida com sua mortalha, antes de estar morta?

- Pode tirar o vestido, estará pronto para o grande dia. - A mulher carrancuda diz.

- Obrigada! - Digo gentilmente e comecei a tirar os laços que estavam me sufocando.

- Filha, gostaria de ajuda?

- Não precisa. -Tirei o vestido que tanto eu odeio do meu corpo e coloquei meu outro vestido de cor lilás. - Preciso que me ajude a amarrar o laço nesse aqui. - Eu odeio todas essas fitas e laços que me tiram o fôlego, mas ela exige que todas nós usemos, dessa forma não seriam confundidas com as camponesas.

Minha mãe transou a fita quase me deixando sem ar.

- Está me sufocando! - Falei puxando o ar.

- Desculpa! - Ela diz pisando no vestido branco que acabei de tirar.

- Não fique nervosa, tudo vai ficar bem. - Mentir para ela tinha se tornado um hábito, sempre usava palavras que ambas sabíamos que eram mentira, porém a verdade era inevitavelmente cruel.

- Não, não irá. - Ela olha para o vestido branco, eu não disse nada. -Olha só o que eu fiz! - Ela tenta em vão limpar com suas mãos, mas ela acaba chorando em cima do vestido.

- Mãe! - Ela seca as lágrimas. - Não se preocupe, irão conseguir tirar a mancha.

- Sim querida, nada atrapalha o grande dia. - A mulher diz se virando para pegar o vestido, outra mulher se aproxima e ela dá um largo sorriso.

- Você deve está feliz por ser uma das escolhidas?

- Quem não estaria? - Minha mãe fala, olhando para filha da mulher que está brincando com as fitas no chão.

- Quem não estaria? - Repito tentando sorrir, chamando atenção para mim e não para minha mãe.

- Eu daria tudo para estar no seu lugar! - Sinto uma enorme vontade de dizer: "então porque não vai, no meu lugar?", mas apenas digo...

- Sou sortuda! - Dou o mais largo sorriso que consegui.

- Não sabe quanto. - Ela diz piscando.

Eu realmente desejo ter a boa vontade dessa mulher.

- Vamos filha? - Minha mãe diz me puxando.

Todos me olhavam como se eu fosse da realeza e de certa forma é o que sou. Moramos mais próximo do castelo que qualquer um, temos as melhores casas, os melhores vestidos e joias, cada pequeno desejo pode ser realizado com um estalar de dedos.

Mas tudo tem um preço, é assim que as coisas funcionam em Tárcia e o preço que nós escolhemos temos que pagar é com nossas vidas.

Escutei alguns cochichos de uma mulher que fala com sua filha. "É ela filha, ela que é uma das escolhidas".

Não costumávamos sair, nunca gostei dos olhares e presentes que recebia, não gosto de ter que parecer agradecida, sorrir e fingir que não sou um porco sendo preparada para o abate. Mas havia coisas que me obrigavam a ter que andar pelo reino e o vestido para a grande cerimônia era um desses motivos.

- Eu odeio sair nas ruas. - Eu cochicho para minha mãe, que me olha e balança a cabeça.

- Também filha. - Minha mãe sempre foi bonita, cabelos escuros, pele bem clara e olhos verdes, mas mesmo assim tristes. Não haveria ninguém que não concordasse comigo, ela era a camponesa mais linda que alguém já viu. - Porque está sorrindo?

- Eu queria ter nascido com seus olhos. - Falei, ela rapidamente ficou vermelha, minha mãe ao contrário de mim, não gostava de elogios.

- Pare com isso! É linda exatamente como é.

- Diz isso porque nasci sua cópia. - Ela sorri e revira os olhos, ela já havia se conformado comigo, mas a única coisa que realmente puxei do meu pai foram os olhos e o gênio.

Chegamos à enorme casa, que segundo eles era "a nossa casa." Meu pai está sentado olhando pela janela. Ele não me olha, nem ao menos parece perceber que eu estava lá, não reconheço o homem que ali está, tem os mesmos olhos castanhos profundos como os meus, mas agora não tinha vida ali. Meu pai sempre estava triste, ele tinha se tornado a sombra do guerreiro que um dia foi, mas nas últimas semanas isso tem sido pior, ele tem ficado mais distante e eu não consigo mentir para ele, não posso abraçá-lo e dizer que tudo irá ficar bem, não tenho força para isso e acho que ele sabe disso.

- Vamos filha. - Minha mãe me puxa quando percebe que eu estava prestes a chorar. Eu a sigo até o meu quarto.

- Não sei o que eu faço! - Digo me jogando na cama. - Ele sabe que não sou culpada, não sabe?

- Ele mais do que ninguém sabe. - Ela se aproxima e faz uma carícia em meus cabelos.

- E o que eu faço?

- Não há o que fazer!

- Eu não quero ir e deixá-lo assim! - Digo irritada. A verdade é que estou muito irritada nos últimos dias, estou irritada com tudo e com todos, porque eu não quero morrer, porque não quero deixá-los.

- Como se você estivesse escolhendo! - Minha mãe diz, sem me olhar, tanto ela quanto o meu pai sabiam que não havia escolha, não quando meu destino foi traçado pela rainha de Tárcia.

- Não tenho. - Sinto a minha garganta doer, mas não ia chorar, não ali, não perto dela.

- Minha filha... - Ela não terminou de falar, apenas me abraçou, não havia muito o que falar, não quando sabíamos onde a conversa iria terminar, meus pais estavam devastados e eu não podia fazer nada para mudar isso e era o que mais me doía.

Às vezes desejo que eles fossem como os outros pais, queria que eles estivessem felizes pela honra de ter uma escolhida em sua família, mas meus pais não eram assim, eles não se importavam com o bem do reino...

- Podíamos caçar, ele sempre se alegra quando caça. - digo e minha mãe deu o que era à sombra de um sorriso.

- Sabe que isso não irá acontecer.

- Só queria saber o que fazer. - Eu me sentia impotente, como se minhas mãos estivessem amarradas, eu não podia lutar pela minha própria vida e não podia mudar o que meus pais sentiam quanto a isso.

- Eu também, querida. - Ela beija o topo da minha cabeça, já havia se passado muito tempo desde que ela havia feito isso, muito tempo desde que eu era uma menininha que precisava de colo e consolo.

Veio à imagem de uma casinha humilde sem muito espaço e com muitas espadas, minha casa ficava longe do castelo em uma floresta, não tínhamos muito, mas nada nos faltava e, com certeza, fui mais feliz lá do que nessa casa enorme e vazia.

Essa casa não tem vida e, com certeza, nunca teve alegria. Quando nos mudamos, meus pais já sabiam que em sete anos eles perderam sua única filha e a bela casa não mudava isso.

- Filha, você quer um chá?

- Não, vou ir ver a Elaine.

- Não demore muito. - Minha mãe disse se virando para sair. - E não desça pela janela!

- Não se preocupe. - Digo olhando para janela, mas então decidi obedecê-la e sai pela porta.

Caminho até a enorme casa ao lado e bato na porta.

- Sim, o que deseja? - A criada baixinha de cabelos ruivos pergunta, não gosta muito de mim, na verdade. Poucas são as pessoas que gostam, sou um exemplo do que uma escolhida não deve ser.

- Elaine está?

- Sim, pode entrar. - Ela diz se virando para ir chama Elaine, fiz uma careta, mesmo sabendo que era algo infantil, mas não havia muito que se fazer além disso.

A enorme casa da Elaine era bela e cheia de flores, ao contrário da minha que estava sem vida.

Elaine entra na sala com seu lindo vestido verde, ao contrário de mim, ela é o exemplo do que uma escolhida deve ser. Muito calma e conformada, fingi muito bem estar feliz por morrer pelo nosso reino, mas não estava, minha melhor amiga não está conformada, apenas aceita porque sua família acha que é uma honra morrer para o bem do reino.

- Foi fazer a prova do vestido hoje? - Ela perguntou de forma gentil, sempre gentil demais para o meu gosto, mas eu a adorava e por isso suportava tanto sua personalidade dócil e gentil.

- Sim, o seu dia é amanhã?

- Sim. - Ela diz, pegando um de seus cachos loiros e fazendo uma careta. - Estou nervosa!

- Ficará lindíssima. - Ela sorri, mas seus olhos azuis não me enganam, ela estava triste e não tinha ninguém além de mim e de Caio com quem pudesse demonstrar sua insatisfação.

- Eu a odeio! Por nos fazer passar por isso. - Falei e me arrependi ao olhar Elaine.

- Fique quieta! - Elaine me repreende com o olhar.

- Desculpa! - Eu digo, olhando para os lados para ter certeza que ninguém estava nos escutando. Ao contrário dos meus pais, os pais de Elaine achavam uma honra entregar sua filha para o bem do reino.

- Meu pai te proibiu de vir aqui.

- Não se preocupe, não direi mais nada aqui.

- Que tal ir para o jardim? - Elaine diz.

- Claro.

Entramos em um belo jardim e não tive tempo de apreciá-lo já que Elaine começou a resmungar.

- Dominique, você tem que parar com isso! - Ela fala irritada. -É a nossa rainha e temos que aceitar o nosso destino.

- E quem foi que disse que esse é o meu destino? - Digo arrancando uma rosa. - O destino dela não era ser arrancada, era?!

- Como a rosa não temos escolha. - Elaine sorri e pega a rosa. - Seja como a rosa e não reclame.

- Não quero, não posso fingir que estou feliz.

- Não diga isso, muitas querem estar em seu lugar. - Ela fala de forma paciente como se falasse com uma criança.

- Não, não querem! Só dizem por que é bonito porque é algo que os outros esperam ouvir.

- Pare com isso!

- Não é certo, não devia ser considerado certo nem um privilégio morrer sem lutar, morrer sem honra, sem uma história.

- Do que está falando? Somos os bens mais preciosos do nosso reino. - Por um momento Elaine fala como as outras, ela era mais como elas do que como eu, e por algum motivo isso me incomoda, me incomoda saber que eu estou sozinha, que ninguém irá se rebelar ou lutar do meu lado.

- Até as próximas escolhidas, então depois seremos esquecidas, não se lembrarão de nada sobre nós, não vão lembrar o quanto nos amavam porque terão outras para amar.

- Não penso assim, somos únicas e todas nós podemos trazer paz para nosso reino. - As palavras que nos foram enfiadas goela abaixo quando crianças agora ela repetia, como se fosse verdade.

- Morreremos pelo nosso reino! - Não podia acreditar nela, mesmo sabendo que Elaine como as outras precisavam acreditar nisso, precisavam acreditar que nosso sacrifício seria bom para o reino. Mas o que seria para nós? Ninguém pensava o quanto iríamos perder, ninguém nos perguntava se estávamos dispostas a sacrificar tudo pelo bem do reino.

- É assim que tem que ser. - Elaine disse segurando o choro, ela era melhor nisso do que eu.

- Não consigo concordar em apenas aceitar a morte.

- Dominique, não deve contrariar o seu destino. - Ela disse o que sempre nos foi dito.

Tínhamos aulas sobre a história do reino, éramos ensinadas a amar nosso reino, doutrinadas a nunca questionar a escolha da rainha. Então por motivos que não sabemos ao certo, nosso destino é a morte.

- Eu não quero morrer! - Eu quase supliquei, mesmo sabendo que Elaine não poderia me salvar.

- Mas...

Ela tenta dizer algo, mas ela para, eu estava desabando e ela sabia disso.

- Quem vai cuidar deles? Eu não tenho um irmão como você.

- Eu não sei. - Ela me abraça. - Queria poder ajudá-la, queria te proteger disso.

- Não devia ser assim, sabia?

- Não reclame, sabe que sonhar não torna nada em realidade. - Ela se afasta para secar suas lágrimas

- O que poderia fazer, além disso? - falo irritada.

- Apenas aceite. - Elaine diz simplesmente.

- A morte?! - digo exasperada com seu conformismo.

- Você não devia pensar assim, nem sei por que ainda falo com você! - Ela parece enfim irritada, sempre ficava quando tocamos nesses assuntos,

- Por que sabe que estou certa ou me diga que você não gostaria de se casar com Lúcio, ter filhos e ficar bem velhinha?

- Seria maravilhoso, mas esse pensamento não me pertence, Dominique ter esses pensamentos te faz sofrer, pensar no futuro nos faz sofrer.

- Por quê? Alguém que você não conhece disse que deve morrer?

- É a rainha, não seja abusada. - Elaine me olha irritada.

- Eu quero lutar, eu quero conhecer o mundo em um barco, eu quero experimentar de tudo, eu quero viver.

- Você é mulher e mesmo que não fosse morrer, não iria fazer essas coisas.

- Eu odeio regras, odeio esse vestido, acho que deve ser bem melhor usar calças!

- Isso é impossível! - Ela me olha horrorizada

- Nada é impossível. Não sei como se conforma com tudo.

- Meu pai diz que é o melhor para mim, quem sonha demais se torna triste.

- Seu pai é mentiroso!!!

- Não diga isso! - Ela se enraiveceu. - Você é muito abusada. - Elaine sai me deixando sozinha.

Acho que exagerei desta vez, mas não fiquei sozinha por muito tempo, o lindo irmão dela logo veio ao meu encontro.

- Por que minha irmã passou bufando? - Caio pergunta.

- Por que eu disse que seu pai é um mentiroso. - Digo com toda a certeza do mundo para o menino de cabelos loiros e olhos azuis, que sorria para mim.

- Há entendi por que ela estava dizendo "Abusada, abusada". - Ele se senta ao meu lado, o adoro. Caio é irmão gêmeo de Eliane, mas ao contrário da irmã ele tinha uma grande tendência a dizer sim para mim.

- Não sei como ela pode aceitar a morte! - Digo colocando minha cabeça em seu ombro.

- Você usa essas mesmas palavras há sete anos. - Ele disse virando seus olhos azuis para me olhar.

- Lembra quando nós três queríamos fugir? - Eu digo tentando sugerir uma ideia absurda, então ele ficou sério.

- Não deu certo. - Ele sabia o que eu estava pensando, mas nada disse, ele se ajeitou, parecia desconfortável.

- E se tentarmos de novo? - insisti e ele pareceu pensar, Caio não disse sim e nem sorriu, o que não era algo comum nele.

- Não. - Ele disse sem me olhar, sem me dizer o motivo apenas "não" foi o que disse me surpreendi e me irritei com ele.

- E por que não?

- Você só diz coisas insanas. - Ele não sorriu dessa vez, se arrumou para me olhar, sabia que estava me magoando, mas não disse nada para me consolar.

- Caio! - Minha voz saiu mais rouca do que normal, sentia minha garganta doer. - Sei que você não quer que ela morra.

- Ela é minha irmã, claro que não quero vê-la morta. - Ele disse simplesmente, mas dessa vez ele desviou o olhar.

- Então?! - Caio me olha e sorri, mas não do jeito certo, não do meu jeito favorito, era apenas um sorriso sem emoção alguma.

- Eu não posso.

- Por quê? - Eu precisava entender, precisava saber o que foi feito com Caio.

- Você sabe que não tem para onde fugir! - Ele passou a mão por meus cabelos. - Não tem como fugir.

- Então está me dizendo que devo morrer? - Ele vira o rosto, mas posso ver que está lutando com as palavras.

- É o seu destino. - Foi como um tapa, assim sem perceber sem me dar conta ele tinha me machucado, conseguiu me pegar desarmada.

Eu apenas o olhei, queria machucá-lo, queria que ele sentisse o que eu estava sentindo.

- Seu covarde! - Cuspi as palavras que magoaram qualquer bom cavaleiro.

- Não seja injusta! - Ele me olha ofendido. - Não quis dizer isso.

- Você desistiu dela! Desistiu de mim! - Eu me afastei dele e me levantei, não o olhei enquanto corria.

- Dominique espere! - Ele grita, mas finjo não escutar.

Corro o máximo que posso e quando canso encosto-me a uma árvore, seco as lágrimas e me sento olhando para o enorme castelo na minha frente. Lembro-me de olhá-lo de longe, lá da floresta, era tão pequeno e distante, era um sonho, eu me imaginava sendo a primeira cavaleira mulher, eu realmente acreditava que daria certo, que eu seria como o meu pai.

Caio se aproxima e se senta ao meu lado.

- Eu não posso fazer isso. - Ele diz e coloca a mão na cabeça, cobrindo o rosto, parecia desesperado, como se estivesse com medo.

- E por quê? - Digo tentando ver seu rosto, mas ele pega minha mão e me encara.

- Sejamos sinceros para onde iríamos? E como garantirmos que ela não irá nos achar?

- E não quer me salvar?! - Digo soltando minhas mãos da sua, apenas para ele a pegar novamente.

- Eu te amo tanto, mas temos nossa família.

- Não entendo! - Digo me afastando dele.

- Quem acha que irá pagar por nossa insolência? - Ele me olha com raiva, mas não era de mim, Caio estava com raiva de tudo, podia ver, podia sentir.

- Eu...

- Não pensou, eu sei! Sempre imprudente! Meu pai me fez ver que não temos escolha. - Ele se aproximou novamente. - Sua família e a minha não irão ser perdoados, sabe disso.

- Eu só....

- Meu pai me fez ver isso. - repetiu. - Ele disse que tentaria me convencer, que isso nos levaria para morte e não só eu, não seria apenas nós, toda nossa família pagaria. - explicou melhor a conclusão que seu o pai o fez enxergar. - Não tem como fugirmos e deixarmos eles e não tem como levá-los.

- Eu só não quero morrer! - Falei e ele sorriu novamente sem qualquer brilho no olhar.

- Também não quer que eles morram? - questionou se aproximando para me abraçar e eu deixei.

- Não!

- Vê como isso é impossível? - Ele sussurrou. - Não temos como fugir, não sem uma consequência terrível.

- Eu sei. - Falei e me aproximei mais do seu corpo, podia sentir seu coração batendo e com isso me acalmei. - Por que eu?

- Não sei! - Ele sussurra.

- Isso deve ser meu destino e devo aceitá-lo. - Falei desanimada.

- Como se pudesse. - Não podia ver, mas sabia que sorria, Caio sempre sorri.

- Eu tenho que tentar aceitar. - Ele me aperta com mais força, posso sentir que ele puxa o ar, como se estivesse lutando para não chorar.

- Talvez podemos encontrar uma saída.

- Não temos esperança, sabe disso, não queira se enganar. - Digo me afastando para ver seu rosto.

Ele é bonito, eu não penso muito nisso, mas agora quando estamos tão perto não tem como não pensar que ele é perfeito, seus cabelos são ondulados e loiros e quando sorri, e quase sempre ele o faz tudo ficar bem.

Mas ela conseguiu estragar isso, ela está destruindo tudo.

- Só de pensar em você...

- Eu sei! - Eu coloco as pontas dos meus dedos em seus lábios. - Não fica preocupado, gosto quando sorri. - Ele tira minha mão e me beija. O beijo era suave, maravilhoso e por um momento eu me esqueci de tudo, mas uma vozinha irritante me lembrou de que era mais uma coisa que eu teria que perder.

Meu coração acelera, sinto minha face ruborizar, mas não penso muito antes de me afastar e começo a correr.

- Espere! - Ele grita. - Não queria magoá-la.

Ele não entende, eu não queria sentir aquilo, não queria sonhar com coisas que não cabiam no meu futuro.

            
            

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