A pequena cabana agora cheirava a mofo, as janelas estavam quebradas, provavelmente os bichos tenha entrado depois que fomos embora, ou algum viajante a usou para algo, ela estava caindo ao pedaços, mas ainda me sentia mais segura aqui do que na enorme casa que me deram para morar. Lembro- me do dia em que nos mudamos, a carruagem de ouro parou de frente a nossa casa. O homem de cabelo branco e com uma barriga enorme nos mandou entrar, pois eu era uma das escolhidas da rainha e isso era uma grande honra.
Eu não sabia, na verdade não tinha idade para entender, apenas sabia que meus pais estavam com medo e aquilo deveria ser um sinal.
Comecei a levantar as cadeiras que estavam no chão, o pó tomava o lugar, eu sei que é bobagem limpar esse lugar, sabendo que nunca mais voltarei aqui, mas parecia certo deixá-la limpa, a floresta tinha tomado todo o lugar, a casa estava cercada por ervas daninha, os cupins comeram as paredes, uma chuva forte e a casa seria desfeita, meu país nunca poderiam voltar a morar aqui, uma parte minha acreditava que eles voltariam, que quando as novas escolhidas fossem levadas, eles voltariam para cá, tentaram me esquecer e com sorte conseguiriam. Mas vendo a casa assim, eu soube que isso era só um sonho bobo, eles jamais voltariam, nunca mais seria como antes.
Fiquei ali na casa mais tempo do que esperava, olhei tudo, cada coisa que toquei me fez lembrar de algo, cada coisa tinha sua história e quando vi já era tarde demais para voltar pra casa, então deitei na minha antiga cama que não chegava a ser tão confortável e nem tão bela quanto à outra, mas me abrigava e me confortava muito mais. Senti que havia camundongos ali, mas não liguei, era bem melhor do que não escutar barulho nenhum.
Olho para o espelho quebrado, onde minha mãe se via e cantarolava, ela inventava músicas que acha que eu iria gostar e dizia em suas letras que mulheres iam à guerra, até dizia que mulheres venciam as guerras. Mesmo ela não acreditando nisso era maravilhoso como ela me fazia acreditar.
Agora ela não canta mais, mesmo tendo um espelho muito maior na nova casa, seus olhos verdes não brilhavam mais como antes e seu cabelo preto sempre estava preso em um severo coque. A felicidade dela tinha ficado ali, agora sei que a felicidade de todos nós tinha ficado ali, junto com aquele espelho velho, junto a essa cabana velha.
Já estava sonolenta quando ouvi um barulho vindo do lado de fora, vozes e passos podiam ser ouvidos. Me ergui da cama e fui de fininho até a janela para ver três senhores de armaduras, as quais reluzia no escuro da noite e sobre a luz da lua, deviam ser da cavalaria da rainha.
- Vamos pernoitar aqui? - Um homem questiona os outros.
- Sim, já estamos perto do reino. - Um deles fala parecendo bem disposto a se abrigar na casa, que para eles deve estar abandonada.
- Preferível dormir sobre as estrelas, pois elas não caíram sobre nossa cabeça. - Um dos homens fala.
- Se esqueceu dos ladrões da floresta? - outro protestou.
Eu não conseguia ver seus rostos, mas eu sabia do que eles estavam falando, falavam dos dois irmãos que eram os ladrões mais perigosos de toda a floresta e que todos conheciam histórias a respeito dos feitos deles.
Sentei-me no canto e fiquei os observando, eles fizeram uma enorme fogueira do lado de fora, onde costumava ser meu quintal e os três se sentaram, havia um homem mais velho de cabelos grisalhos, o segundo que não parecia tão velho assim, mas que não chegava a ser novo com o último deles, que de onde eu podia ver aparentava ser pouco mais velho do que eu, porém era ele que comandava os outros.
- Está ansioso para rever a rainha? - O mais velho de cabelos brancos pergunta olhando para o mais novo.
- Ela é a mulher mais bela de todo o reino. - Ele diz orgulhoso como se aquilo fosse uma resposta.
Não tem como deixar de notar o quanto ele é bonito, mesmo na penumbra da noite é iluminado pela luz da fogueira a sua frente percebi os ombros largos envoltos na armadura, a bela barba aparente e os cabelos grandes e alinhados.
- Sim ela é! - Outro diz com rancor.
- Não vejo a hora de tê-la em meus braços. - ele rebate e sinto uma curiosidade imensa para ver seu rosto, para ver o amante da rainha.
- Sorte sua rapaz que foi escolhido por ela! - Diz o velho.
- E quando ela se cansar, ficará sem a cabeça assim como todos os outros. - o outro ranzinza continua.
- Não diga isso Bartolomeu. - O mais velho repreende o homem de nariz torto.
- O deixe Emanuel, ele só sente inveja assim como todos. - O belo rapaz diz alegre.
- Então a pedirá em casamento? - Outro diz com tom de gozação.
- Sabe que a rainha não se casaria comigo e nem com ninguém.
- Isso não é verdade. - O mais velho diz.
- Ora, quantos estão vivos depois disso? - O narigudo pergunta com a voz de desdém
- Ela não os mata. - O mais jovem diz e percebo que está muito irritado com a fala do companheiro.
- Só morrem em batalhas quando não são mais convenientes. - Bartolomeu fala mexendo os ombros, aparentemente ele não acreditava na rainha tanto assim.
- Ousa questionar a honra da rainha?! - o jovem se altera mostrando seu desconforto com a conversa, afinal falar da rainha dessa maneira era visto como traição.
- Um ainda vive. - O velho fala calmo, como se não notasse quantos os outros estavam exaltados.
- Você... - O mais novo parecia absurdo demais para terminar a pergunta.
- Não, mas conheci alguém que foi dela. - o velho confidência. - Está bem vivo até onde sei.
- Como pode? Não conheço um homem que continue vivo. - O homem de nariz torto diz.
- Ele pediu a permissão para não fazer mais parte da guarda do reino. Conheceu o verdadeiro amor e disse isso para a rainha.
- E ela foi piedosa? - A voz surpresa do homem, era algo que me assustava. Claro que sempre pensei o pior da rainha, mas ela fazia tudo para o bem do reino, era isso que eu e as outras aprendemos.
- Não sei se o que ela fez com eles possa se chamar de piedade , mas ele está vivo se é o que importa.
- O que ela fez? - O soldado mais novo perguntou tão curioso com a história quanto eu, que continuava a ouvir tudo encoberto pelas sombras em meu quarto.
- Não posso dizer - O velho se deita dando por encerrado o assunto.
- Acredita nele? - O belo rapaz pergunta para o outro.
- Não sei, mas Emanuel não costuma mentir.
- É melhor dormimos amanhã vamos ter um longo dia pela frente. - Eles se deitam e eu os observo até não haver mais fogueira, era estranho ver outros falarem da rainha assim, sem uma adoração exacerbada, mas aquilo aquietou o meu coração.
- Acorde! - Por um momento pensei que estava sonhando, a voz era suave como se não quisesse me assustar, me remexi para o lado e o cheiro de madeira velha me faz lembrar da onde estou, sinto meu coração dar um salto. Abrir os olhos e me deparo com um par de olhos verdes me encarando, ele apontava um espada para mim.
Meu coração estava prestes a saltar pela boca, o ar parecia ter sumido de meus pulmões. Como eu podia ter sido tão descuidada peguei no sono aqui?
Senti um arrepio tomar todo o meu corpo, o medo me tomou de uma maneira que nunca imaginei ser possível. O que eles fariam comigo? Eu estava desarmada e indefesa...
- É só uma menina, afaste isso dela. - O velho diz me olhando.
- Ela pode estar com os ladrões. - O homem de nariz torto se intromete...
- Quem é você? - O belo rapaz pergunta com a espada erguida para mim.
Ele parecia orgulhoso e imponente, com ar de superior, sentia raiva por está desarmada, eu o faria implorar por piedade e ele tiraria aquele jeito presunçoso de me olhar.
Mas mesmo sobre minha raiva não podia negar que era belo. Agora sobre a luz do dia e bem ali na minha frente eu podia ver os cabelos negros como os meus, seus olhos verdes que me encaravam, o que era um contraste para as sobrancelhas grossas e negras. Ele era forte, mas agora usando apenas uma camisa branca aberta me mostrava seu corpo, senti minhas bochechas ruborizadas, aquilo era ridículo, eu nem conseguia respondê-lo. - Diga logo! - O homem de nariz torto gritou com raiva tirando minha atenção do homem à minha frente..
- Me chamo...
- Pode falar menina, não tenha medo. - O velho garante me acalmando.
- Margarida! - Falo enquanto me levanto irritada, mais comigo do que com o homem. - E estão na minha casa, devem ir.
- O que faz aqui sozinha Margarida? - O belo rapaz pergunta e eu queria dar uma resposta malcriada, mas me ouvi dizendo:
- É a minha antiga casa.
- Onde mora agora? - Eu não queria que eles soubessem que era uma das escolhidas. Olhei para janela que eu tinha deixado escancarada e possivelmente tinha sido por ali que eles me viram.
- Não é da sua conta! - Digo já pulando a janela, não era alta e pulei com facilidade.
- A segure! - ouvi um homem gritar, mas não me preocupo em olhar para trás.
Corro o máximo que posso, entrando na floresta, por um momento sinto que estavam me seguindo me viro, para ver a distância que estavam, quando sinto sendo jogada no chão, seu corpo estava sob o meu.
Me debati tentando me soltar, mas não consigo afastá-lo, ele me puxa virando-me para encara-lo, ele pega meus braços e me olha como se me desafiasse a tentar fugir novamente, eu retribuo o olhar altivo e por um segundo, seu rosto se aproxima do meu de forma lenta, quase hipnótica. Então escuto um barulho ao longe me trazendo de volta e o empurro, mas ele ainda me segura aproximando seu corpo do meu.
- Que abuso! - Digo irritada.
- Me desculpe, eu não ia...
- Me beijar?! - Falei tentando me soltar, ele parece pensar se deve ou não me soltar, mas então afrouxa as mãos.
- Não! Claro que não. - Ele balança a cabeça negativamente.
- Sim! Se eu não tivesse...
- O que está acontecendo aqui? - O velho pergunta, parecia estar cansado da corrida.
- Ele ia me beijar. - Eu digo o empurrando, ele se afasta e começa a se limpar, ainda no chão.
Ele levantada a sobrancelha e parecer está pensando em como poderia me enforcar facilmente, mas então ergue a mão para me ajudar a levantar, mas não solta o meu braço.
- Daniel ia beijá-la? - O velho questiona, parecendo se divertir com a nossa situação.
- Eu não! - Ele disse afastando um pouco mais seu corpo do meu, porém não largando o meu braço. - Ela que se aproximou.
- Daniel eu estou inclinado a acreditar nela. - O homem de nariz torto chega falando. - Sei que não pode ver uma moça bonita.
- Ela nem é tão bonita assim! - Ele diz mal-humorado, me olhando com certo desdém.
- O Que? - Como ele ousa.
Dou um empurrão nele que pela surpresa com minha força me solto, então me aproveitando do momento de distração dos três, e pego a espada que estava no chão e ergo na direção dele.
- Não vou brigar com você! - Ele me olha surpreso por minha ousadia, mas se afasta mais um pouco.
- Está com medo?! - Eu zombo, ele parece reparar em como seguro a espada.
- Você é uma mulher, não vou brigar com você. - Ele olha para os outros como se pedisse para que eles interviessem a seu favor.
- Dominique! - A voz do meu pai em meio a toda aquela loucura me surpreende.
- Pai! - Ele me olha com a espada na mão, depois para os homens que ali estavam.
- O que está acontecendo aqui? - ele questiona se aproximando de onde estávamos.
- O que faz aqui Elias? - O velho pergunta para meu pai.
- Emanuel! - Meu pai se diz meio apreensivo, ele me olha novamente, parecia esperar um sinal, mas eu estava embaçada demais para poder dizer qualquer coisa.
- É sua filha? - O velho volta a me olhar novamente, como se estivesse tentando lembrar-se de alguém.
- Dominique venha cá! - Meu pai me pede olhando para a espada em minhas mãos, eu ando até ele, e penso em falar algo, mas então ele me coloca para trás e pega a espada.
- O que querem com minha filha? - Meu pai diz respondendo o outro velho, mas seu olhar não era gentil como o do homem.
- Ela estava nos vigiando. - Daniel diz com seu olhar de superioridade. - Somos da guarda da rainha, apenas queríamos ter certeza que não era uma espiã.
- Eu não estava te vigiando! - Falei irritada, como ele podia ser tão...
- Eu sei quem vocês são. - Meu pai olhou para o velho que apenas sorria. - Vamos embora Dominique!
- Gostei de revê-lo Elias. - Emanuel diz, mas meu pai o ignora se pondo a andar e me arrastar pela floresta.
- Sua mãe está desesperada! - Ele falou, parecia está cansando, me sentir culpada.
- Eu não queria...
- O que você falou para eles? - questionou, mas antes que conseguisse responder continuou. - Não fale sobre eles com sua mãe.
- Por quê?
- Só não diga, ora! - Meu pai estava agindo como um cavalo, e eu devia dar um basta nisso, devia dizer a ele que a culpada não era minha, que eu jamais lhe causaria dor se fosse por escolha, mas eu me calei engoli todas as palavras e o seguir.
Minha mãe me abraçou, como se eu tivesse passado anos fora de casa assim que colocamos o pé na porta.
- Chega mamãe! - Tentei me esquivar de seus beijos.
- Não podia ter me feito isso! - Ela diz secando as lágrimas que teimam em cair de seus olhos. - Se fizer isso de novo, ficará uma semana de castigo!
- Eu só tenho mesmo uma semana! - Logo que disse me arrependi, minha mãe parecia em chamas, vi uma agonia em seus olhos.
- Vá para o seu quarto! - Ela grita e eu a abraço em resposta.
- Vai ficar tudo bem! - Eu lhe dou um beijo no rosto. - Não chore mais.
- Não, você vai morrer como pode ficar bem? - ela desaba perdendo a postura de raiva.
- Eu só não sei o que dizer! - Eu estava cansada, queria chorar, mas não chorei, só queria que eles sofressem o menos possível, não era pedir muito, era?
- Fuja! - Meu pai disse do nada chamando minha atenção.
- O que está dizendo?
- Isso fuja! - Minha mãe concordou com ele me assustando. Eles estavam desesperados demais, para pensar nas consequências.
- Eles vão torturar vocês! - Respirei cansada constatando o óbvio, não queria ter aquela conversa. - Não posso fazer isso.
- Nada que eles façam vai ser pior do que tirá-la de nós! - Meu pai diz e seu olhar cai sobre a minha mãe.
Já tínhamos passado por isso, eles sabiam que era impossível, que a única coisa que conseguiríamos era diminuir o número da família de três para zero.
- Nada pode ser pior. - Minha mãe concordou.
- Eu não posso, não sabendo disso...
- Você é jovem! Irá conseguir. - Meu pai me interrompe e começa andar de um lado para o outro. - Fiz bem em te ensinar a lutar, você é esperta, vai se virar bem...
- Eu não vou! - Gritei e ele me olhou irritado. Meu pai estava diferente, podia ver.
- Vai sim! - Ele diz, fechando a mão e batendo contra a mesa. - Só precisamos ter um plano.
- Eu não vou! - Gritei novamente, ele me olhou furioso. - Vocês não querem me ver morta, e eu muito menos quero vê-los.
- Vá, por favor! - Minha mãe se aproxima implorando, mas me afasto.
- Chega, vou para o meu quarto. - Sair sem olhá-los.
Entrei no lindo quarto, as cortinas brancas, almofadas coloridas e uma cama digna de uma princesa, é uma prisão confortável, nada ali era meu além de uma boneca feia e remendada, a única coisa que consegui carregar comigo, a única coisa que podia chamar de minha. Lembrei-me do dia em que eles chegaram para nos trazer para a nossa nova casa.
- Eu não quero ir! - Eu gritava me segurando na frágil porta de madeira.
- Temos que ir! - Meu pai dizia soltando os meus dedos um por um.
- Por quê? - Eu gritava com raiva.
- Você foi escolhida. - Minha mãe falava com um falso sorriso olhando para o homem que nos esperava.
- Não quero ser escolhida! - Falei tentado fugir dos braços do meu pai.
- Você será invejada, terá uma casa mais confortável, terá uma boneca bem melhor que essa. - O homem barrigudo disse olhando para a boneca rasgada no chão.
- Não quero nada que venha da sua rainha! - Eu gritei e minha mãe tapou minha boca.
- Desculpe meu senhor, ela não queria dizer isso. - mamãe murmurou me arrancando dos braços do meu pai.
- Não se preocupe, sei como são as crianças, mas se outra pessoa a ouvir dirá a rainha. - Minha mãe me jogou para trás como se apenas aquelas palavras fossem capaz de me ferir.
- Agradeço ao senhor! - Minha mãe sorriu e me soltou um pouquinho, meu pai colocou uma trouxa de roupas na carruagem terminando de se preparar.
- Não se preocupem, terão do bom e do melhor na sua nova moradia. - O homem disse como se devêssemos estar festejando.
Passei o caminho todo chorando, me lembro de que nem ao menos sabia o que queria dizer escolhida, eu só sabia que eu amava aquela casa. Quando chegamos à enorme casa com lindo jardim, por alguns segundos me senti sortuda, ela era a coisa mais bela que eu tinha visto, olhei para o meu pai, queria ver se ele também estava feliz, mas havia uma sombra em seus olhos.
Quando uma linda mulher de sorriso brilhante me perguntou o que eu queria comer me senti no paraíso, me lembro de que pedi frango e batatas assadas, o homem apareceu com uma linda boneca, o que me irritou.
- Já pode jogar essa fora. - Ele disse olhando para a boneca remendada nos meus braços.
- Ela é minha e eu não vou jogá-la fora. - Eu respondi dando as costas para linda boneca.
- Obrigada! - Minha mãe intervém já pegando a boneca da mão do homem.
- Se fosse um homem seria da cavalaria, por ter um gênio forte. - Meu pai disse com rancor.
- Que pena que não é. - O homem sorri.
Hoje eu entendo o que meu pai quis dizer "se eu fosse um homem seria da cavalaria", não fazia a menor diferença de qualquer forma eu morreria pela rainha. Ser filha de um cavaleiro desonrado é está marcada de qualquer forma.
Alguém bate na porta, me tirando dos meus devaneios.
- Pode entrar. - Digo e minha mãe entra.
- Trouxe seu café da manhã, desde ontem não come nada.
- Obrigada! - Eu digo pegando a bandeja de frutas de sua mão.
- Eu sei que está confusa e com medo. - Minha mãe diz passando a mão em meus cabelos. - Mas não faça mais isso, sumir no meio da noite não é bom.
- Desculpe-me. - falei Imaginando a sua a sua aflição, fui inconsequente... - Não se preocupe, não vai acontecer de novo. - Eu beijo sua bochecha como para selar a promessa.
- Tem que pentear os seus cabelos. - Ela diz e se levanta para pegar a linda escova de prata.
- Aaaa mamãe!
- Sem Aaaa mamãe. - Ela disse se sentando e pegando em meus longos cabelos pretos, ela é boa nisso, ela é ótima em ser mãe, merecia uma filha mais boazinha, ela merecia alguém como Elaine.
- Mãe você nunca pensou em ter outros filhos?
- Não. - sua resposta é sucinta.
- Por que não? - continuo insistindo por uma resposta.
- Você já vale por três. - Ela ri, como se uma lembrança passasse por sua cabeça.
- Se tivesse outros filhos, não ia ser tão ruim - Minha mãe parou de pentear, como se aquilo tivesse passado pela sua cabeça pela primeira vez.
- Não, acho que mudaria o que sinto. - Ela voltou a pentear o meu cabelo, e o silêncio se instalou por alguns minutos, e eu deixei a minha mente ir para o lago novamente, a promessa de sobreviver daquela coisa, se eu pudesse mudar meu destino, se eu pudesse dar paz aos meus pais, talvez valesse a pena pagar o preço, mas qual seria?
- Mãe se tivesse um jeito de eu sobreviver, mas talvez tivesse que fazer alguma coisa ruim, você acha isso certo? - Eu sabia que aquela coisa que prometeu me salvar ia querer algo em troca, em Tárcia tudo tem um preço.
- O que teria que fazer? - Ela para de pentear meu cabelo, e posso jurar que ela sorri quando fala. - Se precisasse matar a rainha não me incomodaria.
- Não acho que seja pra tanto. - Bocejei querendo fugir do assunto. - Estou com sono.
- Também ficou a noite inteira acordada.
- É dever ser por isso.
- Vou deixá-la para que possa descansar.
Então rapidamente ela fecha a porta e eu volto a deitar. Fecho os olhos, precisava dormir um pouco mesmo, me sentia mais cansada do que o normal.