Rainha de Sangue
img img Rainha de Sangue img Capítulo 3 02 Capítulo
3
Capítulo 6 05 Capítulo img
Capítulo 7 06 Capítulo img
Capítulo 8 07 Capítulo img
Capítulo 9 08 Capítulo img
Capítulo 10 09 Capítulo img
Capítulo 11 10 Capítulo img
Capítulo 12 11 Capítulo img
Capítulo 13 12 Capítulo img
Capítulo 14 13 Capítulo img
Capítulo 15 14 Capítulo img
Capítulo 16 15 Capítulo img
Capítulo 17 16 Capítulo img
Capítulo 18 17 Capítulo img
Capítulo 19 18 Capítulo img
Capítulo 20 19 Capítulo img
Capítulo 21 20 Capítulo img
Capítulo 22 21 Capítulo img
Capítulo 23 22 Capítulo img
Capítulo 24 23 Capítulo img
Capítulo 25 24 Capítulo img
Capítulo 26 25 Capítulo img
Capítulo 27 26 Capítulo img
Capítulo 28 27 Capítulo img
Capítulo 29 28 Capítulo img
Capítulo 30 29 Capítulo img
Capítulo 31 30 Capítulo img
Capítulo 32 31 Capítulo img
Capítulo 33 32 Capítulo img
Capítulo 34 33 Capítulo img
Capítulo 35 34 Capítulo img
Capítulo 36 35 Capítulo img
Capítulo 37 36 Capítulo img
Capítulo 38 37 Capítulo img
Capítulo 39 38 Capítulo img
Capítulo 40 39 Capítulo img
Capítulo 41 40 Capítulo img
Capítulo 42 41 Capítulo img
Capítulo 43 42 Capítulo img
Capítulo 44 43 Capítulo img
Capítulo 45 44 Capítulo img
Capítulo 46 45 Capítulo img
Capítulo 47 46 Capítulo img
Capítulo 48 47 Capítulo img
Capítulo 49 48 Capítulo img
Capítulo 50 49 Capítulo img
Capítulo 51 50 Capítulo img
Capítulo 52 51 Capítulo img
Capítulo 53 52 Capítulo img
Capítulo 54 53 Capítulo img
Capítulo 55 54 Capítulo img
Capítulo 56 55 Capítulo img
Capítulo 57 56 Capítulo img
Capítulo 58 57 Capítulo img
Capítulo 59 58 Capítulo img
Capítulo 60 59 Capítulo img
Capítulo 61 60 Capítulo img
Capítulo 62 Epílogo img
img
  /  1
img

Capítulo 3 02 Capítulo

Continuo correndo até entrar na floresta, aqui é onde me sinto bem, encosto-me a árvore e passo a mão em meus lábios, a sensação boa vem outra vez. Quero sentir mais dessa sensação, eu não quero morrer. Mas como ficar viva sem machucar as pessoas que amo? Eu queria poder lutar, poder saber até onde devo ir, não consigo de forma alguma aceitar a morte.

- Não quero desistir! - Digo determinada a lutar, mas lutar contra quem? Não era só a rainha, não era só um oponente para vencer, eu teria que lutar contra o meu reino.

- Que mocinha mais determinada. - A voz veio do nada.

Me levantei e olhei por entre as árvores e não havia ninguém, olhei para minhas costas e levei um susto, havia uma coisa, não podia ser um homem, mas tão pouco era um animal. Se parecia muito com um homem, seus olhos eram de cobra, amarelos e assustadores, mas sua face lembrava a de um homem muito cansado e envelhecido, seu nariz era torto e quando sorriu pude ver que seus dentes eram afiados e amarelados se parecia muito com animal enquanto sorria.

E quando percebi que ele poderia ser um animal, tentei correr, mas ele apareceu na minha frente com rapidez, ele se vestia diferente havia uma capa vermelha que cobria todo o seu corpo.

- Não tenha medo! - Ele falou em uma voz doce e amável, como se falasse com uma criança, seu olhar era humano de alguma forma.

- Não se atreva a me machucar! - Eu tentei me manter o mais distante possível daqueles dentes, e então eu me afastei um pouco.

- Não posso te machucar! - disse e logo percebe o que disse. - Não quero machucá-la.

Eu balancei a cabeça negando. O que essa coisa queria comigo? Respirei fundo, tentando me acalmar, olhei em seus olhos e percebi que havia algo errado, era como se ele estivesse vendo algo além do que eu podia, ele se aproximou e tocou em meu rosto, mas me afastei rapidamente.

- Sabe o que me encanta em você? - Ele não esperou eu responder. - Este seu olhar que me diz mais do que qualquer palavra, mas uma coisa está me intrigando.

- O que? - Ele procurava algo em meu olhar.

- Ainda não tem o olhar que procuro. - E então ele sorri. - Mas posso mudar isso.

O homem ou coisa diz como se me conhecesse, como se soubesse muitas coisas sobre mim.

- Não te conheço. - Falei dando mais um passo para trás.

- É não estava preparado para conhecê-la, tinha me esquecido. - Ele parecer perceber que não o compreendo. - Percebo o quão inocente você ainda é.

- Ainda? - Ele se afastou e acenou me chamando.

- Venha comigo, quero te mostrar algo. - Cada parte do meu corpo dizia para não segui-lo, mas havia alguma coisa que me dizia, que eu ia ficar bem, e por algum motivo eu comecei a andar.

Nós estávamos a caminho do lago e ele estendeu a mão.

- Posso te levar a um lugar? - Olhei para todos os lados, não havia para onde ir, estávamos de frente para o lago e eu não iria entrar lá com aquela coisa.

- Não tem como sair daqui, só sermos para o lago ou voltarmos para a floresta. - Ele sorri.

- Me dê a sua mão e mostrarei algo.

- O que seria? - Digo dando um passo para trás me afastando dele.

- Venha comigo e vai entender. - Ele sorri. - Precisar entender tudo.

Eu estava com medo, muito medo dele ser algum bicho do lago, mas sou muito curiosa e havia algo que me dizia que eu devia confiar, algo muito estranho e familiar sobre ele, me deixando muito confusa.

- Prometa que não irá me fazer mal!

- Não o farei. - Ele diz, e aquilo me tranquiliza por algum motivo, dou a mão a ele.

Em um segundo, já não estávamos no lago e sim em um lugar lindo. Havia um homem com roupas pomposas, ele era velho, tinha barba branca e olhos azuis muito escuros, diferente dos de Caio e Elaine que eram claros como o céu, mas além da diferença havia tristeza em seus olhos o tipo de tristeza que eu via nos olhos do meu pai. Ele estava sentado em um trono de ouro e havia outras três pessoas (contar como são as três pessoas). Então um homem de cabelos negros se aproxima dele.

- Onde estamos? - Perguntei aflita para a criatura que me acompanhava.

- Estamos no passado, estamos no passado de sua rainha. - Eu olhei novamente para tudo, parecia que estávamos ali invisíveis para eles, fiquei tentada a dançar apenas para ter certeza que não nos viam.

- Ele é o pai dela?

- Preste atenção! - Ele diz simplesmente, não respondendo meu questionamento e apontando para o trono.

O homem se posiciona ao lado da porta e anuncia:

- Vossa majestade a rainha! - uma bela senhora de cabelos negros e olhos castanhos entra na sala, ela faz a reverência ao rei, percebo que seus olhos estão cheios de lágrimas.

- Sua majestade... - Sua voz está trêmula. - Nossa filha está cada dia mais doente!

- Não é possível! - O rei levanta irritado. - Mandei trazer o melhor curandeiro do reino.

- Não entende que o que ela tem ninguém sabe dizer o que é ou como tratar?

- Mande chamá-lo! - O rei estava furioso.

- Sim, Majestade. - Ela faz uma reverência e sai.

O Rei caminha de um lado para o outro, parecendo aflito com toda a situação

- O curandeiro do reino! - O homem anuncia.

Um homem já de idade entra, ele usa roupas brancas e seus olhos se enchem de lágrimas quando vê o estado do Rei.

- Majestade! - Ele diz já fazendo uma reverência.

- Me diga o que há de errado com a princesa?

- Fiz tudo que pude, mas o que ela tem não é deste mundo.

- O que está dizendo? - o Rei cospe as palavras indignado com o que escuta.

- Sua filha está condenada à morte, não a nada que eu ou outro curandeiro possamos fazer. - o pobre homem explica mesmo sobre o medo que claramente sentia.

- Eu sou o Rei! E se digo que minha filha vai viver, ela vai viver!

O homem parece desesperado, por um momento parecer duvidar do que iria falar, mas por fim ele fala.

- Sim, há um jeito. - Percebo que direciono meu corpo para ouvi-lo melhor assim como todos que ali estavam.

- Me diga qual é imediatamente! - o Rei ordena deixando as palavras ecoarem pela grande salão.

- Há um ser com grande poder... Não sei como o encontrar majestade. - O homem não encara o rei, que parece perceber isso.

- Não acredito! - O Rei grita.

- Majestade eu...

- Está com medo? - O rei parece ofendido.

- Ele não gosta de ser procurado, e dizem que quando ele dá algo a alguém ele dirá outra.

- Mas sou o rei! - ele diz e posso perceber o orgulho em suas palavras. - Ele não é nada para mim!

- Ele não se importa, ele foi abençoado pelos deuses.

- Então é um deles, pensei que todos tinham ido embora, pois bem, faça com que ele venha aqui.

- Faria tudo pela vossa graça, mas apenas sei de rumores, nada sei sobre o seu paradeiro, pode ser só rumores.

- Saia! Antes que mande cortar sua cabeça por sua incompetência. - Porém o rei já não o olhava, ele estava pensativo, como se procurasse uma resposta.

- Agradeço majestade. - o homem sai.

- Ele merece morrer, não acha? - O rei olha para um homem, que eu ainda não tinha reparado.

- Ninguém deve ser negar a dizer algo ao rei. - O Homem tinha olhos negros seus cabelos eram brancos e vi uma dor ali, escondida por trás do sorriso.

- Ele era seu avô, o homem mais digno que já viveu nesse castelo. -o ser que estava do meu lado surrou para mim, olhei mais atenta para o homem, ele parecia cansado, mas eu podia ver traços do meu pai ali, tentei me movimentar para me aproximar dele, mas o ser me puxa.

- Preste atenção agora. - Ele diz novamente e eu olho para os dois homens à minha frente.

- Me traga o mago. - O rei olha para o homem.

- Majestade, se ele foi deixado, talvez não seja um mago.

- Apenas o traga, e decidimos o que ele é.

Olho para o meu acompanhante que agora pega em minha mão me puxando.

- Vamos, nada interessante irá acontecer por agora.

Estávamos outra vez no lago, olhei para todos os lados, para ter certeza que estamos no mesmo lugar que saímos e estávamos, a água clara e gelada estava cobrindo os meus pés não tinham indo a lugar nenhum, estávamos lá na floresta, no mesmo lugar, me abaixei e peguei uma pedra do chão, queria sentir, queria ter certa de tudo.

- O que foi isso? - Olhei para a coisa, que me observava, queria ter certeza do que ele tinha feito, de como ele tinha feito, eu teria saído do lugar? Ou será que ele colocou aquilo na minha cabeça?- O passado? - Ele disse pensativo, eu me afastei dele.

- Como o senhor fez isso? Como me fez estar lá e estar aqui ao mesmo tempo?

- Saberá tudo no tempo certo. - Ele parecia estar me analisando, como se esperasse outra atitude minha.

- Mas...

- Temos apenas uma solução para que você viva. - ele continua a me ignorar, mas suas palavras chamam minha atenção. - Eu sei que você está maravilhada com tudo.

- Porque você está tentando me ajudar? O que quer, porque eu não tenho nada, eu...- Porque preciso! - Ele falou antes que eu pudesse terminar a frase. Mas isso não era o suficiente, não aqui, não em Tárcia, ninguém ajuda uma escolhida, ainda mais alguém que possua esse tipo de poder.

- Por quê? Não tenho nada valioso que possa querer nada que valeria para um ser como o senhor.

- Vamos dizer que um dia terá. - Ele se vira para me olhar, e posso sentir que ele diz a verdade. - Muito mais do que pensa.

- Como assim? - Era insano, eu não devia confiar nele, talvez fosse algum truque da rainha, algo para ter certeza que eu não desistiria,

- Teremos muito o que conversar, mas só quando você estiver a salvo.

- Não disse que aceitava a sua ajuda. - Eu não podia confiar nele, eu nem sei por que me deixei levar, isso era perigoso demais.

- Eu vou dar uma razão para você não tomar a decisão errada.

Ele simplesmente desapareceu sem me deixar terminar a pergunta. Fiquei ali pensando em tudo que tinha acontecido, se eu comentasse isso com alguém eles iriam me achar insana e duvidaram. Eu devia pensar sobre tudo, seja lá o que aquela coisa for, ela pode me ajudar, pode ser a minha única chance, mas e se essa coisa for a mesma que fica ao lado da rainha, a que o povo nunca ver a face, a que só aparece na noite do sacrifício e some, não se fala sobre isso, o reino fingir não saber e nem ver esse ser, mas há boatos sobre ele, sobre o que ele pode fazer. E se esse ser for o mesmo? E se for uma armadilha, que todas devem passar? Eu acho que eu não passei, devia ter me recusado, devia ter me negado, dito algo como: "meu sacrifício para servir o reino" seja lá o que ele esperava ouvir.

Subo em uma árvore e fico olhando o castelo, logo estarei lá e serei bem tratada, ganharei uma coroa, logo depois me levarão para o altar os sacrifícios acontecem, não sei muito sobre essa parte apenas que ficamos rodeados por nosso povo, que esperarão que eu e as outras seis meninas estejamos mortas e depois celebraram, mais sete anos de prosperidade para o reino. E logo tudo acabará, morrerei "com honra". Bem, é isso que dizem, Mas que honra se têm em morrer sem lutar?

Já estava anoitecendo quando desci da árvore para voltar pra casa. Minha mãe já fazia o jantar, ela amava cozinhar, uma das poucas coisas que não havia sido tirado dela. Como eu minha mãe foi instruída a não andar por aí fazendo coisas que camponeses comuns fazem.

- Onde esteve Dominique? - Ela me dá aquele olhar fulminante. Minha mãe se esquece de que não sou mais a menininha pentelha que destruía os jardins alheios.

- No lago. - Era melhor falar um pouco da verdade, porque ela sempre sabia quando eu mentia.

- É perigoso! – me repreende, dessa vez olhando para o meu pai, que nada disse, ele estava apenas nos observando.

- Não para mim! - Falei pronta para lhe dar um beijo.

- Só porque seu pai te ensinou coisas de homem não quer disse que você é um! - Ela se afasta zangada. - Não ache que um beijo resolve qualquer coisa acha.

- Mamãe! - Eu a beijo na bochecha antes que ela se afaste novamente. - Não deve se preocupar.

- Vá lavar as mãos, o jantar já está pronto! - Ela fala zangada, mas sorri.

- Sim, senhora! - Vou até o banheiro e lavo minhas mãos rapidamente, quando volto fico olhando meu pai ali parado encarando a janela e percebo a grande semelhança entre ele e o velho que eu vi hoje.

- Papai, por que você nunca me disse que meu avô foi conselheiro do rei? - Meu pai virou-se rapidamente e me olhou com os olhos levemente arregalados, ele parecia estar assustado.

- Quem te disse isso? - Ele grita e isso me assusta, meu pai nunca grita, não comigo.

- Eu soube...

Dei-me conta que nem devia falar sobre aquilo.

- Não repita isso! - Ele brada me interrompendo para então se virar novamente para a janela. - Nunca mais repita isso!

- Me perdoe pai. - Senti as lágrimas rolarem e eu só queria fazer elas pararem, ele nunca foi assim, nunca me tratou assim.

- Dominique venha cá! - Minha mãe me chama, ela parece está angustiada e então vou até ela. - O que meu pai tem?

- Vá para o seu quarto! - Ela ordena e eu a olho indignada. O que eu tinha feito de errado?

Mesmo a contragosto eu faço o que ela manda e sigo para meu quarto. Eu nunca soube nada sobre a família do meu pai, minha mãe disse que ele não gostava de falar sobre isso, mas nunca achei que tocar no assunto o deixaria assim. Alguns minutos se passaram até que minha mãe bateu na porta me tirando dos meus pensamentos.

- Pode entrar!

- Trouxe sua comida. - Seu rosto demonstra preocupação.

- Por que aquele ataque todo por uma pergunta? - questiono, ela me olha como se estivesse cansada.

- Entenda seu pai. - Ela fala deixando a bandeja na cama e eu a encaro com as sobrancelhas erguidas em um incentivo para que ela continue. Ela solta um suspiro cansado e então fala. - O seu avô foi um dos homens que ajudou a princesa a tomar o poder!

- Como assim?

- Ele armou para derrubar o rei. - Minha mãe estava sugerindo que de alguma forma meu avô tinha contribuído para a queda do rei.

- Mas por que ele faria isso? - Nada fazia sentido, minha mãe sorri, e mexe os ombros, a verdade é que eu sabia que meu pai não contaria nada sobre um traidor. - Meu pai tem vergonha dele, entendo, mas ele parecia um homem tão digno!

- Do que está falando? - Minha mãe me olha confusa, o meu erro tarde de mais.

- Nada é só que pensei uma bobagem. - Minto, mas o que eu poderia dizer, além disso.

- Sempre pensando demais. - Minha mãe revira os olhos, ela acha que eu sou uma sonhadora sem solução.

Ela se aproxima e me dá um beijo na testa antes de sair, me deixando ali com meu jantar. Após comer eu me deito em minha cama e fico pensando em como tudo o que tinha acontecido hoje não fazia sentido.

O beijo de Caio, a briga, o homem na floresta e aquela visão do passado, sem contar no segredo que minha mãe tinha me confidenciado. Eram tantas coisas para um dia que o sono me tomou antes que conseguisse processar todas.

- Acorde! - Minha mãe me sacode do jeito delicado que só um cavalo conseguiria.

- O que foi mãe? - Digo me levantando, irritada, não havia forma mais delicada de alguém ser acordado?

- Levante para tomar café! - Ela grita abrindo as cortinas. - Tem que ser mais cuidadosa, porque deixou a janela aberta?

- Não sei. - Falei sonolenta, cobrindo o rosto com o cobertor.

- Poderia ficar resfriada! - Então ela para de falar, como se compreendesse que não faria diferença alguma um resfriado para alguém que estava sentenciada a morte.

- Estou sem fome. - Dei um pulo da cama e lhe dei um beijo na bochecha, ela sorriu amável novamente.

- Seu pai não queria gritar com você, é só que as coisas não estão fáceis...

- Eu entendo, mas o que posso fazer? Logo estarei morta e só queria que ele ficasse um pouco comigo. - Senti as palavras afiadas, mas não consegui pará-las antes de atingir o alvo errado.

- Algumas pessoas não sabem como lidar com a dor. Tem quem se torne forte com a dor e tem quem é consumido por ela.

- E meu pai foi consumido, não é?

- Podemos dizer que sim. - Minha mãe me olhou com aqueles grandes olhos verdes, ela era forte, ninguém esperaria que ela fosse a forte da família, meu pai um guerreiro que um dia foi respeitado, não tinha a coragem daquela mulher.

- Quando seu pai a segurou pela primeira vez, depois de ter servido na guerra entre nosso reino e o reino inimigo ele disse "Ela é especial! Irá me dar dor de cabeça ``. - ela me contou se sentando na beirada da cama.

- Por quê? - Porque perguntei curiosa, amava as histórias que meus pais sempre tinham para me contar.

- Talvez seu pai consiga ver o futuro. - Ela sorri com a fala. - Ele te ama muito, até quando você nos faz ficar de cabelos em pé, nós te amamos. - Ela me beijou na testa e eu pude sentir as lágrimas escorrendo, ela estava chorando. - É difícil olhar para você e saber que logo não vai estar aqui nos deixando de cabelos em pé.

- Não chore! - Eu beijo seu rosto querendo apagar a tristeza de seus olhos. - Não deve se preocupar com isso.

- Eu preferia aquela casa simples, aquelas roupas velhas, do que ficar sem você. - Ela puxou o ar, enquanto tentava não chorar.

- Eu sei! - Eu não queria chorar, estava cansada de resumir meus dias a chorar e me entristecer pelo meu futuro.

- Não deveria ser assim, não é a ordem certa, uma mãe não devia ver a filha morrer.

- Mãe! - Eu digo a abraçando e me quebrando com suas palavras. A verdade é que não sabia se suportaria ver ela e meu pai mortos.

- Não queremos perdê-la, é só isso. - Ficamos ali por um bom tempo, sem dizer nada.

Era tudo muito ruim, tudo muito injusto, porque eu tinha que morrer para o bem do reino? Porque minha mãe tem que perder sua única filha? Porque coisas ruins precisam acontecer? Tudo era cansativo, tudo era mau.

Minha mãe sai e olho pela janela, sinto uma enorme vontade de rever minha antiga casa. Onde coisas boas aconteceram, lá o mau ainda não existia, vesti um vestido leve branco, precisava de algo confortável, a caminhada seria longa.

Pulei a janela decidida, seria bom me despedir da minha antiga casa, seria bom sair desse lugar. Eu levaria toda manhã para chegar, era distante, e um pouco perigoso, já que ficava afastado do castelo, mas eu precisava disso, precisava me afastar disso tudo, e saindo cedo eu poderia voltar antes do anoitecer, caminhei o mais rápido possível para a floresta, eu conhecia muito bem esse lugar, o povoado fica um pouco distante de nossas casas que está mais próxima da floresta, o que é a única coisa boa nisso tudo.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022