Rainha de Sangue
img img Rainha de Sangue img Capítulo 5 04 Capítulo
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Capítulo 6 05 Capítulo img
Capítulo 7 06 Capítulo img
Capítulo 8 07 Capítulo img
Capítulo 9 08 Capítulo img
Capítulo 10 09 Capítulo img
Capítulo 11 10 Capítulo img
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Capítulo 13 12 Capítulo img
Capítulo 14 13 Capítulo img
Capítulo 15 14 Capítulo img
Capítulo 16 15 Capítulo img
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Capítulo 18 17 Capítulo img
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Capítulo 20 19 Capítulo img
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Capítulo 22 21 Capítulo img
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Capítulo 26 25 Capítulo img
Capítulo 27 26 Capítulo img
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Capítulo 29 28 Capítulo img
Capítulo 30 29 Capítulo img
Capítulo 31 30 Capítulo img
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Capítulo 33 32 Capítulo img
Capítulo 34 33 Capítulo img
Capítulo 35 34 Capítulo img
Capítulo 36 35 Capítulo img
Capítulo 37 36 Capítulo img
Capítulo 38 37 Capítulo img
Capítulo 39 38 Capítulo img
Capítulo 40 39 Capítulo img
Capítulo 41 40 Capítulo img
Capítulo 42 41 Capítulo img
Capítulo 43 42 Capítulo img
Capítulo 44 43 Capítulo img
Capítulo 45 44 Capítulo img
Capítulo 46 45 Capítulo img
Capítulo 47 46 Capítulo img
Capítulo 48 47 Capítulo img
Capítulo 49 48 Capítulo img
Capítulo 50 49 Capítulo img
Capítulo 51 50 Capítulo img
Capítulo 52 51 Capítulo img
Capítulo 53 52 Capítulo img
Capítulo 54 53 Capítulo img
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Capítulo 56 55 Capítulo img
Capítulo 57 56 Capítulo img
Capítulo 58 57 Capítulo img
Capítulo 59 58 Capítulo img
Capítulo 60 59 Capítulo img
Capítulo 61 60 Capítulo img
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Capítulo 5 04 Capítulo

Eu estava em um campo havia rosas vermelhas espalhadas por todo lado, olhei para meu corpo e eu usava um lindo vestido branco, parecia muito com a minha mortalha, porém esse tem um brilho diferente. Caio estava lá montado em uma alazão com um lindo sorriso, ele usava roupas pomposas, ergueu a mão para que eu pudesse subir então quando já estava montada junto a ele começa a cavalgar em direção a floresta. De repente eu fiquei com medo, ele corria cada vez mais rápido.

- Caio vamos cair! - Eu tento avisá-lo, mas não adianta ele correria cada vez mais rápido, até que paramos de frente a um castelo, então ele desce e me ajuda a fazer o mesmo.

- A onde vamos? - Perguntei, mas ele apenas me puxa para dentro do castelo. Subimos uma escada e só paramos quando chegamos de frente a uma porta de madeira, nela havia um desenho de uma árvore, parecia com uma macieira, olhei para Caio - O que tem aí? - Pergunto aflita, mas ele apenas abre a porta e me puxa para dentro.

O quarto estava escuro e a única coisa que dava para ver era um espelho enorme, havia ouro ao seu redor, cobrindo suas bordas, dando-lhe um ar de muito poder. E a imponência do espelho me fez estremecer de medo.

- Quero sair daqui. - Eu disse, mas Caio me puxou para frente até ficar cara a cara com o espelho.

A menina que se refletia ali se parecia muito comigo, a diferença era que ao contrário do meu vestido branco ela estava com um preto e suas mãos estavam sujas de sangue, olhei a procura de Caio, mas ele estava no chão ensanguentado. Voltei meus olhos para o espelho assustada com a imagem do corpo atrás de mim. Ao lado da menina agora estava o lindo rapaz da floresta, ele sorriu ao pegar na mão ensanguentada, e mesmo que aquela fosse outra versão de mim ainda era minha mão.

- Dominique! - Uma voz me chamou me despertando e eu abri os olhos rapidamente, ainda era dia.

Caio estava pendurado em minha janela me encarando.

- Vamos fugir? - Ele diz com um lindo sorriso como se fossem palavras corriqueiras que me dizia sempre.

Então como se um alerta soou em minha mente lembro-me do sonho, ele estava morto, eu não podia vê-lo morrer. Senti o desespero me tomar.

- Não! - Sequei as lágrimas, que nem havia reparado que derramava e corri para janela. - Não, por favor, vá embora,

- O que foi? - Ele pergunta assustado.

- Vá embora, apenas vá! - Implorei querendo fechar a janela na sua cara para que ele desistisse, mas antes que conseguisse fazê-lo Caio entrou me envolvendo em seus braços. - Não quero vê-lo morto. - O pensamento me fez agarrá-lo com mais força.

- Calma. - Ele me aperta e posso ouvir seu coração acelerado, ele acaricia meus cabelos, a sensação de está em seus braços, me faz querer morrer ali, acabar com tudo naquele momento, tornar aquele momento eterno.

- Não posso suportar perdê-lo. - Me afastei para olhá-lo, queria gravar cada centímetro de seu rosto, ele me olha por um momento, como se tivesse fazendo o mesmo, e então ele passa a mão por meu rosto.

- Não vou morrer, ficaremos bem, daremos um jeito, não será fácil terá que me ensina a caçar. - Ele faz uma careta, ele era péssimo nisso. - Terá que ser paciente, mas se não for irei a calma- lá assim.- Ele me puxa para um beijo. Seus lábios me tocam com ternura, espalhando calma por meu corpo, me fazendo derreter em seus braços.

Eu criei força para me afastar, precisava mantê-lo seguro, precisava ter certeza que ele será feliz, por que ele merece ser feliz, ele tenta me impedir, mas me afasto mais um pouco, coloco minha mão em seu peito para conseguir falar, queria olhar em seus olhos, queria ter certeza que sua palavra será cumprida.

- Me promete que não fará nada. - Sentir o nó da minha garganta se formando... - Irá se casar e ter filhos, e irá viver o máximo que puder.

- Não diga isso. - Ele fez uma tentativa de se aproximar, mas me afastei. - Não posso me imaginar com outra pessoa que não seja você.

- Isso é impossível, sabe que não podemos contra ela.

- Eu tenho um plano. - Ele sorri, Caio era feito de esperança, ele realmente acredita no que diz, mas eu não poderia mais alimentar esses devaneios, não quando a espada que está virada para mim, pode ser virada para ele também.

- Não importa, não vai dar certo. - respondo irritada. - Nunca enganaram a rainha antes.

A lembrança da fala dos cavaleiros em volta da fogueira se esgueira por minha mente. "Só um homem estava vivo." "Não posso dizer que foi piedade o que ela fez.".

- As coisas vão ser diferentes agora. Ela nunca tentou matar alguém que amo. - Caio me olha com tanta ternura que eu me aproximo novamente para beijá-lo.

Seus lábios sempre doces me fazem esquecer qualquer coisa à nossa volta, qualquer perigo que nos ronda apenas por pensarmos em fugir. Sinto seus braços me apertando mais firmemente contra si e poderia ficar ali para sempre.

Mas então ouvimos alguém bater à porta e nos afastamos rapidamente.

- Saia. - Eu empurro Caio com pressa pelo mesmo lugar onde ele havia entrado.

- Dominique filha! - A voz do meu pai me fez tremer de medo.

- Ele vai ter mata! - eu resmungo tentando manter a voz baixa.

Diante de meu desespero, caio estalar um beijo em meus lábios e se afasta, pulando a janela e voltando por onde tinha vindo. Respiro fundo antes de abrir a porta tentando afastar qualquer resquício de afobação. Quando Abro a porta, meu pai me olha como se suspeitasse de algo.

- Como está? - Ele diz entrando no quarto e encarando tudo a volta, como se pudesse sentir que algo estava fora do lugar.

- Bem. - Digo enquanto ele se senta na minha cama.

- Sente-se. - ele pede e eu me aproximo incerta. O que teria acontecido agora? - Lembra quando tinha sete anos e você caiu do cavalo? - questiona e eu concordo me lembrando. - Recorda-se que passou dias na cama?

- Lembro do papai. - Digo sem entender aonde ele queria chegar.

- Quando melhorou você se levantou, olhou para mim muito séria e disse "quero ver ele me derrubar de novo". Sua mãe proibiu, mas durante a noite você saiu e subiu no cavalo.

- Eu era teimosa! - sorrio com mais uma cena de minha teimosia que nem me lembrava.

- Quero que continue sendo, quero que persista para ficar viva, quero que não desista no primeiro tombo, que seja forte!

- Não posso, quando subi no cavalo só eu me machucaria se algo desse errado, mas se eu errar agora vocês pagarão, com a vida.

- Eu não me importo.

- Mas eu sim! - a verdade é que eu não podia tolerar nem a mera ideia de não ter meus pais, de ser a culpada da morte deles, de Caio. Era isso que estava me fazendo tão relutante em aceitar fugir.

- Às vezes me lembro da menina que queria ser pirata, que estava cheia de vida e que sorria sem motivo, uma menina que não tinha uma espada apontada para a cabeça.

- Ah papai. - Eu o abraço me derretendo em seus braços. Como eu sentia falta de tê-lo assim ao meu lado.

- Nada que eu faça pode mudar isso, mas você pode! - Ele me afasta e segura minhas mãos entre as suas, me encara com os olhos iguais aos meus. - Fuja!

- Não. - Eu beijo sua bochecha conformada. - Não posso.

- Me escuta. - Ele prende seu olhar no meu. -Você não pode morrer!

- Pai...

- Você não pode! O que seria de mim? Olha para mim! - Ele se levanta se alterando com minha negativa em fugir. - Um velho que não sabe de nada, que não faz nada.

- Você cuidou de mim, por tanto tempo, não me peça para não fazer o mesmo.

- Sou eu que tenho que cuidar de você, não o contrário.

- É melhor pararmos por aqui, não temos possibilidade de mudar o destino. - As frases prontas de Elaine saindo da minha boca, seria até engraçado se não fosse tão deprimente.

- Eu vou conversar com a rainha. - Meu pai levantou seu olhar determinado e me fez estremecer.

- Pai! - ele tinha enlouquecido perdido completamente a cabeça. O desespero estava o levando ao extremo.

- Ela irá me ouvir, sei que irá. - Ele parecia seguro disso, meu pai não falava sobre seu passado no reino, não desde que desistiu de servir o reino, não sei por que ele não foi morto, nem ao menos sei porque ele de fato desistiu, mas ele parecia esconder algo.

- Só vai conseguir que ela te mate.

- Que seja, prefiro morrer ao vê-la caminhar para morte diante dos meus olhos sem que eu faça nada. - Eu podia ver nos olhos dele, podia ver a morte, eu o via definhando, seu corpo agora era magro, sua pele parecia cada vez mais frágil e agora o guerreiro que achei por vezes que me protegeria do mundo, estava sucumbindo à dor.

- Quer morrer não é? Quer dar um fim em sua vida. - Eu estava brava, ele não podia, não agora. - Não seja covarde pai!

- Ninguém vai morrer aqui! - Minha mãe entra chorando. Claramente tinha escutado o suficiente.

- Ela não merece isso. - Falei olhando para minha mãe, meu pai me olhou e pude ver a vergonha em seu rosto.

- Eu sei. - Ele fala, mas antes que eu possa dizer qualquer coisa, ele sai, por um momento penso em segui-lo, porém não tinha força para outra discussão.

- Ele vai ficar bem. - Minha mãe falou andando até a janela. - Agora não posso dizer o mesmo de Caio, o pobre levou uma queda e tanto.

- Não me diga! - Corri para janela, ele já não estava minha mãe sorrir.

- Sabe que não deve ficar a sós com ele, ainda mais em seu quarto, se alguém o vê, ele jamais será perdoado.

- Não acontecerá novamente, ele só está preocupado. - Minha mãe deu um olhar triste pela janela.

- Ele é um bom moço, será um bom marido para alguém. - Senti o nó na minha garganta se formar, mas estava decidida a não mais chorar.

- Sim, será.

- Agora arrume sua cama, perdeu a metade do dia dormindo.

- Está certo mãe. - Minha mãe saiu, e eu podia ficar o dia remoendo tudo, mas eu tinha poucos dias para viver e então arrumei minha cama e desci para o jardim da minha casa que devo admitir ser um tanto descuidado perante ao jardim de Elaine, decidir ir até Reno e Rafi, havia boatos de assaltos a caminho do povoado e apenas aqueles dois seriam tão inconsequentes para roubar nas terras de Tárcia.

E estava decidida a ir até eles quando ouvir uma voz me convocando, por um momento achei que era alguém que estivesse próximo, mas não havia mais ninguém ali, então voltei os meus pensamentos para os gêmeos, eu conseguiria chegar até eles antes do anoitecer.

"Venha até o lago"

À voz soa suave e bem de perto como se alguém sussurrar em meus ouvidos, percebi de quem se tratava, aquele ser me procurava outra vez, nunca entendi sobre magia, não era algo que nos era ensinado, mas nunca imaginei alguém capaz de está em um lugar sem está.

"Não tema minha criança, peço que confie em mim".

A voz outra vez sussurrou, respirei fundo e decidi que não havia muitas opções, já que ele estava em minha cabeça. Durante todo o caminho pensei em tudo, pensei no que ele tinha me prometido, se houvesse uma chance de acabar com tudo e de ser feliz, talvez valesse a pena, talvez o preço a se pagar não fosse nada comparado a isso.

Assim que cheguei à coisa com olhos de cobra me esperava no lago, com certa impaciência.

- Tive um imprevisto, é melhor irmos logo! - Ele disse sem esperar que eu abrisse minha boca.

- Sim, é melhor. - Falei, e ele ergue a mão, eu coloco minha mão sobre a dele.

Estávamos no palácio, mas não era tão belo quanto antes.

- Por favor! Por favor! - Alguém suplicava. - Só me mate, por favor só acaba com isso.

- Não, a morte é um alívio que você não merece. - Uma voz fria e perversa fala. Escutei um grito de dor, era como se a pessoa se engasgasse com o próprio sangue, o som de agonia me fez estremecer.

- O que foi isso? - Eu digo indo ao encontro da voz, os gritos eram aterrorizantes, eu nem sabia por onde estava indo até que cheguei em uma porta, lá tinha um árvore, assim como no meu sonho, respirei fundo e virei a maçaneta.

- Não, saia correndo! - A voz da coisa soa em meus ouvidos, ele segura em meu braço. Suas mãos são geladas e eu me afasto ao sentir seu toque, ele parece perceber, mas não faz nada. - Veja.

Uma mulher está de costas para mim, seus cabelos são negros e vejo que em sua mão está um punhal, sujo de sangue, e na outra havia algum objeto, não consigo identifica-lo, a sua frente estava um homem, ele parecia ter uma idade avançada, suas mãos estão acorrentadas, ele está no chão eu não podia ver seu rosto, seus cabelos brancos e longos o tampava, ele parecia está morto.

- Majestade! - Me viro para ver um jovem, de cabelos negros que entra, parece nem percebe minha presença ele se aproxima da mulher.

- O que quer? - A voz da mulher era fria, sem nenhuma emoção, parecia apenas está brevemente entediada, nunca ouvir alguém falar assim, ela olhava para o corpo do velho, parecia incapaz de parar de olhá-lo. - Deve se lavar, eu irei cuidar das feridas dele, amanhã ponderar voltar.

- Não o deixe morrer, ele ainda não sofreu o bastante.

O jovem olha para o velho, e posso ver em seu rosto que ele não pensa o mesmo, a mulher enfim se vira, sinto por um momento o meu coração parar, não podia ser. A coisa pega em minha mão, e estávamos novamente de frente ao lago, sinto minhas pernas fraquejarem e me deixo cair, não tinha força, não conseguia dar ordens ao meu corpo, não podia acreditar a coisa ainda estava perto ele me observava, enfim levantei e me afastei dele.

- O que foi que...

Eu nem conseguia formar uma frase, minha respiração estava acelerada, se aquilo fosse o que eu estava pensando, algo muito ruim iria me acontecer.

- Estávamos no futuro. - Ele diz com maior naturalidade, parecia estar exausto, como se aquilo tivesse exigido muito dele.

- Não pode ser! Eu...

-Tive essa visão há muito tempo. - Ele olha para o lago, o céu estava escurecendo ali ele não parecia assustador, pelo contrário podia ver um certo pesar em seus olhos. - Eu vou ser rainha? - Aquelas pareciam estranhas em minha boca.

- É o que parece não é.

- Mas...

- Você só sabe do que é capaz, quando perder tudo.

- O que eu vou perder? - Ele parecia pensativo, como se algo não tivesse certo.

-Tudo, já disse. - Ele me olha como se me avaliasse. - Só então saberemos do que é capaz.

- Eu nunca faria mal a alguém.

- Nem mesmo se machucassem quem você ama? - Ele para de frente para mim, como se precisasse dessa resposta.

- Eu...

- Não se preocupe, eu sei a resposta. - Ele disse ser virou para ir embora.

- Espere...

- Sim? - Ele virou calmamente.

- O que você é? O que você quer?

- Eu? - Ele parecia pensar e então sorrir, mostrando seus dentes afiados como se divertir com que ia dizer. - Sou o ser que os deuses amaldiçoaram e abandonaram, aquele que não deve andar sobre o chão, mas que jamais irá ao céu.

Aquilo não fazia sentido, porém ele tinha magia, possivelmente vindas dos deuses, mas o que ele quis dizer com aquele que não deve andar sobre o chão.

- O que quer dizer?

- Só precisa saber que eu sempre estarei ao seu lado, e comigo ao seu lado terá o que mais deseja.

- E o que seria?

- Viver não é, quer isso com todas as suas forças, você enfrentará o destino se necessário, e eu farei isso acontecer. - Eu não consegui dizer mais nada, pois ele simplesmente desapareceu, olhei para onde ele desapareceu, não pude deixar de ir até lá e procurar uma porta, nem em cem vida eu conseguiria me acostumar com isso.

Ao chegar em casa meu pai, estava em seu lugar de sempre, minha mãe me olhou e sorriu, mas percebi que o melhor era me banhar e dormi ou tentar dormir, esquecer o que eu tinha visto, esquecer aquela mulher, porque eu não conseguia acreditar no que eu tinha visto.

Pela manhã, decidi visitar, Rafi e Reno, a caminhada era longa, eles se escondiam muito bem, peguei uma cesta de frutas e pães, eles sempre estavam famintos, pois cozinha não era bem o forte deles, nem o meu, mas por sorte o da minha mãe é, seria bom vê-lo, sem drama sem dor, eles eram dois ladrões que não tinham tempo para chorar pela minha vida, porque tinham que se preocupar com a própria.

Comecei andar com mais cuidado, quando cheguei perto do local onde eles ficavam, pois eles colocavam armadilhas por todo lugar, possivelmente já sabiam da minha chegada e estavam em alguma árvore esperando eu cair em suas armadilhas. O que não adiantou em nada, pois segundos depois eu estava de cabeça para baixo, pendurada em uma árvore.

- Eu mato vocês! - Gritei e pude ouvir as risadas dos dois

- Eu disse que ela cairia. - Reconheci a voz do Reno.

- Me solte Reno! - Logo os dois apareceram, ele tinha atitudes de criança, mas eram no mínimo uns quatro anos mais velho do que eu.

- Não Domi! - Ele ri olhou para seu irmão gêmeo que parece pensar no meu caso, os irmãos eram acima de ladrões dois bobos.

- Vai Rafi, eu posso me machucar! - Rafi era mais consciente, implorar para ele talvez fosse a melhor saída.

- O que acha irmão? - Rafi olhou para Reno, ele parecia está se divertindo. E por um momento até me esqueci de que estava pendurada, ela bom ver gente feliz.

- Não a deixe mais um pouquinho! - Reno falou, ele era irritante demais, percebi que eles pareciam bem cuidados, seus cabelos que sempre estavam no ombro agora estavam cortados, eram no tom castanho assim como o do meu pai, eles tinham a pele queimada do sol, eram bonitos, mas agora estavam mais bonitos, eles pareciam ter passado bem seja lá onde tiveram quando saíram daqui há quase um ano.

- Lembre-se que eu vou morrer em menos de uma semana, e os espíritos ficam presos na floresta. - Reno me fuzilou com seus olhos castanhos, eu tinha ganhado.

- A solte Rafi! Não queremos ser assombrados pelo resto das nossas vidas.

- Você irá mesmo? - Rafi diz enquanto me solta, ao cortar a corda fui direto para o chão, a cesta de fruta já estava destruída.

- Daqui a cinco dias estarei oficialmente morta. - Falei me levantando.

- Por que não foge?- Reno diz encostando-se a uma árvore.

- Ela os mataria. - Falei me limpando, meu vestido amarelo tinha ficado um caco, minha mãe iria enlouquecer.

- Sua família? - Por um momento ele pareceu ficar triste, como se ele soubesse o quanto doía.

- Sim. - Falei dando de ombros, não queria falar sobre aquilo, queria esquecer de tudo, por algumas horas.

- Se resolver fugir pode nos procurar. - Rafi diz com sinceridade nos olhos.

- Está louco Rafi, todos vão nos procurar e nos matar como traidores! - Reno diz.

- Já somos caçados como traidores. - Rafi diz revirando os olhos.

- Obrigada Rafi por sua gentileza. - Olhei para o Reno e me curvei. - E a sua também Reno.

- Não o escute, temos você como uma irmãzinha. - Rafi diz bagunçando meu cabelo e então me abraçando. - E como foi que ficou sabendo da nossa chegada?

- Suas vítimas, não são silenciosas.

- Não se pode roubar mais ninguém como antes. - Reno fala pegando um pedaço de pão e limpando. - Ei, mas ele fala sério, se quiser fugir estamos prontos é só correr na direção da floresta.

- Eu sei que existe um coração em algum lugar por aí. - Ele revira os olhos e mastiga o pão. - Podia ter sido mais cuidadosa Domi, o pão está cheio de terra.

- Eu devia enfiar esse pão...

- Domi! - Rafi chama minha atenção, Reno ri.

Passamos o resto da tarde lutando com espadas, não gostava muito de lutar com Reno, ele era muito violento, já Rafi era gracioso e um ótimo oponente já que não ficava fazendo gracinha com o fato de eu ser mulher.

Enfim estávamos cansados, eu e Rafi estamos beliscando o que restou da cesta e Reno estava em alguma árvore esperando a aproximação de alguma possível vítima.

- Podemos levar seus pais. - Rafi diz, ele era esse tipo de pessoa que não desiste das pessoas, eu sabia disso, mas eu não podia trazer mais caos para vida deles.

- Rafi não comece!

- Me lembro de uma pirralha de 12 anos que queria desafiar dois ladrões em um duelo. - Ele sorri com a lembrança.

- Queria não! Eu os desafiei! - falei orgulhosa, eu era tão corajosa.

- E não desistiu até devolvemos sua boneca remendada. - Ele me deu um pequeno empurrãozinho com os ombros, como para me desafiar.

- E se eu lutar, o que vai mudar? No fim ela ganha, ela sempre ganha, não é?

- Até hoje eu e Reno estamos livres. - Ele dá uma leve levantada de sobrancelha, como se demonstrasse toda a sua sabedoria e perspicácia.

- Sorte! - Falei e por um momento senti que feria seu orgulho, eles não acreditam em sorte.

- Esperteza. - Ele fala calmo e se espreguiça se arrumando para levantar.

- Da minha parte! - Reno grita.

- Quem foi que nos fez ser preso por que se envolveu com a mulher de um conde. - Rafi grita.

- Ela era linda.

- Ele sempre nos entrega por um rabo de saia.

- Olha quem fala, não fui eu que me apaixonei por uma das esposas do rei Nicolau de Gateria.

- Não fale sobre ela. - Rafi fala nervoso.

- Por quê? -Pergunto curiosa.

- Quer saber sobre a minha história de amor Domi? - Rafi disse tristemente.

- Quer contar? - Ele sorriu.

- Era o dia mais belo do verão, ela estava no jardim. Eu e Reno planejávamos rouba uma joia do rei Nicolau, ela tinha cabelos cacheados e loiros como sol, seus olhos eram negros como a noite, sua pele clara como as nuvens, ela me olhou e sorriu como uma fada, perguntei seu nome mais ela a penas correu para dentro do castelo.

- Por que ela correu?

- O rei não permite que suas mulheres falassem com outros homens. - Vi nos olhos de Rafi que ele não tinha forças para continuar a contar a história.

- Tenho que ir já esta tarde, depois continue essa história. - Eu disse me levantando.

- Tudo bem. - Ele disse me ajudando a levantar. - Ela se matou ou ele a matou, mas enfim o que sei é que seu corpo sem vida foi encontrado embaixo da janela de seu quarto.

- Eu lamento. - Ele dá um sorriso triste.

- Não importa o amor para pessoas como nós, sempre cobra um preço.

- Tudo se tem um preço não é? - Falei lembrado daquele ser que eu havia visto no lago, o que me fazia promessas.

- Sempre. - Rafi disse, enquanto caminhávamos até Reno.

Eu queria abraçá-lo, queria chorar e implorar que me impedisse de ir, mas não faria isso, não ia chorar para eles também.

- Ei Domi, antes de morrer vem aqui? - Reno diz como se eu fosse colher flores no jardim e logo voltaria.

- Venho sim. - Eu disse sabendo que não aconteceria, não ia conseguir voltar aqui e não convence-los a me carregar.

- E fale para o seu pai que quero falar com ele. - Reno disse, eu senti um arrepio na nuca, ele estava com aquele olhar de quem planejava algo.

- O que quer com o meu pai?

- Preciso que ele me diga onde está algo no castelo. Ele deve saber.

- O que? - Perguntei curiosa.

- Algo valioso.

- Por que precisa do meu pai?

- Você já está querendo saber de mais! - Ele disse revirando os olhos.

- Rafi!

- Não, Domi isso não é nada com você.

- E por que vocês acham que meu pai vai ajudar a roubar a rainha?

- Porque ela está tirando seu maior tesouro, e ele pode fazer o mesmo. Por que não faria? - Reno diz simplesmente como um belo sorriso de esperteza.

- Vocês são loucos! - Eu fiquei cega de raiva e avancei em Reno.

- Segura ela Rafi! - Ele grita se afastando.

- Não, eu disse que não devia contar para ela. - Rafi diz cruzando os braços e se apoiando em um árvore, Reno já estava três passos para trás.

- Cale-se eu estou me sacrificando para meus pais terem uma vida longa e vocês querem acabar com isso por causa da ganância?!

- Não...

Reno tentou dizer algo se aproximando, mas eu apenas o empurrei.

- Domi! - Rafi grita, mas eu empurro Reno de novo, logo percebo o que Rafi queria dizer Reno cai em um buraco de alguma armadilha que eles fizeram.

Desperto-me por alguns segundos até que Reno cai na gargalhada.

- Você é um abestalhado mesmo! - Sai com raiva deixando os dois bobalhões para trás.

Um barulho estrondoso que me fez estremecer era uma árvore sendo derrubada perto dali corri na direção do barulho. Ao chegar ao barulho vejo uma árvore caída no chão era a minha macieira talvez a única existente em todo reino, fora a que existia no castelo, ela se encontrava no coração da floresta, achei que nunca encontrariam, mas eles estavam lá, havia pelo menos uns seis homens, eles usavam roupas simples, logo percebi que eram apenas serviçais da rainha, mas a sua frente em cima de uma cavalo estava o soldado do outro dia, ele usava uma blusa de algodão branco, sua botas ao contrários dos demais estavam brilhantes, imagino que jamais precisou pegar no pesado, então essa é vantagem em ser amante da rainha? Ele então encontra o meu olhar, parece surpreso e então desce do cavalo e anda até a minha direção, ele por um momento apenas me observa como se me desafiasse a ser a primeira a falar, mas apenas voltei meu olhar para árvore, o sonho parecia tomar forma ali, ele e uma macieira, mas então faltava Caio sangrando ao chão, sentir minhas pernas fraquejarem, mas me mantive de pé, Caio não estava por perto, era só uma coincidência boba.

- O que faz aqui sozinha? - Ele por fim pergunta e estava lá aquele olhar de superioridade, ele se sentia melhor que todos, pois dormia na cama da rainha.

- Por que estão derrubando essa árvore? - Por fim perguntei, tentando ser o mais indiferente que podia.

- Apenas a realeza pode comer esse fruto. - Ele deu de ombros, a verdade era que a rainha tinha feito essa lei sem sentido e sem um motivo, apenas decidiu e pronto, as macieiras não eram para os camponeses e como tudo em Tárcia não se devia questionar as decisões da rainha.

- Por que se é um fruto delicioso? - Falei esperando o exagero que ele iria fazer.

- Você ousou comer?! - Suas sobrancelhas se juntaram por um breve momento, ele parecia incrédulo e eu me senti realizada em tirar aquele olhar pomposo de seu rosto. - Por que não comeria?! - Ele por fim revirou os olhos, provavelmente imaginando que eu era uma camponesa sem conhecimento, o estado do meu vestido sujo de lama e meus cabelos feito ninho de passarinho, provavelmente o ajudaram a costurar essa teoria.

- É o fruto proibido, nunca percebeu que não é vendido? - Ele parecia estar entediado de ter que explicar isso para mim, mas faria questão de mostrar seus conhecimentos tão amplos de Tárcia.

- É, mas eu nunca me importei muito com as frutas vendidas, prefiro as que eu pego. - Mexi de ombros, ele parecia ainda mais incrédulo.

- A senhorita não é uma dama muito comum, primeiro a encontrou dormindo em uma cabana velha e agora andando em uma floresta em um estado deplorável. - Ele correu seus olhos por meu corpo, e parecia está tentado a me jogar no primeiro rio que achasse por ali.

- Nada mais entediante que ser comum. - A forma com que ele me olhava começou a me incomodar, ele realmente parecia estar com pena de mim.

- Então está destinada a não se casar, porque homens não se casam com moças assim como....

Ele se perde em seus pensamentos e por um momento parece tentar lutar com a ofensa que queria jogar sobre mim.

- Sou bonita, isso você não pode negar, e sabemos que isso é mais que o suficiente para que me case. - Digo sorrindo, percebo que alguns dos homens que derrubaram a árvore me olharam naquele momento e nunca me senti tão desconfortável, mas não me encolhi, não me mostraria vulnerável perto dele, pois sei que era isso que ele esperava.

- Talvez sim, mas logo a sua rebeldia os faria acordar desse seu encanto, pois homem nenhum pode amar uma moça tão abusada. - Ele sorri certo de que tinha me ofendido, mas apenas olhei para ele e sorri.

- Me diga, posso comer essa maçã? - Falou pegando uma maçã que estava no chão.

- Claro que não! - Ele pensa por um momento e parece que se dá conta do que eu pedir.

- Mas estou tão vermelhinha. - Digo colocando a maçã nos lábios.

- Não teme nada?! - Ele me olha como se me avaliasse, parecia querer entrar em minha cabeça.

- O que eu temeria? - Sorri para ele, os homens que estavam nos olhando, pareciam se divertir. - O senhor?!

- Muito valente para uma moça. - Ele sorri e olha para os amigos.

- O que devo temer? Manejo uma espada melhor do que você. - Os homens que estavam retirando as maçãs do chão, começam a gargalhar.

- Ora, ora encontramos um guerreiro de saias então. - Os homens voltam a rir, e ele parece ainda mais soberbo agora.

- Então por que não duelamos e então provar a vocês que uma mulher de saias maneja uma espada melhor que todos vocês juntos?

- Não luto com mulheres. - Ele diz mexendo os ombros, como se aquilo fosse um absurdo.

- Por quê? Tem medo de sair perdendo? - Os olhares dos outros cavalheiros para ele eram de puro divertimento.

- Abusada! - Ele diz tirando a maçã das minhas mãos.

- Por que todos dizem isso?! - Fale revirando os olhos, queria mostrar o quanto estava confortável com eles.

- Porque deve ser verdade! - Ele diz, irritado, e por fim parecia ter colocado o fim naquela conversa, mas eu queria cutucá-lo mais um pouco.

- Você é o namorado da rainha, não é? - E pela primeira vez o vejo perdendo a compostura.

- Como ousa inventar algo assim?! - O homem diz olhando para os soldados que nos olhavam.

- Não inventei nada, escutei o senhor dizendo a um velho. - Como ele ousava me chamar de mentirosa?

- Não diga mentiras! - Ele diz bravo me puxando para longe dos outros.

- Me solte! - Digo tentando me soltar, mas era em vão. Ele me segurava pelos braços, como se eu fosse uma criança que seria repreendida.

- Não devia ter falado aquilo. - Ele me coloca de frente para ele, seu corpo estava centímetro de distância do meu, aquilo me fez sentir uma sensação estranha.

- Como ousa! - o empurrei. - Não me toque nunca mais!

- Não pode falar sobre mim e a rainha perante os súditos. - Ele enfim solta meu braço, mas não se afasta, ele apenas sussurra.

- Não sabia que era segredo e também não prometi guardá-lo. - Me afastei dele, algo nele me assustava.

- Abusada! - Ele fala como ser para si mesmo.

- Pare! Já sei o que pensa. - Falei me arrumando.

- Devia mandar cortar sua cabeça! - Ele diz irritado.

- E por que não manda? - Falei o desafiando, ele me olhou de uma maneira diferente e então passou a mão por seus cabelos.

- Acha que não sou capaz? - Ele dá de ombros, como se não acreditasse no que eu falava.

- Acho que se quiser sim, mas não quer. - Ele se volta com ar de riso.

- Como poder saber?

- Não faz o tipo tirano. - Isso o deixou pensativo, e então ele se aproxima e me afasto dele, mas então ele pega em minha cintura.

- Não me conhece. - E posso ver na profundidade de seus olhos verdes que eu não o conhecia.

- Não, como o senhor também não me conhecer, mas já pode deduzir que sou abusada. - Ele então ri e me solta;

- Atrevida! - Ele diz sorrindo. - Um dia entrará em maus lençóis com essa sua língua.

- Eu me saí bem, sempre saiu. - Ele parece me avaliar e então olha para maçã que está em suas mãos.

- Nunca aconteceu nada de comer maçã? - Ele pergunta curioso.

- Nunca provou? - Imaginei que como amante ele tinha seus privilégios.

- É proibido! - Ele revira os olhos

- Não seja tolo, coma agora! - Falo olhando para sua adaga que está em sua cintura.

- Não posso. - Ele fala mais comigo mesmo do que comigo, parecia lutar contra a sua vontade.

- É tão vermelha e docinha. - Falei indo em sua direção, seria divertido vê-lo quebrando uma regra.

- A senhorita é do mau? - Ele se afasta, não pude deixar de rir.

- Coitadinho do soldadinho a moça mal quer que ele morde uma maçã. - Digo zombando dele que começa a ficar vermelho. E irritá-lo era tão delicioso.

- Pare! - Ele diz irritado.

- Se eu fosse uma feiticeira o mataria de forma mais divertida.

- Não teria essa chance, estaria morta antes. - Ele tentou parecer assustador, mas não conseguiu pois estava se divertindo.

- Deve ter muito sangue nas mãos, como se sente? - Digo pensado, sobre o grito de um desconhecido no meu futuro. Ele parece pensar sobre isso.

- Quando é sua vida que está em jogo, não se importa com a do outro.

- E é assim que sobrevivemos? - Perguntei certa da resposta. - Se importando apenas consigo mesmo?

- Não se preocupe, duvido que algum dia, terá que tirar alguma vida. - Ele parece tão seguro disso, mas eu sei que não é verdade.

- Será! O que o medo nos faz? Às vezes acho que sou capaz de tudo, para sobreviver. - E então ele me olha como se tivesse tentando entrar na minha cabeça novamente.

- Fala como se estivesse com uma espada sobre ti. - E pela primeira vez vejo uma sombra de preocupação.

- Talvez tenha! - Falei por fim, já não estava divertido ter aquela conversa.

- Como seu pai a chamou? - Ele disse pensativo, como se realmente precisasse saber.

- O que te importa? - Falei me preparando para ir embora.

- Me diga! - Ele ordenou, era como se meu nome fosse mudar algo para ele.

- Não importa, afinal não irei alterar em nada o seu destino. - Essa era a graça de tudo isso, eu seria apenas uma lembrança boba algum dia.

- Então me deixa curioso? - Ele mudou o tom de voz, ao perceber que ser autoritário não me abalaria.

- Logo saberá que sou. - Falei imaginando sua surpresa ao saber que sou uma das escolhidas.

- E quem é você? - Ele parece curioso.

- Alguém que não fará nenhuma diferença amanhã. - Ele me encara por um momento.

- Tome! - Ele diz me dando a maçã.

- Não é proibido?

- É só uma maçã na floresta, para uma moça que não fará diferença amanhã, então ninguém precisará saber. - Ele dá um meio sorriso, e parece gostar de quebrar essa regra.

- Corte no meio. - Digo olhando para a adaga.

- Não posso!

- Morderei primeiro, se eu não cair morta você come?

- Sim. - Ele diz como se duvida-se e cortou a maçã com sua adaga e me entregou, dei uma mordida.

- Agora você! - Ele parece estar confuso, mas morde.

- O que acha?

- É delicioso. - Ele sorri mordendo de novo.

- Eu disse!

- Não teme nada? - Ele perguntou com certa admiração, enquanto terminava sua maçã.

- Claro que sim, temo não viver o suficiente.

- O que esconde? - Havia algo nele, algo que chegava a ser reconfortante, mas isso era só um devaneio, ele não era confiável, se soubesse quem eu era me arrastaria de voltar para a minha casa sem pensar duas vezes.

- Sou só uma moça na floresta, nada, além disso. - Falei dando um passo para trás, eu devia ir embora.

- Agora é a moça da floresta, que me fez quebrar uma regra da rainha.

- Às vezes é bom quebrar regras.

- Não faça mais isso, pode não encontrar um soldado tão bom.

- Está bem. - Digo mordendo novamente a maçã.

- Vou voltar para o meu trabalho, ficará bem?

- Claro que sim!

- E antes que eu me esqueça, obrigado por me expor diante dos meus soldados. - Ele dá o que é à sombra de um sorriso.

- De nada, se precisar estou à sua disposição. - Digo fazendo uma reverência a ele.

- Abusada! - Ele diz, se virando para ir embora, mal sabia que logo iríamos nos reencontrar e que ele e seus soldados me acompanhariam até onde tudo iria acabar e seria então o meu fim.

Sinto uma enorme vontade de ver Caio, revê aquele homem, me fez lembrar o sonho, vou até uma árvore perto da enorme casa de Caio e assobio, logo ele aparece na janela com um lindo sorriso que tira o meu fôlego, tenho que admitir, ele é incrível. Caio pula a janela e vem ao meu encontro.

- Está melhor? - Ele pergunta, olhando para as minhas roupas.

- Estive com Rafi e Reno. - Justificou, ele balançou a cabeça, como se tudo fizesse sentido com essa informação.

- Quase me machuquei pulando a janela do seu quarto. - Ele fala sorrindo e passando a mão em seu ombro esquerdo.

- Devia ter se machucado, como ousa entrar no quarto de uma moça? - Digo rindo, e então encostou-me à árvore.

- Estou tentando salvar a vida dela. - Ele diz piscando e se senta ao meu lado.

- E qual é o plano?

- Está disposta? - Eu não estava, mas precisava saber qual era o plano para poder desfazê-lo.

- Meu pai me odiaria por não tentar.

- No dia do baile, nós quatro fugimos! - Quase ri, era ridículo e perigoso. - Eu, você, Elaine e Lúcio.

- O plano? - Ele parecia feliz, acho que ele precisa acreditar nisso.

- Vocês vão momento antes, para o castelo, quero que olhe uma saída terá menos soldados.

- Isso pode dar errado, não sabemos o que acontecer com as escolhidas antes do baile.

- Vocês duas estão marcadas de qualquer jeito. - Ele deu de ombros e então fez uma careta de dor, acho que ele realmente se machucou.

- Mas vocês não. - Eu não era tão egoísta, não a esse ponto, e o pesadelo voltou na minha cabeça com tudo, Caio morto no chão.

- O que importa, eu não quero viver sem você. - Ele disse e me virei para olhá-lo.

- Não quero você morto. - Digo chorando, ele pega no meu queixo e aproxima seus lábios dos meus e sussurra.

- Morrerei de qualquer maneira, o que quero da vida sem você?

- Poderá casar, ter filhos, netos, uma vida perfeita. - Ele estaria livre e seguro, isso é reconfortante até.

- Se não for com você não poderá ser perfeita. - Ele me dá um beijo, mas eu o afasto.

- Gosto disso, gosto de saber que se importa, mas não arriscaria sua vida por um sonho. - Então ele sorri.

- Sabe que é a mais bela do reino. - Então ele mudou de conversar, ele era assim, quando não queria entrar em uma discussão.

- Só do reino?! - Me levantei e coloquei a mão na cintura.

- Nunca fui aos outros. - Ele diz com um sorriso cínico.

- Com certeza haverá moças mais belas. - Falei fingindo estar zangada, ele se levanta.

- Não aos meus olhos. - Ele tenta me beijar, mas me afasto. O senhor Cody nos olhava.

- Seu pai. - Digo, Caio se vira, para o homem bem-vestido, de cabelos negros, e olhos azuis como de Caio.

- Não devia já estar em casa uma hora dessas, ainda mais com essas vestes? - Ele me pergunta, com seu jeito arrogante. Ele realmente não gostava de mim.

- Sim, senhor. - Digo me virando para ir embora, mas Caio segura minha mão e sussurra.

- Não me respondeu. - Ele realmente acreditava nesse plano.

- Não! - Digo sem pensar e vou embora.

                         

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