Me sento diante da minha mesa e avalio o projeto na minha frente, repenso os detalhes e opto por criar algo diferente do que havia sido feito anteriormente, se a intenção era impressionar e agradar o Bruce James e conseguir a minha promoção, eu teria que apresentar algo extraordinário.
Enquanto eu pensava e esboçava uma campanha inovadora, Edward Harris apareceu na porta da minha sala, eu não notei a sua presença até ele chamar a minha atenção com um pigarro sutil. Ergui meus olhos em sua direção e fiquei deslumbrada com sua aparência, diferente do seu terno formal de sempre, ele vestia uma camisa azul marinho com as mangas enroladas até os cotovelos e uma calça jeans, seus óculos de aro redondo estavam em seu rosto, o que dava à ele um ar de garoto nerd. Edward usava óculos com frequência enquanto trabalhava, e isso era algo que achava muito sexy.
-Ainda são 5h24 da manhã Senhorita Allen, você não acha um pouco cedo pra começar a trabalhar?
Eu rio do seu comentário, afinal é também estava ali aquela hora.
-Você teve a mesma ideia Senhor Harris, e levando em consideração as coisas que estão em jogo, eu não tenho tempo a perder.
Ele assente sutilmente e concorda com o que digo.
-Tem razão, há muito trabalho a ser feito. Fico feliz que tenha entendido isso.
Ele usa um tom ríspido, e eu fico sem entender a razão pra ele querer iniciar com suas provocações logo cedo.
-Eu já havia entendido há muito tempo, Senhor Harris. Quem não quis ficar trabalhando até tarde ontem, foi você.
Ele ri discretamente, um sorriso quase imperceptível mas que demonstra seu divertimento com a minha irritação. Edward ergue as mãos em um sinal de inocência.
-Você não tem que ficar nervosa à essa hora da manhã, eu fiz um simples comentário Senhorita Allen. E já estou indo pra minha sala, para que você possa trabalhar tranquilamente. -antes que eu responda alguma coisa, ele segue em direção à sua sala.
Porque todas as nossas interações eram carregadas de sarcasmo e hostilidade? Eu não tinha nenhum problema pessoal com o Edward, mas o meu corpo e minha mente reagiam dessa forma perto dele. Nossos conflitos profissionais também não eram difíceis de entender, e seria fácil de resolvermos todos, se quiséssemos. Mas apesar de saber disso, eu sentia um prazer enorme em confrontar o meu chefe, e ele também gostava disso, pois me provocava na mesma medida. Nós já havíamos estabelecido essa dinâmica na nossa relação, e funcionava bem para os dois.
Uma coisa que eu aprendi sobre o Edward nesses últimos meses, é que ele gosta de ser desafiado e provocado, e sempre revida à altura.
Eu estava presa em um programa de edição há mais ou menos 40 minutos, não estava conseguindo ajustar as configurações para o padrão necessário, e por mais que me irritasse ter que pedir ajuda ao Edward, eu não tinha tempo à perder.
Caminhei relutantemente até à sua sala e passei pela porta aberta, ele me encarou ao notar minha presença, e aguardou até que eu dissesse alguma coisa.
-Você tá muito ocupado agora? -ele ergueu uma das sobrancelhas ao ouvir minha pergunta, sua expressão demonstrava o que eu já sabia, sim, ele estava tão ocupado quanto eu.
Ele voltou sua atenção à tela do computador sem responder minha pergunta, eu queria voltar pra minha sala e bater a porta com força para que ele ouvisse o quanto eu estava irritada. Mas eu ainda precisava da ajuda dele, então resolvi me aproximar um pouco mais de sua mesa e pedir gentilmente para que ele me ajudasse.
Caminho insegura até sua mesa e Edward acompanha meus movimentos com os olhos, quando paro exatamente na sua frente ele encara meus olhos com indiferença, claramente irritado pela interrupção.
-Do que você precisa Senhorita Allen? Você não tem trabalho na sua sala?
Era praticamente impossível não querer voar na garganta daquele homem, mas eu respirei bem fundo e me acalmei ao lembrar do motivo de tê-lo procurado.
-Na verdade, sim, tenho muito trabalho na minha sala. Mas estou presa no programa de edição e não estou conseguindo ajustar as configurações.
Um sorriso presunçoso brotou lentamente em seus lábios, tomando todo o seu rosto. E eu me arrependi imediatamente por ter pedido sua ajuda.
-Isso é um pedido de ajuda?
Eu cerro os meus dentes e respondo à contragosto.
-Sim.
Ele tira os óculos e os coloca em cima de sua mesa, olhando pra mim Edward ostenta um sorriso convencido.
-Deixa eu ver se eu entendi, a Senhorita sabe-tudo precisa da minha ajuda na edição?
Seus olhos brilham de divertimento, Edward adorava me ver naquela situação, era evidente.
-Olha, se você não for me ajudar, pelo menos me poupe dos seus comentários irônicos.
Com o sorriso irritante ainda preso em seu rosto, Edward se levanta e fica cara a cara comigo, seu perfume cítrico invade minhas narinas e fazem com que eu sinta um pequeno arrepio ao tê-lo tão perto.
-Calma, eu não disse que não iria ajudar, apenas estou aproveitando esse momento. É interessante vê-la na minha frente pedindo ajuda pra executar o trabalho que você me fez deixar sob sua responsabilidade.
Eu reviro os meus olhos e aproximo um pouco mais o meu rosto do seu, encarando seus olhos.
-Tenha dó, Edward. Eu estou pedindo apenas que me ajude com o programa, mas você tem que transformar isso em algo maior do que é. Você vai me ajudar ou não?
Ele olha pra mim por um tempo, pensando no meu pedido e considerando me ajudar ou não. Ele estava testando a minha paciência e se divertindo por me ver de pé na sua frente esperando por sua ajuda.
Depois de alguns minutos nesse confronto silencioso eu resolvo desistir e voltar para minha sala, eu não tinha tempo pra ficar perdendo com os joguinhos do Edward. Saio da sala dele com raiva e entro na minha sala batendo a porta atrás de mim. Seria impossível manter uma boa relação com o ele durante o fim de semana, e isso dificultaria muito o meu trabalho, pois precisávamos trabalhar em conjunto.
Me sento na cadeira e vejo a porta se abrir, Edward entra na minha sala sem nem mesmo bater na porta.
-Você não sabe bater na porta, deixou a educação em casa nessa manhã?
Ele ignora meu comentário e se senta na cadeira à minha frente.
-Você não tem um bom senso de humor, Senhorita Allen.-eu encaro ele, sem entender qual o motivo desse comentário.
-Eu deveria estar rindo de alguma coisa, Edward? Não consigo ver nada de engraçado nessa situação.
Ele se recosta despreocupadamente na cadeira, e sorri sarcasticamente.
-Oh, a situação é hilária. Você não consegue perceber a ironia nisso? Você colocou como uma das suas exigências ser a responsável pela criação artística da campanha, e eu concordei. E não consegue executar uma tarefa simples como essa?
-Eu consigo executar sim, mas o programa...- ele me interrompe.
-Apenas assuma que não conseguirá fazer isso sozinha e eu vou te ajudar.
-Eu não vou fazer isso, pois eu consigo fazer esse projeto sem você.
-Então, boa sorte Senhorita Allen.
Edward se levanta abruptamente e caminha até a porta, eu o chamo e o impeço de continuar.
-Edward...- ele se vira lentamente e me encara, curioso com o que tenho à dizer. Eu tento controlar a minha vontade de mandar ele se ferrar, enquanto engulo meu orgulho ao reconhecer que não conseguiria fazer isso sem a sua ajuda.
-Eu preciso da sua ajuda, eu não consigo resolver esse problema com o programa. Você pode me ajudar, por favor? - eu uso meu melhor sorriso dócil e espero pela sua resposta.
Ele sorri amplamente ao me ouvir implorar pela sua ajuda.
-Muito melhor assim, Senhorita Allen. Agora que você assumiu que precisa da minha ajuda, podemos começar a trabalhar? - eu concordo imediatamente, nós já havíamos perdido muito tempo naquela discussão banal.
Edward caminha até minha mesa e para ao meu lado se inclinando para mexer no meu computador, seu braço roça levemente o meu ombro, e esse simples contato envia ondas de eletricidade por todo o meu corpo. Me afasto um pouco dele, torcendo para que não perceba meu leve estremecimento pela nossa proximidade. O rosto dele permanece sério e focado na tela à sua frente.
Enquanto o observava trabalhar, eu não pude deixar de notar mais uma vez no quanto ele era bonito, apesar de ser um grande babaca narcisista, era inegável que Edward tinha um rosto e o corpo incrível, seus cabelos eram muito sexy e os olhos eram selvagens e profundos. Tudo no Edward exalava a poder, controle e luxuria.
Eu admirava discretamente seus movimentos e expressões, talvez eu estivesse o encarando por tempo demais. Edward olhou em minha direção ao sentir meus olhos o examinando. Seus lábios se curvaram em um meio sorriso, ao me encontrar apreciando a visão do seu corpo delicioso. Ainda curvado sobre a minha mesa ele encara meu rosto, com o sorriso presunçoso nos lábios.
-Você está me secando, Senhorita Allen? - seu tom de voz é controlado e frio, apesar de seus olhos transmitirem divertimento.
Eu gaguejo ao tentar responder sua pergunta, minhas bochechas coram por ter sido pega admirando descaradamente o corpo do meu chefe.
-E-eu não, porque eu faria isso? Não tem nada de muito interessante em você.
Ele ri com descrença, era evidente que eu apreciava os seus atributos.
-Tem certeza? Você parece bastante interessada.
Eu me levanto da cadeira e me afasto rapidamente dele, fingindo procurar algo dentro do pequeno armário da minha sala eu respondo da forma mais desinteressada que consigo.
-Por favor, Edward. Eu jamais me interessaria por um homem como você, não faz o meu tipo.
Edward larga o meu computador e se senta na ponta da mesa cruzando os braços sobre o peito, o cretino mal consegue segurar a risada ou disfarçar a satisfação que sente ao me constranger.
-Qual seria o seu tipo Diana? Creio que um homem paciente seja o ideal para você, com essa sua personalidade magnética é preciso muita paciência pra tolerar. - ele abusa do sarcasmo ao se dirigir à mim.
Não acredito que estamos tendo essa conversa, não estava na minha lista de tarefas discutir com o meu chefe sobre o meu homem ideal.
-Por que você se importa? Não é como se você fosse a pessoa mais agradável e dócil do mundo também. - ele passa os dedos pelo queixo e responde dando de ombros.
-Eu não me importo, nem um pouco. Apenas fiquei curioso sobre o quão ruim deve estar a sua vida amorosa para você se oferecer para trabalhar sozinha em um feriado prolongado.
-Você tá insinuando que eu não tinha nada melhor para fazer no feriado, ao invés de ficar aqui tendo que lidar com esse seu mau humor de sempre? -ele assente confiante.
-E tinha?
O fato de ele estar certo sobre a minha vida amorosa ou a total falta dela, me deixou ainda mais estressada com aquela discussão.
-Isso não é nem um pouco da sua conta. Você já terminou de ajustar o programa? Acho que você deveria voltar pra sua sala e focar no projeto, ao invés de ficar especulando sobre a minha vida afetiva. - vou até a porta e a abro para que ele saia.
O sorriso no rosto do Edward é largo e convencido, a minha reação às suas provocações eram como um afrodisíaco pra ele. Depois de conferir rapidamente a tela do meu computador e checar se o programa estava funcionando perfeitamente ele se dirige até a porta, chegando até mim ele para à poucos centímetros do meu rosto e diz tranquilamente antes de ir embora.
-É muito fácil irritar você, Senhorita Allen. Isso vai ser muito divertido.
Eu fico parada na porta absorvendo as suas palavras, então era esse o plano? Me irritar até que eu estivesse completamente desestabilizada. Edward estava jogando pesado e eu precisava reagir imediatamente.
Bom, se era guerra que ele queria, era isso que eu o daria.