Capítulo 4 São Tomé e Príncipe

Isaac

O jantar com a Mia correu bastante bem, ela é uma mulher interessante, culta e atraente. Infelizmente por problemas familiares o encontro acabou cedo.

- Não acredito que a miúda é sobrinha da Amy – falou o Brad surpreendido, enquanto lhe contava como correu – não é estranho andares a sair com a sobrinha da chefe?

- Não, não acho, é uma mulher como todas as outras – disse.

- Sim, está bem, mas pode ser complicado – avisou.

- A Amy não é a mãe dela, não há problemas – conclui.

- Só tem cuidado, ela pode ser vingativa e pode tramar-te – a Amy saiu disparada do seu escritório.

- Cavalheiros, eu tenho que sair – informou.

- Algum caso? – Perguntei.

- Antes fosse, problemas familiares – comentou – a minha cunhada sofreu um acidente e tenho que ir avisar a família – explicou e saiu cheia de presa.

- É a mãe da tua amiga? – Questionou o Brad.

- Não sei, ela disse-me que tinha mais uma tia – contei.

- Mais tarde é melhor ligares para saberes – aconselhou.

- Vai mas é trabalhar – voltei para a minha secretaria e estive a ver alguns casos – um gang assaltou varias lojas de arte – comentei.

- Já sei, entram no sistema de segurança, controlam tudo e mais alguma coisa e no fim levam tudo sem deixar rasto.

- Da ultima vez que atuaram foi antes de ontem no centro, entraram numa joelharia e roubaram um conjunto de joias da realeza – desvendei – foi a primeira vez que atuaram durante o dia.

- As testemunhas não viram nada, todas dizem que eram muitos, estavam armados, e vestiam todos a mesma roupa, macacão preto e mascara, não viram caras.

- Penso que uns marginais destes não têm nenhuma licenciatura em arte ou joias, como é que sabiam quais eram as joias verdadeiras? – Questionei enquanto juntava pontos.

- Já há tanta coisa na internet, não era preciso nenhum perito – lembrou.

- Não eram umas joias quaisquer, não há assim tanta informação disso, e distingui-las no meio daquela confusão não é tarefa fácil – contrapus.

- Quem será que tem estes conhecimentos e se meteu num gang destes, nem que o encontremos ele vai recusar-se a falar – avisou-me.

- Apertamos com ele, temos que começar por algum lado – pusemos mãos ao trabalho e começamos á procura de alguém que se encaixa-se no nosso criminoso.

A investigação não deu em grande coisa. Graças a Deus todos os marginais desta cidade têm alibis e nenhum sabia nada, conveniente.

- Voltamos ao mesmo – comentou o Brad enquanto regressávamos à sede.

- Todos já tinham a historia muito bem decorada – dei a minha opinião – vou ligar à Mia, com isto tudo esqueci-me – avisei e sai do edifício.

- Mia – disse quando atendeu.

- Isaac – a voz dela estava diferente, rouca, como se estivesse a chorar.

- Está tudo bem? – Perguntei receoso.

- A minha mãe morreu – contou-me e eu arrependi-me de não ter ligado mais cedo.

- Eu lamento muito – dei-lhe os meus pêsames.

- Obrigada – agradeceu-me com a voz chorosa.

- Como estão as tuas irmãs?

- Estão a aguentar-se.

- E tu?

- Estou como elas, completamente destruída

- Nada do que possa dizer vai suavizar essa dor, vocês tem que fazer o luto para encerrar um pouco esta tragedia e conseguirem seguir em frente – aconselhei.

- Eu vou a São Tomé para saber o que aconteceu e esperar para encontrarem o corpo e identifica-lo – avisou-me.

- Acho que fazes bem – concordei – vais sozinha? – Perguntei preocupado.

- Sim, vou, o meu pai tem que ficar com os meus irmãos – explicou.

- Não te vou deixar sozinho numa situação destas, eu vou contigo – ofereci-me.

- Não, tu tens o teu emprego, os teus problemas, não quero atrapalhar – disse.

- Não atrapalhas, eu vou contigo e ponto final – encerrei o assunto.

- Eu vou tratar de tudo e depois aviso-te – informou-me – obrigada – agradeceu antes de encerrar.

Regressei ao gabinete.

- Então? – Perguntou o Brad.

- Foi mesmo a mãe dela – revelei.

- Coitada – comentou e voltamos ao trabalho – vais passar em casa dela? – Perguntou-me.

- Não sei, ela ficou de me ligar – contei – ela quer ir a São Tomé perceber como tudo aconteceu e eu vou com ela, ofereci-me.

- Fizeste bem, ganhas pontos – brincou.

- Não brinques, é um assunto serio – repreendi-o – nos próximos dias não vou trabalhar, por isso boa sorte – desejei-lhe e fui para casa.

Mia

Quando todos foram dormir eu aproveitei e fiz as reservas para São Tomé e Príncipe o mais depressa possível. Consegui reservas para amanha de manha e mandei uma mensagem ao Isaac a dar-lhe a informação e fui tentar dormir.

Não consegui dormir nada, levantei-me cedo, preparei a mala e fui arranjar-me.

Passei pelo quarto dos meus irmãos para despedir-me, dei-lhes um beijinho e prometi que voltaria rápido. De seguida fui para o aeroporto.

- Desculpa o atraso – desculpei-me quando cheguei ao pé dele.

- Tudo bem – ele abraçou-me apertado e eu chorei no ombro dele.

- Nem acredito que isto aconteceu – comentei enquanto limpava as lagrimas.

- Nos vamos até São Tomé percebe o que aconteceu, tu vais ter as respostas que precisas – ajudou-me com a mala e fomos fazer o check-in.

- Eu ainda tenho esperança de que isto não passa de um engando e que vou encontrar a minha mãe sã e salva – revelei.

- Mia, iludires-te não é bom, assim a queda vai ser pior e ainda te vai custar mais – avisou-me.

- Eu sei, mas eu simplesmente não consigo acreditar, eu tinha falado com ela pouco tempo antes, ela estava tão feliz – comentei.

- Ao menos ela estava feliz – embarcamos e durante a viajem adormeci, estava demasiado exausta – Mia, Mia – alguém me estava a sacudir.

- O que foi? – Perguntei sobressaltada.

- Desculpa, não te queria assustar – desculpou-se o Isaac – estamos prestes a aterrar – informou-me.

- Não faz mal, obrigada – apertei o cinto e rapidamente estávamos no chão – mais uma vez obrigada por teres vindo comigo – voltei a agradecer-lhe.

- Não agradeces, eu só vim porque quis – apanhamos um táxi e ele levou-nos até ao nosso hotel.

- Eu quero ir até á policia para saber de mais pormenores – disse enquanto arrumava as minhas coisas.

- Primeiro vamos comer alguma coisa e depois vamos – decidiu.

Descemos até á parte da restauração e comemos, o Isaac obrigou-me a comer e eu tive que lhe fazer a vontade. De seguida fomos até ao posto da polícia.

- Eu gostaria de obter uma informação – disse na receção.

- O que quer saber?

- Houve um acidente com uma avioneta onde seguiam dois passageiros, um deles a minha mãe, eu queria saber se já há mais alguma coisa sobre o caso – pedi.

- Eu vou chamar alguém – avisou-me e desapareceu.

- Vai com calma – aconselhou-me o Isaac enquanto me apertava os ombros.

- Boa tarde – um outro senhor veio falar comigo – sou o agente responsável pelo acidente que vitimizou a sua mãe – apresentou-se.

- O que descobriu? – Perguntei ansiosa.

- Acompanhe-me se faz favor – encaminhou-nos para uma pequena sala – aqui estamos mais á vontade para falar – concluiu – ainda não descobrimos grande coisa, foram encontrados uns destroços numa praia, mas não sabemos se é do acidente da sua mãe.

- Já encontraram algum corpo? – Perguntou o Isaac.

- Não, ainda não. Há mergulhadores à procura no local onde supúnhamos que se despistaram, mas até agora, não encontramos nada – revelou – a menina não se importaria de ir á tal praia ver se reconheceriam algum pertence da sua mãe – pediu.

- Não, não me importo – ofereci-me.

- Ótimo, então vamos – saímos da sala e encaminhamo-nos para o carro do senhor, ele conduziu até á tal praia – agora temos que continuar a pé – passamos pelo meio da floresta e finalmente chegamos á bendita praia, o Isaac e o senhor ficaram para traz e eu aproximei-me dos destroços á procura de algo familiar.

Havia vários destroços da avioneta e no meio disso estava um bocado de um tecido branco e logo a seguir um colar de ouro, o colar que eu ofereci em conjunto com os meus irmãos no dia da mãe.

Comecei a chorar, não consigo acreditar que a minha mãe morreu, não pode ser, a minha mãe não! Perdi as forças nas pernas e cai de joelhos na areia. Senti o Isaac ajoelhar-se atras de mim, abraçou-me por traz e eu chorei encostada a ele.

Regressamos ao hotel, na manha seguinte íamos para Portuga, preferi ficar á espera do corpo, se é que vamos ter um corpo para nos despedirmos, com a minha família.

Estava demasiado cansada para conseguir fazer ou pensar em mais alguma coisa, deitei-me e cai num sono profundo.

                         

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