Obsessão Dentia
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Capítulo 4 Part 4

Com os olhos cansados eu me forço a jogar uma água sobre o rosto, encarei o espelho e sem muito entusiasmo eu vi as olheiras gritantes abaixo dos olhos, sempre os malditos pesadelos. Consigo ouvir sua voz de comando longe, enquanto corria pelo labirinto, também escuto tiros atrás de

mim, aquilo parece ressoar em minha cabeça, espantei meu sonho e me enfiei embaixo do chuveiro. Era uma manhã de terça quando chegava na universidade ás 7h da manhã, logo na entrada eu vi Luana e Rebecca paradas com olhares cansados, me aproximei delas e cumprimentei da maneira de costume.

- O que fazem paradas aqui?

- Bom dia para você também, queridinha. - Respondeu Luana.

- Falem baixo por favor, minha cabeça está a ponto de explodir! -Reclamou Rebecca.

- Trabalhou até tarde hoje? - Perguntei, já que ela nos informou que trabalhava numa boate durante as 20h até 02h da manhã.

- Sim, um famosinho alugou o espaço e disse que pagaria muito bem para quem fizesse hora extra.

- Você está um caco, deveria ter ficado em casa dormindo.

- E perder aula? Sem chance, lutei feito uma condenada para conseguir entrar na universidade, e não será um cansaço que vai me impedir.

- Sei que gastronomia é importante tanto quanto é para nós, mas você está muito cansada para digerir qualquer assunto esta manhã. - Falei para ela, não querendo que ela volte para casa e deixe os assuntos de hoje para depois, mas porque está claro sua má noite de sono.

- Liana, eu não tive apoio familiar que pagasse meu curso sem que eu precisasse trabalhar. Tive que me virar para me sustentar e pagar a minha bolsa de estudos.

- Rebecca! - Luana a repreendeu pela sua arrogância.

- Desculpa Liana, eu só estou com sono! - Se desculpou com uma expressão de sofrimento.

Eu entendia o aborrecimento e cansaço de Rebecca, até porque meu curso é pago pela transferência que mamãe me envia sem suspeitas todo mês por uma conta fantasma. Não posso me aborrecer pela grosseria da minha primeira amiga, já que não sei detalhadamente sua condição precária atual. Então, para quebrar aquele clima de manhã, a puxei para um abraço que só conseguia dar a elas, ela se aconchegou em meu peito e bocejou.

- Seu peito para um travesseiro macio.. - Luana e eu sorrimos.

- Talvez você deva dormir na sala, Luana e eu anotamos tudo e depois te ajudamos no dever para não acumular.

- Seria perfeito. Obrigada meu anjinho de óculos. - Ela beijou minha bochecha e a levamos para a sala de aula.

Com o fim de aula, Rebecca havia dormido um bom longo horário até o sinal tocar, logo após ela se espreguiçar e levantar da cadeira fomos para sua casa que também era pouco próximo a faculdade. Já tinha vindo em sua casa para trazê-la quando estava totalmente bêbada para voltar sozinha de uma noite inteira de farra, comigo e com Luana, mas não cheguei a entrar. Assim que passei pela porta principal vi um pequeno e organizado apartamento de prédio bastante movimentado, havia roupas limpas e secas sobre uma cadeira e caixas de suco sobre o balcão da cozinha, constatei que saiu as pressas de casa para a faculdade.

- Por favor, não olhem a bagunça.

- Não se preocupe com isso, sua casa é muito linda. - Falei, me sentando em seu sofá.

- Onde está seu cachorro? - Luana perguntou, mostrou que tinha uma grande ligação de amizade entre elas.

- Você tem um cachorro? - Perguntei curiosa, adoro cachorros.

- Sim, ele se chama Drogo.

- Belo nome, posso vê-lo?

- Acho que não é uma boa ideia, ele está sem coleira e trancado no meu quarto. Não confio nele quando tem visita em casa.

- Que mal tem?

- Ele é raça Pitbull. - Luana explicou.

- Ah!

Eu e Luana começamos a explicar o que havíamos ouvido na aula de hoje, Rebecca demorou para entender do assunto por ainda estar pouco sonolenta, porém ela conseguiu assimilar. Já estamos na fase das provas e por agora, cada assunto pode cair no teste. Enquanto ela anotava e respondia, Luana e eu resolvemos responder as questões de hoje com antecedência. Antes das 16h da tarde havíamos terminado todo o assunto.

- Obrigada, não sei o que seria de mim se não fossem vocês. - Disse Becca, ao sentar em sua poltrona e descansar seus músculos.

- Não precisa agradecer. - Respondeu Luana.

- Bom, acho que já vou. - Me levantei para ir embora, porém Becca insistiu que eu ficasse.

- Por favor, fique mais um pouco. Eu pedi lanche para nós, vá depois que comer, está bem?

- Isso, por que a pressa? - Questionou Luana.

- Tudo bem. - Resolvi ficar.

Quando o lanche chegou tratamos de comer sem demora, ficamos tanto tempo estudando que nem nos demos conta da fome que estávamos sentindo. Enquanto comíamos, as duas começaram a fazer perguntas sobre a minha vida, fiquei receosa em responder cada uma delas. Antes de me aproximar de Rebecca e Luana eu pesquisei sobre suas vidas, as segui até os locais de onde moravam. Luana é uma garota que nasceu aqui mesmo na Califórnia, mora com sua vó desde que seus pais morreram em um acidente de carro. Trabalha em uma loja de marcas e consegue ajudar sua vó com as despesas da casa e pagar sua faculdade; Becca por sua vez mora sozinha após seus pais não aceitarem sua paixão pela gastronomia, já que todos de sua família eram médicos, a expulsaram de casa.

- Eu sei que você é bastante reservada, mas para quê tanto mistério? Somos suas amigas, você sabe tudo sobre nós.

- Talvez ela seja aquelas espiãs que trabalha para a Cia ou Interpol. - Luana começou a criar teorias sobre mim, eu revire os olhos com tamanha imaginação.

- Não sou uma espiã, apenas não gosto de falar sobre mim.

- Onde você morava? Não tem cara de americana.

- Eu não sou americana, sou italiana.

- Uau! Fala algo italiano aí. - Becca pediu com um ar de surpresa no rosto

- Perra con piojo.

- O que você disse?

- Linda como abelha. - Tirei sarro de sua cara.

- Está ouvindo, Luana? Sou uma perra com piojo.

Contive o sorriso e continuamos conversando. Falei para elas que morava com minha tia já havia alguns anos, não exatamente o tempo aproximado, contei que não havia pais e que estavam mortos, respondi a maioria como forma de esquivar de suas questões futuras. Eu sentia vontade de me abrir com elas, contar toda a verdade sobre a minha origem e porque estou na Califórnia, porém eu não desejo correr riscos ou acabar envolvendo as duas nessa vida de fuga que é a minha. Se elas soubessem..

- Não sente falta dos seus pais? - Becca perguntou.

- Eu sinto dos meus todos os dias. - Luana revelou, mas faz parte do ciclo da vida.

- Os meus fingiram que eu morri, isso também faz parte do ciclo? - Becca perguntou com um olhar triste.

- Seus pais não entendem de sua vontade, apenas a vontade deles. Um dia perceberão a loucura que fizeram.

- Enquanto isso não acontece, eu vou me virando e trabalhando para me sustentar e bancar a faculdade. - disse com orgulho.

- Foi muito bom passar um tempo com vocês, mas eu preciso ir, tenho que passar no mercado para minha vó. - Luana avisou se levantando do sofá, resolvi acompanhá-la na saída.

- Antes que vá, você deixou sua jaqueta de couro aqui em casa. - Becca avisou.

- Eu procurei tanto em casa, achei que havia perdido. Onde está?

- No meu quarto.

- Vou pegar.

Assim que Luana abriu sua porta, Becca lembrou do seu cão que estava trancado no cômodo. Quando a madeira foi aberta o animal saiu rapidamente ao pensar que fosse sua dona. O Pit bull aproximou-se da sala em passos ameaçadores, Luana ao perceber que Drogo havia se soltado arregalou os olhos como se visse o próprio diabo em pessoa, melhor, em cão.

- Não se mexe, Liana. - A dona pediu com receio, ela estava prestes a ficar na minha frente para impedir algum possível ataque do cachorro.

Encarei os olhos do animal, uma cor vende esmeralda me encantou loucamente, seu pelo cinza com pintinhas brancas o deixavam ameaçadores, porém muito lindo. Não demonstrei medo para Drogo, por mais que fosse de uma raça que assusta diversos, eu os amava. Me aproximei dele e abaixei na sua frente, ele rosnou como um bicho feroz pronto para atacar, eu o desafiei com o olhar.

- Você sabe que não vai fazer. - Falei para ele. - Abaixe a guarda, eu não sou ameaça, Drogo!

Estendi a minha mão para que ele sentisse meu cheiro, enquanto ele cheirava, com a outra mão eu levei até sua cabeça e alisei seu pelo macio, ele balançou o rabinho e lambeu a minha mão. Becca e Luana ficaram olhando para a cena perplexas.

- Como você fez isso? - Becca me perguntou em choque.

- Estou chocada, o Drogo demorou meses para se acostumar com a minha presença! - Luana falou com decepção na voz.

- Drogo não é dócil, estou petrificada!

- Eu adoro essa raça, tão amáveis.. E protetores.

- E isso responde minha pergunta?

- Os animais só atacam quando se sentem ameaçados, no caso de Drogo eu mostrei que não era uma ameaça.

- Cacete! - Luana murmurou.

- Não, é técnica.

- O quê? Não! Enviaram uma notificação no grupo da faculdade.

- Sobre o quê?

- O professor de administração foi encontrado morto no banheiro da instituição! - A noticia chamou a nossa atenção.

- Mataram ele? - Perguntei, sentindo uma sensação muito estranha.

- Aqui diz que ele teve um infarto fulminante. As aulas estão suspensas para investigações.

- Nossa, era o professor Eduardo, o velhinho era tão gente boa.. - Becca falou com a voz entristecida.

- Bem, acontece.. - Luana falou ao bloquear o telefone e por no bolso. - Estamos sem aula por uma semana.

- Podemos fazer algo durante essa semana.

- Que tal estudar? Assim que retomarem as aulas teremos provas. - sugeri.

- Não acabe com nossa pausa, vamos sair juntas. Que tal boate?

- Pode ser na onde eu trabalho? Ia ser divertido. Tem vários gatinhos por lá. - Becca sorri maliciosa.

- Faz um bom tempo que não pego ninguém interessante.

-E você, Liana? Vamos? Vai ser divertido.

- Eu não sei..

- Você só estuda e volta pra casa, se divirta de vez em quando.

- Por favor Liana, vamos! - Luana tenta me convencer.

- Tá! Está bem, eu vou!

- Isso! Vamos nos divertir como nunca!

- Mal posso esperar.. - falei fingindo entusiasmo.

Algo me dizia que elas me dariam um grande problema na hora de voltarmos para casa, principalmente Becca que não é costumada a beber, por mais que trabalhe em um local farto de bebidas alcoólicas. Porém elas estavam certas, vivo minha vida de liberdade apenas estudando, minhas saídas para distrações são curtas, uma vez ou outra não fará causará nenhum mal. Preciso disso, me enturmar, sair com as únicas amizades que tenho, não posso viver com medo ele está longe. Mesmo pensando dessa forma não me faz pensar que ele não está procurando por mim, muito pelo contrário, o receio e o medo sempre andarão voltados a mim, mas mesmo sabendo dos riscos eu quero sentir o gosto de liberdade mais uma vez, aquela liberdade de andar pelas ruas com amigas a noite, ouvindo os carros passarem, quero entrar em uma boate e dançar como nunca o fiz, sentia falta da dança, assim como praticava antes.

- Que tal hoje a noite?

- Hoje? Melhor não, o professor faleceu algumas horas, seria muito desrespeitoso..

- Está bem, então amanhã?

- Perfeito, assim dará chances de comprar um belo vestido.

- Por mim tudo bem. - Dei a resposta final.

- Ótimo! Pois amanhã se preparem, a noite será muito longa.

            
            

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