Me aproximei da porta e a abri com rapidez. Um rosto comum e rechonchudo me olhou com o semblante aflito.
- O que aconteceu?
- O seu pai está lá na sala e não aparenta estar feliz. - entendi o que ela quis dizer e bufei.
- Estou descendo. Obrigada, Carmen! - a mulher que praticamente me criou durante todos os anos de minha vida, me soltou um olhar de "Tome cuidado, por favor" assenti e ela respirou aliviada.
Me preparei mentalmente para enfrentar meu pai e assim fiz, andando firme até a sala ampla da mansão, tão grande e ao mesmo tempo tão pequena... Giancarlo Bianchi Gali estava impaciente ao telefone. Andei devagar até o cômodo em que ele se encontrava e o homem percebeu a minha presença, desligando o telefone no mesmo instante em que me viu.
- Achei você, ainda bem. Preciso que viaje à Las Vegas para o Hotel Bianchi Gali. Consegui mais um sócio e preciso de alguém de confiança para as reuniões.
- Como quiser, pai. Quando irei? - coloquei as mãos nos bolsos da calça.
- Na quinta-feira pela manhã. O jatinho particular irá levá-lo, por favor sem atrasos. Sabe que priorizo a pontualidade em meus negócios. - assenti, o olhando preocupado.
- E por que está tão preocupado? - questionei e em resposta ele respirou fundo.
- Lembra da loja de cosméticos que Carlota resolveu abrir em Manhattan?
- Cosméticos Gali. - lembrei de imediato.
A minha madrasta não era nem um pouco inteligente em relações a negócios e vivia em constante disputa - que só existia na cabeça dela - com a minha mãe. Abriu uma loja de cosméticos com a promessa que deixaria meu pai mais rico, porém só tínhamos problemas e dores de cabeças em relação à isso. Carlota só se preocupada com bolsas da Gucci e sapatos caros.
- Exato. Sua madrasta fez um sorteio de uma viagem para Vegas, em nosso hotel. Um sorteio nada organizado e que já tem dois vencedores, sabe-se lá de onde são. A loja está indo a falência e ela achou que fazendo tal coisa mudaria algo, mas piorou. Irei viajar para Manhattan e ver como anda a situação.
- Já disse para o senhor colocar Carlota no lugar dela, pai. Ela vai acabar te levando a falência. - aconselhei e ele fez pouco caso.
- Enfim. Quinta-feira, não esqueça! Preciso ir. - andou apressado até a porta e voltou a telefonar.
Horas mais tarde, estava sentado em minha mesa na empresa. Depois de mil assuntos pendentes, consegui respirar fundo e almoçar. Minha cabeça estava doendo e piorou com a mensagem de minha mãe.
"Filho, estou em Paris com o seu padrasto. Gostaria de nos acompanhar? Sua irmã apareceu com uma notícia excelente... Ela está noiva de Pietro!"
Não acredito que Paola aceitou o pedido de casamento daquele idiota. O cara era o maior babaca e sempre a colocava para baixo, não acrescentava nada em sua vida.
"Sinto muito, mãe. Tenho uma viagem de negócios essa semana e estou atolado de trabalho. Mande minhas felicitações"
Assim que enviei a mensagem, ouço uma voz conhecida acompanhada de "toc toc" na porta do escritório.
- Pode entrar! - falei alto e então a porta se abriu, revelando um Adam Jones com um sorriso debochado.
- Estava comprando alguns móveis para o meu apartamento novo e passei aqui para ver o meu melhor amigo sumido. O que diabos aconteceu com você ontem? - sentou despojado no sofá de couro do escritório.
- Levei a garota loira para casa e as coisas esquentaram. - cruzei os braços sorrindo e Adam esfregou as duas mãos em felicidade.
- Pelo menos alguém terminou o domingo bem. - assenti, ainda sorrindo.
- Mas felicidade dura pouco quando se trata da minha. Tenho uma viagem de negócios para Vegas na quinta-feira. Meu pai está completamente maluco com as aventuras de Carlota. - debochei, fazendo o meu amigo rir alto.
- Aquela mulher tem um parafuso a menos, isso é fato. Mas... Pera aí, você está falando de Vegas? Caralho, Henry! Podemos passar o final de semana inteiro no hotel, curtindo, bebendo e tudo de graça. O que acha? - franzi o cenho com incredulidade.
- Ouviu a parte de "viagem de negócios"? Não estou indo para me divertir e não existe "nós" quando se trata de trabalho.
- Por favor, Henry. Você tá ficando um velho chatão e sem expectativas de vida... Resolva as pendências do trabalho e logo depois iremos nos aventurar pelos cassinos e festas de Vegas. - ergui a sobrancelha.
- Ok, já que você faz tanta questão. Preciso que esteja em minha casa na manhã de quinta-feira, sem atrasos. Iremos no jatinho de meu pai e sabe que ele preza pela pontualidade.
- Excelente. Eu levo uma garrafa de Bourbon para bebermos durante a viagem.
Bufei e depois dei uma risada da maluquice do meu amigo. Para Adam, tudo se resolvida com festas e mulheres.