Capítulo 6 A empregada perversa

No passado, Céu havia sido inflitrado por espiões e, por causa disso, os hackers de lá tinham muito cuidado ao fazer amizade uns com os outros.

Assim sendo, Maria até interagia com os outros, mas não tinha nenhuma amizade mais profunda.

Além dos seus contatos profissionais mais antigos, ela conversava apenas com Night e muito raramente.

Nessas ocasiões, porém, se limitavam a falar de técnicas de hackear. Informações ou histórias pessoais estavam fora de questão.

"Acredita que eu também estou em Sheffield?" Maria sorriu, pois uma mensagem de Night havia acabado de aparecer na tela.

"Nossa, que coincidência!", respondeu ela.

Nas poucas vezes em que havia conversado com Night, Maria sentia que havia uma espécie de entendimento implícito entre eles. Até mesmo seus estilos de escrita eram parecidos.

Como já era hora de ir embora, Maria precisou se despedir poucos segundos depois.

"Tenho que ir. Boa noite."

O belo homem, que estava numa cadeira de rodas, ficou com um sorriso no rosto enquanto lia a última mensagem de Maria. Após olhar um tempo para a tela de seu celular, ele resolveu não enviar as palavras que havia escrito e as apagou.

"Nós poderíamos nos encontrar, já que nós dois estamos em Sheffield mes-"

Quando Maria chegou, viu o BMW estacionado na frente da mansão, indicando que a família Jenkins já estava de volta.

"Que demora! O que você estava fazendo?", disse Lily.

Ela recebeu Maria com a cara fechada e mãos nos quadris.

"Todo mundo já voltou do show, mas você estava andando por aí como se fosse uma arruaceira. Essa casa tem regras e agora que você faz parte da família Jenkins, é melhor se comportar e segui-las!"

Na verdade, a irritação de Lily não era por Maria ter chegado tarde em casa, mas por sua própria falha em não ter conseguido descobrir o segredo da receita de macarrão.

Como Maria era imune à sua tática de falar manso, ela resolveu apelar para a intimidação. Maria era apenas uma adolescente e Lily achava que seria fácil convencê-la a deixar a receita secreta escapar.

No entanto, Maria estava calma dessa vez e não pareceu se afetar em nenhum momento da bronca barulhenta.

"Certo, se andar pelo bairro é coisa de arruaceiro, então as pessoas que moram e consequentemente circulam por aqui são o quê?"

Lily ficou sem palavras.

Ela não imaginou que Maria ficaria impassível e muito menos que teria a audácia de responder daquela maneira. Lily achava que seria fácil manipular aquela garotinha e que ela iria se desculpar imediatamente. Mas ela estava redondamente enganada.

Ao ver a cara de espanto de Lily, que permanecia em silêncio, Maria simplesmente se sentiu dispensada e seguiu em direção a seu quarto.

No entanto, os passos de Maria fizeram com que Lily voltasse a si e bloqueasse seu caminho com um sorriso forçado no rosto.

"Maria... Quero dizer, senhorita Jenkins. Eu me esqueci de te perguntar uma coisa mais cedo. Hum, aquele macarrão que você comeu, como que você fez? Sabe, eu gosto muito de culinária, de aprender receitas novas, então eu fiquei curiosa e pensei que você pudesse me dar a receita. Assim, na próxima vez que você estiver com vontade de comer aquele macarrão, eu preparo ele para você, que tal?"

Ela agiu como se fosse a melhor amiga de Maria, como se não tivesse acabado de gritar com ela e a deixado com fome de propósito mais cedo.

No entanto, Maria não iria se deixar levar por aquele sorriso falso e palavras bonitas.

"Não, obrigada. Eu me viro sozinha." Depois de recusar a proposta com firmeza, Maria passou rapidamente por Lily e seguiu para o quarto, não dando oportunidade para uma réplica.

Lily ficou lívida de raiva por ter sido deixada ali daquele jeito por essa garota recém-chegada. Quem ela pensava que era para rejeitá-la sem pestanejar?

Maria era uma mera garota do interior e já estava agindo com a arrogância de uma dondoca no seu primeiro dia com os Jenkins?

Lily cerrou os dentes, determinada em não permitir que isso acontecesse de novo. Ela trabalhava há anos para aquela família rica e precisava dar uma lição em Maria para cortar suas asinhas e colocá-la em seu devido lugar.

Assim que as ideias começaram a se formar em sua cabeça, Lily deu um sorriso sinistro. Ela havia decidido que iria deixar bem claro que viver ali não seria moleza.

Nas primeiras horas da manhã seguinte, um grito estridente vindo da sala de estar reverberou pela casa.

"Não! Cadê ela? Jadee! A Jadee sumiu!"

Vivian estava gritando desesperada.

Ela havia aberto sua bolsa Louis Vuitton e retirado todo seu conteúdo em busca de alguma coisa. Havia cosméticos, um celular, lencinhos de papel e fones de ouvido espalhados pela mesinha de centro.

Bill e Julie correram assim que ouviram o grito, pensando que havia acontecido algo grave com sua filha.

"O que aconteceu?", perguntou Bill, com o rosto sério.

Lily também estava na sala e respondeu a ele sussurrando: "Senhor Jenkins, parece que a peça de jade favorita da senhorita sumiu e ela a está procurando já faz um tempo."

"Eu tenho certeza que coloquei Jadee na minha bolsa ontem à noite!" Vivian estava visivelmente ansiosa e bufando de raiva.

Ela adorava esta joia de pedra de jade, tanto que até deu um nome para ela e a levava consigo todos os dias.

Além disso, Vivian se lembrava com clareza que havia colocado Jadee em sua bolsa de grife, a qual deixou no sofá da sala antes de dormir.

Julie franziu o cenho de modo arrogante ao ouvir o motivo daquela comoção.

"Bill, sua filha está falando do presente de aniversário que você comprou para ela num leilão seis meses atrás? Daquele presente que custou mais de um milhão de dólares?"