Capítulo 4 Ser honrado, apesar da dor

Aquela não era uma situação que agradava Damian, ele não queria conduzir as coisas daquela maneira. Precisava de tempo antes de confessar o que acontecia com ele e o papel de Beatrice em sua vida. Por mais que até mesmo destino parecesse disposto a ajudar, ela ainda era humana e ainda poderia estar envolvida com os vampiros que não gostavam de sangue. Damian ainda os detestava.

- Espere um momento, por favor. Não quero machucá-la. - disse Damian, saindo de seu aperto, com o mínimo de força possível, evitando qualquer possibilidade de machucá-la. Ele não se perdoaria se a machucasse.

- Não gosto de ver alguém sofrendo desta forma e já disse que quero que venha comigo. - disse Beatrice, sorrindo, embora ainda tivesse o rosto tenso.

- Eu sei e agradeço muito sua preocupação, principalmente a um vampiro como eu, que você sequer conhece. Mas não acho certo entrar em sua casa ainda.

- Ainda? Então o que falta para isso?

Beatrice cruzou os braços, esperando o que poderia vir ainda daquele vampiro encantador a sua frente. Ele obviamente não conseguia se afastar sem parecer estar sendo devorado de dentro para fora, mas ainda tentava ser forte e algo mais que ainda não havia identificado, que nunca tinha visto antes em um ser como Damian.

- Ganhar e merecer sua confiança. Da maneira certa. Não posso simplesmente aparecer e envolvê-la na minha realidade desta forma. - disse Damian, olhando com atenção para a jovem, sofrendo com a distância que logo colocaria entre eles, da mesma forma que torcia para que Beatrice entendesse o que estava tentando dizer.

- Eu entendo. Não gosto de ver você sofrendo daquele jeito, mas entendo. Tem certeza que ficará bem?

- Tenho sim. Já vivo com ela há algum tempo, posso aguentar mais um pouco.

Beatrice ficou em silêncio, o observando com atenção desta vez, fazendo o vampiro pensar que começava a revelar informações demais e que sua humana era ainda mais observadora do que tinha pensado.

- E a dor sumiu enquanto esteve ao meu lado... não é?

Damian sorriu, satisfeito em ver que sua companheira era tão perspicaz, capaz de desvendar situações com apenas algumas perguntas e olhares. Mas não era hora dela saber toda a verdade, não quando só tinham tido a oportunidade de estarem em um mesmo lugar duas vezes. Aquela era a primeira vez que interagiam. Precisavam de tempo. Ele aguentaria a dor por quanto tempo fosse necessário.

Por isso, ao invés de responder sua pergunta com franqueza, Damian se aproximou, a surpreendendo. Por reflexo, Beatrice fechou os olhos, sentindo seu cheiro a envolver ao ter o vampiro alto tão perto dela. Ele se inclinou, beijando sua testa e respirando seu cheiro uma última vez naquele dia.

Quando Beatrice abriu os olhos, estava sozinha. Surpresa com tudo que envolveu Damian naquelas poucas horas juntos, precisou de alguns segundos para se recuperar, antes de pegar suas sacolas de compras no banco. Antes de se virar para ir em direção a sua casa, olhou uma última vez para a floresta, desejando que Damian ainda estivesse por ali, por perto, antes de desaparecer dentro de casa.

Ele estava escondido atrás de uma árvore e assistiu quando Beatrice entrou em casa, suspirando por suas atitudes honradas. Ele nunca tinha sido tão bom em toda sua existência, mas parece que com a humana, finalmente iria se comportar. Não queria assustar Beatrice, da mesma maneira que não queria apressar sua situação. A dor ainda não tinha aparecido, mas ela voltaria, assim que o cheiro de sua companheira sumisse de suas roupas, então Damian precisava encontrar um lugar para ficar o mais rápido possível. Parece que ficaria na cidade afinal de contas. O vampiro que tinha o poder de transformar outros em humanos novamente, teria que esperar.

Beatrice entrou em casa com a mente cheia de Damian, mas logo seu pai estava ao seu lado, sorrindo e perguntando como tinha sido seu dia de compras. O vampiro então ficou em segundo plano em sua mente e tentou aproveitar ao máximo o tempo com seu pai, que havia feito questão de pedir uma pizza para os dois.

Desde sua volta para casa, após o resgate do vampiro suicida, a relação pai e filha havia melhorado muito e Beatrice nunca se sentiu tão próxima dele quanto nos últimos dias, mesmo com os dois envolvidos com escola e trabalho.

Quando Beatrice subiu para dormir, no entanto, precisou segurar seu suspiro ao ver quem a esperava. Ela quase pensou que poderia ser Damian, mas o vampiro Ventrue era mais alto e forte do que Arvin.

- Eu estou cansada de você invadindo o meu quarto. - disse Beatrice, cruzando os braços, se afastando da porta apenas o suficiente para que seu pai não ouvisse caso não fosse capaz de controlar sua voz.

- Eu só quero conversar. - disse Arvin, se aproximando, mas ele paralisou no lugar, surpreso.

Beatrice o encarou sem entender, confusa com as reações estranhas de seu ex namorado. Ele então voltou a falar, a surpreendendo pela primeira vez em muito tempo.

- Por que você cheira a vampiro? - disparou ele.

- Eu deveria saber do que está falando?!

- Você cheira a vampiro! E não é nenhum que eu conheça, então não é ninguém da minha família....

- Não. É meu amante secreto.

- O que?!

- Não grite! Quer chamar atenção do meu pai?!

Arvin concordou, se calando, mas ainda a encarando, exigindo respostas que não tinha mais direito de pedir.

- Não é da sua conta com quem saio ou não Arvin, então vá embora e não volte mais aqui. Eu disse que acabou e falei sério.

- Como você pode fazer isso? Eu te amo e você me trocou por um outro vampiro qualquer? O que...

- Você terminou comigo, esqueceu?

- Para que ficasse longe de pessoas como eu.

- Bem, não deu muito certo, não é? Você me fez entrar em uma mansão cheia de vampiros.

- Beatrice...

- Ele ao menos mostra que gosta de mim, não só com beijos frios e sem emoção.

- Eu...

Beatrice suspirou, se aproximando e tocando em seu braço. Era a primeira vez que tocava em Arvin em uma semana.

- Olha, acabou, entendeu? Eu não quero mais isso, não quero mais ficar com você. Chegou a hora de seguir em frente. Nós precisamos seguir em frente, separados.

Arvin suspirou, mas assentiu, pela primeira vez, mostrando um lado seu que Beatrice não via desde que o conheceu. Compreensível, racional, preocupado.

Quando o vampiro foi embora, Beatrice se jogou na cama, suspirando e deixando uma risada escapar. Ela havia inventado que tinha encontrado outro vampiro para ficar com ela, seu amante. Por alguma razão, desejou que Damian estivesse ali para contar a ele. Algo lhe dizia que ele iria rir tanto quanto ela.