Capítulo 5 Um dia de cada vez

Dor. Tudo que ele conseguia pensar era em dor. Seu corpo parecia ter sido coberto por espinhos e seu coração parecia estar sendo acorrentado, sendo apertado cada vez, a cada minuto que passava, até o momento em que não aguentaria mais.

Damian tentou agir o mais rápido possível, mas assim que colocou os pés dentro do pequeno apartamento na cidade vizinha, desmoronou, se deixando cair no tapete da sala, sentindo a pior dor desde que tudo aquilo começou. Ele quase lamentou não ter aceitado o convite de Beatrice para ficar com ela. Ele deveria ter ficado. Mas não havia como voltar atrás, assim como não sabia se conseguiria levantar tão cedo.

Era noite quando ele caiu naquela situação e quando piscou contra a claridade, confuso com a mudança, percebeu que já tinha amanhecido. Ele agradeceu mentalmente a feiticeira que fazia trabalhos para os Ventrue. Se não fosse ela, estaria queimando naquele momento.

A constatação daquele fato pareceu se infiltrar em sua mente com muita força e finalmente Damian conseguiu sentar, respirando fundo e deixando a consciência voltar, afastando os pensamentos perturbadores.

- Vamos lá, está na hora de levantar e começar a resolver sua situação. - murmurou para si mesmo, conseguindo ficar de pé e afastando a dor de seus pensamentos também.

Ele precisava encontrar Beatrice e começar a colocar seus planos de conhecê-la, e deixá-la conhecê-lo melhor, em prática.

Também havia a questão daqueles vampiros na cidade, Damian não havia se esquecido deles e em sua mente já começavam a surgir ideias de como afastá-los de Beatrice. Quer ela estivesse com o garoto vampiro ou não, duvidava de que teria se afastado completamente. Damian precisava agir.

...

Beatrice estava cansada, na verdade exausta. Desde que tinha entrado no estacionamento da escola até aquele momento, o previsível intervalo, ela sentia os olhares dos vampiros nela, atentos a sua movimentação. Aquelas reações a faziam pensar que Arvin havia compartilhado sua pequena mentira sobre Damian, o que a levava às possibilidades que aquela mudança poderia oferecer. Ela só precisava encontrar o vampiro cheio de dores. O que a lembrava de que também tinha acordado aflita, pensando onde ele poderia estar e se estava bem.

Nunca lhe passou pela cabeça que um dia precisaria se preocupar com um vampiro e sua saúde, mas lá estava ela e não sabia muito bem como lidar com a situação.

Assim que o sinal da última aula do dia tocou, ela correu para seu carro, saindo da escola antes mesmo dos vampiros, evitando perguntas sobre o vampiro que esteve com ela no dia anterior. Quando ela estava dirigindo para casa, reparou em um homem alto, forte e loiro. Ela poderia reconhecê-lo com muita facilidade, percebeu Beatrice.

Confusa com seus pensamentos e sentimentos em relação a ele, parou um pouco a frente, sorrindo ao ter os olhos do vampiro enfim a reconhecendo. Damian também sorriu, parecendo ansioso ao se aproximar do seu carro, mostrando que ela não era a única que queria aquele encontro.

- Bom dia. - disse Beatrice, ainda sorrindo.

- Bom dia, Beatrice. Está indo para casa? - perguntou Damian, também sorrindo, se apoiando na porta do motorista.

- Estava, mas agora que o encontrei... precisamos conversar.

- Precisamos?

Damian mostrou surpresa, confuso com o interesse renovado de Beatrice nele. Não tinha a mínima ideia do que poderia se tratar.

- Sim. Quer entrar? É estranho conversar com você assim.

O vampiro precisou de mais alguns segundos para assentir e andar até a porta do passageiro, entrando no carro com sua humana. Ele faria o que ela quisesse.

Beatrice acabou dirigindo até o parque, indecisa por um momento, pensando se queria ser vista com ele pela cidade e se o vampiro não se importava com a situação, mas ao encarar Damian percebeu que ele se manteve calmo, apenas esperando que ela o encarasse para tranquilizá-la.

- Eu não me importo de ser visto em público com você. - comentou Damian, como se estivesse falando sobre o tempo.

- Tem certeza? Eu não me importo também, mas não quero causar problemas para você.

- Vamos, Beatrice. Estou ansioso para conhecer você.

Ele não esperou sua resposta, apenas saiu do carro, atravessou até a porta do motorista, e a abriu para a humana. Beatrice respirou fundo, se acalmando com a óbvia tranquilidade de Damian, e aceitou sua mão. O calor de seus corpos parecia preenchê-los e ambos seguraram o suspiro que queria escapar. O vampiro nunca tinha se sentido mais calmo. A humana nunca tinha sentido aquela conexão antes. Era como se aquele fosse o seu lugar, ao lado do vampiro, segurando suas mãos.

- Vamos fazer isto então. - disse Beatrice, saindo do carro.

Eles acabaram em um banco mais afastado do parque, olhando para as pessoas que passavam, que olhavam para os dois de forma curiosa, surpresos com a presença de Damian ao lado da jovem.

O vampiro havia sido transformado a muitos séculos atrás, já com seus 25 anos e um futuro planejado, que obviamente ficou para trás. Ele trabalhava no campo, o que lhe garantiu alguns músculos a mais que permaneceram na sua forma vampiresca, assim como o bronzeado, que lhe garantiu não parecer um morto vivo, como muitos vampiros que conheceu ao longo de sua existência e viagens pelo mundo.

- Então, por que você sente dor quando se afasta de mim? - perguntou Beatrice, quando Damian permaneceu em silêncio, refletindo sobre a situação e como sua vida era diferente de quando era apenas um humano.

- Eu quero muito explicar o significado disso tudo, mas não sei se esse é o momento certo. - disse Damian, virando o corpo para a humana, deixando que olhasse em seus olhos, da mesma forma que fazia com ela, embora estivesse naquele momento se segurando para não descer o olhar por seu corpo, não sendo muito bem sucedido nessa questão, é claro.

- Por que não?

- Porque não quero complicar as coisas antes de poder te conhecer. É importante para mim que, apesar de tudo que está acontecendo, a gente seja amigo e goste um do outro de verdade, sem pressão.

Damian pensou que tinha dito demais, a compreensão pareceu aparecer no olhar dela, mas foi disfarçado com muita rapidez. Beatrice então disparou perguntas sobre sua vida com os Ventrue e o vampiro contou como era a vida na Áustria, desde a companhia dos vampiros até a paisagem e as pessoas humanas daquele lugar, que Damian havia aprendido a se misturar muito bem.