Capítulo 4 Catherine Lu

O médico acenou e se curvou diante de Francis em sinal de respeito, e depois virou-se para sair.

O pânico se apoderou dos nervos de Cathy, que se sentou na cama e pegou o braço do médico para atrair sua atenção.

"Doutor, estou meio tonta", fingindo estar doente enquanto passava a mão nas têmporas. "Meu estômago está um pouco enjoado. Está me dando vontade de vomitar."

O homem começou a suar frio, parou e se virou para olhá-la, antes de falar: "Senhora Catherine, pensei que você tinha falado que estava bem. Você falou que estava bem há um momento."

Mas a mulher negou com a cabeça. "Sim, eu estava bem. Mas agora, estou sentindo náuseas de repente e minha cabeça está girando. Você acha que vou morrer?", e, para parecer verdade, beliscou secretamente a parte anterior da coxa, para que os olhos lacrimejassem instantaneamente.

"Você pode me falar quem eu sou? E por que eu estou aqui? Essas pessoas vão me machucar, doutor? Chame a polícia, por favor. Eu estou com medo. Me ajude, eu imploro", ela falou, enquanto colocava uma mão no peito e começava a chorar amargamente. Ela não queria voltar para casa com seu marido, então, fez de tudo possível para ganhar mais tempo e encontrar um modo de sair da situação.

O médico, limpou o suor das costas, e olhou para Francis nervoso, indo para sua direção.

"Senhor Francis, eu..."

O homem deu uma olhada fria e levantou a mão, indicando para ele parar para que pudesse falar: "Chame o decano, faz o favor."

O coração do outro homem começou a bater mais rápido, porém, ele teve que obedecer: "Sim, senhor. Agora mesmo", sabendo que o decano tinha mais experiência, e, dessa forma, podia analisar o estado da senhora melhor do que ele.

Rapidamente o decano chegou, saudando os presentes. "Não se preocupe, senhor Francis. Vou me certificar de que o melhor médico de nosso hospital examine sua senhora."

Dessa forma, Cathy se viu forçada a se submeter a todo tipo de exame físico: amostra de sangue para detectar qualquer condição latente que pudesse apresentar, tomografia computadorizada e, também, eletrocardiograma para diagnosticar qualquer problema no coração.

O sangue ferveu e, se bem que fosse difícil para ela aguentar tudo com paciência e cada minuto fosse pura tortura, ela sabia que não podia recusar as ordens de Francis, porque o homem parecia perigoso.

Depois de passar por um dia insuportável, ela finalmente voltou para seu quarto, e como o homem já tinha ido embora, teve a oportunidade de descansar em paz finalmente. Assim que jogou na cama, deu um suspiro de satisfação.

Seus olhos exaustos lhe pediam para dormir, assim, ela decidiu seguir seu instinto e, sorrindo, fechou os olhos e dormiu.

Quando Bliss voltou com o jantar na mão, ela já estava profundamente adormecida.

A outra mulher não pôde deixar de sorrir diante de quão tranquila ela parecia dormindo, se dispôs a cobri-la bem e, depois, sentou-se para terminar a comida que tinha trazido.

Instantes depois, Cathy escutou que uma voz leve chamava seu nome, e assim perguntou: "Quem está aí?" Uma neblina espessa a envolveu, a impedindo de enxergar de longe.

"Cathy!", a voz gritou outra vez, o que fez seu coração acelerar e sentir uma estranha sensação de formigamento no corpo. De alguma maneira, aquela voz parecia reconfortante. "Quem é?", ela perguntou de novo.

"Sou eu!", ela recebeu uma resposta. A neblina espessa se dispersou em um instante, revelando a figura de uma bela mulher.

Cathy ficou perplexa quando finalmente descobriu quem era. Engoliu saliva e negou com a cabeça sem acreditar, falando: "Você é a verdadeira Catherine Lu?"

"Sim, sou eu!", ela respondeu, e um sorriso amável apareceu em seus lábios. "Meu corpo te pertence agora, Cathy. Você é Catherine Lu daqui para frente."

"O quê? Como assim?", ela coçou a cabeça em confusão, já que as palavras dela pareciam muito estranhas para ser verdade. Isso a levou a se perguntar se coisas como essa eram possíveis. "Eu sinto muito de verdade. Eu não queria me apoderar de seu corpo."

"Eu sei, fique calma! Não se preocupe com isso. Talvez seja o destino!", falou Catherine, sorrindo de tristeza. Ainda que a mulher parecesse tranquila, Cathy podia ver a dor sem fim em seus olhos benevolentes, e uma onda de culpa a envolveu, ao não conseguir parar de pensar que ela era a causa de seu sofrimento. "Não se preocupe, Catherine! Encontraremos um modo de resolver isso. Vou fazer de tudo para trazer seu corpo de volta para você. Eu lhe prometo."

"Não!", interrompeu a outra mulher. "Eu não quero voltar para esse mundo, e, com certeza, não quero voltar para Francis."

"O quê?", ela ficou surpresa e acrescentou: "Por quê?"

Catherine sorriu e respondeu: "Eu estou cansada. Não quero continuar mais. Talvez Deus tenha sentido pena de mim e assim tenha trocado nossas almas para me salvar da dor. Lamento, mas você tem que viver sua vida como Catherine Lu. Quem sabe? Isso também poderia ser bom para você a longo prazo."

"Não, eu não..."

"Rezo para que você tenha a felicidade que eu não tive na minha vida. Que tenha uma boa vida", e com isso, a figura desapareceu sem deixar rastros.

O coração de Cathy começou a bater descontroladamente e seu estômago se torceu de ansiedade, já que ela não queria ser a outra mulher. Como ela poderia viver a vida de outra pessoa? Como aguentaria isso?

"Catherine, volte! Por favor, Catherine...", implorou, gritando, enquanto se levantava para tentar segui-la. Não obstante, um forte raio de luz a cegou a visão, fazendo com que ela tampasse os olhos com as mãos antes de voltar a abri-los, de modo que, quando sua visão se adaptou lentamente à luz, ela se encontrou deitada na cama do hospital outra vez.

E então, olhou para o corredor em busca da outra mulher, mas não a encontrou em lugar nenhum.

Todo seu ânimo sumiu ao ver Francis sentado no sofá, e o pânico e o medo que tinha conseguido acalmar por alguns instantes voltaram a aumentar, compreendendo finalmente que sua alma estava ocupando um corpo diferente.

Agora, ela estava sozinha no quarto com aquele homem e, por outro lado, não havia sinal da mulher cujo corpo ocupava.

Ela não era capaz de compreender o que realmente tinha acontecido, já que tinha muito o que assimilar, e naquele momento, ela só pôde pensar: 'Será que tudo isso é um sonho?'