Lee se mostrou muito autoritário durante o trabalho. Gostava de tudo perfeito e se não estivesse como ele queria, tínhamos que refazer todo o serviço. No entanto, nada me incomodou, pois nosso acordo era realmente que ele me tratasse como tratava todos os demais fingindo que nunca tínhamos dormido juntos. Então ele seguiu seu roteiro e eu o meu.
Porém, quando ele finalmente partiu me dando ar, eu senti meu corpo inteiro doer depois de tantas noites em claro e tantos erros apontados. Acho que o gosto metálico em minha boca era um aviso de alguma doença por estresse que estivesse chegando.
No instante em que encontrei o escritório do senhor Jung-suk vazio, até senti uma forte pontada na cabeça para me lembrar dos dias de correria. Minha cabeça girou.
- Dor de cabeça de novo? - Perguntou Ana quando as portas do elevador abriram para ela sair no meu andar. Eu acariciava minha cabeça nos lados com as pontas dos indicadores como se aquilo fosse espantar a dor.
- Está piorando agora. - Confessei tentando olhar diretamente para minha amiga. O sol parecia que martelava meu cérebro junto de todo o barulho percorrendo o prédio. - Mas acho que vai descer, estou morrendo de cólica.
- Vou pegar um remédio para você então, se quiser pode voltar para casa. Papai me deu alguns papéis para analisar, mas posso fazer sozinha.
Estendi a mão em sua direção enquanto via revirar seus olhos apertando a pasta entre seu braço e o seio.
- Vamos, Ana. Você vai levar à noite inteira e nós duas trabalhamos para ele até o senhor Jung-suk voltar. - Fiz gesto com os dedos pedindo as folhas e ela bufou vindo em minha direção. - Vou tomar o remédio para te ajudar.
- Hey, falando no gostosão... - Arqueei uma sobrancelha enquanto, mas ela fingiu não ligar. - Vocês não tocaram mais no assunto mesmo?
- Não e agradeço muito por isso. Ele me trata como se fosse sua funcionária. Está ótimo assim.
- Ele te explora isso sim, não é atoa que está tão amarela e cheia de dores. - Ana colocou à mão em minha testa. - Está pelando, tem certeza que é apenas menstruação.
- Cólicas, mau humor, dor de cabeça, espinhas brotando em toda parte e pernas parecendo que estão carregando duas pedras enormes. Tenho certeza absoluta.
Ela afirmou, abriu sua bolsa e retirou uma pequena caixinha de remédios de onde arrumou a pílula para minhas dores. Tratei de ir até o bebedouro para pegar um copo de água e enfiar o remédio na goela. Ao menos aquilo me ajudaria enquanto estivéssemos trabalhando.
As horas se passaram rapidamente sem que déssemos conta. Estávamos tão distraídas conversando e analisando os relatórios que quando finalizamos, parecia que as horas tinham corrido com pressa.
Ana se espreguiçou levantando-se da cadeira enquanto reclamava do seu bumbum dolorido.
- Acho que estou enjoada. - Falei, após sentir meu estômago revirar.
- Você comeu hoje? - Ana perguntou me fazendo pensar no meu dia para tentar lembrar se havia comido algo e para o meu desgosto, não tinha. - Lana, você definitivamente quer se matar. Vem, vou te levar para jantar.
- Isso é um encontro? - Brinquei, enquanto Ana me ajudava a levantar da cadeira para sairmos da empresa.
Todos já haviam partido deixando-nos sozinhas ali com os seguranças. O que não era nada anormal, já que tínhamos sempre que analisar arquivos e relatórios para passar todas as informações ao senhor Almeida dando à entender que ele mesmo tinha lido aquelas coisas.
No entanto, naquele instante em que eu me senti enjoada, tonta e cansada, pensei que seria ótimo ter alguém para ajudar a me levar até o carro.
Mesmo assim dei o meu melhor para acompanhar Ana até a saída.
Ao menos conseguimos chegar até o restaurante, depois de duas paradas no meio do caminho para que eu pudesse vomitar. O balançar do carro não estava me fazendo nada bem e Ana brigava comigo durante todo o tempo dizendo que meu estômago estava vazio e por isso que eu tinha ficado tão ruim.
Tive que aturar todo seu sermão até nosso restaurante favorito que ficava a poucos minutos do apartamento.
Deixamos o carro na mão do manobrista e entramos no estabelecimento para pedir nossa comida. Ana tinha decidido por mim que comeríamos ali mesmo, então não fiz objeções. Apenas disse que dividimos a conta e foi o momento que acabei ouvindo mais uma chuva de xingamentos. Suspirei e comecei a bolar um plano para pegá-la desprevenida dessa vez.
Quando nosso fricassê de frango chegou, eu senti o cheiro do queijo derretido se misturando às batatas palha e isso me subiu pelo estômago como ácido. Precisei correr para o banheiro pois novamente senti vontade de colocar tudo o que tinha para fora, mesmo sem ter nada no estômago.
À dor de cabeça não tinha me deixado e o gosto metálico persistia em meu estômago deixando-me faminta e com ainda mais raiva.
Quando abri a porta da cabine do banheiro, Ana estava parada perto da saída com seus braços cruzados e os olhos fixos em minha direção. De uma forma estranha.
- Eu sei. Preciso ir ao médico.
- Obrigada! - Ela disse se aproximando. Havia um lenço de seda entre suas mãos que ela me entregou quando terminei de lavar o rosto.
- Cada mês sua menstruação fica mais violenta. Qualquer hora vai ter um treco se já está assim esse mês imagina no próximo? Precisa saber o que é isso o quanto antes. - Ana me ajudou a arrumar minha blusa enquanto eu lhe dava um doce sorriso. - Que foi?
- Tô morrendo de cólica, ignore todas as minhas atitudes até passar esse período.
- Mas já desceu? - Questionou ela e eu neguei.
- Começou ontem à noite, acho que desce entre hoje e amanhã.
- Então boa sorte e bora comer.
Ela segurou meus ombros ajudando-me a sair do banheiro em direção ao nosso jantar.
Por sorte não havia esfriado e o prato estava delicioso. Não tive outro enjôo depois de comer então concluímos que meu problema era realmente fome. Ao terminarmos voltamos para casa.
Já era tarde da noite quando chegamos e mal conversamos, pois a mãe de Ana havia passado o dia tentando ligar para a filha e minha amiga finalmente resolveu atender.
Ela iria passar horas falando com sua mãe, por isso dei privacidade à elas enquanto me dirigia para o meu quarto para tomar um longo banho que relaxaria todo meu corpo e me levaria para o mundo do sono rapidamente.
Não demorou muito para eu já estar deitada na cama sentindo minhas pupilas pesadas até que tudo estivesse finalmente escuro.
- Lana, você já foi ao médico? - Ana me despertou entrando pela porta de casa. Sentei-me as presas no sofá ao perceber que tinha pego no sono outra vez e tentei afastar aquele cansaço extremo.
- Eu marquei a consulta, mas só vou passar sexta-feira. - Avisei e ela apertou os lábios. Eu sabia o que ela estava pensando, então bufei. - Não vou deixar você pagar uma consulta particular, Ana.
- Tudo bem. Mas se você tiver que ficar internada porque demorou muito para passar no médico, a culpa será somente sua.
Revirei os olhos no mesmo instante em que meu estômago roncou alto o suficiente para ela ouvir de onde estava.
- Lana...
- Eu comi não tem nem duas horas. Não sei que raio de fome é essa.
- Você tem comido bastante. - Ana colocou a mão em minha testa, depois em meu pescoço e arregalou os olhos. - Continua quente. Acho que pegou uma gripe muito forte.
- Estranho... - pensei em sua conclusão enquanto fazia uma análise mental do meu estado. - Não estou tossindo ou espirrando.
- Mas teve febre todos os dias à uma semana, está comendo e vomitando. Sem contar que não para de reclamar de cólicas sendo que no terceiro dia você já estava ótima.
- E essas espinhas estão piorando. - Passei a mão na pequena bolota em minha bochecha que doía demais. - Mas não desce. Se pelo menos descesse tudo isso acabaria muito rápido.
- Ainda não desceu? - Neguei e Ana arregalou novamente seus olhos. - Lana. Deveria ter descido quando?
Peguei meu celular para abrir no aplicativo que me detalhava sobre meu ciclo menstrual e percebi que deveria ter descido dez dias antes. Isso me alarmou.
- Dia 25.
- Quase duas semanas atrás. - Ana fez uma conta com os dedos e me olhou ainda mais surpresa em seguida. - O senhor Jung-suk chegou há três semanas atrás, Lana.
- E daí? - Afastei as cobertas para me levantar, pois só de ouvir aquele nome eu já sentia náuseas.
- E daí? Três semanas atrás vocês transaram!
- Tá, eu sei. Mas foi com... - pensei sobre nossa noite e pequenos relances dela vieram até mim. Precisei me sentar novamente ao perceber o que tinha ocorrido. - Foi sem camisinha...
- Ai, meu Deus, Lana.
O tremor me percorreu por inteiro ao cogitar aquilo, mas tudo parecia se encaixar perfeitamente naquela resposta e isso me levou a querer enfiar minha cabeça em uma parede.
- Droga. - Falei por fim, tentando manter a calma mesmo que fosse uma tentativa inútil. - Eu estou grávida, Ana.